A Freira Assassina (1978)

0
(0)

A Freira Assassina
Original:Suor Omicid / Killer Nun
Ano:1978•País:Itália
Direção:Giulio Berruti
Roteiro:Giulio Berruti, Enzo Gallo, Alberto Tarallo
Produção:Enzo Gallo
Elenco:Anita Ekberg, Paola Morra, Alida Valli, Massimo Serato, Daniele Dublino, Lou Castel, Joe Dallesandro, Laura Nucci, Alice Gherardi, Lee De Barriault, Ileana Fraia, Antonietta Patriarca

Não é de hoje que a Igreja Católica é questionada pelos abusos. Um passeio apenas pela História e você encontrará embasamento teórico no Teocentrismo da Idade Média, quando ela se tornou extremamente poderosa com o acúmulo de riquezas proeminentes da venda de indulgências e de cargos eclesiásticos. O descontentamento de alguns como Martinho Lutero, João Calvino e Henrique VIII acabou gerando a Reforma Protestante, fazendo a Igreja perder domínio em diversos países da Europa como Inglaterra e parte da Alemanha. Ela própria assumiria seus exageros na realização de uma Contra-Reforma, através do Concílio de Trento, estabelecendo regras para o Clero como o estudo em seminários e idade mínima para ordenação. Após quatrocentos anos, com o advento do cinema, a necessidade de atrair público para produções de baixo orçamento e imorais fez nascer o estilo exploitation, com filmes repletos de conteúdos ousados envolvendo sexo, violência e a presença de alguma grande estrela. Dessa forma sensacionalista de fazer cinema surgiram segmentos menores como o nazisploitation (explorando o nazismo), o WIP (ou women in prison, com cenas em presídios) e, é claro, o nunsploitation (explorando freiras), com a ousadia artística mais uma vez atingindo a Igreja.

Tendo seu terreno mais fértil na Europa, na década de 70, o nunsploitation considera como marco inicial o extremo The Devils, de Ken Russell, baseado numa obra de Aldous Huxley, que se inspirou em The Devils of Loudun, um caso dito verídico ocorrido na França, no século XVII, quando um convento sofreu a chamada heresia em massa, alegando evidências de possessão demoníaca. Embora o filme de Russel, de 1971, receba o título de precursor, o exemplo mais antigo é da Polônia, dez anos antes, e se chama Mother Joan of the Angels, de Jerzy Kawalerowicz, também abordando possessão. Depois ainda teria um exemplar menor na Itália, The Nun of Monza, de Eriprando Visconti, inspirando um remake de Bruno Mattei em 1980. Além de The Devils, o tema teria força em duas clássicas produções: Satánico pandemonium, de Gilberto Martínez Solares e Alucarda, de Juan López Moctezuma – indispensáveis para quem quer conhecer mais sobre o assunto.

Pois, foi em 1978, num filme dirigido por Giulio Berruti, a partir de um roteiro seu com Alberto Tarallo e Enzo Gallo, que tivemos um exemplo que explora o subgênero nos dias atuais. Geralmente, os nunsploitation tem suas histórias centradas na Idade Média ou Renascença, com pretensões críticas ao período conturbado que envolveu a época, acentuada pela Inquisição. Killer Nun ou A Freira Assassina não tinha a intenção de ferir os preceitos religiosos, já que as causas dos pecados estão relacionados a fatores externos, mas conseguiu chamar a atenção quando a ativista social Mary Whitehouse denunciou a produção como parte dos video nasties, proibidos por serem capazes de afetar o comportamento humano. Tal fato impediu o lançamento no Reino Unido em 1983, conseguindo chegar ao público apenas em 2006, com a mudança nas leis de censura. Haveria necessidade de tamanha repercussão?

É óbvio que não. Para os padrões da Igreja a produção realmente fere o celibato e traz cenas de violência e sexo, porém justifica tais atos como resultado de uma doença ou abuso na infância. Não há influência demoníaca, apenas a insanidade se apoderando de alguns casos isolados, facilmente explicados como patológicos. Apesar disso, o filme é simples, previsível e sem grandes méritos, cuja força está no elenco estrelado pela belíssima Anita Ekberg (do clássico Guerra e Paz, de 1956) e, principalmente, na ponta de Alida Valli, de O Anticristo (1974), Suspiria (1977) e A Mansão do Inferno (1980), entre tantos outros.

Após a retirada de um tumor no cérebro, a Irmã Gertrude (Anita Ekberg) não é mais a mesma. Sentindo-se doente, com blecautes psicológicos, ela torna-se viciada em morfina, enquanto tenta cuidar dos pacientes de um Sanatório, auxiliando o Dr. Poirret (Massimo Serato, de El Cid, 1961). Numa dessas consequências, ela quase leva à morte uma paciente ao atrasar a troca do soro, o que a incentiva a pedir o seu afastamento ao médico responsável e à Madre Superiora (Alida Valli). Sua única amiga é a companheira de quarto Irmã Mathieu (Paola Morra), cuja atração lésbica é evidenciada em seus atos e insinuações. Durante uma folga, Gertrude seduz um desconhecido num bar e transa com ele num quarto alugado, numa cena sem muita empolgação ou nudez.

Mais tarde, no almoço, ao se irritar com a dentadura de uma paciente, Gertrude acaba levando a senhora à morte, mas, ainda assim, não é afastada de suas funções. O mesmo não se pode dizer do Dr. Poirret, que perde o emprego após acusações sem fundamento de Gertrude, tendo o cargo ocupado pelo Dr. Patrick Roland (Joe Dallesandro, de Blood for Dracula). Assim tem início uma série de mortes, todas indiretamente associadas a Gertrude, embora os crimes sejam cometidos como um giallo, mas com luvas brancas. Agredido na cabeça, um paciente é atirado pela janela; outro é sufocado; uma médica é torturada e enforcada…e por aí vai. Mesmo com as cenas de morte, a violência é contida, sem exageros nas cores se usar como exemplo outros longas da década como o já citado Suspiria. E também não é preciso muito esforço – aliás, quase nenhum – para entender quem está por trás dos assassinatos e que também é a voz no confessionário na cena inicial.

A Irmã Mathieu é a que promove as cenas mais quentes, com sua nudez constante mostrando seus seios fartos, ainda que a câmera tímida se desvie de momentos mais intensos. Imaginei até que eu estivesse assistindo a uma versão censurada, mas minhas pesquisas provaram o contrário: são apenas 86 minutos e mais nada. Talvez a falta de ousadia tenha dado um fim à carreira do cineasta Giulio Berruti, em seu último trabalho.

A Freira Assassina não é um exemplo extremo para aqueles que querem se aventurar no subgênero nunsploitation. Pode servir como um aperitivo ou apresentação ao estilo, sem os excessos, mas é capaz de entreter os curiosos. Confira sem medo de pecar!

O que você achou disso?

Clique nas estrelas

Média da classificação 0 / 5. Número de votos: 0

Nenhum voto até agora! Seja o primeiro a avaliar este post.

Avatar photo

Marcelo Milici

Professor e crítico de cinema há vinte anos, fundou o site Boca do Inferno, uma das principais referências do gênero fantástico no Brasil. Foi colunista do site Omelete, articulista da revista Amazing e jurado dos festivais Cinefantasy, Espantomania, SP Terror e do sarau da Casa das Rosas. Possui publicações em diversas antologias como “Terra Morta”, Arquivos do Mal”, “Galáxias Ocultas”, “A Hora Morta” e “Insanidade”, além de composições poéticas no livro “A Sociedade dos Poetas Vivos”. É um dos autores da enciclopédia “Medo de Palhaço”, lançado pela editora Évora.

One thought on “A Freira Assassina (1978)

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *