Conta Comigo (1986)

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Conta Comigo (1986) (1)

Conta Comigo
Original:Stand by Me
Ano:1986•País:EUA
Direção:Rob Reiner
Roteiro:Stephen King, Raynold Gideon, Bruce A. Evans
Produção:Bruce A. Evans, Raynold Gideon, Andrew Scheinman
Elenco:Wil Wheaton, River Phoenix, Corey Feldman, Jerry O'Connell, Kiefer Sutherland, Casey Siemaszko, Gary Riley, Bradley Gregg, Jason Oliver, Richard Dreyfuss

Não é possível que seja uma obra de Stephen King!!!“. A exclamação é quase certa vinda de quem assiste ao filme Conta Comigo (Stand By Me, 1986). Adaptado de um conto do autor, que através de seus trabalhos literários ficou conhecido como o mestre do suspense e do sobrenatural, Conta Comigo pode causar tal espanto por ser classificado pela indústria cinematográfica como um drama que aborda temas como amizade, lealdade, crescimento pessoal e sentimentos de perda, entre outros. Porém, com uma analise mais detalhada da trama, percebe-se que a mesma também trabalha com um fator sempre presente nas obras de King: o medo e as formas nas quais ele se manifesta. A diferença é que em Conta Comigo, tal sentimento consegue ser mostrado de uma forma mais próxima do cotidiano, conseguindo por isso ser real e de certa forma, poética, dentro de uma narrativa quase autobiográfica do autor.

Stephen King tinha apenas 12 anos quando voltava para casa ao lado de um amigo, durante uma caminhada pelas áreas florestais do Estado norte-americano do Maine, quando encontrou o cadáver de um rapaz da região, que havia desaparecido dias antes. Como um primeiro contato real com a morte, o fato marcou a vida do futuro escritor, que na idade adulta, adaptou tal acontecimento, no formato de conto, chamado “Outono da Inocência: O Corpo” (The Body), lançando no livro As Quatro Estações (Different Seasons, 1982). Tal obra é marcada por trazer histórias mais voltadas para o drama e questões existencialistas do homem, deixando um pouco de lado temas sobrenaturais. A versão para o cinema de Conta Comigo viria quatro anos mais tarde, sob o comando do diretor Rob Reiner (Lembranças de Hollywood, 1990) e está, até hoje, como uma das melhores adaptações baseadas na obra de King feitas para a tela grande.

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No filme, conhecemos quatro amigos tipicamente adolescentes que aproveitam como podem o final das férias escolares durante a década de 60. O grupo é formado pelo rebelde Chris (River Phoenix, de Garotos de Programa, 1991), o introspectivo Gordie (Wil Wheaton, de A Última Prostituta, 1991), o explosivo Teddy (Corey Feldman, Sexta-feira 13 – Parte 4, 1984) e o nerd Vern (Jerry O’Connell, Pânico 2, 1997). Tudo vai dentro da normalidade, até que Vern descobre que um garoto da vizinhança morreu atropelado por um trem e que ninguém sabe exatamente o local onde o corpo está. Como uma aventura, os quatro amigos deixam suas casas para passar o fim de semana na floresta movidos pela ideia de ver um homem morto.

O filme nos conduz quase como um quinto integrante do grupo, que passamos a conhecer cada vez mais durante o percurso. Com o desenrolar da trama, vamos perceber que a vida não tem sido fácil para nenhum deles, que se apegam como podem aos momentos finais de uma infância que parece não querê-los mais, ao mesmo tempo em que começam a perceber a chegada de um mundo adulto bastante temido. Trata-se da mais forte metáfora que King nos apresenta sobre o medo que vem com o fim da infância. Em qualquer filme, ou produção literária que tenha como finalidade de provocar medo, tal sentimento é transmitido por estímulos externos, como um assassino, um monstro ou algum evento sobrenatural. Em Conta Comigo, que voltando a lembrar, possui uma história voltada para o drama, existe o medo de algo inevitável e do qual não se pode fugir: crescer e aceitar a vida como ela é.

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Os garotos percebem isso empiricamente e mesmo que tentem se mostrar fortes, são na realidade fracos e não sabem como lidar com tais acontecimentos. O filme possui momentos que exemplificam isso através de cada um dos personagens e seus temores interiores. Chris é o jovem rebelde da trama, mas que durante uma conversa noturna com seu amigo Gordie, retira todas as máscaras e chora compulsivamente, de raiva dos adultos e de como é fraco diante de um. O mesmo Gordie vive com o peso da morte do irmão, que para a família era o filho preferido.

Afirmar que o medo mostrado pelos personagens de Conta Comigo seja o principal pilar de sustentação da obra seria completamente falso. Trata-se apenas de um dos elementos da trama, mas que por ser trabalhado e apresentado dentro de uma forma poética, quase lúdica, acaba passando despercebido, diluindo-se dentro da narrativa. Principalmente porquê o filme trabalha de forma magistral elementos nobres como a própria perda da inocência, o valor da amizade e a importância dos momentos que marcam as pessoas.

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O diretor Reiner conduz de forma brilhante a trama, alternando belos momentos de poesia com fortes sequências de forte apelo emocional. O elenco também possui grande mérito no resultado final do filme graças aos quatro garotos que estão muito bem nos seus respectivos papéis gerando naturalidade e ajudando o interesse pela trama. Aliás, King consegue criar excelentes histórias envolvendo crianças e adolescentes, como nos sucessos O Iluminado (The Shining, 1980), It (It, 1990) e O Aprendiz (Apt Pupil, 1998). Este último também possuindo grande apelo dramático.

A parte técnica do filme é impecavelmente bem produzida retratando com fidelidade os anos 60 e seus hábitos e costumes. A trilha sonora é um quesito especial em Conta Comigo, repleto de hits da época, que conta ainda com a canção que leva o título do filme, Stand By Me, de John Lennon, na voz de Ben E. King.

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Ao final do filme, quando os jovens encontram o cadáver, uma outra metáfora de King é mostrada através do sentimento de perda visto em cada um dos meninos durante o filme e da forma como eles agem perante o corpo como sendo, na verdade, um momento de transformação. O epílogo do filme é brilhante, e mostra justamente como um dos valores tidos como mais sólidos da trama, a amizade, também se perde quando o companheirismo da infância, tido como mais verdadeiro e leal, deixa de existir na fase adulta por diversos motivos. E King entrega essa conclusão para o telespectador questionando qual adulto tem amigos como os quais tinha na infância. Em uma das frases mais marcantes do filme, o então adulto Gordie (Richard Dreyfuss, Contatos Imediatos do Terceiro Grau, 1977) relembrando da infância reflete. “Amigos nas nossas vidas são como garçons em restaurantes. Sempre passam, porém, alguns demoram mais do que outros“. Temos então mais uma análise de sentimento de perda e a confirmação de que algumas experiências são únicas e o medo é algo implícito em todas as pessoas, assim como demais sentimentos, sejam positivos ou negativos.

Fica então a pergunta. Por quê você, fã de filmes de mistérios, sobrenaturais, terror e suspense deve assistir Conta Comigo? Simples, pelo motivo de além de ter uma excelente história, também consegue trabalhar de forma real o medo empírico que habita em cada um de nós. Além de ser uma produção que possui vários significados e diferentes leituras conseguindo por isso agradar a diversos tipos de públicos. Trata-se de um filme humano, sobre valores humanos reais e referentes aos caminhos que devem ser percorridos durante o período de vida de uma pessoa, onde o medo faz parte das transformações que acontecem durante estas jornadas.

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Filipe Falcão

Jornalista formado e Doutor em Comunicação. Fã de filmes de terror, pesquisa academicamente o gênero desde 2006. Autor dos livros Fronteiras do Medo e A Aceleração do Medo e co-autor do livro Medo de Palhaço.

15 thoughts on “Conta Comigo (1986)

  • 16/08/2018 em 01:57
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    Eu amo esse filme de paixão! ! Gostei demais da resenha. O filme é tão maravilhoso que não encontro críticas à respeito dele. Eu gosto de todos os personagens mas amo demais o personagem do saudoso River Phoenix! !

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  • 03/06/2018 em 14:08
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    Eu tenho esse filme, baixei no Ares e gravei em DVD

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  • 03/08/2016 em 15:10
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    Vim assisti esse filme agora, e se tornou o meu preferido de drama, não esperava que fosse tão tocante, deve ser porque me identifiquei em vários momentos. Enfim, é um filme simples mas marcante!

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  • 18/01/2016 em 01:31
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    Olá adorei a resenha.
    Esse é um dos meus filmes preferidos, talvez o preferido. só uma pequena correção, a música não é de Jhon Lennon na voz de Ben And king! A música é de Ben And King que depois foi regravada na voz de jhin Lennon.

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    • 23/03/2023 em 05:48
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      Exatamente a música original e de 1961 nessa época os Beatles tavam comecando o cantor ben e king já tinha uma carreira estabelecida era da moowtow records enquanto ao filme um clássico dos anos 80 maravilhoso passou na globo no corujão deve ter até no YouTube.

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  • 02/08/2015 em 23:10
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    Excelente filme! Assisti muito durante minha infância esse filme, dentro de minha coleção de filmes guardo ele na minha estante no formato Blu-ray. Clássico eterno!

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  • 25/07/2015 em 21:24
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    Sigo esse site a no mínimo 10 anos, esse filme marcou demais a minha infância, belissima critica Filipe Falcão, continue assim, alias, todos os colaboradores do Boca estão de parabens, apenas acho que o site poderia ser atualizado mais vezes. de qualquer forma, esse é o melhor site sobre filmes de terror que existe.

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  • 23/07/2015 em 23:21
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    Um de meus filmes preferidos, clássico absoluto da Sessão da Tarde dos velhos tempos. Esse filme para mim é uma pequena obra-prima, onde tudo é perfeito: roteiro, atuações, direção, fotografia e claro, a soberba trilha sonora dos anos 50/60! Pelo menos uma vez por ano assisto obrigatoriamente essa pérola! BOLA DE SEBO…..BUM BABA, BUM BABA!!

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  • 22/07/2015 em 19:25
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    Muito bom, excelente filme, gosto demais.

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