Virgínia (2011)

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Virgínia (2011)

Virgínia
Original:Twixt
Ano:2011•País:EUA
Direção:Francis Ford Coppola
Roteiro:Francis Ford Coppola
Produção:Francis Ford Coppola
Elenco:Val Kilmer, Bruce Dern, Elle Fanning, Ben Chaplin, Joanne Whalley, David Paymer, Anthony Fusco, Alden Ehrenreich, Don Novello, Ryan Simpkins

É impossível dissociar a carreira de Francis Ford Coppola de seu último trabalho, considerado como o retorno do diretor ao gênero terror. Não que o filme seja comparável à trilogia O Poderoso Chefão, Apocalypse Now, O Selvagem da Motocicleta, Peggy Sue, Seu Passado a Espera, Jardins de Pedra e até mesmo Drácula de Bram Stoker, mas alguém que possui esse currículo não parece ser o mesmo que roteirizou e conduziu o enigmático Virgínia.

Coppola já havia dito em entrevistas que faria produções mais autorais, independentes, do que propriamente longas de grandes estúdios, realizados com orçamentos imensos, visando premiações. Ainda assim não justifica assinar um trabalho aquém de tudo o que ele é capaz de fazer e provou ao longo de sua carreira cinematográfica. E o problema não está apenas no roteiro esdrúxulo que salta entre gêneros diversos sem buscar uma definição, pois os erros aparecem na direção sem criatividade e até mesmo na escolha do protagonista, um Val Kilmer com cara de produtor pornô, distante da caracterização de escritor de livros de terror.

Após o lançamento de Tetro, financiado e lançado pelo próprio cineasta, Coppola anunciou que faria outros trabalhos independentes, já que é um dos poucos que pode dar o luxo de trabalhar à margem do sistema, graças também a uma vinícola lucrativa que possui. Assim no início de 2011, ele revelou as intenções de realizar Twixt Now and Sunrise, primeiro título do filme, a partir de um momento onírico: “nasceu de um sonho que tive ano passado – na verdade, um pesadelo. Eu percebi que era um presente que eu estava tendo em poder contar essa história, provavelmente num filme de terror.”, disse o diretor enquanto já anunciava os nomes de Val Kilmer (Vício Frenético), Bruce Dern (O Buraco 3D), Elle Fanning (Um Lugar Qualquer), David Paymer (Arraste-me para o Inferno), e Ben Chaplin (O Retrato de Dorian Gray) nos papéis principais. Aliás, Chaplin assumiria o papel de Edgar Allan Poe, um dos maiores escritores fantásticos de todos os tempos, embora o longa não seja ambientado na época de sua existência.

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Filmado em Napa County, terra de Coppola, com locações em Lake County, California, Virgínia se desenvolveu no decorrer do mesmo ano, com a divulgação de algumas imagens sinistras no visual de Elle Fanning e um dos trailers mais estranhos já realizados pelo diretor. Acostumem-se com essa palavra e sinônimos como esquisito e fora do comum, porque serão constantes na definição desse filme. Com um orçamento estimado em 7 milhões, teve sua premiere no Festival de Toronto no dia 11 de setembro de 2011 e depois passagens pelo Festival de Turin (02/12/11), na Itália, e pelo Festival Gerardmer Fantasy (25/01/12), na França, até chegar nos EUA em 28 de abril, no Festival Internacional de São Francisco. Virgínia dividiu opiniões, entre críticas ácidas e elogios tímidos, alcançando uma nota mediana nos principais portais da internet, além de um sinal de alerta sobre futuros trabalhos de Coppola.

Ambientado nos dias atuais, o longa traz o escritor em declínio Hall Baltimore (Val Kilmer), especializado em romances de horror sobre bruxaria, para a sonolenta cidade de Swan Valley num tour de divulgação do seu mais recente livro. No local, ele é convencido pelo xerife Bobby LaGrange (Bruce Dern) a desenvolver uma obra baseada num crime que acometeu a cidade: uma garota sofreu uma execução vampírica, ou seja, foi encontrada morta com uma estaca em seu coração. Antes mesmo que possa pesquisar a respeito do ocorrido, ele fica sabendo que há anos ocorreu um massacre de crianças, e que Edgar Allan Poe se hospedou num velho hotel da região.

Durante um sonho, numa belíssima caracterização em sépia, o escritor encontra Poe e o fantasma de uma garota apelidada apenas de V (de Virgínia, interpretado pela talentosa Elle Fanning), e vai somando elementos para ajudá-lo a resolver o mistério e pautas para escrever seu novo livro. Apesar de amargurado pela perda da filha e tendo a esposa no seu pé, um Hall afogado em whisky não consegue transmitir o drama de sua concepção – mas a culpa não é dele, mas de seu intérprete Val Kilmer, pouco convincente.

Enquanto peca no roteiro de seu filme, martelando entre clichês (escritor em declínio, tragédia no passado…) e na inspiração não assumida em Twins Peaks, Coppola, por sua vez, cria um cenário maravilhoso, ainda que os recursos de história em quadrinhos na divisão de cena e no fundo falso comprometam o resultado final. Swan Valley sofre com a tragédia do passado, culpando um grupo de jovens rebeldes que ficam à margem do rio – a metáfora da marginalidade. E tem na torre sua definição mais espetacular, pois possui sete relógios com cada um exibindo um horário diferente e alguns boatos sobre o que poderia assombrar o local.

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Mesmo com toda essas ferramentas em mãos, o cineasta apresenta um trabalho óbvio e estranho, com méritos apenas nas citações a Baudelaire e, claro, Edgar Allan Poe. Visualmente idêntico ao autor, Ben Chaplin dispara com frieza sobrenatural citações às suas principais obras como O Corvo e a sua amada de vários nomes, tocando ainda em elementos comuns como a morte por emparedamento. Só não funciona o momento vou contar tudo o que aconteceu, num recurso que poderia ter sido apresentado em pesquisas e não numa narração facilitada pelas imagens.

Virgínia só não é uma decepção completa porque possui um belo cenário, uma ótima fotografia e a grande atuação de Ben Chaplin, como o mestre do horror literário. Ainda assim, sua composição onírica é capaz de fazer o espectador acreditar que tudo não passou de um pesadelo de Coppola, uma piada de mau gosto contada por um roteiro escrito sob a influência do vinho. E que o próprio cineasta irá aparecer para esclarecer os erros cometidos como um exercício de reflexão apenas, distante do gênero terror e de toda a sua obra produzida nos tempos áureos.

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Marcelo Milici

Professor e crítico de cinema há vinte anos, fundou o site Boca do Inferno, uma das principais referências do gênero fantástico no Brasil. Foi colunista do site Omelete, articulista da revista Amazing e jurado dos festivais Cinefantasy, Espantomania, SP Terror e do sarau da Casa das Rosas. Possui publicações em diversas antologias como “Terra Morta”, Arquivos do Mal”, “Galáxias Ocultas”, “A Hora Morta” e “Insanidade”, além de composições poéticas no livro “A Sociedade dos Poetas Vivos”. É um dos autores da enciclopédia “Medo de Palhaço”, lançado pela editora Évora.

2 thoughts on “Virgínia (2011)

  • 12/01/2014 em 16:39
    Permalink

    como o Val Kilmer envelheceu mal e só atua em filme estranho na sua maioria,tadinho,sem comentários hahaha

    Resposta

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