4bia (2008) e Phobia 2 (2009)

5
(1)
4bia
Original:See prang
Ano:2008•País:Tailândia
Direção:Banjong Pisanthanakun, Paween Purikitpanya, Yongyoot Thongkongtoon, Parkpoom Wongpoom
Roteiro:Yongyoot Thongkongtoon, Eakasit Thairatana, Paween Purikitpanya, Vanridee Pongsittisak, Amornthep Sukumanont, Banjong Pisanthanakun, Witthaya Thongyooyong, Aummaraporn Phandintong, Sopon Sukdapisit, Chantavit Dhanasevi, Mez Tharatorn, Parkpoom Wongpoom
Produção:Jira Maligool, Chenchonnanee Soonthonsaratul, Yongyoot Thongkongtoon
Elenco:Maneerat Kham-uan, Witawat Singlampong, Apinya Sakuljaroensuk, Chon Wachananon, Nattapong Chartpong, Kantapat Permpoonpatcharasuk, Pongsatorn Jongwilak, Wiwat Kongrasri, Laila Boonyasak, Nada Lesongan, Plai Paramej, Wirot Ngaoumphanphaitoon, Piyakarn Butprasert, Nitiwat Taraton, Pran Tadaveerawat, Sittipong Sea-Le, Shindanai Kanoksrithaworn, Nottapon Boonprakob, Teerapon Panyayuttakarn

Phobia 2
Original:Ha phraeng
Ano:2009•País:Tailândia
Direção:Banjong Pisanthanakun, Visute Poolvoralaks, Paween Purikitpanya, Songyos Sugmakanan, Parkpoom Wongpoom
Roteiro:Vanridee Pongsittisak, Nitis Napichayasutin, Paween Purikitpanya, Sopon Sukdapisit, Parkpoom Wongpoom, Songyos Sugmakanan, Sopana Chaowwiwatkul, Banjong Pisanthanakun, Mez Tharatorn, Chantavit Dhanasevi
Produção:Vanridee Pongsittisak, Chenchonnanee Soonthonsaratul, Pran Tadaveerawat, Suvimon Techasupinun, Yongyoot Thongkongtoon
Elenco:Jirayu La-ongmanee, Ray MacDonald, Chumphorn Thepphithak, Apasiri Nitibhon, Dan Worrawech, Gacha Plienwithi, Sarinrat Thomas, Chartpawee Treechawanvong, Charlie Trairat, Suteerush Channukool, Akiko Ozeki, Theeraneth Yuki Tanaka, Danaipat Labpipat, Nicole Theriault, Peeratchai Roompol, Marsha Wattanapanich, Nattapong Chartpong, Wiwat Kongrasri, Pongsatorn Jongwilak, Kantapat Permpoonpatcharasuk, Phijitra Ratsameechawalit

O cineasta brasileiro Alberto De Almeida-Cavalcanti (1897–1982) não imaginava que em sua excelente carreira na direção de obras clássicas teria uma produção tão importante para o gênero fantástico como Na Solidão da Noite (Dead of Night), de 1945. Essa sensacional antologia foi uma das grandes influências no estilo, gerando uma vasta série de filmes com histórias curtas que invadiriam o cinema nas décadas seguintes. Produções como As Profecias do Dr.Terror (Dr. Terror’s House Of Horrors, 1987) , Muralhas do Pavor (Tales of Terror, 1962), CreepShow – Show de Horrores (CreepShow, 1982), Tales from the Crypt (1972), A Cripta dos Sonhos (The Vault of Horror, 1973), Pesadelos Diabólicos (Nightmares, 1983), A Casa que Pingava Sangue (The House That Dripped Blood, 1970), Contos da Escuridão (Tales From The Darkside, 1989), Trama Sinistra (The Uncanny, 1977), Black Sabbath – As Três Máscaras da Morte (Black Sabbath, 1963), e, muitas outras, estabeleceriam a antologia fantástica como uma importante ferramenta no gênero. São essas películas que fortaleceriam as séries de TV, como Além da Imaginação, Quinta Dimensão, Túnel do Tempo…, e permitiriam a aproximação dos contos e HQs com o cinema.

Com o passar das décadas, as antologias foram perdendo força para as séries de TV, e filmes como Contos da Meia-Noite e Contos do Dia das Bruxas passaram a ser eventuais usos da fórmula (sem colocar na mesma lista a bomba Forças do Mal), embora de tempos em tempos surjam produções como Phobia (mais conhecido como 4bia ou pelo título original See prang) e seu segundo volume Phobia 2 (Ha phraeng), dois ótimos exemplos de que o estilo ainda não está desgastado.

Ambos podem ser considerados como a resposta tailandesa para as séries Mestres do Terror ou Películas para No Dormir, pois trazem cineastas com experiência no gênero para contar histórias curtas de assombrações. Em Phobia, há a participação de Banjong Pisanthanakun e Parkpoom Wongpoom (ambos dirigiram Espíritos – A Morte está ao Seu Lado e Espíritos 2 – Você Nunca está Sozinho), além da direção de Paween Purikitpanya (Reencarnação da Vingança) e Yongyoot Thongkongtoon (produtor de Espíritos 2); enquanto Phobia 2, há a substituição de Yongyoot por Songyos Sugmakanan (Dorm – O Espírito).

PHOBIA

Consiste em quatro histórias macabras envolvendo assombrações e vingança, com alguma relação entre elas, sem narrador ou sequência de introdução. Com duração de cerca de trinta minutos, os curtas poderiam servir como contos independentes, trazendo seu próprio exemplo do que o horror tailandês pode contribuir para o gênero fantástico.

O primeiro segmento, Happiness, com direção de Thongkonthun, é um dos melhores da franquia apesar de apresentar um tema comum envolvendo uma assombração num ambiente clautrofóbico. A bela Pin (Maneerat Kham-uan) mora sozinha e não pode sair de casa devido a um grave acidente que imobilizou sua perna. Ela passa o seu tempo observando pela janela ao estilo Janela Indiscreta e se comunicando com o mundo exterior através de seu celular. Num desses contatos, conhece um estranho que passa a mandar mensagens contantes atiçando a sua curiosidade em querer saber mais sobre a nova paquera, sem pensar nas consequências de seus atos. Sem contar com um diálogo sequer, o conto é basicamente centrado num único ambiente, e ainda consegue manter o interesse do espectador, que fica arrepiado em querer saber como aquele pesadelo irá terminar.

A história seguinte é a mais fraca da série, chamada “Tit for Tat”, embora tenha o final mais chocante. Um grupo de jovens adolescentes fanfarrões acaba cometendo um erro e se intrometendo com magia negra e vudu, quando decidem levar adiante umas brincadeiras agressivas contra um estudante. A vingança ocorre por conta de um livro que traz uma foto de uma pessoa no instante em que ela morreu: quem olhar para essa foto acaba tendo um final trágico, no estilo Premonição. Sabe aqueles sites que trazem fotos de fantasmas e dizeres macabros com ameaças e correntes? É basicamente assim que as vinganças ocorrem para aqueles que resolvem ver o suspiro final de alguém. Ainda que tenha muitas cenas de mortes, bem feitinhas até, o problema está na direção de Paween Purikitpanya, que abusa dos cortes rápidos, da câmera agitada, incomodando o espectador. Os efeitos especiais na sequência final também deixam a desejar, estragando a diversão do espectador.

A terceira história é a mais divertida da franquia, enquanto brinca com outras produções do gênero para contar sua própria história assustadora. In the Middle traz quatro rapazes mochileiros num passeio de bote e acampamento no norte da Tailândia, com seus diálogos super engraçados sobre assombrações e finais de filmes famosos. Dirigido por Parkpoom Wongpoom, a partir de um roteiro de Banjong Pisanthanakun (ambos de Espíritos – A Morte está ao seu Lado), o curta não poupa nem mesmo a obra clássica desses cineastas, ao mostrar os jovens conversando sobre o filme e seu final espetacular. Depois que conversam sobre a possibilidade de um deles morrer e voltar como fantasma, um acidente faz com que um deles desapareça por um tempo, fazendo-os questionar se ele estaria vivo ou morto. Dinâmico e envolvente, o episódio diverte sem parecer bobo ou infantil ao brincar com o gênero de forma criativa e interessante.

Parkpoom Wongpoom também é o diretor da quarta e última história, intitulada Last Fright. O curta traz uma aeromoça que se vê sozinha num voo com o corpo de uma princesa estrangeira que morreu enquanto estava na Tailândia, por complicações alimentares, relacionada a um ato incorreto da garota. Além de estar sozinha com uma morta, o desespero da jovem ocorre também pelo fato dela ter se envolvido com o príncipe, o que seria mais do que óbvio que o espírito da maquiavélica princesa iria aproveitar a oportunidade para transformar a viagem num inferno. Claustrofóbico e assustador, o episódio conclui de forma satisfatória essa magnífica antologia.

PHOBIA 2

Com o sucesso do primeiro filme, não tardou para que uma nova antologia fosse produzida. Desta vez, foram contadas cinco histórias de terror, com temas mais variados do que apenas fantasmas e vinganças. Se no primeiro havia uma conexão pequena entre as histórias (como o príncipe que é mencionado no primeiro episódio), desta vez as produções foram quase completamente independentes (um médico que aparece em dois episódios por exemplo), com momentos mais sangrentos relacionados ao terror oriental mais visceral, ainda que não tão exagerado.

Novice é o nome do primeiro segmento, dirigido por Paween Purikitpanya, que havia errado a mão em “Tit for Tat” em sua condução frenética. Neste, ele parte exatamente para o lado oposto ao mostrar o pesadelo de um jovem delinquente que é obrigado a viver com os monges em suas rotinas de jejum e orações. Com seu jeito irrequieto, ele acaba tendo problemas ao se envolver com as crenças da comunidade sobre um espírito gigante que precisa ser alimentado para deixá-los em paz. Melhor do que o outro episódio do diretor, ainda que seja lento e previsível.

A história seguinte, Ward, mostra um jovem hospitalizado devido a um acidente, tendo as pernas imobilizadas, e sendo obrigado a conviver com um paciente moribundo na mesma ala. Depois que a morte de seu companheiro de quarto é praticamente certa, o rapaz se vê diante de um pesadelo em que seu espírito tenta estrangulá-lo durante a noite. A conclusão é similar a do primeiro episódio ao mostrar que a curiosidade pode levar a pessoa a ter que conviver com seus medos. O roteiro é do estreante da franquia, Sopon Sukdapisit, que trabalhou em Espíritos – A Morte está ao Seu Lado. Curto e previsível, com alguns bons momentos de tensão, é episódio mais fraco da nova série.

Backpackers foge do tema assombração para contar uma história bem interessante e diferente. Um casal de caronistas consegue a ajuda de um caminhoneiro e seu assistente, e acaba se surpreendendo com o conteúdo transportado, principalmente quando este começa a se mexer e atacá-los. É importante falar pouco desse episódio para que o espectador se surpreenda com as mudanças na trama, não conseguindo imaginar a conclusão do terror. E nesta história que o sangue irá se espalhar com mais profusão para delírio dos fãs do gênero. Poderia sair um filme bem divertido se o tema fosse trabalhado de forma mais intensa.

A quarta história Salvage parte de uma ideia bem curiosa: uma vendedora de carros tem o costume de enganar seus clientes ao vender veículos acidentados como se fossem novos. No entanto, aqueles que morreram nos acidentes resolvem assombrá-la numa noite, fazendo-a se arrepender pelas mentiras contadas. Bem dirigida e dramática, perde um pouco do impacto na sua conclusão pouco eficaz. Também foi escrita por Sopon Sukdapisit, trazendo alguns momentos assustadores e uma lição de moral.

Lembra daquele grupo de mochileiros que protagonizou o episódio engraçado do primeiro filme? A química foi tão boa que os mesmos atores retornaram em In the End, de Mez Tharatorn, Banjong Pisanthanakun e Chantavit Dhanasevi. Mais uma vez trata-se de um episódio de humor negro, em que o grupo trabalha na equipe de produção de um filme de terror em sua última filmagem. Depois que a atriz que faz o papel de fantasma é dada como morta e reaparece para terminar as gravações, eles ficam na dúvida se ela é uma assombração que ainda não sabe de seu fim. Novamente, brincam com o estilo ao mostrar o quanto a fórmula oriental já apresenta desgastes em suas ideias repetidas. A atriz Marsha Wattanapanich (que esteve em Espíritos 2) faz papel dela mesmo nesse episódio, com mais oportunidades para citar filmes e brincar com o gênero.

Dois ótimos exemplares do terror tailândês, ainda inéditos em DVD no Brasil, mesmo com o lançamento há praticamente quatro anos. São as distribuidoras brasileiras mostrando aos fãs do gênero o verdadeiro sentido do medo…

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Marcelo Milici

Professor e crítico de cinema há vinte anos, fundou o site Boca do Inferno, uma das principais referências do gênero fantástico no Brasil. Foi colunista do site Omelete, articulista da revista Amazing e jurado dos festivais Cinefantasy, Espantomania, SP Terror e do sarau da Casa das Rosas. Possui publicações em diversas antologias como “Terra Morta”, Arquivos do Mal”, “Galáxias Ocultas”, “A Hora Morta” e “Insanidade”, além de composições poéticas no livro “A Sociedade dos Poetas Vivos”. É um dos autores da enciclopédia “Medo de Palhaço”, lançado pela editora Évora.

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