Porto dos Mortos (2010)

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Porto dos Mortos
Original:Porto dos Mortos
Ano:2010•País:Brasil
Direção:Davi de Oliveira Pinheiro
Roteiro:Davi de Oliveira Pinheiro
Produção:Davi de Oliveira Pinheiro, Isidoro B. Guggiana
Elenco:Rafael Tombini, Álvaro Rosa Costa, Ricardo Seffner, Amanda Lerias, Luciana Verch, Leandro Lefa, Tatiana Paganella, Isidoro B. Guggiana

Em 2007, uma verdadeira febre de filmes sobre mortos-vivos invadiu o mundo do cinema independente brasileiro. O mineiro Rodrigo Brandão saiu na frente, com o média-metragem Era dos Mortos, mas três outros projetos foram anunciados e começaram a ser filmados naquele mesmo ano: Mangue Negro, do capixaba Rodrigo Aragão, A Capital dos Mortos, do brasiliense Tiago Belotti, e Porto dos Mortos, do gaúcho Davi de Oliveira Pinheiro.

Enquanto Mangue… e Capital… foram concluídos e começaram o circuito de festivais em 2008, o aguardado Porto dos Mortos, cuja estreia também havia sido anunciada para 2008 (mais precisamente para 02/11/2008, segundo a primeira versão do cartaz), simplesmente sumiu do mapa. Durante um bom tempo, nada mais se ouviu falar sobre o projeto, e restou apenas um teaser trailer (divulgado na internet em junho de 2007) como prova de que o filme existia.

Os realizadores silenciaram e pararam de dar entrevistas/informações, ao contrário do que fizeram na pré-produção da obra (quando conseguiram divulgação até em conceituados sites estrangeiros sobre cinema fantástico). Já os envolvidos nas filmagens começaram a referir-se ao projeto meio sem-jeito, como quando você tem um caso de doença grave na família e não gosta de ficar comentando.

Assim, o que seria o primeiro filme gaúcho sobre mortos-vivos acabou se tornando uma espécie de lenda urbana, e até uma piada em alguns blogs mais virulentos, que começaram a ironizar o atraso enorme para lançamento da obra e também algumas declarações pretensiosas (e meio infelizes) feitas pelo diretor Davi na época das filmagens – como a de que seu filme seria “uma força da natureza”.

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Corta para setembro de 2010. Finalmente, três anos depois de ser filmado, praticamente dois anos depois da primeira data de estreia anunciada, Porto dos Mortos foi exibido pela primeira vez em território brasileiro, no telão da Biblioteca Viriato Corrêa, em São Paulo, dentro da programação do CineFantasy.

Uma plateia considerável aguardava com ansiedade para ver o filme, mas sem saber direito o que esperar, já que, diante dos atrasos e percalços enfrentados durante sua produção, Porto dos Mortos já havia ganhado estigma de filme polêmico, problemático ou até maldito, se assim preferirem.

Cerca de 1h25min depois do início da projeção, as luzes se acendem. Percebo que as pessoas olham umas para as outras de um jeito estranho, meio sem saber definir o que viram. Comentários revoltados começam a se espalhar aos sussurros. Porto dos Mortos, o aguardado filme gaúcho de mortos-vivos, se transformou em algo difícil de descrever. E muito, muito diferente do que esperavam os espectadores, pelo teor dos comentários pós-exibição.

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Pessoalmente, não gostei do que vi. Aliás, gostei de algumas ideias isoladas, mas não do conjunto. Se o projeto inicialmente era vendido como “filme de zumbis” – conforme evidenciam o título estilo George A. Romero, o teaser lá de 2007 e as primeiras entrevistas com os realizadores -, sobrou muito pouco de um filme de zumbis “tradicional” no corte final de Porto dos Mortos.

A trama, na verdade, acompanha a busca de um policial (Rafael Tombini) por um esquisito serial killer dotado de poderes sobrenaturais (interpretado, na maior parte do filme, por Tatiana Paganella). A caçada acontece num mundo pós-apocalíptico que deveria ser povoado por mortos-vivos, mas só vemos uns poucos zumbis cambaleando pela tela, e sem fazer muita coisa que justifique sua participação no filme e o título Porto dos Mortos.

Ao longo da sua caçada interminável, o policial encontra vilões canibais, um samurai (?!?) e outros sobreviventes que tenta ajudar, mas que invariavelmente acabam morrendo de forma violenta, além de um misterioso zumbi cego (“interpretado” pelo produtor Isidoro B. Guggiana), que ele não deixa ninguém matar, por motivos desconhecidos.

O serial killer perseguido pelo “herói” tem o poder de trocar de corpo quando lhe convém (mais ou menos como o demônio em Possuídos), o que complica muito a missão do policial, pois toda vez que ele consegue matar seu adversário, o espírito maligno pula para outro corpo. O visual do vilão, vestido como uma espécie de cowboy pós-apocalíptico, lembra, e muito, o “dust devil” do filme O Colecionador de Almas, de Richard Stanley, uma das inspirações assumidas do diretor Davi.

Porto dos Mortos é uma bagunça narrativa. A trama tem de tudo: policiais, demônios, canibais, samurais, índios, magia, sangue, lutas de pistola, lutas de espada… Só faltaram mesmo os zumbis!

Percebe-se claramente que os mortos-vivos deveriam ter um papel de mais destaque na trama, mas que sua participação foi diminuída pelo diretor, provavelmente por causa da overdose de filmes independentes de zumbis naqueles anos de 2007-2008.

Portanto, o duelo policial vs. serial killer sobrepõe-se à ideia de um mundo destruído por zumbis, e os tão aguardados mortos-vivos pouco aparecem – e, quando aparecem, nada fazem, inclusive uma única pessoa é atacada e mordida por um zumbi durante o filme inteiro!

Porto dos Mortos (2010)

Ao invés de realizar um filme de horror mais convencional, Davi optou por uma narrativa lenta e introspectiva, com longos takes e muitas cenas silenciosas, o que certamente irá frustrar quem esperava algo na linha Romero. Durante boa parte do tempo, o protagonista simplesmente fica circulando silencioso por escuros prédios em ruínas, encontrando sinais de violência e de magia negra.

O próprio título, Porto dos Mortos, não faz jus às expectativas, porque a capital gaúcha de Porto Alegre não tem grande destaque nos cenários (as locações são fora do centro da cidade, no interior), e a localização geográfica da trama nunca é citada, embora os personagens todos falem com aquele sotaque típico do Sul do Brasil (“tu” ao invés de “você”, e coisas do gênero). Numa das entrevistas pré-lançamento, Davi declarou que o pôr-do-sol do Guaíba (um dos cartões-postais de Porto Alegre) nunca mais seria o mesmo, o que também não se justifica, pois mesmo o belo pôr-do-sol do Guaíba é sub-aproveitado.

Há algumas coisas muito boas no filme. A fotografia é ótima, e o personagem do policial interpretado por Rafael Tombini bem caracterizado, com seu jeito durão típico daquelas aventuras inconsequentes dos anos 80 – e sempre dirigindo um Maverick preto pelas estradas desertas do mundo devastado. Toda a cena pré-créditos iniciais (quando o herói enfrenta um trio de sobreviventes que pratica canibalismo) é muito bem-feita e só aumenta a expectativa pelo que vem depois.

Infelizmente, o restante do filme não fica à altura do belo início. O vilão sobrenatural, anunciado o tempo todo como sendo uma ameaça terrível e angustiante, logo se revela um adversário ridículo e simplório, que em nenhum momento provoca qualquer sentimento de angústia/horror no espectador. Pior: provoca é raiva, porque fala o tempo todo através de irritantes sussurros.

Estranhamente, o tal serial killer sempre aparece acompanhado de dois capangas exóticos, um deles vestido como índio (com arco-e-flecha e tudo!), enquanto o outro toca uma gaita mágica (!!!) que tem o poder de paralisar os seres humanos, mas milagrosamente não funciona com ele e nem com o outro capanga apache!

Os demais coadjuvantes da trama são muito mal-desenvolvidos (há um chatíssimo casal de adolescentes, uma garota grávida, um sujeito pentelho que usa capacete e um personagem negro que parece saído dos primeiros filmes do Romero). Você pensa que eles servirão apenas como pratos do cardápio dos zumbis, mas, como já escrevi, os poucos mortos-vivos que sobraram na edição quase nunca aparecem, e assim os humanos acabam sendo vítimas do serial killer e dos seus amiguinhos.

Davi, que também assina o roteiro, demonstra um senso de humor bizarro que não consegue envolver o público. Numa cena, por exemplo, o policial durão enfatiza que não gosta de doce-de-coco, algo que talvez devesse ser engraçado, mas não é (você espera por uma cena posterior ou flashback que explique a razão do tal ódio por doce-de-coco, mas ela nunca vem).

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A mesma coisa vale para o fato de o herói sempre proteger o morto-vivo cego. Em vida, esse zumbi teria sido parceiro do policial, mas a explicação necessária estava numa cena que acabou cortada.

No fim, Porto dos Mortos parece mais uma brincadeira que talvez apenas Davi e sua turma tenham entendido, com uma conclusão absurdamente anti-climática. E há uma infinidade de referências, das “sete portas do Inferno” de The Beyond, do Lucio Fulci, à DP 13 que aparece nos relatórios policiais, e certamente remete a Assalto à 13ª DP, de John Carpenter.

Mas quem esperava uma história sobre mortos-vivos (90% dos espectadores na sessão de estreia) saiu frustrado. E quem esperava apenas uma história de horror também ficou chupando o dedo, já que a colagem de referências, citações e gêneros raramente funciona como poderia.

O resultado é um filme híbrido, difícil de classificar e de acompanhar (mais um faroeste futurista do que filme de horror, ou de zumbis), repleto de cenas desconexas, dispensáveis até (como a “aula de dança”), e diálogos ruins. A maquiagem e as cenas de violência, muito alardeadas na fase de divulgação do projeto, nada trazem de diferente (ou de melhor) em comparação às outras produções “zumbísticas” brasileiras do mesmo período.

Claro, sempre é bom ressaltar (e valorizar) a coragem e o idealismo de cineastas independentes como o Davi, que investem grana do próprio bolso (o orçamento não foi divulgado) e trabalho árduo para fazer terror nacional – gênero ainda marginalizado e/ou ridicularizado no país.

Percebe-se que Porto dos Mortos é um filme bastante pessoal, que Davi parece ter escrito e dirigido para si próprio, sem pensar no público – e, infelizmente, creio que o resultado irá satisfazer apenas a um público BEM específico. O diretor-roteirista provavelmente tinha as melhores intenções. Mas, como todos sabemos, de boas intenções o inferno está cheio.

E, como todos também sabemos, os filmes de Romero nos dizem que quando o inferno ficar cheio, os mortos caminharão sobre a Terra. Mas não em Porto dos Mortos, onde os zumbis não são nem coadjuvantes, e sim enfeite no fundo de algumas poucas cenas. Ou eles ficaram todos no chão da sala de edição, ou fugiram correndo para outros filmes do gênero, como Mangue Negro e A Capital dos Mortos.

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Felipe M. Guerra

Jornalista por profissão e Cineasta por paixão. Diretor da saga "Entrei em Pânico...", entre muitos outros. Escreve para o Blog Filmes para Doidos!

5 thoughts on “Porto dos Mortos (2010)

  • 09/12/2019 em 03:45
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    Esse filme é como cagar e sentar em cima.

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  • 27/08/2018 em 20:41
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    se eh pra assistir algo “desse nivel” prefiro ver então capital dos mortos 1 e 2 cujo diretor foi mais competente na execuçcao do progeto. em suma : lixo!

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  • 27/08/2018 em 20:38
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    esse filme parece ter sido feito por debeis mentais.

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  • 04/12/2014 em 09:43
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    ei, só eu achei o protagonista parecido com o novo bruce banner !!!!!!

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