Ondas do Pavor (1977)

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Ondas do Pavor
Original:Shock Waves
Ano:1976•País:EUA
Direção:Ken Wiederhorn
Roteiro:John Kent Harrison, Ken Pare e Ken Wiederhorn
Produção:Reuben Trane
Elenco:Brooke Adams, Clarence Thomas, D.J. Sidney, Don Stout, Fred Buch, Jack Davidson, John Carradine, Luke Halpin e Peter Cushing

A partida é interessante: pouco antes da II Guerra Mundial, o Alto Comando Alemão teria focalizado suas pesquisas científicas no estudo do sobrenatural. Um destes projetos seria o desenvolvimento da arma perfeita – um soldado invencível. O resultado: um pelotão de guerreiros que não usavam armas e matavam com as próprias mãos, um comando de militares mortos-vivos. Zumbis Nazis? Por incrível que pareça, mesmo na época, a ideia já não era assim tão original. Antes mesmo de Shock Waves aka Ondas de Pavor aka Comando de Mortos-Vivos (1977) e ainda na era pré-romerica, foram produzidos pelo menos três filmes que se utilizaram do mesmo conceito: King of the Zombies (1941), Revenge of the Zombies (1943) e The Frozen Dead (1966). Nas décadas seguintes, com a popularização do subgênero zumbi, o conceito bizarro de misturar mortos-vivos e nazismo continuou se reciclando – a lista é imensa e a maioria dos filmes, infelizmente, permanecem inéditos por aqui. Para incitar a curiosidade do leitor, segue alguns exemplos: os franceses Zombie Lake (escrito por Jesus Franco e dirigido por Jean Rollin) e La tumba de los muertos vivientes (este, dirigido por Franco), ambas tranqueiras deliciosas lançadas em 1981; no mesmo ano tivemos o americano Night of the Zombies (1981); mais recentemente, Horrors of War (2006); Town Creek (dirigido por Joel Schumacher em 2009); o ótimo e exagerado norueguês Dead Snow (2009, mais conhecido nas locadoras tupiniquins como Zumbis na Neve); o britânico Missão de Risco (2008) e sua continuação, Outpost: Black Sun (2012); a pérola da Asylum Nazis at the Center of the Earth (2012) e o promissor The 4th Reich (previsto para ser lançado em 2013).

Contudo, não basta ser um morto-vivo nazista; em Shock Waves, os zumbis andam debaixo d’água – na verdade passam a maior parte do tempo lá, à espreita, esperando para atacar. No enredo eles foram criados a partir de corpos de assassinos e psicopatas e permaneceram no fundo do mar durante muitas décadas, até que um inexplicável fenômeno metereológico os traz de volta à superfície. Azar para os poucos sobreviventes de um pequeno barco naufragado, que alcançam uma ilha supostamente deserta e se tornam presas fáceis para o grupo de militares mortos-vivos.

Apesar de algumas boas sacadas como os zumbis-nazis-aquáticos, o roteiro escrito por Ken Wiederhorn (de A Volta dos Mortos-Vivos 2, 1988) e John Kent Harrison rapidamente se afunda em algumas falhas grotescas. Entre uma dezena de erros primários, se destaca negativamente o péssimo tratamento dado aos personagens. O capitão do navio, que a princípio parece o personagem menos unidimensional de toda a trama, é descartado ainda na primeira metade do filme. O misterioso personagem, vivido pelo excelente John Carradine (pai dos atores David, Keith e Robert Carradine), é literalmente desperdiçado com sua morte apressada e sem justificativa – e em off screen, nem ao menos vemos como ou por quê ele foi morto (se afogou? foi assassinado? se matou?). Mas o pior ainda está por vir: o tratamento dado ao lendário Peter Cushing (parceiro de Christopher Lee nas produções da Hammer) é vergonhoso. Seu personagem, um oficial a serviço de Hitler responsável pela criação dos zumbis, fica correndo e se escondendo durante praticamente todo filme. O desfecho é tão preguiçoso quanto o desenrolar da trama: a única sobrevivente (interpretada pela bela Brooke Adams) inexplicavelmente escapa dos zumbis em um pequeno bote, que fica à deriva até ser encontrado. Outra característica quase inadmissível é o ponto fraco dos supersoldados (alguém mais se lembrou do Capitão América?). Como a própria narração nos conta no início, as forças aliadas jamais os conseguiram derrotar, não estão mortos nem vivos, são praticamente invencíveis… a não ser que sejam retirados os seus óculos escuros e seus olhos sejam expostos à luz do dia! O poderoso soldado zumbi aquático fica cego e começa a se decompor!

Como podem notar, o elenco não deveria ser um problema. O diretor e roteirista Ken Wiederhorn tem a disposição John Carradine, Peter Cushing (neste mesmo ano ele atuaria como parte do Império em Guerra nas Estrelas) e a iniciante Brooke Adams (de Invasores de Corpos, versão de 1978) desfilando de biquíni.

Outro ponto certamente questionável é a ausência de sangue, cérebros e afins – tudo o que se espera de um bom filme de zumbi. As mortes são todas limpas, a maioria por afogamento ou enforcamento, quando não em off screen. Ou seja, a maquiagem se resume ao visual dos zumbis-anfíbios, que também se distingue do modelo “romero”: os mortos-vivos não se parecem com cadáveres ambulantes como manda a tradição, eles são extremamente brancos, loiros e utilizam uniformes da SS nazista. E diferentemente de outras produções mais emblemáticas do gênero nazisploitation, cuja marca é o erotismo, não temos nenhuma sequência de nudez ou sexo.

Contudo, Shock Waves é muito eficiente ao criar uma atmosfera altamente depressiva, especialmente pela fotografia crua, pelas paisagens naturais utilizadas como cenário (lagos escuros, rios e pântanos  e pelas cenas em que os zumbis andam submersos. A sombria trilha sonora original composta por Richard Einhorn (de Quem Matou Rosemary?, 1981) colabora para amplificar esta sensação incômoda de estranhamento.

Talvez todas as deficiências apontadas anteriormente possam ser relevadas quando consideramos o orçamento limitado da produção (algo em torno de U$ 200 mil) e a inexperiência de seus realizadores – o filme é a estreia nos cinemas tanto dos roteiristas quanto do diretor. Reza a lenda que a dupla Cushing e Carrradine teria cobrado apenas U$5 mil por dois dias de trabalho (explicação para a breve participação de Carradine) e que todas as filmagens teriam durado apenas 30 dias. O principal cenário seria um imponente hotel realmente abandonado na Califórnia, cujo aluguel teria custado míseros U$ 200 dólares.

Enfim, com o passar dos anos, Shock Waves foi adquirindo status de cult, principalmente pela premissa curiosa e estilo trash, além da presença dos astros do gênero Peter Cushing e John Carradine. E mesmo que lamentavelmente todas as boas intenções se dispersem numa realização pouco satisfatória, Ondas do Pavor/Shock Waves certamente merece ser descoberto e quem sabe até mesmo reconhecido como um interessante filme ruim sobre zumbis-nazistas-submarinos.

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João Pires Neto

João Pires Neto é apaixonado por livros, filmes e música, formado em Letras, especialista em Literatura pela PUC-SP, colaborador do site Boca do Inferno desde 2005, possui diversos contos e artigos publicados em livros e revistas especializadas no gênero fantástico. Dedica seu pouco tempo livre para continuar os estudos na área de literatura, artes e filosofia

5 thoughts on “Ondas do Pavor (1977)

  • 13/01/2014 em 14:45
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    Pessoal, Alguém sabe se esse filme já passou na televisão antigamente.Eu não tenho certeza se ele já passou ou não,gostaria de saber…

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  • 15/07/2013 em 21:27
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    Com todo respeito ao seu julgamento, João, mas esse filme é um marco no cinema de horror. É um filme trash e não uma super-produção. Duas caveiras para esse filme é muito pouco. Vou relevar porque vc é vegetariano.

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    • 17/11/2019 em 18:21
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      Achei péssimo! Vi o filme para ver outro trabalho do ator Luke Halpin, pois sou fã do Flipper, e queria ver outro filme com ele. Deprimente! Talvez, pelo fato de não ser meu estilo de filme. Detestei!

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  • 21/04/2013 em 08:53
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    MUITO TRASH ISSO AÍ HEIN?

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