Boca do Inferno entrevista Michael Medaglia, diretor de Deep Dark

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Deep Dark (2015) (2)

Com colaboração de Laura Dourado

Diretor e roteirista, Michael Medaglia desembarca em Porto Alegre para apresentar seu primeiro longa-metragem, Deep Dark, na XI edição do Fantaspoa.

O Boca do Inferno conversou com Medaglia sobre o filme, suas influências, o cenário de terror independente, seus filmes favoritos e seus planos para o futuro. Confira!

Boca do Inferno: Você tem dois curtas e um longa no seu currículo, todos relacionado ao horror e ao fantástico. O que o atraiu para o gênero? Você gostaria de fazer filmes de gêneros diferentes?

Michael Medaglia: Eu adoro o gênero terror. Quando criança, eu adorava ser assustado. Como adulto, eu prefiro os filmes de terror psicológico – qualquer coisa que o faça pensar um pouco. Eu acho que descobrir o que te dá medo o faz aprender um pouco sobre si mesmo. Mas eu certamente adoraria dirigir filmes de outros gêneros. Mais provavelmente um sci-fi ou thriller. Talvez um pouco dos três?

BI: Foi muito diferente gravar um longa-metragem em comparação aos curtas? Quais foram as maiores dificuldades que você encontrou?

MM: Sim e não. Quando se trata de usar a linguagem cinematográfica, os dois são, essencialmente, a mesma coisa. Mas também há diferenças chave. Quando se trata de filmes, é uma maratona, e não uma corrida curta. Conforme os dias de gravação passam, é física e mentalmente exaustivo. É nesse momento que você deve se lembrar de não manter uma vista curta e perder o foco no filme como um todo – como diretor, esse é, provavelmente, o trabalho mais importante.

Quanto às dificuldades, eu sou meio que um planejador por natureza. Eu tive que ficar confortável em não conseguir planejar cada coisa. Em um filme independente de baixo orçamento, você será forçado a contornar e pensar criativamente. Eu fico feliz em dizer que alguns dos meus trechos favoritos no filme foram resultado destes momentos não planejados.

BI: Deep Dark tem um roteiro original. Como surgiu a ideia? Quais são suas principais influências?

MM: Eu escrevi o roteiro há muitos anos. Na época, eu estava tendo problemas em equilibrar minha carreira criativa com minha vida pessoal. Eu achei que seria interessante retratar a noção da musa do artista como uma coisa física. Especificamente, um buraco falante. Eu não sabia se ter um único ator falando com um buraco na parede manteria o público interessado durante um filme inteiro. Acho que pode ter sido por isso que o achei atraente.

Quanto às influências, eu tenho que tirar o chapéu para O Inquilino e O Bebê de Rosemary, de Roman Polanski. Estes filmes encontram humor até mesmo nos momentos mais assustadores. Eu também sou inspirado pelos filmes de monstros antigos, como A Noiva de Frankenstein e os filmes de Tod Browning (Drácula, Monstros). Estes filmes clássicos de monstros costumam ter vilões simpáticos. O Buraco em Deep Dark é assim. Ela não é puro ‘mal’. Nós sentimos um pouco de pena dela às vezes.

BI: Como foi o processo de produção do filme: busca por financiamento, seleção e elenco, procura de locações?

MM: Para mim, um dos maiores desafios foi selecionar o protagonista, Hermann. Há muitas cenas em que o ator deve falar com um objeto inanimado. Isso significa que o ator, essencialmente, carregaria toda a cena sozinho, o que não é fácil! Isso requer alguém que possa atuar e reagir muito bem. Além disso, Hermann não é o protagonista típico. Ele não é o tipo atlético de rosto quadrado. Ele deve ser um pouco tímido. Eu procurei um pouco e, finalmente, encontrei alguém que achei que conseguiria. Na primeira reunião com nossa diretora de elenco, Lori Lewis, ela disse, “Eu tenho um ótimo ator em mente para Hermann”. “Você tem?”, eu respondi, “porque tem alguém em quem eu já pensei”. Ela abriu um site com dúzias de fotografias de atores. Enquanto ela rola a tela, nós dois dizemos na mesma hora, “Aí está ele!”. Nós dois apontamos para o mesmo ator, Sean McGrath. Ele nunca protagonizou um filme antes, mas eu sabia que ele conseguiria. Depois de completarmos o filme, eu fiquei muito feliz com a vida que ele emprestou a Hermann.

BI: O que você acha que está faltando nos filmes de terror hoje em dia? É preciso inovar?

MM: Inovação é sempre importante. Para mim, minha principal queixa com relação a muitos filmes de terror costuma ser a falta de personagens convincentes. Tantos personagens em filmes de terror são rasos e unidimensionais. Eles raramente mudam ou aprendem alguma coisa. Se acontece, costuma ser superficial. Normalmente, ou eles sobrevivem à experiência, ou não sobrevivem. É difícil escrever bons personagens, mas é muito importante.

BI: Como você enxerga o cenário independente? O que você recomenda a quem quer fazer um filme independente?

MM: É uma época difícil para filmes independentes, mas também uma bem emocionante. É mais fácil que nunca fazer filmes, mas é difícil vendê-los. Cineastas precisam desempenhar mais funções que nunca. Agora, produzir filmes também inclui financiamento coletivo e fomentar um público. É difícil ganhar a vida fazendo filmes independentes. É muito trabalho e pode se tonar uma tortura, a não ser que você goste do processo, então abrace o processo! Comece com um filme pequeno ou com um orçamento pequeno e continue subindo. Ah, e não tenha medo de falhar. Um dos meus diretores favoritos disse uma vez, “Nos filmes, falhar não é cair – falhar é não voltar a se levantar e fazer um outro filme”.

BI: Quais cuidados específicos devem ser levados em consideração na produção de um filme independente de terror?

MM: Eu aprendi algumas coisas no caminho. Vou compartilhá-las com vocês:
• O design sonoro é crucial para um filme de terror. Eu não conseguiria frisar isso o suficiente.
• Efeitos práticos, como tripas, sempre ficam melhores quando se aplica uma fina camada de meleca sobre eles.
• Se você quer que seu filme seja assustador, você vai precisar de bons atores. É a reação dos atores que o faz sentir medo, e não os efeitos.
• Por último, mas não menos importante, não deixe sangue falso por aí em um balde aberto. Um cachorro pode começar a lamber o sangue e a correr pelo set, abanando o rabo com sangue pingando de sua boca, assustando as pessoas.

BI: Quais são os seus filmes de terror favoritos? Por que?

MM: Eu gosto mais de filmes de terror psicológico. Eu não preciso sentir medo sempre. Eu prefiro ver uma boa e distorcida historinha que me leve a algum lugar novo.

A Mosca, Um Lobisomem Americano em Londres, A Noiva de Frankenstein, Monstros, O Chamado, Martyrs, O Bebê de Rosemary, Intermediário do Diabo, Gozu, O Exorcista, O Enigma de Outro Mundo, O Silêncio dos Inocentes

BI: Qual é o próximo passo na sua carreira? Você já tem planos para outros filmes? Você vai participar de outros festivais neste ano?

MM: Eu mal posso esperar para fazer outro filme. Há um outro roteiro em que eu estou trabalhando (mais um terror/fantasia), mas há também um livro que eu quero adaptar. Veremos o que acontece primeiro. Eu preciso trabalhar quando posso, porque apenas fazer filmes não paga minhas contas, então, a todos os leitores, por favor, comprem Deep Dark para que eu possa sair do meu emprego e fazer outro filme! Por favor?

BI: Há algo que você gostaria de acrescentar?

MM: Se vocês tiverem alguma pergunta sobre Deep Dark, sintam-se à vontade para enviá-la através do nosso site. Os e-mails de contato vão diretamente para mim. Ou nos envie uma mensagem no Facebook. Todd, um de nossos produtores, normalmente cuida disso. Nós queremos ouvir de vocês. Ah, e se juntem à mailing list para alguns vídeos gratuitos de bastidores e nós informaremos quando o filme estará disponível. Obrigado!

Conheça o filme: Hermann é um escultor sem talento que sonha em se tornar um grande artista. Quando não está pensando em sua arte, pensa em Devora, uma bela e bem-sucedida galerista conhecida por descobrir novos talentos. Depois de finalmente conhecê-la, Hermann recebe um ultimato: fazer uma obra de arte revolucionária ou desistir para sempre. Duas semanas depois e sem arte para mostrar, Hermann está no fim da linha. Porém, pouco antes de desistir ele descobre algo extraordinário: um buraco falante na parede. Quando o buraco o ajuda a criar algo interessante, sua carreira decola e a paixão surge entre ele e Devora. Sentindo o abandono, o buraco exige mais de Hermann. Muito mais.

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Silvana Perez

Escolheu alguns caminhos errados e acabou vindo parar na Boca do Inferno em 2012. Apresenta o podcast do site, o Falando no Diabo, desde 2019. Fez parte da curadoria e do júri no Cinefantasy. Ainda fala de feminismos no Spill the Beans e de ciclismo no Beco da Bike.

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