Psicose 2 (1983)

4.6
(5)

Psicose 2 (1983)

Psicose 2
Original:Psycho II
Ano:1983•País:EUA
Direção:Richard Franklin
Roteiro:Tom Holland
Produção:Hilton A. Green
Elenco:Anthony Perkins, Vera Miles, Meg Tilly, Robert Loggia, Dennis Franz, Hugh Gillin, Lee Garlington, Tim Maier, Jill Carroll, Chris Hendrie

Quando foi anunciado que o clássico de Alfred Hitchcock, Psicose (Psycho, 1960), ganharia uma sequência exatos 23 anos depois do lançamento do filme original, a reação foi unânime. Como alguém ousaria fazer uma continuação de uma obra prima como aquela? Oportunista, caça níquel, sem criatividade e um total fracasso foi como grande parte da mídia tratou de qualificar a produção antes mesmo de sua estreia. Lançado em 1983, Psicose 2 (Psycho 2), obviamente não pode, nem deve ser comparado com a obra de Hitchcock, mas se mostra como um bom representante do gênero, além de uma sequência criativa e digna do filme original, com um roteiro inteligente, direção competente e história interessante.

Sustentado por um envolvente suspense psicológico, Psicose é considerado hoje, 45 anos depois do seu lançamento, como um dos melhores filmes da história.

A trama mostra as desventuras da secretária Marion Crane (Janet Leigh, A Marca da Maldade, 1958), que após roubar US$ 40 mil da firma onde trabalha, foge para encontrar o namorado em uma outra cidade e durante a viagem resolve passar a noite no Bates Motel. O local é propriedade do aparentemente inofensivo Norman Bates (Anthony Perkins, Assassinato no Expresso Oriente, 1974), que com o desenrolar da história, demonstra ter uma dupla personalidade agindo como a sua violenta mãe, morta pelo próprio, anos atrás. Uma vez com a personalidade da Senhora Bates, o rapaz é capaz de cometer atos extremos, o que leva Marion a ter um trágico fim na famosa cena do chuveiro, onde é assassinada pelo moço. Alguns dias depois do crime, a irmã de Marion, Lila Crane (Vera Miles, O Homem Que Matou o Facínora, 1962) e a polícia começarão a procurar pela garota desaparecida, chegando até o Bates Motel e seu proprietário.

Psicose 2 (1983) (2)

Adaptado do romance de Robert Bloch, inspirado na história real do famoso serial killer Ed Gein, que nos anos 50 matou e desmembrou várias pessoas na cidade de Winsconsin, e com roteiro de Joseph Stefano, Psicose foi uma produção barata de Hitchcock, custou apenas US$ 800 mil e faturou mais de US$ 40 milhões nas bilheterias, que fez enorme sucesso de público e crítica. O suspense bem elaborado e um roteiro sólido criaram o tom exato para agradar a público e crítica, levando o personagem Norman a ser considerado até hoje como um dos mais marcantes assassinos do cinema provocando raiva e pena para o telespectador. O primeiro sentimento por ele se mostrar como um matador frio e calculista e pena por ser vítima de sua própria prisão interior reflexo de uma dupla personalidade. A trilha sonora assinada por Bernard Herrmann, com seus violinos agudos e vibrantes, seria copiada a exaustão nas décadas seguintes. A cena do chuveiro entrou para a história como uma das melhores seqüências já filmadas, levando uma semana para ser produzida, com duração de 45 segundos, enquanto o restante do filme levou 7 semanas para ser gravado. Psicose teve quatro indicações ao Oscar, nas categorias de Melhor Diretor, Melhor Atriz Coadjuvante para Janet Leigh, Melhor Fotografia e Melhor Direção de Arte, não ganhando nenhuma, no entanto o filme levou o Globo de ouro de Melhor atriz coadjuvante para Leigh.

Foi após a morte de Hitchcock, em 1980, que começaram os rumores sobre um possível Psicose 2. Lembrando que os primórdios dos anos 80 foi um período em que os filmes de suspense e terror estavam se proliferando como nunca. Halloween (Halloween, 1978) e Sexta-feira 13 (Friday the 13th, 1980) haviam sido lançados e já possuíam suas primeiras sequências sendo distribuídas no mercado. Dirigido por Richard Franklin (responsável por alguns episódios da série de TV Contos da Cripta), Psicose 2 se passa 22 anos após os eventos mostrados no filme original. Depois de mais de duas décadas preso em um sanatório, Norman Bates é considerado apto para se reintegrar à sociedade. Livre, ele volta para sua antiga casa, ao lado do Bates Motel, com a intenção de tentar reconstruir sua vida, no entanto, algumas pessoas são contra a liberdade do rapaz, em especial Lila Crane, irmã da garota morta no chuveiro por Norman no filme original.

Com o desenrolar da trama, Norman parece voltar a ser assombrado pelo passado e por lembranças da falecida mãe, uma vez que começa a encontrar bilhetes espalhados pela casa supostamente assinados pela própria, enquanto alguém (ou será Norman?), circula pelo local vestido como a senhora Bates. Este mistério será um ponto positivo dentro da trama, que explora o que realmente possa estar acontecendo no local e com Norman, além de colocar em dúvida quais são os momentos em que as ações mostradas são reais ou fruto da cabeça do personagem.

Psicose 2 (1983) (3)

Essa sequência funciona por ter o mérito de contar uma história inteligente e capaz de prender a atenção do telespectador sem fugir ou descaracterizar os pilares construídos por Hitchcock. O roteiro assinado por Tom Holland (A Hora do Espanto, 1985 e Brinquedo Assassino, 1988), evita o óbvio e cria uma trama, que assim como o original, é apoiada em um suspense bem construído. O filme tem resultado positivo por não ser uma repetição dos eventos do primeiro episódio, como acontece com a maioria das sequências do gênero, que nada mais são do que repetição de ideias já mostradas, quase como refilmagens. Em Psicose 2 existe referências bem utilizadas do primeiro filme, mostrando um respeito pela produção, porém, sem que pareça uma cópia. Parte deste bom trabalho também pode ser atribuído ao produtor Hilton A. Green, que foi diretor assistente do primeiro filme. A trilha sonora desta segunda vez foi assinada por Jerry Goldsmith (Poltergeist, 1982), que realizou um bom trabalho.

Apesar dos acertos, Psicose 2 jamais poderá se considerado superior ou mesmo de nível semelhante com a produção original. Talvez esta seja uma comparação que deva ser evitada por quem assiste ao filme, pois seria muito pouco provável realizar um trabalho melhor que o primeiro. Como sequência, Psicose 2 consegue mostrar a evolução dos personagens e suas histórias sem perder o rumo, além de acrescentar novos elementos coerentes dentro da trama. Acompanhar a volta de Norman Bates para casa após 22 anos preso já é suficiente para despertar interesse por esta obra, porém o filme vai muito além disto. O elenco também está bem à vontade nesta produção. Além de Anthony Perkins e Vera Miles, que repetem muito bem seus papéis do original, o filme conta ainda com a então estrela em ascensão Meg Tilly (Agnes de Deus, 1985), e os atores Robert Loggia (Independence Day, 1996) e Dennis Franz (Cidade dos Anjos, 1998).

Um outro aspecto que merece destaque dentro da produção é o fato deste ser um filme colorido, ao contrário de Hitchcock que optou em retirar as cores do seu clássico por julgar que a cena do chuveiro ficaria melhor mostrada em preto e branco para não chocar o público com o vermelho da sangue. Em Psicose 2 temos as cores, e uma bela utilização das mesmas criando um filme visualmente bonito de ser visto. A direção de arte também fez um bom trabalho, ao explorar a velha casa onde Norman volta a morar, recriando um ambiente antigo, que se insere na trama de forma positiva, como um dos principais cenários. Como nada é perfeito, o filme possui algumas falhas no roteiro, como perguntas que ficam sem respostas, mas no geral, nada que atrapalhe a produção como todo.

Psicose 2 (1983) (4)

Alguns fatos curiosos referentes a Psicose 2 acontecerem durante as filmagens. De acordo com a imprensa da época, Anthony Perkins tinha crises de ciúme agressivas porque a mídia dava bastante destaque ao envolvimento de Meg Tilly na produção, o que fez com que Perkins tivesse tentado várias vezes fazer com que a atriz fosse demitida, sem sucesso. Aliás, o papel de Tilly foi oferecido originalmente para Jamie Lee Curtis (Halloween, 1978), a filha de Janet Leigh, mas a mesma recusou o convite por estar cansada de fazer apenas filmes de suspense, motivo pelo qual era conhecida como a rainha do grito. A mesma casa usada em Psicose foi utilizada para rodar esta sequência, sendo que o motel teve que ser reconstruído. O filme concorreu ao Academy of Science Fiction, Fantasy and Horror Films nas categorias de Melhor Roteiro e Atriz Coadjuvante para Meg Tilly, não ganhando nenhuma.

Após o lançamento de Psicose 2, Anthony Perkins declarou que jamais voltaria a interpretar Nornan Bates, mas tal promessa se mostraria falsa, pois três anos depois, o ator retornaria ao papel e assumiria a cadeira de diretor em Psicose 3 (Psycho 3, 1986). O terceiro filme da obra iniciada por Hitchcock na década de 60 seria tudo aquilo que o segundo evitou e conseguiu não ser, uma produção vazia, com um roteiro fraco, situações forçadas e violência gratuita. Em 1990, Perkins voltaria uma última vez a viver Norman na produção feita para a televisão Psicose 4, A Revelação (Psycho 4, The Beginning). Dirigido por Mick Garris (Sonâmbulos, 1992), este última filme é sem dúvidas o mais fraco da série, sendo na verdade um prelúdio, onde Norman relembra sua infância e adolescência ao lado da mãe, o que tentaria explicar o porquê dele tê-la matado.

Psicose 4 só não é considerada a pior produção baseada no filme original de Hitchcock porque em 1998, o bom diretor Gus Van Saint (Os Garotos de Programa, 1986) teve a ideia de refilmar Psicose utilizando o roteiro original de Joseph Stefano, além dos mesmos planos de imagens usados no filme de 1960 e alguns leves toques pessoais. Pois Van Saint não conseguiu apenas fazer um filme ruim, como um dos piores remakes da história do cinema. Crítica e público pareceram concordar que foi uma das tragédias cinematográficas da década.

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Psicose 2 deve então ser considerado uma exceção quase que de uma regra geral, na qual para cada acerto, são cometidos nove erros em se produzir sequências de filmes de suspense. A boa produção neste caso se dá pela qualidade do roteiro e respeito pela obra original, que permaneceu como referência para este segundo capítulo. Como continuação de um clássico, é uma boa produção e merece ser conferido. Longe de comparações com o original, Psicose 2 possui o mérito de não envergonhar a obra de 1960, o que já significa muito dentro de um gênero onde é cada vez mais raro esses acontecimentos.

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Filipe Falcão

Jornalista formado e Doutor em Comunicação. Fã de filmes de terror, pesquisa academicamente o gênero desde 2006. Autor dos livros Fronteiras do Medo e A Aceleração do Medo e co-autor do livro Medo de Palhaço.

5 thoughts on “Psicose 2 (1983)

  • 16/12/2020 em 09:59
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    Olha eu assisti esse filme em 1986 e até hoje já o revi umas 4 vezes, adoro ele, em vários aspectos. Ambientação, fotografia, cenário, música e atuações. Salvo alguns erros enormes de roteiro o filme corre dentro do possível e realmente não desgosta o espectador. A cena final é no mínimo macabra. Ótimo!

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  • 19/11/2018 em 23:13
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    morria de medo quando era criança, da cena em que meg tilly olha o buraco atrás do quadro e do outro lado aparece um olho sinistro que a faz cair da cadeira de susto.

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  • 23/01/2017 em 22:33
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    Psicose 2 não é ruim, mas não é tão bom quanto o primeiro e é meio confuso, não da pra entender direito. Na realidade, clássicos não deveriam ter continuação.

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  • 29/09/2014 em 14:19
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    Lembro que assisti na Globo, ainda garoto e gostei muito. Na época não sabia que era uma continuação.

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  • 29/03/2014 em 09:48
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    apesar de ainda não ter visto ,tenho vontade.

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