Hellraiser 2 – 30 anos de uma sequência infernal

4.7
(6)

Se existe uma unanimidade entre os fãs da franquia Hellraiser é que a parte 2do universo criado pelo inglês Clive Barker, é considerada uma excelente sequência. Parte destes fãs inclusive a coloca como melhor do que o original. A verdade é que estamos diante de um ótimo filme de terror e que merece uma justa homenagem 30 anos após o seu lançamento pelo simples fato de que TODAS as sequências que vieram desde então respondem como péssimos filmes de terror.

O ano era 1987, quando Barker levou para as telas a adaptação do seu livro The Hellbound Heart, publicado em 1986. Com o título de Hellraiser, o filme, lançado em 1987, fez bastante sucesso pela mistura de cenas escatológicas e violência, além de forte teor sexual. De brinde, Hellraiser apresentou os cenobitas que passaram a fazer parte do seleto grupo de monstros canônicos do cinema.

Na década de 1980 fazer sucesso significava ganhar uma sequência. E claro que um universo tão vasto quanto o criado por Barker logo ganharia a sua parte 2. Em homenagem aos 30 anos do seu lançamento, o Boca do Inferno listou dez pontos que fazem com que este filme seja ainda hoje motivo de orgulho para os admiradores da saga infernal.

1. Uma das verdades máximas para uma sequência de terror fazer sucesso é respeitar a obra original e Hellraiser 2 não apenas segue este caminho como o faz de maneira muito inteligente. Vamos recapitular. Em Hellraiser, Frank (Sean Chapman) é levado ao mundo subterrâneo ao abrir uma enigmática caixa. Seu irmão Larry (Andrew Robinson) acidentalmente corta a mão e o sangue cai em cima do lugar no qual Frank foi abduzido. Ao voltar, Frank pede ajuda a sua amante Julia (Clare Higgins), que é esposa de Larry. A filha de Larry, Kirsty (Ashley Laurence) descobre o plano e faz um pacto com os cenobitas para levarem Frank de volta. Ao final, Kirsty escapa, Larry morre e Frank e também Julia são levados para o inferno. Hellraiser 2 começa algumas horas depois que vimos Kirsty pela última vez. Desorientada, ela foi levada para um hospital psiquiátrico, o Instituto Channard. Desta forma, nós já a conhecemos, sabemos por tudo o que ela passou e não perdemos tempo com questões desnecessárias.

2. O roteiro, assinado por Peter Atkins, pega inúmeros elementos da obra de Barker, mas não faz uma repetição da história. Descobrimos que o médico que está atendendo Kirsty, o Dr. Channard (Kenneth Cranham), é um pesquisador da caixa enigmática e anseia abrir uma. Acabamos de conhecer o primeiro vilão. Ao escutar o relato de Kirsty, Channard arma um plano para trazer Julia de volta em uma das melhores cenas do novo filme. Acompanhado pela madrasta de Kirsty, Channard utiliza uma jovem paciente, Tiffany (Imogen Borman), para abrir as portas do inferno. Ao perceber que as portas para o inferno estão abertas, Kirsty decide ir em busca do pai, morto por Frank no filme anterior. Claro que os cenobitas vão aparecer novamente. Ou seja, no lugar de trazer os cenobitas para o mundo dos vivos e de certa forma repetir a ação já vista no primeiro filme, os personagens de Hellraiser 2 é que vão para o inferno. Ainda sobre o roteiro, Barker atuou como consultor e ficou na cadeira de produtor. A direção de Hellraiser 2 ficou a cargo do competente Tony Randel, que apesar de nunca ter feito sucesso, possui uma vasta experiência em diferentes áreas fílmicas como produção, edição e até efeitos especiais.

3. A caracterização do inferno de Hellraiser 2 também é um ponto bastante positivo. Como uma cadeia infinita de labirintos, o que dialoga com a existência de uma caixa que precisa ser aberta, boa parte da ação se passa entre estes sombrios corredores, cada um com portas para diferentes experiências de prazer ou de dor.

4. A volta de Julia é definitivamente outro grande trunfo do filme. De simples amante do vilão no filme anterior, Julia ressurge como a própria rainha do inferno. Linda e diabólica, o filme cresce com ela em cena. E das inesquecíveis cenas, a do seu renascimento é uma das melhores. Uma pena a personagem não ter retornado em um terceiro filme.

5. O orçamento e a expectativa do filme foram bem maiores do que o primeiro Hellraiser e felizmente parte do dinheiro foi investido em maquiagem. Não que as do primeiro filme fossem fracas, pelo contrário. Mas este segundo temos um refinamento não apenas nos cenobitas, que parecem mais bem acabados, como nas cenas de mutilação e de pessoas sem pele.

6. A trilha sonora, composta por Cristopher Young, que já havia assinado a do primeiro filme, surge épica em Hellraiser 2 trazendo uma composição que se equilibra entre o belo e o potente mesclando desde sons que lembram inofensivas caixas de música até trilhas gravadas por orquestras com coro de vozes. Destaque para a utilização da trilha na cena na qual as portas do inferno são abertas por Tiffany.

7. A origem dos cenobitas. No começo do filme acompanhamos o surgimento de Pinhead (Doug Bradley), que passa de sua forma humana para um dos generais do inferno. Ao final do filme também somos brindados com a forma humana dos outros três cenobitas com destaque para o Chatterer (Nicholes Vince), conhecido pelo insistente bater de seus dentes. A forma humana do monstro é de um adolescente (Kevin Cole). Uma pena nunca termos tido um filme que explorasse a história dele.

8. O inferno é gerenciado por um deus e este responde por Leviatã. Invocado por Julia, Leviatã é chamado como o senhor dos labirintos. Muito interessante acompanhar esta organização do inferno passando inclusive por infernos particulares e inacessíveis para humanos e até para os cenobitas.

9. Parte da ação do filme se passa em um hospital. Todo fã de filme de terror sabe que hospitais não são lugares seguros. De Michael Myers a Freddy Krueger, é bom evitar hospitais. E o Instituto Channard é capaz de provocar calafrios antes mesmo dos cenobitas aparecerem. A pior parte do hospital fica no seu porão, onde estão os loucos que ficam em uma espécie de isolamento.

10. Todos estes pontos levam o filme ao seu final satisfatório. Sem parecer piegas e funcionando dentro da proposta, Hellraiser 2 termina tão bem quanto começou.

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Filipe Falcão

Jornalista formado e Doutor em Comunicação. Fã de filmes de terror, pesquisa academicamente o gênero desde 2006. Autor dos livros Fronteiras do Medo e A Aceleração do Medo e co-autor do livro Medo de Palhaço.

9 thoughts on “Hellraiser 2 – 30 anos de uma sequência infernal

  • 06/09/2022 em 15:17
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    Um dos melhores filmes de terror de todos os tempos! A sequencia deveria ter seguido os acontecimentos desta parte 2 mostrando o Labirinto vazio e o Leviatã querendo encontrar um novo “doutor Channard” para se apossar e refazer seus cenobitas.

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  • 19/09/2020 em 22:00
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    A única coisa a desejar é o final que não condiz com as regras criadas.
    A regra é bem clara: Se sangue for derramado no local de abdução, a pessoa ressuscita, uma única pessoa.
    Porém sangue não foi derramado, e o rapaz foi puxado assim mesmo, e várias pessoas surgiram.

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  • 17/06/2020 em 23:13
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    Belo texto, deixou bem claro os pontos fortes do filme. Eu o revi há pouco tempo depois de muitos anos e continua impactante!

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  • 28/11/2018 em 18:47
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    Foi engraçado á Rede Globo comprou o filme esse filme “Hellraiser 2 ” já que o SBT tinha exibido o primeiro no Cinema em Casa e audiência foi fantástica e a Vênus Platinada comprou o filme foi exibido na chamada do “CINEMA 92” ,mas sei por alguma motivo foi ficando de lado não exibido nas suas sessões filmes principais na época e só foi exibido no Corujão em 1/11/1996 as 3:30 da madrugada e depois só foi exibido mais uma vez no mesmo Corujão e depois nunca mais ele foi exibido na TV Aberta.

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    • 29/11/2018 em 19:46
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      Amigo eu não lembro de ter passado na tv nessa época, vc viu?

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    • 01/12/2018 em 02:14
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      O primeiro hellraiser passou no sbt numa sessão de filmes a noite o segundo foi anunciado pela globo mais eu nunca o assisti como o amigo disse que passou no corujao, o terceiro no sbt novamente a noite a parte 4 no intercine o 5 não me lembro de ter passado na tv aberta e a parte 6 assisti umas 2 vezes a noite no corujao globo

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    • 08/06/2019 em 00:02
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      [Tem spoiler, se alguém ainda não viu] Tinha gravados em VHS tanto o primeiro, de quando passou no SBT, quanto o segundo, quando passou na globo, no corujão. Acho que se fuçar meus VHS mofados por aqui, ainda acho essa gravação. Em relação a Hellraiser II, foi exibida uma versão bem editada, mesmo na madrugada. A versão sem cortes do DVD inicia com o resumo dos acontecimentos finais do primeiro filme, seguidos dos créditos iniciais. Esse prólogo foi mantido na globo, mas ao invés da impactante primeira cena, com o rosco de Frank esticado pelos anzóis, dizendo “Jesus chorou”, aparecia o Pinhead, na cena do hospital do primeiro filme, dizendo “Vamos dilacerar sua alma”. No restante do filme, as mortes também estavam editadas, imagino que com um ou outro quadro menos que na versão já editada do VHS que circulava nas locadoras nos anos 90 (a que tive acesso, inclusive, não trazia o prólogo pré-créditos iniciais). Também não havia uma cena de Kirsty na casa da mãe dentro do inferno, essa só vi no DVD. Gosto mais de Hellraiser II que do original, mas há duas cenas que me incomodam um pouco: Julia mata Frank no inferno, arrancando seu coração (mas ele já não estava morto?) e, no final, quando Kirsty veste a pele de Julia, seus olhos ficam verdes como os da atriz Clare Higgins, quando deveriam ser castanhos, como os de Ashley Laurence. Ainda assim um GRANDE filme.

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  • 28/11/2018 em 02:59
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    Entre este mundo e o próximo , entre o êxtase e a dor alucinante , entre a salvação e o horror total , existe ” Hellraiser 2 – Renascido Do Inferno ” .
    ” 30 anos de uma sequência que se não for a melhor , é uma das melhores de todos os tempos ” !

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