O Exorcismo de Emily Rose (2005)

4.5
(4)
O Exorcismo de Emily Rose (2005)
“One, Two, Three, Four, Five, Six.”
(Emily Rose, referindo-se aos demônios dentro de seu corpo)

O Exorcismo de Emily Rose
Original:The Exorcism of Emily Rose
Ano:2005•País:EUA
Direção:Scott Derrickson
Roteiro:Paul Harris Boardman, Scott Derrickson
Produção:Paul Harris Boardman, Beau Flynn, Gary Lucchesi, Tom Rosenberg, Tripp Vinson
Elenco:Laura Linney, Tom Wilkinson, Campbell Scott, Jennifer Carpenter, Colm Feore, Joshua Close, Kenneth Welsh, Duncan Fraser, JR Bourne, Mary Beth Hurt, Henry Czerny, Shohreh Aghdashloo

Imagine que a garota possuída pelo demônio no clássico filme O Exorcista (The Exorcist, 1973), Regan MacNeil, não tivesse sobrevivido ao ritual para expulsar o demônio que habitava em seu corpo. Que a mesma falecera por causa do suposto caso de possessão e que após tal episódio, o padre que participou do exorcismo fosse acusado de homicídio culposo e omissão de socorro. Baseado em uma história real, O Exorcismo de Emily Rose (The Exorcism of Emily Rose, 2005) leva o espectador a este julgamento da fé contra a ciência em um filme bem conduzido, que mesmo com uma semelhança natural com a trama de O Exorcista, mostra ter vida própria, fruto de um bom roteiro, direção segura e elenco eficiente, além de possuir interessantes diferenciais dentro de um gênero tão repleto de produtos iguais.

A produção é baseada na história verídica da jovem alemã Anneliese Michel, que morreu na década de 70, aos 18 anos, vítima de um caso de possessão confirmado pela própria Igreja Católica. No filme, sua vida é narrada através da fictícia Emily Rose (Jennifer Carpenter), uma jovem normal para os padrões da época. Vinda de família religiosa, sendo católica praticante, a moça começa a ser vítima de estranhas crises cada vez mais violentas e aparentemente sem explicações. Tais surtos são diagnosticados por médicos como frutos de crises epiléticas levando a garota a receber tratamento com drogas apropriadas, porém, as crises passam a se tornarem cada vez mais frequentes e violentas.

Sem alternativa, a família de Emily pede ajuda ao sacerdote local, o padre Richard Moore (Tom Wilkinson), que durante um dos surtos da garota começa a desconfiar de que a mesma esteja sofrendo de possessão demoníaca. Logo tal dúvida dará lugar para a terrível certeza fazendo com que a própria Emily solicite o exorcismo, no entanto a garota morre durante o ritual, levando o padre a ser acusado de negligência e assassinato culposo. Para defender o religioso, a paróquia indica a famosa advogada Erin Bruner (Laura Linney), que não demonstra muita confiança na história do seu cliente. No entanto, à medida que o processo transcorre, a antes cética advogada, que não é católica e sim agnóstica, passa a se questionar sobre os eventos inexplicáveis em torno da história.

O Exorcismo de Emily Rose (2005) (4)

Por outro lado, o advogado de acusação do caso, Ethan Thomas (Campbell Scott) se mune de elementos que negam o suposto ato de possessão, visto como folclore, buscando explicações para a morte da garota em médicos e psiquiatras para demonstrar que Emily era na verdade vítima de crises fortes de psicose, o que justificaria as visões que a assombravam, e de ataques epiléticos, que explicariam o descontrole emocional da mesma.

A ação do filme começa justamente após a morte de Emily e vai sendo desenvolvida durante o julgamento contra o padre Moore, que vai narrando em flash backs os acontecimentos envolvendo a garota e que culminaram no seu falecimento. Esse recurso de narração temporal mostra-se bastante eficaz dentro da trama, embora os fãs das produções genéricas de Pânico (Scream, 1997), com muita ação e sangue jorrando em cada cena, podem achar O Exorcismo de Emily Rose um tanto quanto maçante e até sem nexo, o que obviamente, não deve ser considerado.

Assistir a história de Emily Rose e não fazer comparações com O Exorcista é inevitável, uma vez que a obra de 1973 foi um marco no gênero e nas produções que abordam o tema da possessão demoníaca. A imagem da garotinha inocente com o corpo habitado pelo diabo já faz parte do consciente coletivo e realizar qualquer trabalho cinematográfico nesta área vai levar para comparações naturais. No entanto, a boa notícia está no fato da história de Emily Rose conseguir ter vida independente do clássico dos anos 70, apoiada principalmente em um roteiro seguro e por uma produção bem realizada, sem efeitos especiais mirabolantes e consequentemente falsos.

Claro que O Exorcismo de Emily Rose possui elementos semelhantes ao de outras obras do gênero, como as tradicionais cenas da garota se auto mutilando, vozes duplicadas e falas em aramaico. O diferencial da trama está na forma como a história é narrada, uma vez que o filme utiliza justamente o recurso do júri para colocar o público como um observador ocular dos acontecimentos, mostrando claramente um julgamento entre a fé e a ciência ao serem levantadas questões sobre a existência de Deus e do diabo e da ação de ambos nas vidas das pessoas. Um outro acerto do filme é o de mostrar diferentes flashbacks envolvendo Emily baseados em cada uma das possíveis explicações para a sua morte, sob os pontos de vistas da fé e da ciência.

Mas engana-se quem pensa que o filme pega leve no sentido de assustar, embora alguns momentos sejam extremamente previsíveis, como a porta que bate, ou o gato gordo que pula, porém, a produção consegue ir além destes clichês, com algumas sequências extremamente impressionáveis, em especial as que mostram a auto flagelação da jovem, envolvendo inclusive deslocamento dos ossos de Emily, que chegam a incomodar muito mais do que o giro de 180 graus da cabeça de Regan, de O Exorcista. O filme é repleto de cenas fortes, do ponto de vista visual, porém feitas de forma simples para os atuais padrões das produções do gênero, e por isso, funcionam muito bem. Destacam-se a sequência no celeiro, a entrada da garota na igreja, ou quando a jovem Emily, tomada por um acesso de fúria, arranha copiosamente a parede do seu quarto com as unhas.

O Exorcismo de Emily Rose (2005) (1)

Fruto da dupla de roteiristas Scott Derrickson, que também dirigiu a produção e Paul Harris Boardman, que possuíam de mais importante no currículo os fiascos Hellraiser: Inferno (Hellraiser: Inferno, 2000) e Lenda Urbana 2 (Urban Legends: Final Cut, 2000), tendo em O Exorcismo de Emily Rose uma brusca melhora no material criado pela dupla. A direção de Derrickson se mostra segura ao mostrar uma trama bem conduzida, com momentos fortes e diálogos inteligentes, além de flertar com o drama existente de forma natural na história, sendo mostrado através da própria Emily e sua família, na perda da sua filha mais velha de forma tão trágica.

Além do bom roteiro e da direção segura, o filme também deve ser destacado pelo seu elenco, começando pela jovem Jennifer Carpenter (mais conhecida no Brasil pela sua participação na comédia As Branquelas, 2004, e recentemente em Quarentena, remake de REC). Carpenter consegue passar todo o medo e fúria da sua personagem na medida exata, sem parecer caricata em momento algum. Para o papel da cética advogada Erin, foi escolhida a atriz Laura Linney (O Show de Truman, 1998), que faz um trabalho convincente dosando medo e drama de acordo com a situação. Coube ao experiente ator Tom Wilkinson (Entre Quatro Paredes, 2004) dar vida a um atormentado padre Moore, um homem que tem na fé seu pilar de sustentação, mas que teme o demônio por reconhecer seu poder e busca acima de qualquer outra coisa, contar o que realmente aconteceu com Emily.

Por todos estes pontos positivos, O Exorcismo de Emily Rose já deve ser considerado como uma agradável opção do gênero e, se a produção não chega a ser o clássico que O Exorcista da década de 70 se tornou, pelo menos pode ser visto como uma das boas surpresas do estilo e por isso, já vale uma conferida.

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Filipe Falcão

Jornalista formado e Doutor em Comunicação. Fã de filmes de terror, pesquisa academicamente o gênero desde 2006. Autor dos livros Fronteiras do Medo e A Aceleração do Medo e co-autor do livro Medo de Palhaço.

9 thoughts on “O Exorcismo de Emily Rose (2005)

  • 02/06/2015 em 03:15
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    Assisti e achei interessante o grande problema é que acabo fazendo comparação com O Exorcista (1973) e aí meu amigo não tem para ninguém só a foto do cartaz com o padre parado em frente a casa em baixo do poste de luz é de meter medo.

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  • 25/03/2015 em 02:22
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    eu acho que pra gostar desse filme tem que se interessar pela história, eu, como odeio exorcismos (acho chato e tosco) odiei o filme, foi MUITO chato de acompanhar…

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  • 13/06/2013 em 14:49
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    Filme excelente, ótimas atuações, com destaque para Jennifer Carpenter e Laura Linney que deram um show em cena.

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  • 08/06/2013 em 20:50
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    Minha opinião desse filme: LIXO, LIXO e LIXO.

    Esse filme deve ser bom pra quem sofre de insônia, pega no sono rapidinho.
    Tive que assistir esse treco cinco vezes pra conseguir terminar, em quatro delas peguei no sono.

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  • 08/06/2013 em 08:50
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    gosto muito desse filme,sem falar que Jennifer Carpenter arrasou nesse papel,mas não só ela,todo mundo mandou bem.

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  • 07/06/2013 em 22:10
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    Discordo. Achei o enfoque as cenas do julgamento o grande diferencial do filme. O filme é excelente do começo ao fim. Me lembro até hoje da cena perturbadora onde o irmão a encontrava atirada no chão, paralisada e olhando fixamente para ele. Uma cena simples e bastante efetiva.

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    • 10/06/2013 em 11:26
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      Só para elucidar melhor, a cena citada é na verdade um colega de faculdade de Emily, onde a paralisia ocorre no dormitório da universidade.

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  • 07/06/2013 em 11:58
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    Ótimo filme; a única coisa que me desagradou foi darem mais atenção ao julgamento do que a história de Emily – este é incrível, mas o verdadeiro foco deveria ser o terror que a menina passou. Há cenas incríveis de possessão, mas estas se contam nos dedos.

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