O Iluminado (1980)

4.7
(13)
O Iluminado (1980)
Kubrick sempre foi o zelador
O Iluminado
Original:The Shining
Ano:1980•País:EUA, UK
Direção:Stanley Kubrick
Roteiro:Stanley Kubrick, Stephen King, Diane Johnson
Produção:Stanley Kubrick
Elenco:Jack Nicholson, Shelley Duvall, Danny Lloyd, Scatman Crothers, Barry Nelson, Joe Turkel, Anne Jackson, Tony Burton, Barry Dennen

O espectador mais casual que, por acidente, trombar com uma cópia de O Iluminado sem saber que foi o único filme de horror de Stanley Kubrick, certamente vai pensar, ao fim da projeção, que o diretor era um especialista no gênero. Afinal de contas, Kubrick, foi um cineasta que lapidava seus filmes com cuidado e paciência, e mesmo tendo uma filmografia relativamente curta e com longos espaços de tempo entre um filme e outro, era capaz de dominar qualquer gênero com maestria, fosse o horror, o épico, o erotismo ou a ficção científica.

Stephen King, este sim é um veterano do medo. E não ficou nem um pouco feliz com os rumos dados por Kubrick nesta adaptação do seu terceiro livro. King nunca planejou em ser um escritor de gênero, mas a partir de O Iluminado recebeu o rótulo de “rei do horror“. O livro foi escrito como uma metáfora para o seu alcoolismo, e narra a história de Jack Torrance, um ex-professor universitário que, na sua luta contra a bebida, aceita um emprego de zelador num luxuoso hotel nas montanhas do Colorado. Isolado pela neve com sua esposa, Wendy (Shelley Duvall), e seu filho, Danny (Danny Lloyd), ele teria tempo para se dedicar a uma peça que vinha escrevendo, e que representaria um novo começo para a família.

Mas o Hotel Overlook esconde segredos violentos em seus belos corredores e salões de festa. Segredos que o pequeno Danny acabaria libertando com seu talento paranormal, chamado “iluminação“. Alertado pelo cozinheiro do hotel, Danny a princípio tenta se adaptar ao novo lar, mas as coisas que povoam o lugar acabam despertando, e se infiltram na frágil mente de Jack, que é levado a uma loucura homicida contra o filho e a esposa.

O Iluminado (1980) (2)

O Iluminado está entre os grandes filmes de todos os tempos, e, talvez, como a maior de todas as histórias de assombração do cinema. O estilo de Kubrick de rodar inúmeros takes (só a cena em que o cozinheiro Halloran (Scatman Crothers) explica o que é a “iluminação” foi rodada 148 vezes), ajuda a criar diálogos tensos, entrecortados por momentos de horror que vão do psicológico ao gore.

Kubrick era famoso por fazer grandes alterações nas suas adaptações literárias, e no caso de O Iluminado não foi diferente. Além das inúmeras alterações na história (principalmente quanto ao alcoolismo de Jack, e o final, drasticamente diferente), a escolha dos protagonistas enfureceu Stephen King. Se, por um lado, Danny Lloyd está perfeito como o pequeno Danny, e Scatman Crothers dá gosto de assistir como Dick Halloran, Shelley Duvall, com seu tipo físico frágil e nada atraente, acaba fazendo um Wendy menos ativa que a do livro, e que chega muitas vezes a ser irritante.

Mas o que realmente incomodou King foi a escalação de Jack Nicholson no papel principal. Nicholson, no auge de seu reino como maior ator de Hollywood, cria um dos vilões mais reconhecidos e temidos do cinema do horror. Numa carreira marcada por personagens excêntricos e careteiros, em O Iluminado ele está no auge de sua energia e loucura, o que funciona muito bem nos momentos em que o personagem está possuído pelos fantasmas do hotel, mas que soa um pouco deslocado quando ele está são. King chegou a sugerir que Kubrick escalasse Jack Palance, Michael Moriarty ou Jon Voight para o papel, argumentando que eles seriam melhores para incorporar o lado “normal” de Torrance.

O Iluminado (1980) (1)

Mas, sejamos francos, o mundo não seria o mesmo sem Jack Nicholson enfiando a cara em um buraco feito com seu machado na porta e gritando “Here’s Johnny!“. Mesmo já tendo provado que é capaz de interpretar gente “normal“, Jack ficou mesmo marcado com seus loucos, neuróticos e psicóticos, e O Iluminado é o suprassumo disso. A sua interpretação é tão forte que segundo sua então esposa Angelica Huston, o pobre Jack chegava esgotado das filmagens, caindo na cama sem nem cumprimentá-la.

Na responsabilidade sempre complicada de adaptar um texto extenso, o também roteirista Kubrick, no lugar de cortar ou condensar, esconde pequenas dicas para elementos do livro, como o álbum de recortes descrito no livro, que faz uma participação especial sobre a mesa de Jack, ou o traumatizante fantasma vestido de urso. Tem-se assim dois produtos bem diferentes de um mestre da literatura e de um mestre do cinema. Ambos igualmente geniais e igualmente assustadores.

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Matheus Ferraz

Mineiro, autor publicado e mestre em Biografia pela University of Buckingham

10 thoughts on “O Iluminado (1980)

  • 11/10/2016 em 17:04
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    Como Filme de Terror, é um Clássico Absoluto; um dos mais assustadores de todos os tempos.
    Agora, como adaptação do livro de King, não é tão satisfatório. O Kubrick deixou de lado vários assuntos importantes do livro.
    Nesse quesito, eu prefiro a minissérie – injustamente massacrada por muitos – de 1997, escrita, produzida e dirigida por Mick Garris, com co-direção de King. O filme é mais fiel ao livro e apresenta os assuntos que Kubrick deixou de lado.

    Enfim, O ILUMINADO (1980) é um Clássico do Cinema, e um dos filmes mais assustadores de todos os tempos!

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  • 04/02/2014 em 11:13
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    Olha, pra época que ele foi filmado (adoro os filmes 70tistas), e a história vai sendo feita como quebra-cabeça. A paciência está justamente ali, na sua frente, onde você vai vendo, que a vida de todos ao redor, vai sendo amarrada num turbilhão de acontecimentos.
    Gente, a parte em que Nicholson, anda aquela sala inteira apos Duval ler a “suposta história”, pra mim, é a MELHOR CENA DO FILME! Cerca de 17min até o final da escada e com um Nicholson completamente PERTURBADO.
    Realmente, pode aparecer muitos por aí, mas nada, nenhum vai conseguir o ÊXITO que O ILUMINADO conseguiu chegar… EXCELENTE CRÍTICA. Parabéns…

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  • 29/01/2014 em 23:24
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    o filme do século , com certeza insuperável..

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  • 29/01/2014 em 12:42
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    Acho esse superestimado! -pedradas
    A história é boa, mas o seu desenrolar é tão lento q, como o personagem de Jack Nicholson, eu tbm fiquei numa linha tênue, mas do sono e ficar acordado. Falaram q a cena do corredor era uma das mais aterrorizantes já feitas e quando fui ver… Iiiiiiiiihhh nadinha. Pra mim o q vale é a atuação de Jack Nicholson e os momentos de perseguição no final q são bem rápidas e com pouquíssima ação/suspense. O final tbm é bem ruinzinho. Enfim, nada q ao meu ver o considere um clássico de terror, na realidade nem bom filme é.

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  • 27/01/2014 em 18:28
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    Eu também penso que Jack aparenta ser meio perturbado desde o começo do filme hehehe, mas não sabia que ate o King achava isso, porém assim como o Matheus Ferraz escreveu, não da para imaginar o filme sem ele e principalmente a cena que Jack enfia a cara em um buraco feito com seu machado hehe, sem mais comentários o filme é excelente.

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  • 27/01/2014 em 12:53
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    Filme perfeito. Em todos os sentidos, inclusive no que se propõe: ser um filme de terror. Kubrick, claro, vai além desse rótulo e sempre provou seu quase preciosismo artístico maravilhoso. King, do qual também gosto, deveria ficar era agradecido de Kubrick escolher uma obra dele para filmar. E o fez de maneira magnífica. Jack ficou impecável no papel e o fato de já ter uma expressão levemente insana desde o início não influencia na sua mudança mais radical depois. Acho até que essa caracteristica dá mais complexidade ao filme e ás hipóteses que podem ser cogitadas a respeito das causas e efeitos do desenrolar da trama: loucura? influência do hotel?
    Enfim. Sem mais, é uma obra-prima do cinema.

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  • 27/01/2014 em 03:18
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    Melhor filme de horror já realizado. Fim.

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  • 27/01/2014 em 00:41
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    Puxa, já estava imaginando quando é que vocês fariam uma resenha de O Iluminado.

    Realmente, ambas as versões são fantásticas, mas eu ainda prefiro a do livro. E King tem razão quanto à cara de louco de Nicholson estar presente mesmo quando o personagem ainda está são.

    Resenha do livro:

    http://gatosmucky.blogspot.com.br/2011/02/este-lugar-inumano-cria-monstros.html

    Resenha do filme:

    http://gatosmucky.blogspot.com.br/2013/03/overlook-hotel.html

    Abraço, caras.

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    • 29/01/2014 em 16:21
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      Com certeza, há muitos momentos aterrorizantes no livro que foram deixados de lado (como os animais de cerca viva, entre outros). Há alguns anos, foi lançada uma versao para a tV com roteiro do proprio Stephen King que é bem mais fiel ao livro.
      Assisti em VHS, nao sei se foi lançada posteriormente em DVD, mas vale a pena conferir.

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  • 26/01/2014 em 17:43
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    filmaço mesmo.apesar de não ter melhor que o Jack Nicholson pra esse papel eu concordo com o King,já no começo ele tem cara de louco,por isso que por um lado eu prefiro o remake/telefilme de 1997,nesse daí agente acompanha aos poucos a loucura do Steven Weber. mas mesmo assim dá mais medo do Nicholson do que do Weber,sem falar que o Weber é bonito e o Nicholson não,apesar de ser um ator mais talentoso .

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