Perseguidos (2010)

0
(0)
Perseguidos (2010)
Finja-se de Morto!
Perseguidos
Original:Bear
Ano:2010•País:EUA
Direção:John Rebel
Roteiro:Roel Reiné, Ethan Wiley
Produção:Alicia Martin, Roel Reiné, Ethan Wiley, Freddie Wong
Elenco:Brendan Michael Coughlin, Patrick Scott Lewis, Katie Lowes, Bill Rampley, Mary Alexandra Stiefvater

O Zoo Safari do gênero fantástico tem como maior representante o cão assassino Cujo, de 1983, baseado numa obra de Stephen King, sobre uma família a mercê de um animal contaminado com a Raiva, tendo momentos de claustrofobia extrema muito bem realizados. Em 2007, foi a vez de um Leão espreitar alguns desavisados na mesma condição no suspense light de Darrell Roodt Caçados. O animal da vez agora é o urso, antagonista do piece of crap Perseguidos, de 2010, lançado em vídeo pela Focus Filmes. Não é a primeira vez que ele faz vítimas em filmes de terror: em 1976, Christopher George, de Pavor na Cidade dos Zumbis, assumiu esse feito no longa Grizzly, dirigido por William Girdler. Depois, teríamos relatos de aparições em diversas produções como o trash made-for-tv Grizzly Rage, de 2007, e o também ruim Grizzly Park (2008). Se observar o currículo da criatura, chegamos à conclusão que até o momento não foi feito um filme de terror sequer que honrasse sua magnitude no Reino Animal.

É bem provável que John Rebel dirigiu Perseguidos concomitantemente com o lixo Terra dos Lobos para evitar que a ruindade de um impedisse a realização do outro. Embora goste de ver animais como vilões em filmes de terror, o diretor já deixou evidente sua falta de talento com base nessas duas produções que provavelmente enterraram sua carreira como cineasta. Seu cúmplice no crime é o roteirista Roel Reiné, com a parceria de Ethan Wiley, que, nos tempos áureos, elaborou a trama de A Casa do Espanto, de 1986, mas cairia na avaliação anos mais tarde em pérolas como Colheita Maldita 5 – Campos do Terror, Brutal e Deadwater.

Repetindo os erros cometidos em seu outro trabalho, o diretor novamente traz um elenco composto de apenas quatro atores, com a câmera não se decidindo entre as tomadas fechadas, cortes secos e movimentos constantes. Isso se traduz na cena inicial, quando acompanhamos um veículo por uma estrada deserta, trazendo detalhes da fisionomia dos atores e seus gestos antes mesmo de apresentá-los devidamente ao público. Eles são: os irmãos Nick (Brendan Michael Coughlin, de Days of Our Lives) e Sam (Patrick Scott Lewis, de Zodíaco), além das respectivas companheiras Christine (Katie Lowes, de Super 8) e Liz (Mary Alexandra Stiefvater, de Driving by Braille).

O grupo está na estrada para um churrasco com os pais de Sam e Nick em comemoração ao aniversário de casamento. Nick pisa fundo no acelerador da Van para apressar a chegada ao local – embora a condução de câmera não saiba expressar essa ideia corretamente – e, ao tentar um atalho, o pneu do veículo estoura, fazendo-os sair da estrada. Algumas discussões permitem que o telespectador saiba que Sam não concorda com a escolha de vida de Nick, um músico que teve problemas com o vício. Outras pistas sobre os personagens são dadas mais tarde, pois uma criatura parece não ter gostado da presença deles ali.

Ao ouvir um rugido, surge a primeira pérola da produção: Será um guaxinim? Para o azar da garota, trata-se de um urso pardo, animal carnívoro que pode chegar a pesar 1 tonelada e alcançar até 1,70 de comprimento. Dizem por aí que a criatura pode até arrancar a cabeça de uma pessoa com a sua forte patada, tendo relatos de membros arrancados de alguns infelizes que ousaram provocá-la. Com a aparição do animal, Sam não pensa duas vezes: pega seu revólver e dispara diversas vezes, matando-o.

Mais algumas debates sobre o urcídio até que um outro animal aparece, ainda maior que o anterior, sem que haja balas de revólver para enfrentá-lo. Eis que uma nova pérola é proferida para a diversão do público: Não estou gostando do jeito que ele está me olhando. Acuados, eles correm para o carro, enquanto Nick tem a belíssima ideia de subir numa árvore. Digno de um episódio dos Trapalhões, Sam acelera com o veículo e acerta a árvore, derrubando o irmão, que é quase devorado.

Diferente de Terra dos Lobos, você até consegue se divertir com as situações mostradas em Perseguidos. Seja nos comentários bobos, nas tentativas de fuga frustradas ou nos efeitos especiais risíveis. Em nenhum momento o urso aparece em cena com os atores, o máximo que se vê são algumas patas tão artificiais quanto o focinho do Rottweiler de Brian Yuzna. Repare na cena em que eles se escondem num tubo de alimentação e o animal rasga o metal facilmente, embora não consiga fazer o mesmo com o carro.

Quando tudo parecia excessivamente ruim, a trama consegue piorar ao acrescentar umas cenas típicas de uma novela mexicana, com as discussões do grupo revelando traições e uma gravidez. Provavelmente, o roteirista achou também que poderia ser interessante dizer que os ursos possuem poderes e são vingativos como os índios acreditavam. Mesmo quando um deles consegue fugir até alcançar a casa dos pais, que fica a quilômetros do local, o urso o captura e o leva de volta para que eles resolvam suas pendências. É preciso ter muito bom humor para aguentar tudo isso!

Nunca vi animais serem tão maltratados em seus conceitos como nesses dois exemplares comandados por John Rebel e incrivelmente lançados em DVD no Brasil. Ao ler nos créditos a mensagem sobre nenhum animal ter sido ferido com as filmagens, posso afirmar que se trata de uma grande mentira, pois tanto os ursos quanto os lobos tiveram sua moral ofendida nessas produções.

Curiosamente, o local onde foi filmado Perseguidos foi tomado por um grande incêndio algum tempo depois, e a produção, pelo menos, serviu de orientação para doações para a preservação da região, conforme indica uma mensagem no final dos créditos.

O que você achou disso?

Clique nas estrelas

Média da classificação 0 / 5. Número de votos: 0

Nenhum voto até agora! Seja o primeiro a avaliar este post.

Avatar photo

Marcelo Milici

Professor e crítico de cinema há vinte anos, fundou o site Boca do Inferno, uma das principais referências do gênero fantástico no Brasil. Foi colunista do site Omelete, articulista da revista Amazing e jurado dos festivais Cinefantasy, Espantomania, SP Terror e do sarau da Casa das Rosas. Possui publicações em diversas antologias como “Terra Morta”, Arquivos do Mal”, “Galáxias Ocultas”, “A Hora Morta” e “Insanidade”, além de composições poéticas no livro “A Sociedade dos Poetas Vivos”. É um dos autores da enciclopédia “Medo de Palhaço”, lançado pela editora Évora.

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *