Quando as Luzes se Apagam e o desafio das adaptações cinematográficas

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Baseado no curta Lights Out, lançado em 2013, o longa Quando as Luzes se Apagam, cujo título em inglês também é Lights Out, tem colecionado críticas divergentes. De um lado estão aqueles que gostaram do filme reconhecendo que não se trata de nenhuma obra prima enquanto a outra parte de público e crítica acharam o longa uma verdadeira perda de tempo. Parte das críticas negativas afirmam que o curta, que possui três minutos, é muito mais assustador do que os 81 minutos do longa.

Lights Out (2016) (1)

Se insistirmos em uma comparação, o curta realmente se sai melhor do que o longa, mas isto não quer dizer que Quando as Luzes se Apagam seja um filme totalmente ruim. O curta, escrito e dirigido pelo então desconhecido David F. Sandberg, fez bastante barulho quando foi lançado e todos sabemos que, dentro da lógica mercadológica do gênero, o que faz sucesso deve ser explorado através de sequências, adaptações, prequels, remakes ou séries para TV.

Lights Out, o curta, mostra o horror de uma mulher (Lotta Losten) que percebe uma estranha sombra no final do corredor sempre que as luzes são apagadas. O que se vê em três minutos é uma verdadeira aula de como provocar medo. Rápido, curto e apavorante. Estas são algumas formas de classificar Lights Out. Ao se pensar em uma versão em longa, o principal problema seria o que colocar para compor uma história com duração de 80 minutos?

Lights Out (2013)

Uma boa notícia durante a pré-produção se deu quando o mesmo Sandberg foi confirmado como diretor da nova versão. Ciente da ameaça de destruir a sua própria obra, Sandberg decidiu ter cuidado ao tentar expandir a mitologia criada por ele. Aqui devemos abrir uma observação para compreender como curtas de terror em geral são concebidos. Diferente da lógica de longas, filmes com cinco ou dez minutos operam questões narrativas que dispensam explicações detalhadas sobre a origem do mal ou identidade dos assassinos. Neste aspecto, Lights Out funciona por tratar o medo de forma visceral e sem espaço para interpretações ou batalhas entre o bem e o mal. Naturalmente esta lógica não costuma ser aplicada aos longas.

Sandberg sabia que precisava expandir a sua criação. Para a estranha sombra que apareceu no curta de três minutos, temos agora uma entidade com nome e que fala. Sabemos a origem dela e conhecemos os seus objetivos. Isto tudo naturalmente já coloca Quando as Luzes se Apaga como um produto quase independente da obra de 2013. E talvez pensar no filme desta forma talvez seja a melhor forma para tentar apreciá-lo.

Lights Out (2013)

No entanto, existem sim algumas semelhanças com o curta como repetições de cenas nas quais personagens  apagam as luzes e a tal sombra, que não é mais uma sombra, aparece no canto de algum cômodo. Até a atriz Lotta Losten está presente no longa, porém felizmente em um pequeno papel. O felizmente deve ser compreendido não por não gostarmos de Losten. Pelo contrário. No entanto, talvez fosse um risco muito grande colocá-la como atriz principal de Quando as Luzes se Apagam. Isto talvez tornasse as comparações entre os dois produtos ainda mais fortes. Aqui Losten tem uma rápida participação como uma homenagem ao curta e a ela própria, que já participou de outros oito pequenos filmes de terror sempre interpretando uma mulher sem nome, que não fala e que acaba encontrando fim trágico nas mãos ou garras de alguma assombração. Em Quando as Luzes se Apagam ela fala.

Quando as Luzes se Apagam (2016) (2)

Ao mesmo tempo, mais minutos de duração significam mais possibilidades para erros. Apesar da boa intenção e até de alguns acertos, Sandberg desagradou a parte dos fãs por repetir fórmulas já gasta do gênero como, por exemplo, excesso de jumpscare . As referências a obras contemporâneas de terror também são muito evidentes com destaques para O Chamado e Terror em Silent Hill fazendo com que Quando as Luzes se Apagam quase pareça um plágio destes dois filmes.  Os novos personagens também são bastante estereotipados e deveriam ter recebido um melhor tratamento.

No entanto, o estrago poderia ter sido bem maior visto que Quando as Luzes se Apagam até tem alguns bons momentos, consegue apresentar algumas sequências interessantes e apresenta um final pelo menos aceitável. Ao imaginar como este processo de adaptação poderia ter sido bem pior, basta lembrar de Mama. O curta, de 2011, também foi ovacionado por fãs do gênero enquanto o longa, de 2013, foi uma verdadeira bomba cinematográfica.

Quando as Luzes se Apagam (2016) D

Fica a lição para Sandberg, visto que Quando as Luzes se Apagam não é nenhum ótimo filme, mas ao menos possui alguns momentos regulares. Não se trata de uma obra que será lembrada e celebrada, mas ao menos não matou o curta original de vergonha. E apesar das críticas mistas, o filme fez sucesso de bilheteria suficiente no seu lançamento já cobrindo os gastos da produção. Este dado, claro, já colocou um segundo Quando as Luzes se Apagam em pré-produção.

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Filipe Falcão

Jornalista formado e Doutor em Comunicação. Fã de filmes de terror, pesquisa academicamente o gênero desde 2006. Autor dos livros Fronteiras do Medo e A Aceleração do Medo e co-autor do livro Medo de Palhaço.

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