Dissecando o Medo #6: Explicando Donnie Darko

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– Por que você usa essa fantasia idiota de coelho? (Donnie Darko, no cinema assistindo ao clássico A Morte do Demônio)
– Por que você está vestindo essa fantasia ridícula de homem? (Frank, o Coelho)

Quando a pergunta salta do gênero para algo mais amplo, querendo saber qual é o meu filme favorito de todos os tempos, aqueles que ficarão entre os dez melhores variam muito a cada época da minha vida. Apesar dessa mudança constante de posições e produções, o primeiro lugar permanece blindado, ocupado com folga há mais de 13 anos por Donnie Darko, lançado em 2001. Desde quando tive o primeiro contato com o filme de Richard Kelly, em 2003, sessões anuais, ao lado de A Morte do Demônio, tornaram-se frequentes, e a cada nova conferida surgem novas descobertas e teorias são desenvolvidas. Minha paixão pela obra é tamanha que ele passou a fazer parte do cronograma das minhas aulas de Português e Inglês, todos os anos, pedindo sempre que os alunos produzam trabalhos e desenvolvam debates a respeito. Como costumo lecionar para várias turmas de primeiros e segundos anos, é praticamente impossível imaginar a quantidade de vezes que já vi o filme. Por isso, esta análise vai além das que costumo produzir para o Boca do Inferno, tendo uma visão apaixonada da obra, com algumas curiosidades a respeito e muitos spoilers! Duvido que você que irá acompanhar os próximos parágrafos não saiba nada a respeito, mas já deixo de antemão o aviso de que trarei pormenores sobre O Melhor Filme da minha seleção pessoal, o que pode prejudicar a diversão daqueles que ainda não se esbarraram nessa obra cult. Aliás, se não viu, vá ver correndo e depois volte aqui para discutirmos a respeito.

28 Dias para o Fim do Mundo

O sol já reinava absoluto no céu de 1988, quando Donnie Darko (Jake Gyllenhaal) despertou numa curva de uma estrada vazia. Mais uma daquelas andanças como sonâmbulo, Donnie sobe em sua bicicleta e retorna para sua casa ao som de “The Killing Moon“, do Echo And The Bunnymen (na versão de cinema) – na “director´s cut” a música é “Never Tear us Apart“, do INXS. Ele passeia pelas estradas da sua cidade, passando pelo anúncio de uma festa de Halloween, pelo veículo que futuramente causará um atropelamento e por boa parte dos personagens que farão parte de sua rotina como seu pai Eddie (Holmes Osborne), brincando com a filha Elisabeth (Maggie Gyllenhaal), sua irmã Samantha (Daveigh Chase) no pula-pula e sua mãe Rose (Mary McDonnell), que no momento está lendo “A Coisa“, de Stephen King. Ele encontra uma mensagem na geladeira, questionando o seu desaparecimento.

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No jantar, uma discussão política sobre a escolha de Elisabeth em votar em Michael Dukakis (do Democrata), contrariando o restante da família que aposta em George H. W. Bush (Republicano), transforma-se num ringue de provocações de Donnie Darko, principalmente quando a garota cita o fato dele tomar remédios. Ao tentar apaziguar a situação no quarto de Donnie, Rose é chamada de “Bitch” pelo filho naquela que seria a noite divisora de águas do jovem. Durante a madrugada, Donnie é despertado por uma voz misteriosa que o atrai até o lado externo da casa, mostrando na escuridão apenas de relance a silhueta de um Coelho, que anuncia o “fim do mundo” para daqui 28 dias, 6 horas, 42 minutos e 12 segundos. É interessante notar que a câmera acompanha o andar sonolento de Donnie pela casa, passando pelo pai diante de uma TV fora do ar até que ela visualiza o lustre da residência e retorna para mostrar apenas a saída do rapaz pela porta, destacando o item domiciliar que terá extrema importância no acontecimento a seguir.

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Assim que Elisabeth volta para casa, possivelmente após um encontro com algum namorado, o lustre se agita violentamente, acompanhado do chacoalhar dos móveis e um retumbante estrondo. Donnie acorda, na manhã seguinte, em um campo de golfe, sob a testemunha do até então desconhecido Jim Cunningham (Patrick Swayze). O garoto retorna para casa, e se assusta com a quantidade de veículos de polícia e de resgate em frente a sua casa, incluindo jornalistas, enquanto uma enorme turbina é retirada pelo telhado da residência. “Caiu no seu quarto.“, diz Samantha. Donnie fica sabendo do ocorrido e, com a família, descobre que terá que passar as próximas noites em um quarto de hotel.

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Com a preocupação dos pais que o rapaz possa ficar perturbado pelo acontecimento, no dia seguinte, Donnie Darko e a irmã vão para a escola, ao som de “Head Over Heels“, do Tears for Fears, para apresentar mais uma leva de personagens, como o diretor Cole (David Moreland) – que “está perdendo seus alunos para a apatia” -, os professores Karen Pomeroy (Drew Barrymore), Kenneth Monnitoff (Noah Wyle) e Kitty Farmer (Beth Grant), a garota Gretchen Ross (Jena Malone), a tímida estrangeira Cherita Chen (Jolene Purdy) e a dança das “iluminadas” para uma performance futura. O travelling se encerra na aula de Karen, quando ela discute o conto “Os Destruidores“, de Graham Greene, sobre jovens que invadem uma casa antiga pertencente a um idoso. Gretchen interrompe a discussão, anunciando-se como aluna nova que estaria na sala errada, sentando-se ao lado de Donnie.

Na volta de carro para casa, com discussões sobre o fato da turbina não ter uma origem conhecida, Eddie quase atropela uma senhora idosa, que atravessava a rua em direção à caixa de correio. Com os longos cabelos brancos e uma aparência “perdida“, a Vovó Morte Roberta Sparrow (Patience Cleveland), que na dublagem nacional passou a ser Vovó Surda (!!!), sussurra algo no ouvido de Donnie, uma revelação que posteriormente ele contará nas sessões com a psicóloga Dra. Lilian Thurman (Katharine Ross): “Toda criatura viva morre sozinha.” É uma frase que adquire ainda mais importância pela forma como se encerrará a produção, quando, finalmente, Donnie compreender o seu sentido absoluto.

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Viagem no Tempo e Smurfs

donnie-darko-2001-14Durante a noite, Donnie recebe mais uma visita do Coelho, como uma referência clara à Alice no País das Maravilhas – tanto na ideia de segui-lo, como no diálogo através do espelho. O garoto, então, de posse de um machado destrói o registro de água da escola e, por fim, offscreen crava a ferramenta na cabeça do mascote, uma gigantesca estátua de bronze conhecida como O Mestiço. No livro Donnie Darko, da Darkside Books, o diretor Richard Kelly diz que a intenção sempre foi considerar realmente o protagonista como um herói, ainda que não evidencie seus “poderes“. Gretchen, em um dos diálogos mais conhecidos do filme, até indaga: “Que tipo de nome é Donnie Darko? Parece de super-herói.” Ao que o rapaz responde: “E o que faz pensar que eu não sou?

Apesar de andarem juntos por um tempo, a garota não permite o beijo de Donnie. Para ela, o momento só deveria acontecer quando sentir que a “vida vale a pena“, algo que desponta apenas na apresentação de um trabalho do professor Kenneth sobre invenções revolucionárias. Como a garota tem um passado trágico, pois seu o padrasto apunhalara a mãe por diversas vezes, ela sugere que uma criança com visões alegres, na fase da escuridão, através de uns óculos com fotos positivas, poderia ser um adulto feliz, além de permitir um resgate de um período desconhecido da infância. Os alunos encrenqueiros – um deles, Ricky, é a estreia do humorista Seth Rogen no cinema – perguntam o que aconteceria se alguém colocasse nos óculos imagens do diabo ou de pessoas mortas, citando o passado de Gretchen.

E se você pudesse mudar o passado e trocá-lo por coisas boas?“. Associando a questão com a atitude final de Donnie, quando ele percebe que sua vida não vale tão a pena assim, é possível entender o que seria a tão viagem no tempo. Em dado momento, o garoto pergunta ao professor se as pessoas não teriam uma chance de prever o próprio futuro através de suas ações, e se isso já não seria por si só a tal viagem no tempo. É verdade. Com exceção das tragédias que encerram futuros promissores, o jovem que estuda, planeja faculdade ou curso técnico, está prevendo acontecimentos positivos nos anos vindouros; ao passo, que aquele que não gosta de trabalhar e prefere beber ou usar drogas talvez tenha consciência de que essa auto-destruição, além de prejudicar as pessoas próximas, provavelmente não resultará em um futuro cheio de possibilidades animadoras. E são exatamente questionamentos como esse que tornam Donnie Darko tão genial! Uma produção que permite reflexões sobre o destino e nossas ações, e ainda possibilita teorias e discussões, não tem como ser ruim!

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O destino pré-traçados são como esferas ou setas que saem do nosso peito em direção ao caminho que devemos percorrer. Donnie, em suas visões distorcidas, consegue enxergar o caminho que as pessoas costumam seguir – que podem ou não estar associados à religiosidade -, mas ele nota que o dele é confuso, torto, manchado, como se ele mesmo não soubesse o que fazer, retratando o perfil de muitos jovens. Quando resolve seguir o seu destino, encontra a arma do pai em um guarda-roupa, antecipando uma ação que ocorrerá no final.

O professor Kenneth ajuda a desvendar as teorias sobre viagens no tempo, a partir de seu conhecimento pela obra Uma Breve História do Tempo, de Stephen Hawking. Segundo o autor, para viajar através do tempo seria necessário em teoria uma nave grande (o avião que perde a turbina) e encontrar o buraco da minhoca (o caminho percorrido pela turbina), elementos que associam ao conhecimento de Donnie para que ao final ele entenda que suas ações é que determinarão as mudanças necessárias.

Entre essas discussões filosóficas, ainda sobra tempo para algumas brincadeiras do enredo de Richard Kelly como a conversa que Donnie tem com os fiéis amigos sobre a relação sexual dos Smurfs. Seu amigo Ronald (Stuart Stone) levanta a questão sobre os personagens azuis dizendo que a Smurfete teria sido criada por Papai Smurf para “satisfazer o tesão dos Smurfs“, exceto o Vaidoso por ser gay. “Enquanto todos realizam orgias, o Vaidoso filma para depois se masturbar.” Eis que Donnie conta a eles que isso é impossível pois além da Smurfete ter sido criada pelo Gargamel, eles não possuem órgão genital para a procriação. Essa conversa destoa do restante do filme, funcionando como um alivio cômico, ao mesmo tempo que mostra a inteligência de Donnie Darko para debater qualquer assunto até os mais bobos, típicos de nerds adolescentes.

O Medo e o Anticristo

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Donnie também confirma sua lábia afinada em dois momentos na escola. Com a fixação e endeusamento da professora Kitty pelo autor Jim Cunningham, que conduz seus ensinamentos sobre a extinção do medo para a sala de aula, ela exibe para os alunos umas vídeo-aulas, que, inicialmente, mostram pessoas que “venceram o medo“. No primeiro exercício, os alunos devem ler fichas de acontecimentos e marcar um X na lousa na linha da vida, separada entre MEDO e AMOR. Cherita é a primeira a ser chamada, lendo uma situação em que uma aluna precisou colar na prova por não ter estudado. Ela, que está em todas as situações do filme, desde a demissão da professora, passando pelas conversas sobre viagem no tempo e na apresentação de dança, nutre uma paixão secreta por Donnie, enquanto se esconde através de sua timidez exagerada. Mesmo sem uma relevância no enredo, a personagem é uma das mais influenciadas por Donnie, que é o único que não tira sarro dela. “Um dia tudo vai dar certo para você“, diz o rapaz nos últimos dias do prazo.

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O segundo aluno é exatamente Donnie, que lê a ficha sobre uma garota que encontrou uma carteira com dinheiro e documentos, e decidiu devolvê-la ao dono, sem pegar nada para ela. Essa própria situação também antecipa um acontecimento futuro, momento em que ele achar perdida numa calçada a carteira de Jim em frente à mansão dele. Donnie se nega a fazer o exercício por convicção de que o Homem tem vários sentimentos que não podem ser divididos em apenas duas categorias. Ao perceber que a professora segue o estilo clássico do “faz o que eu peço sem discutir“, ele a manda enfiar os cartões de atividade no ânus.

Quando Jim vai fazer uma palestra sobre o Medo na escola, três jovens apontam seus problemas para que ele ajude a encontrar soluções: há a menina que não quer que a irmã coma; o que não sabe o que vai fazer no futuro; e o que quer aprender a lutar. Enquanto Cunningham tenta driblar as respostas dizendo que a indecisão e a violência são frutos do medo, Donnie Darko pega o microfone para questionar quanto o autor está ganhando para estar ali. Com as respostas mais óbvias, Donnie aconselha a primeira a dizer para a irmã parar de comer chocolate e deixar de ser sedentária, para o segundo que o futuro é incerto e para o garoto que ele deve aprender caratê para chutar o saco dos meninos que tentarem enfrentá-lo na escola.

Você é um garoto confuso e problemático.“, diz Jim. “É, sou mesmo. Tenho medo também. Medo porque acho que você é o anticristo.“, responde Donnie, despertando palmas dos alunos que acompanhavam na plateia, e provavelmente do espectador. Esse mesmo autor, que tenta convencer como uma pessoa digna e dominadora do medo, esconde em sua residência um quarto secreto com fitas pornográficas envolvendo crianças. O “calabouço pornõ” é descoberto quando Donnie segue mais uma vez o conselho do Coelho e coloca fogo na casa, graças à carteira que encontrou. Note como as situações se encaixam, como peças de uma engenharia perfeita.

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E o mais divertido de tudo é saber que a conversa que Donnie teve com o Coelho aconteceu no cinema, durante a exibição do filme A Morte do Demônio, de Sam Raimi. E o mais irônico é que o filme estava sendo exibido em sessão dupla com A Última Tentação de Cristo, de Martin Scorsese, que estreou exatamente em 88, mas os jovens preferiram acertadamente o clássico. O Coelho Frank (James Duval) tira a máscara, revelando um olho vazado por um ferimento até então desconhecido, e mostra ao Donnie “o portal“. “Quando isso vai terminar?“, pergunta Donnie, tendo como resposta: “Você já devia estar sabendo.

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A Psicóloga e o Coelho

Esquizofrênico limítrofe. Durante conversa com os pais de Donnie, a psicóloga Dra. Lilian Thurman diz que o rapaz mantém sentimentos reprimidos e os desafoga em diálogos realizados com um amigo imaginário, o Coelho gigante Frank. Esses estudos que a doutora fez, em sessões que incluíam até hipnose, atestam que Donnie teme a solidão. É por isso que permitiu a aproximação do Coelho, de Gretchen e até entendeu a dor de Cherita. Ele conta sobre um brinquedo que ganhara quando criança, com hipopótamos, e também fala sobre seus desejos sexuais, incluindo a atração sentida por Christina Applegate, da série Um Amor de Família, que havia estreado no ano anterior.

“Uma tempestade se aproxima, diz Frank.
Uma tempestade que vai engolir as crianças…
e eu devo resgatá-las do reino da dor.
Eu vou levá-las até suas portas de casa.
Vou mandar os monstros de volta para as profundezas.
Vou mandá-los de volta para um lugar onde ninguém
consegue vê-los, exceto eu.
Porque eu sou Donnie Darko.”

donnie-darko-2001-10E a fixação por Frank. Na versão do diretor, Donnie escreve uma poesia sobre Frank, e depois conta para os colegas que se trata de um coelho do tamanho de uma pessoa adulta. Ele também esculpe o rosto do coelho na abóbora que faz ao lado da irmã, pedindo que ela não conte aos pais. Quando a professora Karen se vê obrigada a trocar de livro devido à censura da direção, ela escolhe “A Longa Jornada“, de Richard Adams, com a capa exibindo coelhos. Karen sussurra no ouvido de Donnie: “Talvez, você e Frank possam ler isso juntos.

Em uma cena posterior, somente vista na versão completa, a professora exibe o filme relacionado ao livro e discute com os alunos sobre a importância da vida de um coelho para a existência de todos os outros. Embora Donnie discorde de que coelhos só servem para se procriar, não escrevem livros ou tiram fotos, ao final ele concorda ao dizer a expressão “deus ex machina“, referência também ao veículo que vai ocasionar a tragédia e ao que liberará a turbina. Seria, então, uma intervenção divina?

Antes de sua partida, Donnie resolve seus conflitos com os pais, quando traz questionamentos sobre sua loucura e o quanto deve ser ruim ter um filho problemático. Mas, é a revelação para a doutora sobre ele ter inundado a escola e incendiado a “casa de perversão” que a preocupa a ponto de fazê-la entrar em contato com os pais tardiamente.

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Cellar Door e Frank

Durante o filme, o nome Frank é mencionado por diversas vezes. Além da apresentação do próprio Coelho, Frank também é o nome de um estudante que o pai usa como exemplo de um colega da faculdade que morreu e também faz parte da história contada por Jim Cunningham na palestra, com algumas imagens a mais na versão director´s cut. Mas, na verdade, o Frank que interessa ao Donnie é um rapaz que fez uma fantasia de Coelho para o Halloween e é dono do veículo que cruza o caminho do garoto na cena inicial do filme. Quando o último dia do prazo dado pelo Coelho inicia, Donnie sugere uma Festa de Halloween em casa para comemorar a entrada da irmã em Harvard.

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O que seria uma festa pequena se transforma naqueles típicos eventos americanos, com centenas de jovens espalhados pelos cômodos, com cerveja e brincadeiras. Donnie recebe a visita de Gretchen, abalada pelo sumiço da mãe, provavelmente devido ao retorno do padrasto desaparecido. “Há pessoas que foram destinadas para tragédias.“, diz a menina, quando Donnie a beija. A sequência sugere uma relação sexual entre os dois, culminando nos rostos felizes de quem perpetuou o ato. Donnie tem uma crise violenta, voltando a enxergar as setas que saem das pessoas, e nota que o tempo está acabando e que precisam ir à casa da Vovó Morte.

Eles chegam ao local e entram pela “porta da adega” (a tal Cellar Door mencionada pela professora). Mas, ali estão os jovens encrenqueiros, influenciados pela literatura da professora do conto “Os Destruidores“. Eles levam os dois para fora do local e joga Gretchen no meio da rua, enquanto Donnie é ameaçado com uma faca. Frank, que havia saído para comprar cerveja – já que Donnie resolvera comprar somente as que não tinham álcool -, está vindo de carro pela rua. Ao desviar da Vovó Morte, em mais uma caminhada até a caixa de correio, feliz porque encontrara uma carta do garoto, Frank atropela e mata Gretchen. “Por que você estavam no meio da rua?“, questiona Frank. Donnie responde com a arma que havia pego no quarto do pai, disparando-a com um tiro certeiro no olho direito do motorista. Esse mesmo olho que o Coelho apresentava como se fosse iluminado e que é tocado pelo garoto no clipe final.

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Donnie finalmente entende o que seria a tal viagem no tempo, sobre as ações que trazem consequências. Ele havia sobrevivido a uma queda de turbina, mas não fizera por merecer essa segunda chance, influenciando negativamente as pessoas ao redor. Ele opta por retornar ao momento da queda da turbina, que acaba de cair do avião que trazia a mãe e a irmã de um evento com as “iluminadas“, para ficar no próprio quarto, respeitando seu destino inicial.

Ao som de “Mad World“, do REM, todos os personagens influenciados por Donnie acordam assustados, entre lágrimas e sustos, sabendo que o futuro agora será bem diferente do que imaginavam. Na cena final, enquanto a turbina é retirada do telhado da casa, Gretchen surge de bicicleta, curiosa para saber o que teria acontecido. Ela olha para a mãe de Donnie como se a conhecesse de um passado que nunca existiu, uma vez que ele optara por não incomodar a vida de ninguém, nem dos professores, amigos e conhecidos.

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Entre inúmeras teorias debatidas na internet, Donnie Darko é apresentado como um simples viajante no tempo, alguém que descobriu uma maneira de voltar e corrigir os próprios erros. Já há quem aponte tudo como uma previsão do garoto sobre seu futuro, como no filme Premonição, o que o fez decidir não continuar para impedir que seus atos prejudiquem outras pessoas. E também os que enxergam o Coelho como um viajante, alguém que sabe que tais ações culminarão em sua morte, e tenta convencer Donnie a impedir que aconteçam.

Donnie Darko permite reflexões e ponderações até mesmo sobre loucura e uso de drogas. Mas, prefiro vê-lo como alguém que permite que saibamos que uma tempestade sempre está por vir e temos que agir com prontidão para que as consequências não prejudiquem ninguém.

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Marcelo Milici

Professor e crítico de cinema há vinte anos, fundou o site Boca do Inferno, uma das principais referências do gênero fantástico no Brasil. Foi colunista do site Omelete, articulista da revista Amazing e jurado dos festivais Cinefantasy, Espantomania, SP Terror e do sarau da Casa das Rosas. Possui publicações em diversas antologias como “Terra Morta”, Arquivos do Mal”, “Galáxias Ocultas”, “A Hora Morta” e “Insanidade”, além de composições poéticas no livro “A Sociedade dos Poetas Vivos”. É um dos autores da enciclopédia “Medo de Palhaço”, lançado pela editora Évora.

2 thoughts on “Dissecando o Medo #6: Explicando Donnie Darko

  • 23/07/2023 em 23:53
    Permalink

    A música mad world não e um do Rem e sim da banda inglesa tears for tears ,mas e cantada por um outro cantor e essa versão aparece no trailer do filme the crazies ou epidemia de 2010 mas não toca no filme ainda não assisti o filme vi o clip no YouTube 👌👍😎

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