Vivos (1993)

3.7
(3)

Vivos
Original:Alive
Ano:1993•País:EUA, Canadá
Direção:Frank Marshall
Roteiro:Piers Paul Read, John Patrick Shanley
Produção:Kathleen Kennedy, Robert Watts
Elenco:Ethan Hawke, Vincent Spano, Josh Hamilton, Bruce Ramsay, John Newton, David Kriegel, Kevin Breznahan, Sam Behrens, Illeana Douglas, Jack Noseworthy, Christian J. Meoli, Jake Carpenter, Michael DeLorenzo, José Zúñiga, Danny Nucci, Josh Lucas

O Milagre dos Andes” ou “A História dos Sobreviventes dos Andes“, Vivos é mais lembrado pelo canibalismo do que por qualquer outra coisa. É uma produção do início da década de 90 baseada numa tragédia ocorrida com um time uruguaio de rugby em 13 de outubro de 1972. Inspirado num livro escrito por Piers Paul Read, lançado em 1974, e com roteiro de John Patrick Shanley (Feitiço da Lua, Congo), o longa teve a direção de Frank Marshall (Aracnofobia) e a narração não-creditada de John Malkovich (Red 2), além do apoio técnico de um dos sobreviventes, Nando Parrado, interpretado por Ethan Hawke.

Quando se está em discussão o que uma pessoa seria capaz de fazer na luta pela sobrevivência, as respostas ficam distantes da realidade. O instinto humano supera limites, enfrenta situações perigosas e vai de encontro às questões morais. Aquelas frases do tipo “isso eu não faria” ou “prefiro morrer a ter que comer isso” desaparecem na neve diante do extremo. Procurar comida no lixo, roubar, se prostituir…podem ser exemplos de instinto de sobrevivência, mas nenhum se equipara à possibilidade de se alimentar de uma pessoa morta. Esqueça reality shows como No Limite ou programas sensacionalistas que dizem testar a ousadia, pois a realidade é muito mais nua e crua do que comer insetos preparados pela produção.

Vivos tem início com a apresentação de Carlitos Páez (Malkovich) a uma série de fotos do time de rugby da faculdade Stella Maris, com dizeres sobre bravura e heroísmo e a triste constatação de que muitos ali já não estão mais vivos. No dia fatídico, o voo 571 da Air Force sobrevoa os Andes, onde o grupo de jovens e seus parentes rumam para uma partida no Chile. Entre os estudantes, é fácil identificar atores conhecidos como Ethan Hawke e Josh Lucas, em sua primeira participação no cinema. O clima descontraído é abalado por algumas turbulências, enquanto na cabine de comando o piloto Julio César Ferradas (Michael Sicoly) e o co-piloto (Jerry Wasserman, de Watchmen – O Filme) enfrentam uma forte neblina e não percebem que o avião está voando baixo demais entre as cadeias de montanhas.

Ao perceber a situação extrema, eles tentam subir a nave, mas ela acaba atingindo alguns picos, perdendo as asas – o que impediu uma explosão – e a traseira, arremessando a parte da frente contra a neve. Seis passageiros e uma aeromoça foram arremessados para fora do avião, e outros estão com graves ferimentos nas pernas. Antonio ‘Tintín’ Vizintín (John Newton, de Evidence, 2013), o capitão da equipe, assume a liderança, coordenando o apoio aos feridos, com a ajuda de dois estudantes de medicina, Roberto Canessa (Josh Hamilton, de Os Escolhidos, 2013) e Gustavo Zerbino (David Kriegel). No processo, mais seis acabam partindo, incluindo os pilotos, Alex (Silvio Pollio), um casal de idosos e a mãe de Nando, Eugenie.

Se a queda já havia sido um desafio, a situação tornar-se-á pior quando for necessário resistir à fria noite de nevasca. Eles usam assentos e bagagens para tapar as saídas, e procuram se aquecer com o contato físico, mas a noite acaba levando mais duas vidas, como a da senhora com as pernas quebradas, Alfonsín (Diana Barrington), com quem Carlitos Páez (Bruce Ramsay, de Eles Matam, Nós Limpamos, de 1996) gritou para que parasse de gemer durante a madrugada. A busca por comida não traz muita sorte: alguns chocolates e vinho – itens que se esgotam rapidamente quando eles acreditam que um avião que sobrevoou a região teria enxergado o grupo.

Sem opções de alimentação, eles acompanham no rádio informações sobre o resgate e lamentam quando, no nono dia, as buscas são canceladas, sem esperança de encontrar sobreviventes. Nando profere uma das frases célebres da produção e do livro: “Tenho algo para contar para vocês. Boa notícia! Eles cancelaram as buscas!“. Carlitos então questiona: “Por que diabos isso seria uma boa notícia?” E Nando completa; “Isso significa que teremos que sair daqui por conta própria.” Esse diálogo reflete o heroísmo de Nando porque ele jamais se deixa abater pelos problemas, sempre imaginando possibilidades e soluções, nunca se entregando à tragédia.

Ao perceber o desânimo e a fome dos sobreviventes, ele sugere a possibilidade deles se alimentarem dos cadáveres, principalmente dos pilotos, pois eles são responsáveis pelo que aconteceu. Muita discussão moral até que eles decidem cortar partes dos mortos para se alimentar, embora alguns recusem essa saída a princípio. Os dias avançam ainda mais intensos. Gustavo, Rafael (Michael DeLorenzo, de Regresso do Além, 2009) e Juan Martino (Michael Woolson) buscam pela traseira do avião com a intenção de encontrar alimentos e a bateria que possa fazer o rádio de comunicação funcionar. Se jã não bastassem os problemas, uma avalanche atinge o grupo, levando mais vidas. Numa nova expedição, Nando e Canessa encontram a traseira, mas não conseguem fazer a bateria funcionar, o que leva a uma única chance: buscar ajuda pelas cadeias montanhosas.

Embora tenha duas horas de duração – em relação ao tempo em que ficaram lá não significa nada – Vivos não se torna cansativo ou monótono em nenhum momento. Testemunhar, ainda que distante, a luta desses bravos homens pela sobrevivência num ambiente claustrofóbico, entre cadáveres e desespero, pode-se considerar uma lição de vida, um exemplo para ser seguido por aqueles que não sabem valorizar as oportunidades que possuem. Ainda assim, apesar de todo heroísmo e força de vontade, o longa e o episódio ocorrido na década de 70 serão sempre lembrados como a história real de homens que se transformaram em canibais para sobreviver.

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Marcelo Milici

Professor e crítico de cinema há vinte anos, fundou o site Boca do Inferno, uma das principais referências do gênero fantástico no Brasil. Foi colunista do site Omelete, articulista da revista Amazing e jurado dos festivais Cinefantasy, Espantomania, SP Terror e do sarau da Casa das Rosas. Possui publicações em diversas antologias como “Terra Morta”, Arquivos do Mal”, “Galáxias Ocultas”, “A Hora Morta” e “Insanidade”, além de composições poéticas no livro “A Sociedade dos Poetas Vivos”. É um dos autores da enciclopédia “Medo de Palhaço”, lançado pela editora Évora.

3 thoughts on “Vivos (1993)

  • 07/12/2022 em 04:41
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    O que dá mais medo e é mais pavoroso de verdade é esse texto branco sobre um fundo preto.

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  • 10/08/2013 em 22:54
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    Esse filme parece bem interessante, vou colocar na minha lista de futuros filmes para assistir.

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  • 03/08/2013 em 15:26
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    preciso rever esse filmaço.

    Resposta

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