As Várias Histórias do Clássico Na Solidão da Noite

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Na Solidão da Noite (1945)

A popularização do aparelhos de vídeo acabou sendo uma das grandes conquistas artísticas do final de século: podendo alugar os filmes oferecidos pelas locadoras, o cinéfilo ficou livre das tradicionais e longas esperas por seus filmes favoritos nas programações de televisão ou mesmo nos cineclubes. Muitas obras-primas eram facilmente encontráveis nas locadoras e, quando não, até mesmo em bancas de jornal.

Mas nem sempre é assim tão simples. Muitas obras-primas não chegaram às locadoras ou às bancas de revista, sendo que, quase sempre, sequer foram lançadas em vídeo. Demorou muito para que os fãs brasileiros de terror pudessem alugar e assistir tranquilamente o clássico Drácula, com Bela Lugosi, que é uma referência suficientemente famosa para não se ter de esperar tanto tempo. Mas outros filmes não deverão ter a mesma sorte: caso lançados em vídeo fora do Brasil, dificilmente entrarão no país. Este foi o caso deste clássico do cinema do terror, produzido na Inglaterra, sendo inclusive dirigido e supervisionado por um brasileiro, Alberto Cavalcanti: Na Solidão da Noite (Dead of the Night) demorou para ser lançado no mercado de DVD.

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Alberto Cavalcanti (1897-1982) é um nome famoso no mundo do cinema internacional, mas um completo desconhecido no Brasil. Na década de 20 fez filmes “avant-garde” na França, conseguindo bastante destaque pela sua criatividade com a câmera. Em 1933, foi morar na Inglaterra onde começou a fazer documentários, ficando uma figura ainda mais famosa na Europa. Voltou ao Brasil para ser produtor da Companhia Vera Cruz de cinema, cargo que exerceu de 1949 até 1952, não atingindo o mesmo nível do seu trabalho anterior. Mas foi com o filme Na Solidão da Noite que Cavalcanti, trabalhando no Ealing Studios, atingiu seu grande momento no cinema, supervisionando os episódios e dirigindo um deles, o último.

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O filme, levemente baseado no universo de H. G. Wells, entre outros escritores, conta 5 episódios de terror (com um prólogo e epílogo entre eles), sendo um dos primeiros filmes de terror a utilizar esta estrutura. O filme começa quando um arquiteto (Mervyn Johns) é convidado para um fim de semana numa mansão e, lá chegando, percebe que os outros convidados são pessoas que ele vê em pesadelos. Preocupado com a situação, ele fica na expectativa do que poderá acontecer nesta reunião, enquanto que os outros presentes pedem para que um psiquiatra explique seus pesadelos. E são contados, então, 5 histórias de terror.

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A primeira, dirigida por Basil Dearden, é sobre um paciente de um hospital, que é piloto de provas, que tem um sonho onde ele perde a vida e, graças à esta premonição, consegue se salvar.

No segundo episódio, também dirigido por Dearden, uma garotinha brinca de esconde-esconde, entrando num quarto e encontrando um menino-fantasma. Já no terceiro episódio, dirigido por Robert Hamer, um homem compra um espelho maligno que o leva para o crime. A quarta história, dirigida por Charles Chichton, é sobre dois jogadores de golfe enfrentando um fantasma – e, de longe, o mais humorado dos episódios. E o quinto e mais famoso, dirigido por Cavalcanti, conta a história de um ventríloquo (interpretado pelo genial Michael Readgrave) que começa a ficar louco quando seu boneco, Hugo, está procurando um novo parceiro. A história, então, volta para o arquiteto, e o filme acaba sem dar maiores explicações.

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O que realmente intriga nestas histórias são que elas buscam o absurdo nas maiores trivialidades possíveis, colocando o terror nas situações mais comuns e cotidianas, aproximando o público das situações. Em muitos sentidos, podemos concluir que o filme foi muito influenciado por um diretor inglês radicado nos Estados Unidos na época: Alfred Hitchcock. A importância deste filme não pode ser medida – podemos afirmar, inclusive, que quase todos os filmes posteriores com episódios (como No Limite da Realidade – Twilight Zone – The Movie, 1983, Estados Unidos), e um grande número de seriados televisivos baseados no suspense, terror ou ficção-científica (Além da Imaginação, entre outros) copiaram alguma coisa deste original.

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O filme não foi lançado em VHS no Brasil – somente em DVD na coleção Obras-Primas do Terror, recentemente. A Rede Cultura o passou duas vezes na década de 80 em versão dublada. Teria sido bastante conveniente para nós, amantes do terror, que esta obra-prima tivesse sido reprisada mais vezes.

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Orivaldo Leme Biagi

É mestre e doutor em História pela UNICAMP e pós-doutor em Relações Públicas pela USP. Atualmente é professor e Coordenador do curso de Direito da FAAT.

2 thoughts on “As Várias Histórias do Clássico Na Solidão da Noite

  • 29/05/2016 em 19:11
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    O cineasta brasileiro Alberto Cavalcanti era um gênio do cinema mundial e muito esquecido na sua terra natal.

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  • 28/10/2014 em 00:32
    Permalink

    Muito bom. Comprei esse box e esse foi o primeiro filme que assisti.
    A história do ventríloquo é a melhor.

    Resposta

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