A Hora do Pesadelo 2 – A Vingança de Freddy (1985)

3.4
(9)

A Hora do Pesadelo 2 - A Vingança de Freddy
Original:A Nightmare on Elm Street Part 2: Freddy's Revenge
Ano:1985•País:EUA
Direção:Jack Sholder
Roteiro:David Chaskin e Wes Craven
Produção:Robert Shaye
Elenco:Robert Englund, Mark Patton, Kim Myers, Robert Rusler, Clu Gulager, Hope Lange, Marshall Bell, Melinda O. Fee, Sydney Walsh

Não há dúvidas que rever aquele velho filme é sempre um exercício mais do que agradável; contudo, tenha em mente que é certo também que terá que repensar boa parte de suas opiniões – afinal, o filme é o mesmo, já você… É sob este olhar, bem mais crítico, que encarei uma sessão de A Hora do Pesadelo 2 – A Vingança de Freddy; e com uma lembrança um tanto vaga de que o filme seria tão bom quanto o primeiro. Obviamente também duvidava que esta opinião de adolescente se mantivesse firme quase três décadas passadas. Para meu espanto, mesmo sendo muito inferior ao seu antecessor, esta continuação tem os seus méritos.

Em A Hora do Pesadelo 2, o jovem Jesse (interpretado pelo fraco e desconhecido Mark Patton – dizem as lendas que Brad Pitty e Christian Slater disputaram o papel) muda-se com a família para casa onde morou Nancy (a protagonista do primeiro filme, que abandonou Elm Street após a tragédia ocorrida cinco anos antes). Jesse passa a ser atormentado em seus pesadelos por Freddy Krueger e descobre, ao encontrar o diário de Nancy, que a casa tem um passado obscuro de violência e loucura. Alguns eventos sem explicação, como uma torradeira que pega fogo mesmo desligada da tomada e um canário que literalmente explode no ar, além de um calor infernal intrigam a família, que insiste em não acreditar que algo possa estar realmente assombrando o local. Mas para Jesse os pesadelos tornam-se cada vez mais intensos e Freddy está cada vez mais próximo de possuí-lo.

O roteiro, escrito pelo estreante David Chaskin erra feio no momento em que distorce o conceito original do vilão: Freddy agora não quer apenas sorrateiramente invadir o sonho de suas vítimas e torturá-las; o vilão quer se apoderar do corpo do protagonista e, a partir dele, cometer assassinatos no mundo real. O que torna o roteiro ainda mais confuso é fato do assassino não ser identificado em nenhum momento: seria Jesse possuído ou o próprio Freddy “materializado” em nossa realidade? E qual seria seu verdadeiro objetivo? Num dos momentos mais constrangedores do filme, Freddy ataca vários jovens que estão em uma festa – todos o veem, inclusive os adultos. É bom lembrarmos que a grande sacada do personagem criado por Wes Craven sempre foi outro tipo de confusão, bem mais sofisticada, na qual não sabemos onde começa o pesadelo e onde ele termina; além do personagem ser visto apenas pelas vítimas cujo sonho foi invadido.

E que falta faz Wes Craven – os mais críticos vão esbravejar que o diretor é fraco e blá-blá-blá, o que pessoalmente discordo. Como podemos esquecer tão rápido que foi o cineasta que criou pelo menos duas franquias de sucesso como A Hora do Pesadelo e Pânico, além dos ótimos Aniversário Macabro e Quadrilha de Sádicos? Faltou neste segundo filme exatamente a atmosfera onírica e o suspense do primeiro longa dirigido por Craven, a violência explícita e incômoda, além de uma direção mais caprichada; o trabalho de Jack Sholder (Noite de Pânico e O Escondido) é preguiçoso e sem estilo. Incompreensível também o motivo pelo qual a ótima trilha sonora criada para o original (composta por Charles Bernstein e utilizada em todos os outros filmes da franquia) foi esquecida nesta continuação.

Posteriormente, Wes Craven declarou que foi ele quem se negou a trabalhar em A Hora do Pesadelo 2 e que entendia que a vida de Freddy no cinema deveria ser bem mais curta. Também se mostrou completamente contra a ideia do roteiro em que o personagem possui/controla o corpo do protagonista.

Ainda em relação ao roteiro, um ponto positivo é a evolução da mitologia que envolve o personagem e o link perfeito com o primeiro filme (gancho que se apoia no diário de Nancy). Também é esclarecido que o assassino Freddy, quando vivo trabalhava em uma usina, local para onde levava as crianças que sequestrou e assassinou. Quando Jesse encontra a luva de Freddy no porão, dentro do antigo aquecedor, somos levados a entender que a casa foi o lar de assassino no passado.

Neste segundo filme, o humor negro é acentuado e o tom sarcástico que se tornaria característico das falas do personagem começa a tomar forma. Em um dos momentos, Freddy tenta explicar didaticamente para Jesse por que irá possuir o seu corpo: “Você tem o corpo e eu tenho o cérebro!” Ao mesmo tempo arranca a pela deformada de sua cabeça, deixando o seu cérebro exposto.

Mas o principal mérito (se é que podemos usar este termo) são os ótimos efeitos especiais e a maquiagem do novato Kevin Yagher – futuramente Yagher ficaria conhecido por criar o boneco Chucky, de Brinquedo Assassino e a caveira apresentadora da série Contos da Cripta, além de ter trabalhado nas sequências 3 e 4 de A Hora do Pesadelo, em O Escondido, em O Dentista, no mais recente Desventuras em Séries (entre outros) e ter dirigido Hellraiser 4 – Herança Maldita.

Algumas outras cenas merecem serem destacadas, como o beijo salvador da namorada de Jesse em Freddy e o desfecho, quando o protagonista sai de dentro do vilão, que tem a pele carbonizada partindo-se em pedaços.

Enfim, comercialmente o filme viabilizou a produção das outras sequências, já que rendeu mais que o original – algo em torno de US$ 30 milhões (10 vezes o seu orçamento). E mesmo com todos os problemas, é emblemático pela presença sempre marcante do vilão (vivido pelo inesquecível Robert Englund), pelos bons e asquerosos efeitos especiais/de maquiagem (nada de CGI) e principalmente por nos permitir retornar a uma época em que, mesmo os filmes ruins, eram muito divertidos.

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João Pires Neto

João Pires Neto é apaixonado por livros, filmes e música, formado em Letras, especialista em Literatura pela PUC-SP, colaborador do site Boca do Inferno desde 2005, possui diversos contos e artigos publicados em livros e revistas especializadas no gênero fantástico. Dedica seu pouco tempo livre para continuar os estudos na área de literatura, artes e filosofia

17 thoughts on “A Hora do Pesadelo 2 – A Vingança de Freddy (1985)

  • 20/11/2023 em 20:50
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    Este segundo filme é claramente inferior em comparacao com o primeiro mas possui um clima bem sombrio. Gostei das diversas citaçoes aos acontecimentos e á heroina do primeiro filme, a Nancy que deixou um diario na residencia 1428 em Elm street em que relatou os seus confrontos com freddy Krueger! Na parte final um pouco antes do ataque do assassino na festa da piscina, Lisa instrui Jesse a lutar contra Freddie, e ela segue as instrucoes da Nancy sobre como derrotar Krueger. Embora nao estivesse presente neste segundo filme, Nancy influenciou Lisa e Jesse na luta contra Freddie Krueger.

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  • 02/01/2023 em 14:35
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    É nesse filme que foi gerada a discussão de que a relação entre Jesse e Freddy era uma analogia da suposta homossexualidade do rapaz (com o Freddy querendo “possuir” o corpo do Jesse). Será??

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  • 31/01/2022 em 18:02
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    Filme muito bom,mesmos que tenha suas falhas,vale a pena,sendo que o freddy está como no primeiro filme retalhado suas vítimas, diferentes das outras sequências,como na parte 6 que ele usa um quadro de giz

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  • 16/12/2021 em 07:50
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    “Seria Jesse possuído ou o próprio Freddy “materializado” em nossa realidade?”

    Meio que ambos (como na parte que o Jesse vai acordar a irmã). O próprio amigo dele vê o que está acontecendo, e mesmo que fosse só assustado com o Jesse se contorcendo, no confronto final deixa claro que ele se “transforma” no próprio Freddy. Aqui você já respondeu o próprio questionamento: ” todos o veem, inclusive os adultos.”.

    “Quando Jesse encontra a luva de Freddy no porão, dentro do antigo aquecedor, somos levados a entender que a casa foi o lar de assassino no passado.”

    A luva já não estava lá desde o primeiro filme sendo guardada pela mãe da Nancy?

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  • 15/09/2021 em 14:33
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    Essa franquia é totalmente irregular na minha opinião geralmente a tendencia é ir piorando né, aqui acho que acontece o contrário, o segundo filme pra mim se perdeu, aí no terceiro melhora, o 6 tbm é muito Ruin , mas ai vem 7 que tbm é bom

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  • 03/11/2017 em 02:33
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    Eu vi algumas vezes o remake de 2010 e este filme só supera (se é que supera) por ter a tecnologia bem avançada dos efeitos especiais e hoje em dia, o famoso e tal criticado CGI!! Mas, é somente neste fator (CGI) que o remake supera o clássico, porque, de resto, o original é imbatível, pessoal!!! Enfim, eu ficou com a opinião do personagem do Sylvester Stallone em “Os Mercenários”, chamadao Barney Ross, quando fez uma piada sobre versãoi de filmes no cinema: “Ele disse, simplesmente, que nada supera o original!! Bela sacada, Stallone!! Boa fim de semana para todos nós, meus amigos!! Parabéns pelo texto e até mais, Boca do Inferno!!! =D

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  • 04/06/2015 em 23:39
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    Bom, eu considero como um dos melhores filmes da década de oitenta. Claro que à parte um (1984) e o terceiro filme (1987) são melhores, mas esse A Hora Do Pesadelo 2 é um bom filme (não sitei às outras partes porque as considero fracas).
    Apesar do filme ter suas falhas como foram citadas na resenha, ele tem seu mérito. À maquiagem do Freddy está incrível, Robbert fez um grande trabalho (mais uma vez na pela do assassino), e vale destacar a cena em que Freedy sai de “dentro” do personagem principal, uma cena forte e muito bem feita. E aquela abertura no ônibus, que para mim foi claustofóbrica rs….

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  • 04/04/2015 em 02:03
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    Muita gente odiou essa sequência. Mas eu gosto, porque depois do original é o único que ainda mantém um tom mais dark. Embora o roteiro no geral seja fraco, a maquiagem do Freddy aqui ainda tá legal. E a cena em que ele sai de dentro do Jesse é ÓTIMA.

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  • 09/04/2014 em 14:54
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    A primeira vez que vi esse filme, morri de medo, porque a imagem era escura e não deu pra ver muita coisa. A cena que Freddy sai de dentro do garoto foi a que mais me assustou.
    Quando saiu em DVD, assisti novamente e passei a gostar. Tem um clima adequado para a vingança de Freddy contra os garotos da Elm Street. A violência gráfica funciona muito bem, a direção de Jack Sholder também e Robert Englund como sempre dá um show de interpretação.
    Recomendo.

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  • 02/03/2014 em 22:06
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    Até que eu acabei gostando um pouco do 2,apesar do final confuso.
    A dança do Jesse é uma das cenas mais memoráveis. Só não curti essa proposta de possuir um corpo pra cometer assassinato. enfim,é bonzinho.

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  • 04/11/2013 em 00:28
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    Pensei que somente eu tinha achado constrangedora a cena da festa na piscina onde o Freddy chega derrubando copos e jarras e o pessoal entra em pânico como se a Carrie tivesse aparecido e os trancado no ginásio pegando fogo!! hauashaushshsh

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  • 21/05/2013 em 02:59
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    Mark Patton pelo ao menos eu gostei da atuação dele, ele estava bem nesse filme na minha opinião rsrsrs, os melhores da série A HORA DO PESADELO é o 1, 2, 3 gosto bastante desses filmes, sou fã da franquia.

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  • 26/03/2013 em 22:48
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    também tenho a coleção de todos os filmes do freddy, acho também a parte 3 superior a todos e a parte 6 um filme de Comédia …

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  • 25/03/2013 em 21:41
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    qualquer coisa que o Wes Craven faz eu gosto ,menos a sétima alma que foi uma desgraça,nem acredito que foi do Wes essa bomba.

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  • 24/03/2013 em 11:44
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    Se não for o MLEHOR depois do ORIGINAL… é um DOS…
    Muito divertido! Adorei esse aqui…, e o FREDDY está demais! Achei numa locadora pra vender (TODOS), por R$50

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    • 25/03/2013 em 22:21
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      O segundo é realmente divertido, mas fico com o terceiro como melhor depois do original. Depois, acho que vem o sétimo, que só peca no visual novo patético do Freddy. Tenho todos os DVDs de A Hora do Pesadelo, incluindo até os medianos Freddy vs. Jason e o remake. Sinceramente, foi uma boa aquisição XD.

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