Alien – A Ressurreição (1997)

3.6
(7)

Alien – A Ressurreição
Original:Alien: Resurrection
Ano:1997•País:EUA
Direção:Jean-Pierre Jeunet
Roteiro:Ronald Shusett, Joss Whedon
Produção:Bill Badalato, Gordon Carroll, David Giler e Walter Hill
Elenco:Brad Dourif, Carolyn Campbell, Cris D'Annunzio, Dan Hedaya, Dominique Pinon, Gary Dourdan, J.E. Freeman, Kim Flowers, Leland Orser, Michael Wincott, Raymond Cruz, Regan DuCasse, Ron Perlman, Sigourney Weaver e Winona Ryder.

Passados dois séculos após os acontecimentos mostrados em Alien³ (1992) – nos quais testemunhamos o salvador suicídio da personagem vivida por Sigourney Weaver – estamos nós novamente na solidão do espaço, lugar onde ninguém pode ouvir você gritar – seja de dor, ou mesmo de raiva. O cenário agora é a gigantesca espaçonave militar USM Auriga. Em seu interior, o ser humano mais uma vez vai ser caçado e levado ao limite pelas quase indestrutíveis criaturas alienígenas – as mesmas que fizeram do longa-metragem dirigido por Ridley Scott em 1979 um dos clássicos mais cultuados do gênero. Mas infelizmente, nesta terceira sequência de Alien – O Oitavo Passageiro, a soma de tudo o que vemos se resume a uma grande e mal feita reciclagem de conceitos apresentados nos episódios anteriores – seja no enredo pouco criativo ou nos personagens que se perdem em clichês que a própria série criou.

O roteiro de Joss Whedon (sim caros amigos, o mesmo ser que escreveu e dirigiu o blockbuster Os Vingadores, 2012) é falho na tentativa frustrada de aproveitar os personagens criados por Ronald Shusett e Dan O’Bannon, em especial a Tenente Ripley. Entendo que fosse inevitável reviver a heroína – o conceito da clonagem (tema muito in voga na época, já que um ano antes cientistas haviam anunciado o primeiro clone de um mamífero, a famosa ovelha Dolly) não é assim tão ruim, pois a Tenente (na verdade, o seu clone) acabou recebendo um level up quando o seu DNA foi misturado ao dos aliens: ela está maior, mais forte, mais ágil e seu sangue também é ácido; o problema principal é que estas características são quase esquecidas e muito pouco exploradas, mesmo no aguardado embate final entre a protagonista e o alien. Os demais personagens inseridos na trama parecem roubados de alguma produção barata dos anos 80: de um lado militares e cientistas que querem reproduzir os aliens e transformá-los em algum tipo de arma de guerra; do outro contrabandistas e assassinos interessados em promover um arrastão na USM Auriga. Temos também, segue um pequeno SPOILER, um personagem que “surpreendentemente”, assim como o Ash (de Alien – O Oitavo Passageiro) e Bishop (de Aliens – O Resgate) se revela um androide.

O elenco em si, é bem interessante, embora também acabe totalmente desperdiçado: além de Sigourney Weaver – cabe aqui um pequeno parênteses: a atriz embolsou cerca de US$ 11 milhões para reviver a sua personagem mais famosa, enquanto o primeiro filme custou menos de US$ 8 milhões; temos a bela e talentosa Winona Rider (de Cisne Negro, 2011) como Annalee Call, Ron Perlman (de Hellboy, 2004) como o mercenário Johner, Brad Dourif (o eterno Charles Lee Ray de Brinquedo Assassino, 1988) como o cientista inescrupuloso e ainda Gary Dourdan (o agente Warrick, da série CSI: Las Vegas) como o contrabandista Christie. Graças à abordagem superficial do enredo, nenhum destes personagens apresenta qualquer tipo de profundidade, a menor que seja (ou a mínima esperada de uma produção do tipo); obviamente é impossível qualquer empatia com estas figuras inexpressivas, sem passado e sem carisma. Melhor não se desesperar, sempre nos resta torcer para que sejam devorados o mais rápido possível!

O mais difícil é acreditar que todos estes equívocos tenham sido orquestrados pelo francês Jean-Pierre Jeunet, um cineasta que traz em seu currículo obras interessantíssimas, de fortíssimo apelo visual e sucessos incontestáveis de público e crítica como O Ladrão de Sonhos (1995), Delicatessen (1991) e O Fabuloso Destino de Amélie Poulain (2001). Misteriosamente Jeunet comete um equívoco imperdoável, que é o de ignorar a estratégia básica e simples, mas eficiente, de estruturação do efeito “suspense” – estratégia ensinada com maestria pelo primeiro filme da série. Artifícios como os cenários escuros (Alien – A Ressurreição é irritantemente bem iluminado), os corredores apertados, o clima claustrofóbico, a trilha sonora incisiva (as composições de John Frizzell para o filme passam totalmente despercebidas), o ritmo de tensão crescente que antecipa um final pouco otimista, nenhuma destas ideias é aproveitada pelo cineasta. O resultado é que tudo soa não apenas muito limpo, mas também preguiçoso e “ouso dizer”, mal feito demais.

As Criaturas.

Desnecessário dizer que o fantástico visual das criaturas concebidas por H. R. Giger sempre foi o principal atrativo de toda franquia. Mas não é bem assim em Alien – A Ressurreição. Os produtores decidiram inovar exatamente onde não deviam. O resultado foi que o design das criaturas acabou muito inferior ao original. Logo no início, vemos uma cirurgia em que é retirado um pequeno “filhote” alien do peito da tenente Ripley. Este filhote cresce e se transforma no que é chamado de rainha alien (uma das criaturas mais mal feitas de toda a série). Pra piorar, ao contrário das outras de sua espécie, esta rainha não coloca ovos; ela dá a luz ao seus filhotes de maneira semelhante as fêmeas humanas. E é ela quem vai gerar o alien protagonista que enfrentará a Tenente Ripley nas sequências finais: um amálgama entre um ser humano e uma criatura alienígena. Infelizmente, este alien – cuja concepção foi do próprio Jeunet e da empresa de efeitos especiais Amalgamated Dynamics Incorporated (ADI), a mesma de Alien³ – em nada lembra os traços do artista plástico H. R. Gigger. O monstro, um boneco animatrônico, que curiosamente possuía orgãos genitais masculino e feminino (que obviamente acabaram retirados na pós-produção a pedido da Fox) ganhou uma aparência humana que rendeu-lhe um ar patético de piedade. Ainda outra grande oportunidade foi desperdiçada nas cenas em que o aliens perseguem suas presas embaixo d’água. Para estas sequências foram utilizados efeitos um tanto comprometedores em CGI. Ou seja, no quesito efeitos especiais/visuais, Alien – A Ressurreição também foi reprovado; quase 20 anos depois de Alien – O Oitavo Passageiro, mesmo com um orçamento dez vezes maior e uma tecnologia muito mais avançada, o resultado foi vergonhoso.

Dentre tantos equívocos, destaca-se, além de algumas poucas cenas mais violentas, o encontro do clone da Tenente Ripley com as outras 7 mal sucedidas tentativas de clonagem, que resultaram em verdadeiras aberrações genéticas e seres deformados.

Mas para os produtores, nem tudo foi ruim. Aliens – A Ressurreição estreou em 2.415 salas nos Estados Unidos e em 2 semanas arrecadou US$ 47,7 milhões em solo americano (o pior desempenho entre os filmes da série). Porém a bilheteria internacional inflou este valor para algo em torno de US$ 160 mi e, independente das críticas negativas e da má aceitação do público, acabou cobrindo com certa folga os US$ 70 mi gastos na produção.

Mas o fato mesmo é que ninguém ficou muito satisfeito com a versão final de A Ressurreição. Em 2005, o roteirista Joss Whedon confessou que nunca aprovou realmente o filme, não apenas por que fugia da proposta de seu roteiro, mas por que haviam alterado todo o desfecho que havia escrito. Esta leitura totalmente equivocada do roteiro teria tornado Alien – A Ressurreição um filme tão horrível a ponto de ser impossível de assisti-lo, ainda segundo as palavras de Whedon. Mesmo não querendo definir um único culpado para o fracasso da produção, é impossível não imaginar como o filme teria ficado em mãos diferentes. Outros diretores, como Danny Boyle (Extermínio, 2002), Brian Singer (Os Suspeitos, 1995) e até mesmo Peter Jackson (O Senhor dos Anéis, 2001) foram sondados antes da escolha de Jeunet – que aceitou o desafio com a condição de ter a liberdade criativa total, inclusive para colaborar no desenvolvimento das criaturas e alterar o roteiro original. Enfim, nada funciona realmente bem em Alien – A Ressurreição, em especial – e como principal destaque negativo – o roteiro pouco original e mal desenvolvido. Uma produção medíocre, muito aquém do que merece uma franquia tão adorada.

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Média da classificação 3.6 / 5. Número de votos: 7

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João Pires Neto

João Pires Neto é apaixonado por livros, filmes e música, formado em Letras, especialista em Literatura pela PUC-SP, colaborador do site Boca do Inferno desde 2005, possui diversos contos e artigos publicados em livros e revistas especializadas no gênero fantástico. Dedica seu pouco tempo livre para continuar os estudos na área de literatura, artes e filosofia

16 thoughts on “Alien – A Ressurreição (1997)

  • 01/09/2022 em 08:46
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    Gosto bastante desse filme e sinceramente eu não entendo todo esse hate em torno dele. É bem melhor que o terceiro filme na minha opinião e possui otimos efeitos especiais.

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  • 26/12/2017 em 21:42
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    Olha, não gostei da crítica. Falar que o filme tá tudo limpo demais é querer falar mal do filme sem saber. Os cenários estão bem legais, corredores apertados. Acho que você confundiu de filme. Boca, bpta outro pra fazer a crítica porque esse parece que nem viu o filme.

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  • 16/07/2017 em 14:55
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    Eu simplesmente achei ele bem melhor que o terceiro. Não concordo com essa critica, mas aí gosto cada um tem o seu.

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    • 23/11/2019 em 00:21
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      Eu achei maravilhoso o filme, as criaturas ficaram muito bem feitas e a história ficou muito legal, muito top a parte das mutações da Ripley.

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  • 18/10/2015 em 02:16
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    Horrível o quarto filme, não sei como existem defensores da ideia que este seja melhor que o 3… Alien de verdade foi até o 2, no 3 tudo mudou o que era a essência da franquia Alien. No 3 que foi péssimo, ao menos tínhamos uma Ripley, bem diferente (dormiu com o médico, wtf) da velha Ripley, mas ainda de certa forma a Ripley, que sustentava o filme. Nesse quarto filme da Série, nem Ripley existe mais, pois como é um clone animalesco da Ripley, ela age de forma mais robótica do que os androides sintéticos do filme… Raríssimas expressões no rosto me faziam reconhecer como a velha Ripley, fora esse defeito, contrataram um elenco de coadjuvantes de filmes medianos/trash de ação, com várias caras e bocas forçadas retardadas.
    Pior mesmo foi ouvir a Ripley dizer uma merda do tipo “Com quem preciso foder para conseguir sair dessa nave”…
    Perda de tempo.

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  • 14/04/2015 em 22:11
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    Críticas feitas por fãs chiitas são impiedosas. Kkkkkkkkk.

    O filme não é genial e talvez não acreacrescente nada à série. …. mas garante momentos de diversão e cumpre o seu papel principal que é o de levar cifras à Fox!

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  • 25/03/2015 em 14:35
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    Esse foi o primeiro filme da saga Alien que eu assisti, e não o acho tão ruim assim, admito que possui várias falhas mas não a ponto de ser pior que o terceiro ( que é chato e cretino a única coisa que me fez ter coragem de assistir até o final foi a fantástica atuação da Sigourney Weaver e a violência). O que me deixou chocado foi a critica aos efeitos deste quarto filme (o de Alien³ é o pior da série, o bicho parece um gif) algumas coisas ficaram datadas isso sim mas nada que prejudique tanto.

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  • 16/01/2015 em 19:41
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    Eu acho esse filme ótimo, me lembro perfeitamente quando ele saiu, acho ele muito mais digno do que o terceiro. Esse quarto capítulo infelizmente sofre com o mal criado pelo terceiro filme da franquia, pois tenta de alguma forma dar seguimento á uma história mal terminada. A cena final é bem legal.

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  • 07/10/2014 em 21:45
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    Foi bem melhor que o terceiro. Os Aliens ficaram bem melhores, a história é boa, o cenário ficou muito bom, pois lembra em muito o cenário do primeiro filme. Discordo totalmente da critica que foi feita do filme.

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  • 15/02/2014 em 02:37
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    Alguém pode por favor me explicar como que o bebê alien (se podemos chamá-lo de bebê) consegue chegar na nave já que ele se move a passos de lesma??? Sendo que a Ripley teve suar a calcinha para não ficar para trás. Será que ele tem poderes de teleportação??? E realmente da franquia esse filme é o mais fraco, mas dá pra assistir em uma segunda-feira de chuva a tarde.

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  • 02/11/2013 em 01:32
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    Esse não é o pior da série! Pra mim, é o 3…

    E como assim a Rainha Alien é mal feita? O lance do CGI eu achei bem legal, deu uma nova face a franquia. Fiquei feliz por arriscarem nisso, conseguiram mostrar os Aliens de forma mais “nítida” (não dava pra ficar mais naquele clima de suspense do primeiro filme, 4º filme já!).

    Ver a tenente Ripley de volta (mesmo como clone) e o clima claustrofóbico presente nos filmes anteriores (certo que nesse é mais iluminado), foi, no mínimo, nostálgico. O filme tem uma história aceitável, ação, morte, e consegue ser tenso em certos momentos, A parte que Ripley e os mercenários têm que passar por baixo d’água para chegarem a numa saída é uma das melhores.

    A crítica rebaixou demais um filme que nem chega a ser ruim como dizem.

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  • 04/04/2013 em 00:05
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    Cara, tá certo que de toda a franquia esse é o pior, mas a sensação que se passa ao ler o texto é que simplesmente você está detonando um filme que detestou ao invés de fazer uma crítica bem elaborada. (Isso do meio pro final do texto, pois em muitas partes eu concordo)
    Eu particularmente acho que diverte, e o visual do Alien do final ficou incrível! Apesar de bem diferente dos demais, ele foi feito pra morrer no desfecho e cumpriu muito bem seu papel. Quanto ao CGI, olha o ano de lançamento do filme. Época em que o CGI dava seus primeiros e tímidos passos com um hardware extremamente limitado. (outro ponto injustamente esculachado pela maioria é essa birra infundada que a turma da jovem guarda tem com a computação gráfica)
    Mas em partes tenho que concordar, o filme é um desfile de clichês.
    Alien é Alien porra!

    Resposta
  • 04/04/2013 em 00:05
    Permalink

    Cara, tá certo que de toda a franquia esse é o pior, mas a sensação que se passa ao ler o texto é que simplesmente você está detonando um filme que detestou ao invés de fazer uma crítica bem elaborada. (Isso do meio pro final do texto, pois em muitas partes eu concordo)
    Eu particularmente acho que diverte, e o visual do Alien do final ficou incrível! Apesar de bem diferente dos demais, ele foi feito pra morrer no desfecho e cumpriu muito bem seu papel. Quanto ao CGI, olha o ano de lançamento do filme. Época em que o CGI dava seus primeiros e tímidos passos com um hardware extremamente limitado. (outro ponto injustamente esculachado pela maioria é essa birra infundada que a turma da jovem guarda tem com a computação gráfica)
    Mas em partes tenho que concorda, o filme é um desfile de clichês.
    Alien é Alien porra!

    Resposta
  • 26/03/2013 em 22:51
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    sem dúvida foi o que menos gostei da série..

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