Fenômenos Paranormais (2011)

3.9
(9)

Fenômenos Paranormais
Original:Grave Encounters
Ano:2011•País:Canadá
Direção:The Vicious Brothers
Roteiro:The Vicious Brothers
Produção:Shawn Angelski
Elenco:Ben Wilkinson, Sean Rogerson, Ashleigh Gryzko, Merwin Mondesir, Juan Riedinger, Shawn Macdonald, Bob Rathie, Fred Keating, Luis Javier, Mackenzie Gray, Michele Cummins

O estilo found footage já não surpreende mais. Encontrar fitas com material de gravação das últimas horas de vida de algum grupo é tão comum quanto a fórmula utilizada. Sabe aquelas filmagens de festas antigas que alguma tia resolve resgatar do velho baú para exibir com orgulho durante um evento em família? Tem a criança que faz careta, a avó que não sai do sofá para ver novela, aquele que dança engraçado, os cabelos esquisitos, as roupas fora de moda…É sempre a mesma coisa com os falsos-documentários, se você já viu um, parece ter visto todos: a ausência de música para estabelecer um clima de realismo, a falta de edição anunciada, as câmeras tremidas que insistem em ficar ligadas mesmo em situação de morte (Temos que mostrar para as pessoas o que acontece aqui.), entre outras tendências. Assim como são idênticos os textos que analisam produções desse subgênero, contando a origem do estilo e citando produções como Cannibal Holocaust (o precursor), A Bruxa de Blair (o popular) e Rec e Atividade Paranormal (os responsáveis pelo início da febre do estilo). Por esse motivo, vamos direto ao tema da análise: Fenômenos Paranormais, considerado o melhor exemplar da fórmula desde Atividade Paranormal.

É um exagero, claro. A boa avaliação nos sites de cinema e as críticas positivas são um convite a uma conferida, mas o longa está distante de ser um Shutter do gênero. Se sustos fossem exemplos de qualidade, não ficaríamos irritados com aquele grito do irmão ou quando uma bexiga estoura numa festa; com o frear de um automóvel numa avenida ou com a voz de alguém exclamando Bingo!. Fenômenos Paranormais possui tantos clichês, tantas repetições da fórmula e lugares-comuns que a impressão transmitida é a de estar vendo um filme pela segunda ou terceira vez. Você sabe o que irá acontecer e até se diverte um pouco, mas fica com a sensação de perda de tempo. De repente, poderia estar fazendo algo melhor como observar o vizinho suspeito pela janela e imaginar formas para assassinar o diretor do colégio.

A trama de Fenômenos Paranormais é bem trivial: os realizadores de um reality show que investiga lugares assombrados inicia a produção do sexto episódio, cujo tema é passar a noite num hospital psiquiátrico abandonado, onde falsas testemunhas dizem ter visto coisas macabras. O gigantesco local era popular na década de 30, quando um médico louco realizava testes bizarros, lobotomia e diversas formas de tortura nos pacientes. Um tratamento de choque se você nunca ouviu falar de A Casa da Colina (1999), com inspiração no clássico A Casa dos Maus Espíritos (1959), de William Castle, com Vincent Price! Obviamente, a noite será mais longa do que eles imaginam, havendo manifestações sinistras, desaparecimentos e corpos arremessados, com a sanidade dos envolvidos sendo colocada à prova.

O reality show Grave Encounters ainda não havia se tornado famoso até a época da realização do famigerado sexto episódio. Os cinco responsáveis pelo programa – Lance Preston (Sean Rogerson), Matt White (Juan Riedinger), Sasha Parker (Ashleigh Gryzko), T.C. Gibson (Merwin Mondesir) e Houston (Merwin Mondesir) – não acreditam naquilo que apresentam, forjando situações estranhas e um falso médium para atrair a audiência. Enquanto se divertem criando fenômenos artificiais, eles exploram cada ambiente a procura de algum entretenimento para o público. O apresentador Lance Preston nos explica que existem manifestações inteligentes, quando a entidade realiza atos para afastar as pessoas, e aquelas que se repetem, num reflexo condicionado geralmente à morte súbita. Ele mostra os aparelhos sofisticados que possui, entre câmeras potentes, gravador de áudio e leitores de sinais e temperaturas, e realiza invocações repletas de canastrices em ambientes considerados assustadores.

Tudo caminha para mais uma noite de trabalho comum. Eles só precisam resistir até às 6 da manhã, quando o caseiro irá buscá-los para encerrar a visita. No entanto, uma cadeira de rodas se move, uma porta se fecha de modo agressivo e o responsável pelo equipamento técnico desaparece. É só o início de uma jornada sem fim, entre corredores vivos, um empurrão na escada, algo que sai do banheira e arrasta alguém e algumas aparições sinistras: a mais assustadora é aquela que surge no teto, sem língua, com a boca ensanguentada, urrando de ódio.

Fenômenos Paranormais é o primeiro trabalho na direção da dupla The Vicious Brothers, composta por Colin Minihan e Stuart Ortiz. Não há nada especial nas câmeras agitadas ou afixadas estrategicamente, no roteiro óbvio e até mesmo nos efeitos comuns, facilmente realizados com alguns programas de computador. Talvez o destaque fique por conta do elenco, principalmente no talento de Sean Rogerson, com aparição em diversas séries de TV. Nada digno de Oscar, mas é visível a sua degradação no decorrer do filme, numa boa evolução na continuação, lançada em 2012. Ashleigh Gryzko esteve em Messages Deleted, de 2009, e outros nove títulos; Juan Riedinger atuou em Garota Infernal e O Dia em que a Terra Parou; e o médium do grupo, Merwin Mondesir, pode ser visto em O Mundo Imaginário do Doutor Parnassus e Atirador. Sim, desculpe decepcioná-los, mas eles estão vivos, o filme não é baseado em fatos reais.

Outro destaque positivo do longa está no ambiente. Com as câmeras de visão noturna, o local é realmente capaz de criar arrepios, principalmente o túnel. Se o espaço é adequado para uma história de horror, o enredo poderia ter sido mais bem desenvolvido, sem basear sua trama em A Bruxa de Blair e outras produções do gênero. Além disso, poderia haver um ritmo mais bem estruturado entre as cenas sonolentas (uma cadeira que se mexe, uma janela que se abre, a queda de um acessório) e as aparições exageradas (os fantasmas que gritam e correm atrás das pessoas).

Com um orçamento estimado em um milhão de dólares, Fenômenos Paranormais até consegue assustar em alguns momentos, mas, assim que o coração volta ao ritmo normal, você logo percebe que tudo não passou de uma bobagem. Pode divertir na mesma proporção que se confunde com outras produções similares.

 

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Marcelo Milici

Professor e crítico de cinema há vinte anos, fundou o site Boca do Inferno, uma das principais referências do gênero fantástico no Brasil. Foi colunista do site Omelete, articulista da revista Amazing e jurado dos festivais Cinefantasy, Espantomania, SP Terror e do sarau da Casa das Rosas. Possui publicações em diversas antologias como “Terra Morta”, Arquivos do Mal”, “Galáxias Ocultas”, “A Hora Morta” e “Insanidade”, além de composições poéticas no livro “A Sociedade dos Poetas Vivos”. É um dos autores da enciclopédia “Medo de Palhaço”, lançado pela editora Évora.

12 thoughts on “Fenômenos Paranormais (2011)

  • 29/03/2023 em 13:13
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    uma grande porcaria. e ainda tem uma histérica pra ajudar.

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  • 10/07/2022 em 12:40
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    Achei bem previsível, tem sustos porém é bastante previsível.

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  • 26/04/2014 em 08:10
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    Acabei de assistir e olha… um dos piores filmes que assisti nos últimos tempos!
    Assisti de olho no relógio pra ver quanto tempo ainda tinha daquela choradeira da Sasha e do mala do TC que não cala a boca um instante.
    Terrível, terrível..

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  • 21/04/2014 em 11:37
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    Apesar de conter seus glichês, eu achei o filme muito bom. Diferente de algumas obras que vemos hoje em dia, que são aclamadas no cinema. Não digo que o filme é clássico, mais ele assusta. O elenco é bom, o ambiente é assustador. Um filme cult, assim como “Cabana Do Inferno” de Eli Roth.

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    • 13/03/2021 em 14:34
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      Sinceramente eu achei o filme horrível; aqueles fantasmas que só sabem abrir a boca e gritar que coisa mal feita kkk; os personagens são muito irritantes eu queria que eles morressem o mais rápido possível. Enfim muito ruim assim como a sua continuação.

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  • 29/09/2013 em 00:15
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    acabei de ver… é tipo, assistível, nada mais… diria até que me arrependi de ver, tava esperando mais… diria que é um sólido 4/10.

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  • 04/09/2013 em 00:12
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    Achei melhor que Atividade Paranormal.

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  • 02/09/2013 em 01:46
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    A melhor coisa é o local mesmo,e as cenas de terror poderiam ter sido mais distribuídas ao decorrer do filme ,porque tudo acontece praticamente no final do filme,mas é uma boa opção pra uma diversão rápida.

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  • 01/09/2013 em 16:46
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    Filmes assim o melhor que tem é Cloverfield

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  • 29/08/2013 em 13:58
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    e legalzinho,mas só isso.

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  • 28/08/2013 em 23:22
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    O filme é muito bom. Se não é inovador, está acima da média das outras produções do gênero “found footage”.

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  • 27/08/2013 em 19:14
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    Muito boa a crítica Marcelo. O filme é legalzinho, dá para passar o tempo com os seus sustinhos bobos. O melhor fica no local, aterrador, diga-se de passagem… Esse hospício é o mesmo do filme Sessão 9? Acredito q seja, pelas semelhanças do local.

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