Terror na Ópera (1987)

4.3
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Terror na Ópera (1987)

Terror na Ópera
Original:Opera
Ano:1987•País:Itália
Direção:Dario Argento
Roteiro:Dario Argento, Franco Ferrini
Produção:Dario Argento
Elenco:Cristina Marsillach, Ian Charleson, Urbano Barberini, Daria Nicolodi, Coralina Cataldi-Tassoni, Antonella Vitale, William McNamara, Barbara Cupisti, Antonino Iuorio, Carola Stagnaro, Francesca Cassola

O último grande filme do Mestre Argento. E lá se vão quase trinta anos. De lá para cá fez de razoável apenas Síndrome Mortal, Sleepless e os dois episódios da série Master of Horrors (Jennifer e Pelts) – muito pouco. E pelo seu Dracula 3D não dá para esperar muita coisa adiante.

Se em Phenomena, seu filme anterior, Argento fez praticamente um resumo de todo o universo de sua filmografia até então, mesclando giallo, elementos sobrenaturais e referências a contos de fadas. Em Opera ele volta ao giallo mais simples e puro, ainda que faça uma referência óbvia a famosa história do Fantasma da Ópera de Gaston Leroux, e que nosso Mestre deve adorar, pois anos depois, em 1998 faria a sua versão desastrada, lançada em vhs por aqui como Um Vulto na escuridão, completamente equivocada e dispensável.

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Aqui temos Betty (a espanhola Cristina Marsillach, que segundo Argento foi a atriz mais difícil que teve de lidar em sua carreira), uma jovem e desconhecida soprano que tem uma oportunidade de ouro: protagonizar uma montagem inovadora de Macbeth de Verdi. Uma montagem arrojada cheia de elementos cênicos contemporâneos e até corvos, algo de matar de inveja um Gerald Thomas da vida.
Claro que essa chance só lhe cai no colo depois que a estrela da montagem, a celebridade Maria Cecova, é atropelada (papel que seria de Vanessa Redgrave, que desistiu em última hora, sendo assim a personagem simplesmente não aparece).

A moça reluta um pouco antes de aceitar o papel, já que a peça tem fama de amaldiçoada e de dar azar, mas acaba sendo convencida pelo diretor do espetáculo Marco, ou Mark na dublagem americana (o escocês Ian Charleson, em seu último papel no cinema; ele viria a falecer em 1990 em decorrência de AIDS), um diretor de filmes de terror que tenta agora inovar no campo do teatro operístico (Argento, que também assina como co-roterista junto com Franco Ferrini, criou esse personagem calcado em si mesmo). Por falar nisso, há quem diga que a carreira de argento foi para o brejo graças a esta suposta maldição do Macbeth de Verdi.

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Como é um giallo, não poderia faltar aqui o velho assassino das luvas de couro preto, no caso um fã psicopata que ronda a nossa protagonista. Um lunático maquiavélico que acaba matando pessoas que giram em volta da soprano, e o pior, diante dela, forçando-a assistir impotentemente. Para isso o maníaco amarra Betty e gruda, com fitas durex, pequenas agulhas perto dos olhos da moça, para que ela não possa fechá-los, e assim testemunhe os assassinatos. Um dos recursos mais sádicos do cinema!

Enquanto os amigos de Betty vão morrendo, incluindo sua empresária Mira (Daria Nicolodi) numa sequência antológica, a polícia, como em todo o giallo que se preze, se mostra incompetente. Caberá ao pessoal do teatro utilizar um meio completamente inacreditável, mas que funciona que é uma beleza no filme, para desvendar a identidade do vilão.

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A produção mais cara e ambiciosa de Argento foi um fracasso nas bilheterias o que acabou afundando o diretor na depressão. Visto hoje é um dos seus trabalhos mais impressionantes visualmente. A câmera nunca deslizou tão majestosa na carreira do diretor quanto aqui (talvez apenas na famosa cena do assassinato das lésbicas em Tenebre). O clímax com a câmera subjetiva tomando lugar da visão dos corvos em voos rasantes pelo teatro encanta e impressiona até hoje (Argento usou um complexo sistema de gruas e guindastes para a cena). Sem falar que neste clímax foram soltos cerca de cento e quarenta corvos, mas apenas sessenta foram recuperados, o resto fugiu.

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Outra curiosidade é a ponta do diretor Michele Soavi (Pássaro Sangrento, Dellamorte Dellamore), amigo de Dario, com quem começou sua carreira como assistente de direção. Soavi aparece rapidamente aqui como um policial chamado Daniele Soavi!

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O cinema de Argento é altamente estilizado. Ele é um esteta preocupado com a imagem, sempre em busca do ângulo ou movimento de câmera menos convencional. Essa busca pelo impacto visual acaba com que ele releve outros aspectos, como a verossimilhança do roteiro ou as interpretações dos atores – e não adianta reclamar, ele sempre foi assim, inclusive nos seus momentos mais brilhantes, e aqui não é diferente.

A ideia de usar as agulhas para evitar que a protagonista fechasse os olhos surgiu de uma brincadeira de Argento, de que as pessoas deveriam sofrer tal artifício para não deixar de ver as cenas de violência dos filmes de horror, sendo assim, a personagem de Betty é praticamente uma metáfora do público.

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O roteiro apresenta verdadeiras crateras de lógica, o que até contribui para um clima mais onírico, mais surrealista, tão caro ao universo do diretor. Obviamente o elenco deixa a desejar, mas o delírio cênico está garantido.

Aqui ele repete o cacoete de colocar algumas músicas de metal em algumas cenas, coisa que já havia feito em Phenomena. Aqui há dois temas da banda italiana Gow, que assina, sabe-se lá por que, com o pseudônimo de Steel Grave.

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Opera também marcou o fim de alguns ciclos na carreira e na vida do cineasta: foi o último filme de uma série de ótimos filmes, iniciado com Suspiria, onde os títulos originais dos filmes eram formados apenas por uma palavra de origem latina. Também marcaria o fim do relacionamento com Daria Nicolodi, com quem tiveram a filha Asia Argento, e trabalhou em praticamente todos os filmes do diretor a partir de Prelúdio Para Matar, seja como atriz ou como roteirista. Na verdade eles já tinham terminado o relacionamento antes das filmagens, mas ela resolveu fazer seu canto dos cisnes. Contraditoriamente, Daria acabaria voltando anos mais tarde a fazer um pequeno papel no discutível Mãe das Lágrimas. E por fim, o ano de 1987 ficou marcado pela morte de Salvatore Argento, pai de Dario, responsável por colocar o filho no cinema, além de ser o produtor de seus primeiros filmes até Tenebre.

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Curiosamente há uma sequencia no final que foi cortada na versão lançada em vhs pela Globo Vídeo nos anos 80, mas que estava nas versões para o cinema e está nas versões que se encontram por aí na internet. Uma cena meiga em que Betty, já livre do perigo, encontra no meio do mato uma lagartixa presa por um graveto. A protagonista liberta o pequeno réptil. Impossível não associar com uma cena de Prelúdio para Matar, onde uma criança sinistra maltrata uma lagartixa cravando-lhe um pedaço de madeira. Seria esse o sinal do fim dos ciclos? Só Argento poderá responder.

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Opera é Argento em estado bruto, com seus acertos e erros. Também marca o fim de uma boa forma que o colocou como um dos ícones mundiais do cinema de horror. Simplesmente indispensável.

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Paulo Blob

Nascido em Cachoeirinha, editou o zine punk: Foco de Revolta e criou o Blog do Blob. É colunista do site O Café e do portal Gore Boulevard!

4 thoughts on “Terror na Ópera (1987)

  • 29/10/2016 em 13:13
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    É maravilhoso!
    E mais uma vez, minha suspeita em relação ao assassino estava certa!
    A arma de tortura – pregos colocados a fita adesiva, e presos nos olhos – deixam qualquer “Jogos Mortais” lixo no chinelo!
    Arrepiante!

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  • 22/02/2015 em 14:38
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    cabei de rever e realmente é um clássico do horror. Peloque pesquisei até o momento não há uma edição em Blu Ray… uma pena! Ver esse trabalho em 1080p deve ser magnifíco!

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  • 18/07/2014 em 22:08
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    ” Nota 10 ” em um dos melhores filmes de Dario Argento , obra – prima de giallo .
    ” Terror na Ópera ” com certeza faz parte da minha coleção !

    Resposta
  • 17/07/2014 em 14:34
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    Falando no mestre Argento, vale lembrar que ele têm um leve toque de brasilidade no sangue, por conta de sua mãe, a brasileira Elda Luxardo.

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