Dia dos Namorados Macabro (2009)

3.6
(5)

Dia dos Namorados Macabro
Original:My Bloody Valentine
Ano:2009•País:EUA
Direção:Patrick Lussier
Roteiro:Todd Farmer, Zane Smith, John Beaird, Stephen A. Miller
Produção:Jack L. Murray
Elenco:Jensen Ackles, Jaime King, Kerr Smith, Betsy Rue, Edi Gathegi, Tom Atkins, Kevin Tighe, Megan Boone, Karen Baum, Joy de la Paz, Marc Macaulay, Todd Farmer, Jeff Hochendoner, Bingo O'Malley, Liam Rhodes

Quando as datas comemorativas se tornaram motivacionais para os assassinos em série, em 1981, o filme Dia dos Namorados Macabro, do diretor George Mihalka, entrou para o grupo dos slashers-cult, assustando a juventude que começava a se acostumar com nomes como Michael Myers e Jason Voorhees – os protagonistas dos principais massacres da época. A produção canadense foi realizada com um orçamento estimado em U$2 milhões de dólares e fez pouco mais de U$5 milhões nos cinemas americanos – o filme se pagou, mas não convenceu o público (basta saber que o primeiro Sexta-Feira 13 custou U$700 mil dólares e atingiu U$37 milhões!) A decepção dos fãs tinha uma razão: o filme tinha a palavra bloody no título, mas as mortes eram todas offscreen, com a câmera praticamente fugindo das cenas mais violentas, deixando o sangue em exposição apenas nos corpos encontrados pelo caminho.

A censura fez mais cortes do que a picareta do assassino no My Bloody Valentine original. Cerca de 9 minutos foram cortados, transformando o slasher num quase filme-família, algo que contrariava até mesmo os produtos similares lançados na época. Imagine o quanto foi chocante a cena da decapitação em Sexta-Feira 13! Para os padrões da época, a cena foi forte o suficiente para servir de atrativo ao público que lotou as salas de cinema e transformou o longa numa série interminável. Por questões óbvias, o mesmo não aconteceu ao filme canadense que nunca chegou a ter uma continuação, apesar das intenções dos realizadores.

Com o anúncio da refilmagem, nada mais justo do que resgatar as cenas cortadas do filme original para o lançamento de um DVD sem cortes. Assim, três dias antes do lançamento nos cinemas americanos e canadenses, em 13 de janeiro, a LionsGate colocou no mercado uma Special Edition: My Bloody Valentine, com making of e um documentário intitulado Ultimate Slasher – um guia interativo que permite ao público uma viagem pela evolução do gênero.

Mesmo com apenas a promessa do lançamento desse material fantástico, os fãs ainda assim aguardavam com ansiedade o remake, principalmente quando os produtores anunciaram uma produção realizada em três dimensões, na mais alta tecnologia desse recurso. A presença do ator Jensen Ackles (da série Supernatural) também serviu de incentivo para o público prestigiar a estreia e lotar os cinemas, embora nem todos as salas tenham disponibilizado a versão especial.

Dia dos Namorados Macabro 3D deveria ser lançado na América na sexta-feira 13 de fevereiro, um dia antes do Dia de São Valentino, mas os produtores não quiseram disputar público com o slasher do assassino da máscara de hóquei. Seria interessante esse confronto já que a disputa lembraria bastante o início dos anos 80, quando os cinemas colocavam à disposição essas produções divertidas e bastante parecidas. Assim, optaram pelo lançamento um mês antes, enquanto no Brasil a estreia aproveitaria a segunda sexta-feira 13 do ano, em março – uma data bem mais justa para o gênero, convenhamos!

Mas, será que essa refilmagem conseguiria superar o original ou, quem sabe, o novo Sexta-Feira 13, apostando nessa nova tecnologia em terceira dimensão? A resposta para as duas perguntas, na opinião deste que vos escreve, é um duplo sim, dito em voz alta e com plena convicção de sua ousadia. Para ser melhor do que o novo Sexta-Feira 13 não seria difícil, pois o filme do Jason é apenas divertido em sua intenção de diversão passageira e descompromissada, típica dos slashers. Agora, para superar o admirado clássico dos slashers seria preciso utilizar o que há de melhor no original, numa ideia completamente nova e ousada. Como não vi a versão uncut do My Bloody Valentine de 1981, ainda afirmo a qualidade do remake sem medo de errar ou ofender os defensores da década de 80 – indiscutivelmente a melhor época do estilo. E os efeitos em três dimensões vieram para ficar e dar as cerejas que restavam ao bolo.

Com um enredo a cargo de Todd Farmer (Os Mensageiros) e Zane Smith, e direção de Patrick Lussier (Luzes do Além), Dia dos Namorados Macabro 3D começa com reportagens de alguns jornais impressos e em áudio contando um acidente ocorrido numa mina da cidade de Harmony, em plena comemoração do Dia dos Namorados: o jovem Tom Hanniger (Jensen Ackles), filho do dono do local, teria cometido um erro fatal que ocasionou a explosão da mina e o enterro prematuro de seis mineradores. Depois de várias tentativas de resgate, encontraram somente um sobrevivente, um tal de Harry Warden (Richard John Walters). As investigações descobriram que os companheiros de Harry teriam sido assassinados com um machado por ele mesmo, enlouquecido com a situação claustrofóbica e sem esperanças de salvamento. Soterrado e ferido, o assassino ficara em coma no Harmony Memorial Hospital por um ano, até despertar repentimante na noite do Dia dos Namorados. Apesar dos jornais narrarem os fatos, os roteiristas fizeram questão de também mostrar o ocorrido na data fatídica – uma narração que não haveria necessidade alguma já que a introdução tinha sido bem clara.

Depois que despertou do coma, Harry fez um massacre no hospital, espalhando corpos por todos os cômodos do hospital para espanto do Xerife Burke (Tom Atkins, em mais um papel de policial na carreira), e foi até a famosa mina da cidade onde uns jovens estariam se divertindo. Entre eles, está novamente Tom, que chega com sua namorada Sarah Palmer (Jaime King), em seu primeiro retorno ao local onde ele ocasionou a traumática tragédia. Os jovens entram na mina, mas Tom resolve voltar para buscar cerveja no carro….hummm. Sarah entra sozinha para procurar os amigos e é assustada por um jovem que diz algo como: Pensou que era Harry Warden, né?, palavras que se encerram por uma picareta na parte de trás de sua cabeça, que empurra os olhos na direção da tela – na primeira morte em alta tecnologia do filme.

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Vários corpos surgem na mina, deixando alguns sobreviventes em desespero para tentar sair desse cemitério em exposição. Numa frase engraçada, mas não original, um rapaz sai em busca dos amigos gritando Jason? Cadê você? Está me assustando!, sem saber que está no filme errado, terminando de forma violenta com o rosto esmagado pela picareta do assassino. Ainda mais mortes gráficas ocorreriam nesse começo eletrizante, como a da jovem que recebe uma pá no rosto (como Pânico na Floresta), tendo parte de sua cabeça deslizando pela ferramenta, em mais um efeito interessante.

Nesta cena inicial, narrada nos primeiros dez minutos, temos algo similar ao que aconteceu no novo Sexta-Feira 13: um ritmo frenético, muitas mortes e correria – quase um filme dentro de outro -, mas com uma grande diferença. Dia dos Namorados Macabro dá um banho de violência em seu irmão slasher, não poupando o espectador de mortes divertidas e sangrentas.

Apesar do desespero de Sarah, o amigo Axel (Kerr Smith, de Premonição) foge com ela e uma amiga, deixando Tom para trás, sozinho numa mina repleta de sangue e corpos. Quando estava prestes a ser vitimado pelo assassino cruel, Tom é salvo pelo Xerife Burke e alguns companheiros. Será que Harry Warden foi finamente silenciado e a cidade de Harmony poderá voltar a ter tranquilidade?

Dez anos após o massacre do Dia dos Namorados, a cidade ficou conhecida como a capital dos assassinatos, devido ao serial killer que vitimou 22 pessoas, entre homens, mulheres e crianças. Todo ano, nessa época, jornalistas vão ao local narrar novamente os crimes, lembrando os moradores da tragédia do passado. No entanto, desta vez, Harmony terá a visita de um ilustre morador da região e testemunha dos crimes: Tom Hanniger, que teria fugido da cidade depois de confrontar com o segundo episódio traumático.

Tom retorna à cidade de Harmony com a única intenção de vender a mina que pertencia a seu pai. Não precisa ser bidu para adivinhar que Sarah, agora casada com Axel, o novo xerife da região, entra em conflito de interesses ao rever seu ex-namorado, que insiste em aparecer a todo momento. Além da volta de Tom, o xerife Axel tem um outro problema para enfrentar: sua amante, Megan (Megan Boone), está grávida e quer que o rapaz largue a esposa.

Com a proximidade do aniversário da tragédia, novos corpos surgem na região, e Tom passa a ser o principal suspeito dos crimes. E Tom ainda tem o azar de estar sempre próximo às mortes, algo que intriga a polícia e o espectador. Além dele, outros moradores surgem como possíveis suspeitos, principalmente aqueles que não querem que a mina seja vendida, como Ben Foley (o experiente Kevin Tighe); o xerife enciumado e até mesmo Harry Warden, cujo corpo misteriosamente desapareceu após seu suposto enterro.

Esse questionamento sobre a identidade do assassino é um atrativo a mais que acaba dando mais pontos a esse remake do que os recentes trabalhos no gênero. Somado à violência – que faz o filme de Jason parecer uma produção da Disney – e aos efeitos da tecnologia RealD (pela primeira vez usada num filme de terror) o filme Dia dos Namorados Macabro 3D acaba se tornando uma diversão passageira, claro, mas que despertará no espectador a vontade de rever a produção ao seu término e até adquirir o DVD, principalmente se a PlayArte disponibilizar a versão em 3D.

Entre os momentos divertidos, destaco duas sequências de tirar o fôlego: a primeira acontece no motel de Selene (a simpática baixinha cantora Selene Luna), onde Tom resolve se hospedar quando chega à cidade. Num dos quartos, a bela loirinha Irene (Betsy Rue) está transando com o caminhoneiro Frank (o roteirista Todd Farmer, em pequena participação), até a chegada do assassino já trajado com a conhecida roupa de minerador, com máscara de gás. O confronto de ambos com seu algoz é bastante divertido, com a jovem correndo de um lado para outro pelada (que inexplicavelmente alguns fãs enxergam como defeito do filme), até conseguir se esconder num local que em outras situações poderia ser extremamente bem escolhido. Com bastante suspense, a cena tem um desfecho bem diferente do que o público está acostumado a ver, apesar da câmera cometer o pecado de desviar para o sangue que escorrerá pelas paredes.

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A segunda melhor sequência do filme ocorre num supermercado, com duas garotas sendo perseguidas pelo minerador assassino. Tal episódio lembra os bons tempos dos slashers, com bastante suspense e tensão. Com o espectador já preocupado com as personagens, é difícil não torcer pela vida das garotas nessa perseguição emocionante.

As liberdades criativas dos roteiristas ao trabalhar com a ideia original tornam a experiência ainda mais gratificante, sem desrespeitar a produção de 1981, que possuía uma história mais interessante (o baile de Dia dos Namorados que impediu o resgate dos soterrados; os versos sangrentos do assassino e até a sugestão de que Harry teria sobrevivido se alimentando de seus companheiros), apesar do roteiro ser um pouco inferior (o velho que narra a lenda local, os idiotas que querem fazer festa mesmo com as advertências do xerife – Tubarão? -, o foco nos mineradores e suas brincadeiras babacas). Mas, os saudosos verão homenagens ao que há de melhor no filme original, em algumas boas cenas. Por exemplo, a entrega de um coração verdadeiro na caixa de Dia dos Namorados; a chuva de roupas de mineradores, assustando uma jovem; e até mesmo o rosto que surge ensanguentado na máquina de lavar.

Porém, há alguns problemas em Dia dos Namorados 3D. E os erros que alguns irão apontar estão relacionados à atuação de Jensen Ackles, que se sai muito bem na série Supernatural, mas não consegue evitar a comparação com o personagem Dean. Quem conhece a série sabe que o ator não é limitado, tem uma ótima veia cômica, e sabe conduzir cenas dramáticas. No entanto, neste filme, ele tem o mesmo problema de Jared Padalecki em Sexta-Feira 13: seu personagem é caricato demais. Ele até tenta trazer um carga emocional no final, mas não consegue ir além do que o público já cansou de ver no seriado. Já a segunda falha do remake está exatamente no final. Apesar de ser levemente surpreendente, a tal revelação deixa transparecer que o público foi feito de idiota durante o filme inteiro. Algumas cenas poderiam ter sido cortadas ou mostradas de outra forma para evitar essa pequena decepção. Sem revelar algum detalhe que possa estragar a surpresa, basta dizer que o público pode ficar com a sensação de que os roteiristas quiseram dizer: ei, cara, você não percebeu? Aquilo que você viu naquele momento não aconteceu realmente!

Contando com uma trilha sonora sem grandes atrativos para o estilo, o Dia dos Namorados Macabro é um filme que merece ser conferido em sua total qualidade de efeitos. Ainda que, para isso, tenha que assistir ao filme dublado (legendas em 3D são ruins), vale o esforço e o gasto em procurar uma versão com essa tecnologia. O cinema atual está resgatando a técnica que fez sucesso no passado, em produções de estilo que também marcaram época. É uma nova fase para o horror no cinema, e deve ser prestigiado por todos aqueles que buscam um bom entretenimento na telona. Compre um saco de pipoca e divirta-se desviando do sangue e órgãos que serão arremessados em sua direção!

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Marcelo Milici

Professor e crítico de cinema há vinte anos, fundou o site Boca do Inferno, uma das principais referências do gênero fantástico no Brasil. Foi colunista do site Omelete, articulista da revista Amazing e jurado dos festivais Cinefantasy, Espantomania, SP Terror e do sarau da Casa das Rosas. Possui publicações em diversas antologias como “Terra Morta”, Arquivos do Mal”, “Galáxias Ocultas”, “A Hora Morta” e “Insanidade”, além de composições poéticas no livro “A Sociedade dos Poetas Vivos”. É um dos autores da enciclopédia “Medo de Palhaço”, lançado pela editora Évora.

16 thoughts on “Dia dos Namorados Macabro (2009)

  • 05/06/2015 em 03:05
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    Um remake de respeito e muito bom isso sim coisa muito difícil de se ver por aí, vide Oldboy – Dias de vingança (2013), A Hora do pesadelo (2010) e para mim um dos piores remakes já feitos A Hora do Espanto (2011).

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  • 20/06/2013 em 17:19
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    Assisti esse filme na época, quando em cartaz, e achei interessante. O filme que seja honesto nas suas cenas é suficiente.

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  • 18/06/2013 em 15:13
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    ” Já a segunda falha do remake está exatamente no final. Apesar de ser levemente surpreendente, a tal revelação deixa transparecer que o público foi feito de idiota durante o filme inteiro.” – resumiu como me senti. O filme é bom, o que estraga é o final, ridículo. Quanto à cena da Betsy Rue, não foi nada inteligente ela fugir do assassino correndo pro quarto ao invés de correr na rua pra pedir ajuda, mesmo que pelada…

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    • 16/04/2023 em 15:18
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      Por que o final faz parecer que o público foi feito de idiota?

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  • 16/06/2013 em 19:22
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    Não curti…Acho que depois de ver por anos o original,achei esse muito inferior!Não que seja um filme ruim,mas por que os remakes têm de modificar tanto a história original que era tão boa e que ela,na sua íntegra,é que fez o sucesso do filme original?

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  • 13/06/2013 em 16:52
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    assisti no cinema e adorei ,achei o melhor remake de slasher já feito até hoje, e Odeio filme na Liguagem em inglês, pois não tenho paciência de ler legendas que me faz sempre perder detalhes do filme, ainda bem que muitos cinemas já lançam filmes dublados no cinema e em dvd . já imaginou assistir o filme curtindo a vida adoidado sem a dublagem? não teria a menor graça..

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    • 11/09/2013 em 00:21
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      Às vezes as legendas também dificultam o meu entendimento… E é foda, porque você tem que ler a legenda e, ao mesmo tempo, olhar para a cara do ator que está falando… e todo mundo sabe que isso não é tão fácil. Mas mesmo assim, eu acho uma vergonha um adulto alfabetizado dizer que prefere ver um filme dublado a ter o trabalho de ler a legenda. É claro que quando eu era moleque eu também só curtia ver filmes dublados… Mas hoje percebo que a dublagem tira, se não toda, muito da emoção.

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  • 13/06/2013 em 13:10
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    Não gostei de jeito nenhum. Não que seja um dos piores remakes já feitos, pois tem tanta bagaça que ganha esse título de lavada. Mas… enfim, não gostei! Rsrs.

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  • 13/06/2013 em 10:20
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    assisti esse filme em casa mesmo,pois comprei na pirataria hahaha. gostei mas achei estranho pra kramba,queria ver o original. e ainda bem que não o vi no cinema,pois teria que ver dublado,ninguem merece filme dublado .

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    • 13/06/2013 em 14:15
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      Eu não entendo o preconceito que as pessoas tem por séries e filmes dublados, eu sei que existe dublagens ruins mas nem todas são assim, quando vc era criança vc dependia dela não é? ou a senhorita nasceu sabendo ler? Agora que é adulta não percebe a importância da mesma?

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      • 13/06/2013 em 18:49
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        calma amiguinho,as pessoas tem gostos diferentes,e eu prefiro legendado pois gosto de ouvir a voz dos atores,acho mais emocionante hahaha.abraço pra ti .

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        • 14/06/2013 em 20:33
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          Foi mal, eu também gosto de legendado,
          eu só me exaltei um pouquinho.

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      • 29/07/2015 em 19:58
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        Nada melhor que assistir a um filme legendado. O 3D desse filme ficou muito bom.

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