13 Histórias Estranhas (2015)

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13 Histórias Estranhas
Original:13 Histórias Estranhas
Ano:2015•País:Brasil
Direção:Fernando Mantelli, Ricardo Ghiorzi, Cláudia Borba, Petter Baiestorf, Marcio Toson, Cesar Coffin Souza, Rafael Duarte, Taísa Ennes Marques, Gustavo Fogaça, Renato Souza, Leo Dias de los Muertos, Paulo Biscaia Filho, Felipe M. Guerra, Filipe Ferreira, Cristian Verardi
Roteiro:Vicktória Avila, Petter Baiestorf, Paulo Biscaia Filho, Cláudia Borba, Felipe M. Guerra, H.P. Lovecraft, Édnei Pedroso, Cesar Coffin Souza. Renato Souza
Produção:Petter Baiestorf, Cláudia Borba, Giovani Chiossi, Sandro Dreher, Gisele Ferran, Anderson Kblo, Daniela Monteiro, Marco Novack, Édnei Pedroso, Cesar Coffin Souza, Márcio Toson
Elenco:Vicktória Avila, Aryane Barrionuevo, Guilherme Beiró, Airton Bratz, Elio Copini, Marcello Crawshaw, Leonardo Dias, Oldina Cerutti Do Monte, Gisele Ferran, Artur Gaudenzi, Kauê Kallenbach, Henrique Larré, Guenia Lemos, Priscilla Menezes, Marcus Miseravel, Alexandre Mota, Renoaldo Pavan, Helena Pinto

O formato de antologias de contos acabou sendo uma boa, saudável e mais do que viável saída para o nosso cinema de horror, e por extensão o nosso cinema independente. A ideia de fazer com que diretores criem seus próprios curtas para depois uni-los num longa tem se mostrado prática e interessantíssima.

Depois de antologias recentes como A Maldição do Sanguanel e As Fábulas Negras, agora é a vez de 13 Histórias Estranhas (2015).

A ideia surgiu da cabeça do maquiador Ricardo Ghiorzi, o Tom Savini da região metropolitana de Porto Alegre, junto com o cineasta e ex-colaborador do Boca do Inferno Felipe M. Guerra. A princípio seriam poucas histórias, mas com o andar da carruagem, o projeto foi crescendo e acabou agregando vários participantes, entre veteranos do cinema underground como Petter Baiestorf até estreantes como Cláudia Borba.

O projeto, que começou em Porto Alegre, acabou agregando pessoas de fora do Rio Grande do Sul, como o já citado Baierstorf, de Santa Catarina e o paranaense Paulo Biscaia Filho. O longa tornou-se uma espécie de The ABCs of Death sulista tupiniquim. A comparação não é casual: se na compilação internacional cada realizador tinha liberdade de criar seu trabalho a partir de palavras, colocadas em ordem alfabética, aqui o que rege são os números de cada episódio, embora muitos sejam citados sutilmente. O mais curioso é que a ordem dos realizadores foi feita na forma de um sorteio.

Os diretores tiveram total liberdade para desenvolver seus temas, sendo assim temos um painel amplo, variado e interessante. Temos segmentos para todos os gostos: thriller psicológico, gore, surrealismo, escracho. Vou discorrer um pouco dessas histórias estranhas.

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O primeiro segmento é O Poço do Elevador, de Fernando Mantelli. Temos aqui um cidadão (interpretado pelo próprio Mantelli) que tem sonhos recorrentes em que mata prostitutas, para depois desová-las no poço do elevador do prédio. Mantelli joga muito com a perspectiva de embaralhar realidade com delírio. O curta tem um bom ritmo, boa fotografia, além de uma boa utilização da canção Super 13 da banda alemã Neu! (canção famosa por ter sido utilizada na abertura do clássico filme de kung fu O Mestre da Guilhotina Voadora). O segmento ficou muito bom, apenas peca por falta de uma conclusão melhor.

O seguinte é Encomenda Especial, do idealizador do projeto Ricardo Ghiorzi. Um jovem entregador se vê em apuros ao fazer a entrega na casa de uma misteriosa senhora. Ghiorzi queria um clima parecido com a das histórias dos velhos quadrinhos de terror e conseguiu. Temos aqui um conto digno de figurar nas páginas das saudosas “Kripta” e “Calafrio”. O destaque vai para a carismática e incansável Oldina Cerutti Do Monte, no papel da dona da casa. Também conhecida como Dona Oldina, avó de Felipe M. Guerra (que também aparece no curta), é sempre um prazer vê-la em ação diante das câmeras.

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Depois temos Pé de Cabra, de Cláudia Borba. Aqui um homem tem três dias para achar os pés certos para a sua amada (isso mesmo que você leu), em decorrência de uma maldição satânica. Por isso o mancebo sai às ruas matando e mutilando pés de suas vítimas para levar para casa.
Esse segmento começa como um conto de terror normal, mas em seu andamento vai ficando surreal. O resultado final é um tanto caótico, porém vale por tentar fugir do convencional.

O quarto episódio é A Cor que Caiu do Espaço, de Petter Baiestorf, é uma leitura personalíssima, experimental, surreal, anárquica, suja e malucona do conto homônimo de H. P. Lovecraft. Feito praticamente sem diálogos, aqui Cesar Coffin Souza é uma espécie de louco em trajes messiânicos, que se depara com uma ameaça vinda do espaço. Em poucos minutos Baierstorf nos brinda com seus temas recorrentes, não faltando cenas de críticas ao cristianismo e closes de bundas femininas. Um delírio surrealista típico da Canibal Produções.

A seguir vem Para sempre…, de Marcio Toson, sobre a velha questão freudiana do amor possessivo de uma mãe para com seu filho. É o segmento com o visual mais bonitinho, lembrando aqueles comerciais “família”, tipo de especial de fim de ano. Obviamente que os envolvidos neste curta trabalham com publicidade, porém esse visual “fofinho” acaba casando com a proposta da trama, dando ao curta um ar irônico.

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Depois temos mais uma piração: O Laboratório do Dr. Sepúlveda, de Cesar Coffin Souza. O Dr. Sepúlveda é um cientista louco que habita um castelo, com ajuda de sua bela assistente corcunda, Ygora (Gisele Ferran, musa da Canibal Produções), a dupla cria criaturas hediondas partindo de bonecas Barbies (!). A história começa com clima de cinema mudo e aos poucos vai ganhando cor e som nos diálogos. É interessante como une homenagens/paródias ao expressionismo alemão, filme de marionetes e cinema trash. O resultado é bem interessante, com um a trilha que vai do rock ao mambo. O clima lembra muito alguns videoclipes de psychobbilly, o que aposto que agradará em cheio fãs de The Cramps e em estética retrô. Além de muito legal, serve como um interessante alívio cômico. Ter ficado no meio do longa-metragem foi um acerto.

O sétimo é um dos pontos altos do longa: O Deus Neon, realizado pelo casal Rafael Duarte e Taísa Ennes Marques. Aqui um rapaz captura um suposto ladrão que tentava roubar sua casa. Ele vai torturando e filmando online o meliante. O suposto bandido é castigado conforme dicas que o dono da casa recebe em comentários de redes sociais. O curta trata principalmente de uma questão atual e pertinente: o ódio virtual. Muitos dos comentários que se vê na tela foram roubados realmente na internet. O casal de realizadores poderiam ter se fixado só nessa questão, mas embutiram também algumas metáforas metafisicas, que acabaram deixando a história ambígua e, por que não, confusa. Porém a questões religiosas não atrapalharam o resultado final, em vista da força do material, e até ajudou a fugir de ser estigmatizado como um mero torture porn. Bem interessante mesmo.

Depois do ponto alto, temos o ponto baixo do filme: Dantalion, de Gustavo Fogaça. A trama se constrói a partir de depoimentos de pessoas que fizeram sacrifícios de bebês a um demônio.
O Curta parece sobra de algum episódio da franquia V/H/S, com um pastiche do horror japonês.

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O nono é Flashes, de Renato Souza e Leo Dias de los Muertos. Enquanto nerds tentam passar o tempo com uma tábua Ouija, uma jovem morta pede para o diabo uma chance para voltar a vida. Ela acaba sendo sacaneada pelo capeta. Esse episódio peca pela previsibilidade, mas ver o folclórico Leo Dias de los Muertos como um diabo com sotaque gaúcho é muito divertido!

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Em décimo temos Conte Até Dez, de Paulo Biscaia Filho. Temos aqui uma atriz que tem problemas de cegueira psicológica, em que ela fica momentos sem enxergar nada, e usa como recurso contar até dez na esperança de passar o “efeito”. A moça está num teatro vazio, discutindo a relação com a namorada, que também é atriz. Até que as moças acabam sendo confrontadas com o fantasma de uma garota que foi assassinada tempos atrás, no local. Temos diálogos descolados, texto teatral. Enfim, é um típico trabalho do Paulo Biscaia, quem gosta do seu estilo vai gostar desse curta, quem não gosta, vai continuar não gostando.

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Larvae, de Felipe M. Guerra, é o décimo primeiro segmento, e é outro ponto alto do longa-metragem. Uma prova de que uma ideia simples pode render uma história de terror. Um agricultor está numa situação angustiante quando constata várias larvas saindo de sua orelha. Mais do que isso, seu cérebro está tomado dessas larvas. O pobre homem tenta os métodos menos ortodoxos de se livrar desses bichinhos que estão dentro de sua cabeça. Bom ritmo, boa fotografia, explorando os belos cenários de Carlos Barbosa, bons movimentos de câmera. É um curta angustiante e que chega a dar uma coceira no ouvido, quando se assiste as desventuras do pobre homem.

O penúltimo conto é o Husky, de Filipe Ferreira. Um jovem, em busca de um imóvel para comprar, faz uma visita a uma casa a venda, acompanhado de um estranho e inconveniente agente imobiliário. Filmado em preto-e-branco, e com algumas surpresas no final, é um curta correto e bem feito, porém nada de muito impressionante.

E por último temos Ne Pas Projeter, de Cristian Verardi, sobre um projecionista que encontra um misterioso rolo de filmes no cinema em que trabalha. Ele coloca o maldito filme a rodar para a sua danação. O diretor é um fã assumido do cinema de horror setentista, e seu segmento emula de forma delirante esse período, com uma iluminação digna de Bava e Argento. Algumas cenas com nudez e satanismo me remeteu tanto as imagens da Igreja de satã de Anton LaVey quanto ao cult espanhol Escalofrío, de Carlos Puerto e Juan Piquer Simón . E também citações a Don’t Look Now, La Dama Rossa Uccide Sette Volte, Incubus, de Leslie Stevens, Ruby, L’Aldila. Enfim uma festa para os olhos dos fãs de horror.

Interessante constatar que a ordem dos curtas tenha sido feita por sorteio, pois por um feliz acaso, a obra de Cristian Verardi acabou sendo o fecho de ouro do longa. Além de ser estupidamente ótimo, trata do tema da magia do cinema, e tem o acréscimo de que vários diretores dos curtas anteriores aparecem aqui em pontas.

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No fim das contas essas 13 Histórias Estranhas se saíram com o saldo mais do que positivo. Claro que há altos e baixos, o que é completamente normal numa compilação, mas o nível é de boa qualidade. Assim como em As Fábulas Negras, percebe-se uma homogeneidade rara em se tratando de antologias. 13 Histórias Estranhas se sai melhor até que franquias consagradas como V/H/S e até mesmo The ABCs of Death.

Já que o projeto se mostrou como uma forma viável de nossos cineastas independentes mostrarem serviço, então que venham mais antologias como essa! Ricardo Ghiorzi anunciou uma parte 2, desta vez envolvendo diretores de todo o Brasil. Os fãs de horror agradecem!

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Paulo Blob

Nascido em Cachoeirinha, editou o zine punk: Foco de Revolta e criou o Blog do Blob. É colunista do site O Café e do portal Gore Boulevard!

12 thoughts on “13 Histórias Estranhas (2015)

  • 03/07/2019 em 01:38
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    Cara nunca sei onde encontrar os filmes nacionais

    Resposta
  • 27/02/2018 em 09:56
    Permalink

    cara como você assistiu este filme? Eu já vasculhei a internet atrás dele, mas parece que não esta em site nenhum.

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  • 09/12/2015 em 00:13
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    Já saiu em dvd ou em mídia digital?

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  • 25/06/2015 em 20:35
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    Poxa, moro no estado de Goiás, e sei que aqui, não verei esse filme…

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  • 21/06/2015 em 10:34
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    Poxa, onde assisto ou compro? Quero assistir esse e fábulas negras

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    • 21/06/2015 em 23:31
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      Está na fase de exibição em festivais. No momento não tem em dvd e nem em download.

      Resposta

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