Nove Vidas (2002)

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Nove Vidas (2002)
E nenhuma interessante!
Nove Vidas
Original:Nine Lives
Ano:2002•País:UK
Direção:Andrew Green
Roteiro:Andrew Green, Tom MacRae
Produção:Andrew Green, Giles Hattersley, Nikolas Korda
Elenco:Rosie Fellner, Vivienne Harvey, Paris Hilton, Patrick Kennedy, David Leitch, David Nicolle, Ben Peyton

Depois de atuar brilhantemente num vídeo pornô caseiro, a herdeira dos Hotéis Hilton acreditou realmente que pudesse ser atriz. Depois de ganhar um programa próprio – The Simple Life, ela começou a adquirir papéis cada vez mais significativos em sua curta carreira, com destaque para sua participação no slasher A Casa de Cera, onde sua personagem morre de forma violenta – para a nossa alegria. Alguns anos antes, em 2002, Paris Hilton fez sua estreia no gênero ao atuar no filme inglês Nove Vidas (Nine Lives), com distribuição brasileira pela FlashStar.

A capa e alguns cartazes espalhados pela cidade mostravam a sex simbol liderando um elenco formado por rostos desconhecidos, como se ela fosse a personagem principal do longa, a heroína que seria perseguida o tempo todo pelo vilão até conseguir encontrar um meio de matá-lo. Ledo engano. Paris Hilton não dura nem meia hora em cena até ser despachada rapidamente para o seu universo fútil. Mas ainda assim o interesse do público masculino em sua beleza de barbie pornô é a única aposta dos realizadores para adquirir algum lucro com essa produção que custou uma mixaria, aproximadamente U$1 milhão de dólares. Aliás, se eu fosse os investidores, pediria com certeza uma prestação de contas, com notas fiscais que comprovem o valor gasto, já que nada justifica tamanho investimento. Talvez a neve computadorizada ou o aluguel da mansão?

Uma garota abre desesperadamente uma porta e avança pelos corredores de uma mansão segurando uma faca suja de sangue. Ela bate com força contra a porta de um aposento e diz: Deixe-me entrar. Sou eu, Laura. Eu o matei. Não tenho muito tempo. A cena corta para os créditos iniciais, e vemos vários carros percorrendo uma bela paisagem escocesa rumo a um casarão, similar ao início do filme A Casa dos Maus Espíritos.

São nove amigos – na verdade, são oito, pois um não veio na carreata -, ex-colegas de escola, que chegam ao local, a convite de um deles – Tim – que está completando 21 anos. Assim que adentram a residência, conhecem seus quartos e já decidem colocar a conversa em dia, revelando algumas informações pessoais, mas que não são plantas, isto é, não tem nenhuma importância ao filme. Assim que o último convidado chega, o tempo muda e tem início uma tempestade de neve, que irá bloquear o local criando um clima clichê de claustrofobia.

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Conheça um pouco cada personagem e repare na quantidade de informações úteis podemos extrair deles:

Andy (Ben Peyton) – formado recentemente em medicina, é o personagem que sofre bullying da turma.

Jo (Paris Hilton) – socialite, conhece o mundo através de viagens. É namorada de Tom.

Tom (Lex Shrapnel) – Vive se olhando nos espelhos e tomando banhos longos. Numa dessas atitudes narcisistas, leva o primeiro e único susto do filme.

Peter (David Nicolle) – é considerado o mais pobre do grupo, tanto que foi o único que não veio de avião. Namora Lucy, mas sente uma quedinha por Laura.

Lucy (Vivienne Harvey) – apesar de namorar Peter, anda se aproximando muito de Andy.

Emma (Rosie Fellner) – histérica, esquisita. Tem alguns surtos, nunca explicados. È também burrinha, demora para perceber o que está acontecendo e quando percebe, entende errado.

Laura (Maureen Turner) – formada em filosofia existencialista. Tem medo de lugares fechados, apesar de nunca se importar em ficar trancado neles (falha básica no roteiro). Gosta de Peter e espera uma oportunidade para se aproximar do rapaz.

Damien (James Schlesinger) – é o engraçadinho da turma. Adora assustar seus amigos, contar piadas e chamar a atenção, mas é o primeiro a ficar desesperado e mostrar seu lado mais fresco.

Tim (Patrick Kennedy) – aniversariante. Ele foi o responsável pelo convite e é o herdeiro da mansão.

Todas essas características inúteis são atribuídas logo na primeira meia-hora do filme, quando há muita conversa pra lá e para cá permitindo ao espectador um bom tempo para dormir. Depois de muita enrolação, Tom vai ao toalete para mais uma visita de rotina e acaba se assustando quando vê sua imagem no espelho: ele está sem os olhos, num recurso extremamente barato e sem impacto. O rapaz também ouve batidas na porta, mas não encontra ninguém nos corredores. No entanto, o que mais o intriga é o fato dele ter se afastado dos amigos por 45 minutos, acreditando ter ficado apenas alguns.

Depois que ele retorna, seus amigos começam a ir para seus aposentos. Nesse momento, acontece mais uma cena descartável: Lucy começa a subir as escadas com seus companheiros, quando percebe que esqueceu o celular e resolve voltar para buscá-lo. Logo você imagina que algo irá acontecer a ela, um susto pelo menos, né? Pois, você errou. Tentando se desviar do clichê, a garota volta e encontra Jo com o celular nas mãos. Não entendi o motivo de terem filmado isso…

Outro que está entendendo menos ainda é Tom. Ele começa a fuçar nas estantes da biblioteca de Tim e, acidentalmente, abre um buraco na parede, onde encontra um velho livro. Ele lê algumas páginas e descobre que a casa foi dada a família de Tim pelo apoio à Inglaterra na guerra contra a Escócia, no século XVI. Narra também os feitos de um tal de Murray – devem estar se referindo a Jayme Stuart, irmã da Rainha Maria Stuart, que recebeu esse título quando se tornou primeiro ministro. No livro, Tom fica sabendo que Murray foi assassinado de forma cruel no fim da Guerra: entre as torturas que sofreu, seus olhos foram arrancados e ele teve que engoli-los. De repente, Tom começa a repetir uma frase várias vezes – Eu estou de volta… -, seus olhos ficam vazios e ele golpeia Tim, que cai desacordado.

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Essa é a proposta do filme Nove Vidas. Um personagem fica possuído pelo espírito de Murray e se torna um assassino. Quando ele morre, a pessoa que o matou incorpora o espírito e passa a perseguir os demais. Simples assim. Apesar de não possuir originalidade (Possuídos fez algo similar, porém mais interessante), a história até poderia render um filme no mínimo curioso, no entanto, os roteiristas Andrew Green – também culpado pela direção – e Tom MacRae tornam tudo mais complicado e ruim. Sâo tantos absurdos na trama, tantas cenas repetidas e clichês usados a exaustão, que fica muito difícil destacar algum. Com isso, com o intuito de ajudá-lo a aproveitar melhor seu tempo livre, vou concluir essa análise indicando 9 motivos para você NÂO assistir Nove Vidas:

1. Paris Hilton está no elenco. Ela morre quando vai tomar banho, mas não aparece um momento sequer nua. Aliás, não há sexo em nenhum momento…

2. As mortes são todas off screens, sem violência, sangue ou gore. O filme vai acabar, e você não saberá como Jo morreu.

3. Os personagens representam o cúmulo da ignorância. Em certo momento, enquanto caçam um celular que tenha sinal, Damien, Peter e Laura entram num quarto e ouvem um deles tocando. Como trapalhões, eles o derrubam embaixo de uma cama e, para resgatá-lo, erguem o móvel, culminando, obviamente, na destruição do aparelho.

4. Você não irá gostar de nenhum personagem, o que impedirá qualquer preocupação com a vida deles. Assim que os créditos finais surgirem, você pensará: Por que ´nove vidas´? Não podiam ser apenas ´7´ ou ´5´, poupando-nos de tantos personagens sem carisma?

5. Perdoem-me pelo trocadilho, mas os efeitos especiais não devem ter custado os olhos da cara. Temos apenas uma neve digital, olhos vazios e nada mais. O filme inteiro deve ter sido filmado num estúdio, já que há pouquíssimas cenas externas.

6. Há muitas cenas repetidas, com personagens correndo de um lado para outro sem saber o que fazer. Damien e Peter são os responsáveis pelas sequências mais cansativas. Numa, por exemplo, eles decidem procurar Tom, mas quando estão próximos de alcançar êxito, desistem. Passados cinco minutos, eles resolvem procurá-lo novamente…sempre nos mesmos lugares.

7. Os roteiristas tentam introduzir alguns elementos de filosofia existencialista (será que há um mundo por trás das neves….), mas nunca utiliza os conceitos de forma adequada. O drama de Murray também não é aprofundado o suficiente para o espectador entender a origem real do vilão.

8. Com um ato de heroísmo exagerado, o filme termina abruptamente, sem deixar o menor interesse em assistir uma possível continuação. A boa notícia é que não fizeram…

9. Em entrevista para o site Bloody Disgusting, a atriz Paris Hilton afirmou nunca ter assistido a esse filme. Se nem ela viu, por que você deveria ver?

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Marcelo Milici

Professor e crítico de cinema há vinte anos, fundou o site Boca do Inferno, uma das principais referências do gênero fantástico no Brasil. Foi colunista do site Omelete, articulista da revista Amazing e jurado dos festivais Cinefantasy, Espantomania, SP Terror e do sarau da Casa das Rosas. Possui publicações em diversas antologias como “Terra Morta”, Arquivos do Mal”, “Galáxias Ocultas”, “A Hora Morta” e “Insanidade”, além de composições poéticas no livro “A Sociedade dos Poetas Vivos”. É um dos autores da enciclopédia “Medo de Palhaço”, lançado pela editora Évora.

2 thoughts on “Nove Vidas (2002)

  • 17/05/2013 em 00:35
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    O texto do Marcelo é umas 10 vezes mais coerente do que qualquer cena desta bomba! Quando eu era guri, eu era fissurado por slashers, adorava todos, alugava toda semana os mesmos, mas esse aqui… 9 Vidas… só não o esqueci porque tenho memória boa para coisas ruins!

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  • 29/04/2013 em 23:01
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    se a Paris HiIton morrer no filme,eu assisto hahaha.

    Resposta

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