Encarnação do Demônio (2008)

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Encarnação do Demônio
Original:Encarnação do Demônio
Ano:2008•País:Brasil
Direção:José Mojica Marins
Roteiro:José Mojica Marins, Dennison Ramalho
Produção:Caio Gullane, Fabiano Gullane, Débora Ivanov, Paulo Sacramento
Elenco:José Mojica Marins, Jece Valadão, Adriano Stuart, Milhem Cortaz, Rui Resende, José Celso Martinez Corrêa, Cristina Aché, Helena Ignez, Débora Muniz, Thaís Simi, Cleo de Paris, Nara Sakarê

A busca de Zé do Caixão, personagem que deu origem ao cinema de horror nacional, pela mulher perfeita que lhe daria o filho superior rendeu duas obras primas, À Meia-Noite Levarei sua Alma (1964) e Esta Noite Encarnarei no Teu Cadáver (1967). Além desses dois filmes “oficiais”, o personagem também apareceu em clássicos como O Estranho Mundo de Zé do Caixão (na figura do professor Oaxiac Odez), Delírios de um Anormal e Ritual de Sádicos, além de diversos filmes menores. A força motriz por trás de Zé sempre foi José Mojica Marins, cineasta guerreiro no melhor sentido da palavra, e que se tornou o símbolo do cinema nacional.

Desde os anos 70 Mojica tentou produzir uma continuação de Esta Noite Encarnarei no Teu Cadáver, como uma forma de fechar a trilogia oficial do coveiro de unhas longas. Desde então, diversos roteiros foram escritos e descartados, produtores morreram antes de poderem fechar os contratos para bancar a produção, e muita coisa mudou no cinema de horror. Levando em consideração todas as dificuldades superadas, dá pra entender a boa vontade que muitos tiveram para com Encarnação do Demônio. Fraco e irregular o filme não se justifica, e está muito (mas muito mesmo) aquém da capacidade de Mojica.

O maior problema do filme é o roteiro de Dennison Ramalho, que ainda precisa comer muito fígado mal-passado para se tornar o grande nome do horror brasileiro que já acha que é. O grande barato das desventuras anteriores de Zé do Caixão eram as tramas simples, que se tornavam filmes fantásticos devido à direção virtuosa de Mojica. Já Encarnação parece querer ser “Horror Nacional: O Filme”. Ou seja, quer reunir em uma hora e meia de duração todas as características do horror brasileiro. Isso se vê na profusão enorme de personagens inúteis e vazios e em momentos sem propósito algum. A descida de Zé ao Purgatório é um elefante branco e, ao contrário da maravilhosa cena do Inferno em Esta Noite…, não acrescenta NADA ao arco do personagem.

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O momento mais desrespeitoso à saga vem no terceiro ato, quando Zé, descobrindo que tem pouco tempo, manda seus asseclas à cidade para capturar mulheres para submeter a torturas que provarão se merecem ter seu filho. Não é que em UMA NOITE eles conseguem não uma, não duas, mas QUATRO mulheres, que, juntadas a outras três selecionadas anteriormente geram SETE filhos perfeitos!!! Ou seja, toda aquela busca árdua e obsessiva que caracterizou um dos personagens mais ricos do cinema de horror mundial durante quatro décadas poderia ser resolvida em uma noite da forma mais simplória possível!

Jece Valadão e Adriano Stuart estão muito bem como os irmãos policiais que caçam Zé. Stuart está lá para compensar as cenas que Jece não pôde filmar, devido ao seu falecimento, o que é resolvido por uma montagem brilhante de Paulo Sacramento. Já Milhem Cortaz, mesmo sendo um grande ator, não tem propósito algum como um padre vingativo que quer condenar a alma de Zé (a alma dele precisa mesmo de condenação, depois de todos os crimes que cometeu? Ele já não iria direto para o inferno? Hitler deixou de ir ao inferno porque sua alma não foi condenada por um padre?). Personagens coadjuvantes existem às dúzias, só para tentar compor um inventário de figuras caras ao cinema fantástico (como as duas irmãs bruxas). A atuação do próprio Mojica, exagerada e caricatural, chega a ser um ponto positivo para mostrar o quanto o personagem se sente deslocado no mundo atual.

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Violência e sexo existem em profusão, mas o roteiro se esquece de lhes dar propósitos, ficando no sangue por sangue e peitos por peitos. É triste ver que a grande chance de Mojica se reerguer e voltar à ativa foi desperdiçada como um filme tão bonito de se ver mas chato de se acompanhar.

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Matheus Ferraz

Mineiro, autor publicado e mestre em Biografia pela University of Buckingham

24 thoughts on “Encarnação do Demônio (2008)

  • 29/12/2013 em 19:44
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    Senhor Dennison Ramalho acho que deveria ler meditar criteriosamente sobre o que foi dito na crítica e provar em obras que você pode mais. Ficar aqui pedido retratação prova o quanto você é fraco…

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  • 15/06/2013 em 19:37
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    Essa frase da crítica “O maior problema do filme é o roteiro de Dennison Ramalho, que ainda precisa comer muito fígado mal-passado para se tornar o grande nome do horror brasileiro que já acha que é.” me fez desacreditar o texto inteiro. Realmente parece despeito/inveja/treta mal-resolvida que o Matheus Ferraz tem pelo Ramalho.
    De qualquer maneira, só dar uma olhada nas críticas do Bloody Disgusting (http://bloody-disgusting.com/film/111854/embodiment-of-evil-coffin-joe/?tab=bd-review) ou do Dread Central (http://www.dreadcentral.com/reviews/embodiment-evil-2008) pra ver como o filme foi aceito lá fora, sem falar nas críticas positivas na imprensa nacional na época do lançamento, sendo inclusive capa da finada revista SET.

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  • 09/06/2013 em 01:21
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    É um filme bom. Mas, eu ainda prefiro os anteriores. Acho os anteriores mais divertidos!

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  • 08/06/2013 em 21:05
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    Concordo:

    “A descida de Zé ao Purgatório é um elefante branco e, ao contrário da maravilhosa cena do Inferno em Esta Noite…, não acrescenta NADA ao arco do personagem.”

    “Ou seja, toda aquela busca árdua e obsessiva que caracterizou um dos personagens mais ricos do cinema de horror mundial durante quatro décadas poderia ser resolvida em uma noite da forma mais simplória possível!”

    “Já Milhem Cortaz, mesmo sendo um grande ator, não tem propósito algum como um padre vingativo que quer condenar a alma de Zé (a alma dele precisa mesmo de condenação, depois de todos os crimes que cometeu? Ele já não iria direto para o inferno? Hitler deixou de ir ao inferno porque sua alma não foi condenada por um padre?)”

    Quanto a questão do Denninson é complicado concordar ou discordar: Nunca conversei com ele, então fica difícil saber se ele se acha o grande nome do horror brasileiro ou não…

    No mais, um filme divertido e digno de ser visto. Ponto positivo para a forma como as religiões (catolicismo, macumba) e crendices (Exu Caveira, livro de São Cipriano de Capa Preta) tipicamente brasileiras são inseridas na trama.

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  • 05/06/2013 em 11:21
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    num vejo nada de pessoal no texto. é a ótica dele, como critico.
    aceitem, rejeitem…mas é isso. o roteiro tem mais cara de denison que do mujica. basta conferir a obra de ambos pra saber quem é o verdadeiro pai da criança.
    saber aceitar criticas e transforma-las em aprendizado é sabedoria, agora ficar babando ovo pra este aquele … da licença.
    boca do inferno é um site integro .
    democracia é isso, e temos todos que respeirtar todas as opiniões.
    parabéns matheus pela coragem e profissionalismo.
    denison, calar as vezes mostra superioridade.

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  • 03/06/2013 em 20:56
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    Confesso que gosto muito do personagem Zé do Caixão. É um patrimônio nacional e deve ser lembrado como um TODO, e não apenas por esse filme, que realmente ficou a desejar, mesmo considerando as dificuldades de sua realização.

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  • 03/06/2013 em 01:05
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    Opinião pessoal gosto muito do filme independente de sua comparação com os filmes anteriores, que são insuperáveis.

    É importante que os leitores entendam que o grande barato do Boca é que cada colaborador tem liberdade de argumentar como bem entender, desde que de maneira respeitosa e com fundamento. Obviamente as nossas opiniões se divergem, na maioria das vezes….

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    • 03/06/2013 em 15:08
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      Salve, amizades! Quero dizer que resolvi nas internas minha pendência com o Boca do Inferno numa conversa franca com o Marcelo Milici, que foi bicho homem, respeitoso e decente. Agora vejam bem, resolvi COM O SITE. O Matheus que me acusou, não se manifestou. Ok… Não quero retratação, nem desculpas. Um esclarecimento em private não vinha mal, só pela conciliação. Se ñ quiser falar também, foda-se. Só não venha querer conversar comigo depois porque não sou otário de dar conversa pra gente que me destrata (e vejam bem, estou falando do que ele mentiu SOBRE MINHA PESSOA, e não sobre o filme, que aliás não escrevi sozinho, pois sou co-autor do roteiro junto com o Mojica. Respeito cada palavra da critica dele). Por mim, a questão acabou, e eu acho bacana que o assunto ensejou reflexão sobre o papel verdadeiro da crítica (e dos críticos). Fui.

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  • 02/06/2013 em 18:16
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    Discordo de muitos pontos da crítica.
    Mas na minha opinião, o maior problema do filme é justamente o Mojica, com sua atuação caricata que transformou nas ultimas decadas o personagem genial que era nos filmes originais em um velhinho que aparece jogando pragas nas pessoas e gritando na TV. O grande público apenas o conhece desta forma.

    Zé do Caixão era mais que isso e infelizmente o personagem foi enterrado pelo seu próprio criador.

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  • 01/06/2013 em 21:52
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    Achei “precisa comer muito fígado mal passado para se tornar o grande nome do cinema de horror brasileiro que já acha que é” um espetáculo! Dennilson, engula o choro e prove que o Matheus está errado. Você tem até a meia-noite pra levar nossa alma.

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  • 01/06/2013 em 19:54
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    Resenha certeira, o filme realmente é um lixo. Aquele povo do piercing como servo do Zé ficou ridículo. Não fossem os inúmeros outros defeitos, isso ai seria suficiente pra arruinar o filme.

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  • 01/06/2013 em 17:45
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    Dificil um roteiro acabar bem quando um dos Atores principais morre no meio das filmagens e o roteiro (que não é só meu, mas meu E do Mojica) tem que ser reparado a fórcep no próprio set pra sequer poder existir um filme. Mas concordo, o resultado final é problemático. E o maior nome do novo cinema de horror brasileiro é o Rodrigo Aragão. E vc evidentemente é um babaca, pois ñ me conhece, nunca me conheceu, e sente-se no direito de assumir o que eu penso a respeito de mim mesmo e do meu trabalho. Achei que o Boca do Inferno fosse um site sério, onde o assunto fossem os filmes e não fofoquinhas afetadas sobre quem os fazem. Pena…

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    • 01/06/2013 em 23:13
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      Dennison, a solução que voces deram pra compensar a morte de Jece Valadão é de tirar o chapeu… vi e revi o filme várias vezes e o Stuart sempre me pareceu estar desde o início nesse projeto, e não como uma solução de última hora, coisa que fiquei sabendo bastante tempo depois, quando resolvi ouvir os extras do DVD.
      Mas, no mais, o roteiro é péssimo: as mulheres se atiram sobre Zé do Caixão, sendo que a rejeição delas sempre foi uma das motrizes de sua crueldade, além de forçar situações de horror e destilar clichês do cinema brasileiro, coisa que nunca afetou os filmes do Mojica.
      O trabalho de vocês, tecnicamente, é excelente, mas é abarrotado de problemas de narrativa – e já abordei este filme numa crítica no meu site, assim sendo, pode ir lá ver pra ter uma noção do que estou falando.

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      • 09/09/2013 em 02:11
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        Qual é o endereço do seu site, amigo?

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  • 01/06/2013 em 17:38
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    Concordo plenamente com Ferraz, as cenas de sangue e tortura são incríveis, mas muitas não se justificam e a história em si me pareceu vaga em muitos momentos com um excesso de personagens. Tbm não gosto de hora Zé ser posto como vilão e hora mocinho (A lá Rob Zombie e seus personagens). Nunca pude ver os anteriores do Zé, e depois desse, a vontade ficou lá embaixo.

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  • 01/06/2013 em 16:25
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    Essa crítica é um desserviço ao cinema de horror brasileiro. Parece que o escrivinhador tem algum problema com Dennison Ramalho (dor de cotovelo? me parece muito). Boca do Inferno… Esse lugar já foi mais criterioso.

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    • 30/09/2021 em 15:17
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      Filme fraco. Regular.caricato. não pode comparar está droga com os clássicos anteriores. E o Monica está uma caricatura da caricatura do Ze.

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  • 31/05/2013 em 22:09
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    Putz, pior que eu concordo com a crítica. O filme é tecnicamente lindo, mas está muito aquém de À Meia Noite e Esta Noite.

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    • 31/05/2013 em 18:33
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      nem eu,apesar de gostar do zé do caixão.

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