Terror que Ladra 2: “Os Doberman Atacam” e “A Revolta dos Cães”

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A Revolta dos Cães (1976)
A Revolta dos Cães (1976)

Quando há o confronto entre o homem e a natureza, não há inimigo mais assustador do que os cães. Até os mais fofinhos, pequeninos e filhotes geram um questionamento de quem se aproxima: “Ele morde?” Talvez pelo fato de considerá-los imprevisíveis ou por uma experiência anterior, a verdade é que eles podem realmente afastar os curiosos e chamar a atenção por sua característica meiga ou agressiva! Por sua capacidade de causar medo, os cachorros já participaram de diversas produções do gênero, muitas vezes com sua natureza modificada para justificar ou ampliar sua agressividade. Quem não se lembra do clássico oitentista Cão Branco, sobre um animal treinado para atacar pessoas negras, deixando o público revoltado e ao mesmo tempo comovido com o animal, sem culpa por seus atos?

Ainda pior do que confrontar uma criatura assassina é imaginar um encontro com vários exemplares, onde a imaginação já permite antecipar a dor de ter sua carne rasgada a dentadas, em mordidas vorazes. Neste artigo você confere duas produções que mostram os estragos cometidos por matilhas – treinadas para matar ou modificadas – servindo como conselho para os incautos evitarem ao máximo cutucar aqueles animaizinhos aparentemente dóceis!

Os Doberman Atacam
Original:Trapped
Ano:1973•País:EUA
Direção:Frank De Felitta
Roteiro:Frank De Felitta
Produção:Gary L. Messenger
Elenco:James Brolin, Susan Clark, Earl Holliman, Robert Hooks, Bob Hastings, Ivy Jones, Tammy Harrington, Marco López, Erica Hagen, Mary Margaret Robinson

Imagine a situação: você acorda num banheiro de uma grande loja de departamento e descobre que está sozinho – os clientes e funcionários já foram embora, as portas estão trancadas, reina um silêncio absoluto. Enquanto procura um telefone para pedir ajuda, percebe, da pior maneira possível, que a segurança do estabelecimento é mantida por seis cães hostis, separados em quatro diferentes andares. Como você faria para sobreviver a uma situação como essa, tendo apenas em suas mãos uma pequena boneca?

Esse é o pesadelo real vivido por Chuck Brenner (James Brolin, veterano ator que depois faria o papel de George Lutz em Terror em Amityville, 1979, e apareceria na bomba de Wes Craven, Amaldiçoados), um homem simples que, após se divorciar de Elaine (Susan Clark), teve também que se afastar de sua filha Carrie. Para aumentar ainda mais seu tormento, sua ex-esposa está com outro homem, David (Earl Holliman), e pretende se mudar para bem longe na noite em que se passa a trama do filme.

Os Doberman Atacam (Trapped, 1973) tem início na já citada loja, onde Chuck quer se despedir de sua filha, dando-lhe o presente que ela mais quer: uma doce bonequinha. Enquanto aguarda a chegada do produto em falta, Chuck promete à pequena Carrie que estará no aeroporto para a despedida e que ficará no local até a chegada do presente. Algum tempo depois que sua ex-esposa e filha vão embora, a boneca chega às mãos de Chuck, que dá uma nota alta e fica aguardando a funcionária trazer o seu troco. Com a demora, resolve ir ao banheiro acender um cigarro já que em qualquer outro local seria proibido, mas, para seu infortúnio, ele é surpreendido por ladrões que roubam sua carteira e o deixam inconsciente e preso num cubículo.

Durante seu estado de inconsciência, acompanhamos a chegada dos seis ferozes cães – que são de várias raças e não apenas Doberman como sugere o título – juntamente com os seguranças, que vestem pesadíssimas roupas de proteção. É nitída a dificuldade em controlá-los e mantê-los afastados, já que se tratam de animais treinados para matar. Depois de posicioná-los estrategicamente nos andares do local, os seguranças trancam as portas e vão embora, deixando uma pequena placa de aviso: “A segurança desta loja é mantida por cães ferozes”.

Sem entender nada, Chuck acorda no banheiro com a pequena boneca na mão e lentamente, ainda tonto pelo golpe dos bandidos, caminha em busca de ajuda. Assim que abre a porta do banheiro, acaba chamando a atenção de um dos cães que começa a ir em sua direção. Nesse momento há a primeira cena de tensão: Chuck dá alguns passos e desmaia novamente no corredor da loja, enquanto vemos o animal correndo pelos corredores seguindo o seu cheiro e prestes a despedaçá-lo vorazmente. O espectador sente uma vontade de gritar para que ele acorde logo, mas a angústia e a boa direção de Frank De Felitta (diretor e roteirista de poucos filmes, responsável pelo roteiro de Enigma do Mal, 1982) insiste na tortura por vários minutos. Chuck desperta com os latidos do doberman e mesmo tonto corre rumo à primeira porta que encontra pela frente não conseguindo evitar uma violenta mordida na sua perna. Perdendo muito sangue, ele mantém a todo custo a porta fechada com suas costas, e, logo percebe a chegada de um segundo animal.

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Enquanto isso, no aeroporto, Elaine, Carrie e David aguardam Chuck ao passo que já ouvem os primeiros chamados do seu vôo. Ela acredita que Chuck esteja em algum bar bebendo e insiste em partir, mas David, com a intenção de conquistar Carrie, pede que eles desistam da viagem nessa noite em busca do pai da menina, mesmo que seja para xingá-lo em algum boteco de esquina.

Assim, o filme apresenta paralelamente duas narrativas: Chuck e a sua luta pela vida e pelo cumprimento da promessa a sua filha; e a busca de David e Elaine por algum sinal do “irresponsável” pai de Carrie. Quando David sugere a possibilidade de ter ocorrido um sequestro, Elaine acertadamente resume seu ex-marido com a frase: “Ele é um sobrevivente.

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Feito para a TV, Os Doberman Atacam consegue prender a atenção do espectador com cenas bem dirigidas de suspense, fazendo o público realmente acreditar que os cães querem matar o protagonista. Há dois momentos que merecem destaque: num deles, Chuck se encontra em cima de um armário sendo observado por um dos cães e tendo que saltar para outro móvel apoiado num fino cano preso ao teto; em outro tenso momento, Chuck tonto pela perda de sangue tenta matar um dos animais com um arco e flecha de brinquedo, enquanto acompanhamos a chegada de outro animal que caminha em sua direção pronto para atacá-lo.

Sem exibir cenas de violência e praticamente centrado num ambiente único, é impossível não estabelecer uma identificação com Chuck Brenner, já que ele é apenas uma pessoa normal numa situação que poderia ocorrer com qualquer um. E esse é o maior mérito dessa produção: mostrar a luta de um pai de família, um homem comum, que quer apenas dar um último beijo no rosto de sua filha e presenteá-la com o brinquedo que ela tanto quer.

Exibida algumas vezes nas madrugadas da Globo e provavelmente não lançada em vídeo, Os Doberman Atacam é diferente de outras produções envolvendo cães assassinos, pois é centrada na personagem principal, tendo os cães apenas como obstáculos. Não tem a intenção de trazer mensagens positivas ou importantes ensinamentos, apenas mostrar o quão pode ser perigoso estar diante de animais treinados para imobilizar e matar humanos.

A Revolta dos Cães
Original:Dogs
Ano:1976•País:EUA
Direção:Burt Brinckerhoff
Roteiro:O'Brian Tomalin
Produção:Allan F. Bodoh, Bruce Cohn
Elenco:David McCallum, Sandra McCabe, George Wyner, Eric Server, Linda Gray, Dean Santoro, Holly Harris, Sterling Swanson, Barry Greenberg, Michael Davis, Russ Grieve, Cathy Austin, Paul Paolasso

Histórias centradas em pequenas cidades sempre trazem bons resultados – Stephen King que o diga! Principalmente, quando o cenário apresentado traz tons apocalípticos como o longa de Burt Brinckerhoff, diretor de seriados como Barrados no Baile e Alf, O Eteimoso. Entre inúmeros trabalhos na TV, o cineasta foi o comandante em 1976 do terror A Revolta dos Cães (Dogs), desenvolvido a partir de um roteiro de O’Brian Tomalin, que só escreveu outra produção, em 78, Acapulco Gold. Apesar das avaliações negativas e de seu envelhecimento precoce, o filme é até divertido e ousado ao apresentar um banho de sangue numa história pessimista e interessante.

Não foram morcegos, nem a passagem de um cometa; a causa da tal “revolta dos cães” é explicada levemente pelo professores de uma universidade local, estando relacionada aos processos de aceleração de partículas e o feromônio. Essa substância química é captada por animais de uma mesma espécie, permitindo uma comunicação até mesmo sexual. Iniciando com gados, logo os humanos passam a ser vítimas de grupos de cães durante à noite, atiçando a curiosidade do professor Harlan Thompson (David McCallum, que ainda está na ativa na série NCIS, mas que usava um cabelinho tipo “mamãe quero ser He-Man” na década de 70) e seu colega Michael Fitzgerald (George Wyner, de Advogado do Diabo). Ambos iniciam uma investigação que passa de lobos e coiotes para cães na velocidade de um latido ao vento, ao perceberem alterações nos ferimentos que indicam ataques de animais de tamanhos diferentes.

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Inspirado em Tubarão, lançado no ano anterior, o roteiro faz a dupla de protagonistas exigir um alerta ao governo, mas é prontamente negado, mesmo depois que uma exposição de cães termina numa correria e mordidas para todos os lados. Destaque para as crianças que, durante o momento Carruagens de Fogo, não conseguem esconder a risada pela sequência divertida. Outra inspiração (ou homenagem) acontece num ataque no chuveiro ao estilo Psicose (ou seria Psidog; talvez Psicãose), com a vítima não tendo culpa se a câmera está evidenciando sua não-nudez!

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Entretanto, o melhor ainda estava por vir! Alguns caçadores morrem numa perseguição noturna; e os estudantes da faculdade são obrigados a se abrigar numa biblioteca. Nada adianta: os animais – não são mostrados mais do que dez em cena – aproveitam a trapalhada de um gordinho metido a engraçado e invadem o local, causando uma mutilação exagerada. Chega a ser engraçado vê-los fugir de poodles e cães bonitinhos abanando o rabo, para depois o cineasta apresentar um cenário mórbido! São muitos os cadáveres espalhados no local, vítimas dos cachorros descontrolados!

O filme reserva algumas cenas de suspense como a que acontece numa garagem, com Harlan tendo dificuldade em fazer uma ligação direta, pregando tábuas e martelando um pastor alemão. No entanto, somente o final desolador, triste e semi-apocalíptico é capaz de trazer uma boa nota para A Revolta dos Cães. É um filme que merecia uma refilmagem, uma visão atual e mais ousada de algum cineasta em início de carreira. Algo melhor do que aquele Cães Assassinos, que Wes Craven produziu de forma preguiçosa.

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Marcelo Milici

Professor e crítico de cinema há vinte anos, fundou o site Boca do Inferno, uma das principais referências do gênero fantástico no Brasil. Foi colunista do site Omelete, articulista da revista Amazing e jurado dos festivais Cinefantasy, Espantomania, SP Terror e do sarau da Casa das Rosas. Possui publicações em diversas antologias como “Terra Morta”, Arquivos do Mal”, “Galáxias Ocultas”, “A Hora Morta” e “Insanidade”, além de composições poéticas no livro “A Sociedade dos Poetas Vivos”. É um dos autores da enciclopédia “Medo de Palhaço”, lançado pela editora Évora.

3 thoughts on “Terror que Ladra 2: “Os Doberman Atacam” e “A Revolta dos Cães”

  • 18/08/2017 em 15:13
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    Os Dobermans Atacam muito Bom Filme Agora já a Revolta dos cães muito ruim o filme não tem moral nenhuma aparece os cães do nada atacando seus donos e cenas muito idiotas parece aqueles filmes de classe b que passavam na band

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  • 18/06/2013 em 18:19
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    Eu me lembro desse. Assisti na tv Bandeirantes, quando ela exibia filmes de terror e suspense às sextas feiras. Faz Tempo!!!

    Resposta

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