Tenebre (1982)

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Tenebre (1982)

Tenebre
Original:Tenebre
Ano:1982•País:Itália
Direção:Dario Argento
Roteiro:Dario Argento
Produção:Claudio Argento
Elenco:Anthony Franciosa, Giuliano Gemma, Christian Borromeo, Mirella D'Angelo, Veronica Lario, Ania Pieroni, Eva Robin's, John Steiner, John Saxon, Daria Nicolodi, Giuliano Gemma, Isabella Amadeo

por Osvaldo Neto

Dario Argento é um mestre e ponto final. Apesar de ter cometido vários equívocos (basta lembrar dos comentários sobre Jogador Misterioso no Festival do Rio em 2004, fazendo o público, constrangido diante de tamanho fracasso, dar sonoras gargalhadas), a maioria dos seus trabalhos podem ser vistos como fortes obras de arte.

Fortemente influenciado por Mario Bava, o rei dos gialli e criador dos slasher movies com o seu Banho de Sangue, Argento teve seguidores notáveis, dentre eles o filho de Mario, Lamberto Bava (responsável pela finalização de Rabid Dogs, último filme de seu pai, e diretor de Demons) e Michelle Soavi (disparado, o melhor). É impossível resistir de fazer um rápido comentário a respeito do último. Embora pouco prolífico, Soavi foi um senhor aprendiz dirigindo obras notáveis como Aquarius – O Pássaro Sangrento, A Catedral e Dellamorte Dellamore. A qualidade dos seus filmes é tamanha que o seu retorno às telas com Arrivederci Amore, Ciao estava sendo mais aguardado por alguns fãs do que o próximo filme do mentor. Recentemente, Argento dirigiu um telefilme para a TV italiana chamado Ti Piace Hitchcock? e os elogiadíssimos episódios Jennifer e Pelts para a série Masters of Horror.

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Quando Tenebre foi lançado em 1982, logo após Inferno, Argento estava numa de suas melhores fases. Na época, ele foi ameaçado de morte por um fã obsessivo. O realizador utilizou esse evento realmente macabro para escrever um giallo, apesar do sinal de desgaste que este estilo sofria, e fazer uma espécie de volta às suas origens. A trama simples consiste nos fatos acontecidos durante a visita de Peter Neal – personagem visto por alguns como alter-ego do diretor e vivido pelo veterano Anthony Franciosa – escritor americano querido pelo público e esculachado pela crítica, a Roma para divulgação do seu novo best-seller, intitulado Tenebre. Durante a estadia do autor, uma jovem é morta por um misterioso assassino, visto apenas de luvas até a revelação final conforme a tradição, e quando descobrem o cadáver, páginas do livro são encontradas na sua boca. Com a ajuda de Gianni (Christian Borromeo), a secretária Anne (Daria Nicolodi, ex-mulher do diretor e atriz-enfeite de seus filmes), e do detetive Germani (Giuliano Gemma, o astro de O Dólar Furado) com sua parceira, a detetive Altieri (Carole Stagnaro), o escritor passa a investigar as mortes por conta própria.

Como na maioria das produções italianas da época, o roteiro quer nos confundir a todo custo diversas vezes. Não dá para deduzir quem está por trás dos crimes. Argento lança várias pistas e quando acreditamos que tal personagem é de fato o assassino, ele acaba morrendo pelas mãos do dito cujo. E tome personagem sendo apresentado para ser morto logo depois ou então mais tarde. Vale ainda dizer que as mortes estão entre as mais violentas de toda a filmografia do cineasta e que, após a sangrenta conclusão (fazia tempo que não via tanta brutalidade em 10 minutos), todo o elenco é praticamente dizimado.

Tenebre (1982) (2)

Falando nele, algumas atrizes realmente não ajudam. Quando suas personagens se encontram em situação de perigo, fica evidente terem sido escolhidas pela beleza (o que por um lado é bom, não posso negar) e nada mais. Argento ainda deveria ter aproveitado melhor duas feras que participavam constantemente de várias produções italianas e que por coincidência, são dois Johns: Saxon e Steiner. No papel de Chistiano Berti, um apresentador de TV cristão e moralista, John Steiner é pouco mais que uma ponta. Basta conferir os desempenhos em Calígula, Mannaja (um dos últimos Spaghettis Westerns, lançado aqui no Brasil em DVD com o título de Vingança Cega) e The Last Hunter para ver seu talento. John Saxon interpretando Bullmer, o agente literário de Peter Neal, é, como sempre, uma presença carismática.

Todos sabemos que, quando se assiste a alguma produção internacional com o áudio em inglês, há o inconveniente de ver alguns atores tendo suas falas ditas por outros. Enquanto Anthony Franciosa e John Saxon continuam com suas vozes originais, Daria Nicolodi foi dublada pela Theresa Russell (de A Prostituta) e John Steiner pode ter sido dublado (a não ser que tenha sido requisito para o personagem) por uma voz mal escolhida, fazendo Berti parecer um homossexual. Giuliano Gemma fala o idioma britânico fluentemente, porém, não é ele quem profere seus diálogos. Mesmo assim, ao interpretar um policial enérgico e obstinado que, mesmo diante das adversidades, tenta descontrair o escritor na medida do possível com seu bom humor, a lenda viva dos faroestes italianos transmite toda a sua simpatia frente às câmeras. Sem dúvidas, Gemma mostrou ter sido uma ótima escolha para o personagem e sai praticamente ileso dos ferimentos.

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Colaborador habitual do diretor, o grupo Goblin (com um integrante a menos) compôs uma trilha, para dizer no mínimo, notável. O público atual pode estranhar o uso dos sintetizadores – Dawn of the Dead, de George A. Romero que o diga – por parte do seu maior expoente: Claudio Simonetti. Há ainda a presença de outra marcante parceria. Para os seus mirabolantes planos e movimentos de câmera, Argento precisava de um excelente diretor de fotografia. Pelo que se vê na tela, fica evidente que Luciano Tovoli (de Suspiria e Profissão: Repórter) realizou um belíssimo trabalho.

Tenebre pode não ser uma das obras-primas deste verdadeiro artesão visual chamado Dario Argento. Apesar de ser falho em alguns momentos, o filme proporciona imagens que continuam únicas, surpreendentes e (por que não?) inesquecíveis. Para os apreciadores deste estilo de cinema, isso já é mais do que satisfatório!

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Autor Convidado

Um infernauta com talentos sobrenaturais convidado a ter seu texto publicado no Boca do Inferno!

6 thoughts on “Tenebre (1982)

  • 16/02/2023 em 14:42
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    Mais um monte de bosta que argento defecou pela boca. Não vejo genialidade nenhuma nessa turma italiana picareta que nos “brindou” com grandes cagadas nas decadas de 70 e 80.

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  • 30/10/2018 em 19:10
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    Sensacional ! Esse filme na época do auge do Argento não palavras para descrever esse classico do giallo só assisti-o para saber aprecia-lo ,saiu em DVD pela Versatil na coleção ” Giallo Volume 1 “.

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  • 29/10/2016 em 13:11
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    Filme ótimo!
    E eu tinha razão sobre a identidade do assassino!
    Um dos melhores do Mestre Argento!

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  • 20/08/2015 em 18:12
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    Revi Tenebre e fiquei com a impressão que é um dos melhores filmes de Argento, muito superior principalmente no que se refere ao roteiro, – que não é o forte de Argento-, a Suspira e Mansão do Inferno. Ao revê-lo percebi que Tenebre pode ser compreendido como um interessante exercício de metalinguagem. O personagem central é um escritor que escreve histórias de terror/suspense, ou seja, ele é um criado, assim como o próprio Argento que é diretor e também roteirista. Também percebi que Argento brinca com elementos clichê do suspense, tais como a identidade do assassino e as vítimas sempre mulheres indefesas em perigo. Além disso, o diretor dá um “tapa de pelica” na crítica e nas feministas, que enxergam esse tipo de narrativa como “degenerada” e “sexista”. Também chama atenção o seu trabalho de direção, com elegantes travellings que se movem sobre os ambientes destacando-se dentre eles um prédio de concreto, que em seu aspecto exterior se assemelha a um castelo. Por fim, o final irônico e surpreendente contribui para tornar Tenebre um dos filmes mais interessantes de Argento e um clássico do Giallo. Obrigatório para os fãs do diretor e do cinema de terror/horror.

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  • 04/08/2014 em 21:02
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    Eu o considero uma obra-prima também , pois é o segundo melhor entre os meus favoritos de Argento , principalmente pela brutalidade , destaque para a mutilação feita com um machado e o sangue jorrando pela parede , inesquecível !
    ” Tenebre ” orgulhosamente faz parte da minha coleção !!

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