Hotel Transilvânia 2 (2015)

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Hotel Transilvânia 2
Original:Hotel Transilvânia 2
Ano:2015•País:EUA
Direção:Genndy Tartakovsky
Roteiro:Adam Sandler, Robert Smigel
Produção:Michelle Murdocca
Elenco:Adam Sandler, Andy Samberg, Selena Gomez, Kevin James, Steve Buscemi, David Spade, Keegan-Michael Key, Fran Drescher, Molly Shannon, Megan Mullally, Nick Offerman, Dana Carvey, Rob Riggle, Mel Brooks

Muitos dos monstros que nos acompanham na vida adulta são oriundos da infância. Nascem a partir do meio utilizado pelos pais para afastar a criança do local onde não querem que estejam, como se fosse um meio de precaução agressiva: “se você mexer no armário, o bicho-papão vai te pegar” ou “se você tentar sair da cama, o monstro que se esconde embaixo dela vai te comer“. Aquele fascínio pelas criaturas diferentes, e que alimenta a imaginação infantil, por vezes e por conta desse alerta familiar, transforma-se em terrores noturnos, pesadelos constantes e os traumas futuros que a patologia estuda, restando à produção literária e cinematográfica o alívio cômico necessário. Como na evolução das espécies, o primeiro contato dos pequenos com o fantástico ocorre com os dinossauros (Barney), passando para dragões (Como Treinar meu Dragão), vilões (desenhos da Disney; A Casa Monstro), bichos que se assemelham com animais e coisas (Que Bicho te Mordeu?), além das criaturas míticas (Onde Vivem os Monstros). Isso justifica o sucesso de obras infantis – os desenhos ou animações – que trabalham com elementos sobrenaturais e tocam levemente o horror, com o apoio disfarçado de piadas adultas e referências para os pais que acompanham os pequenos.

Nesse universo rico em animações fantásticas há exemplares bem interessantes como Monstros S.A. (2001) e Monstros Vs Alienígenas (2009), trabalhando com o “medo” e com a “ficção científica“, respectivamente, de forma divertida sem soar apenas infantil. Também merecem menções positivas, falando apenas das mais recentes, A Casa Monstro (2006), Planeta 51 (2009), Frankenweenie (2012) e Coralina (2009). Em 2012, Hotel Transilvânia, de Genndy Tartakovsky, surgiu com a proposta de brincar com os monstros clássicos do gênero horror como Drácula, Criatura de Frankenstein, Múmia, Lobisomem, Pé Grande, Homem Invisível, entre outros, numa produção única como uma reunião fantástica e bem humorada, com referências e piadas envolvendo o confronto entre eles e os humanos, como um Crepúsculo para a garotada. Fez sucesso nos cinemas com seu orçamento de aproximadamente 86 milhões sendo pago no box office de quase 150 milhões de dólares, embora não seja um dos grandes exemplos do estilo, principalmente quando se conhece filmes excelentes como Festa do Monstro Maluco (1967) e Deu a Louca nos Monstros (1987). Ainda assim, justificado pelo custo-benefício, não demorou muito para que uma continuação fizesse parte dos planos da Sony Pictures.

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No primeiro filme, Drácula (na voz de Adam Sandler) resolve criar um hotel para receber os amigos monstros, compartilhando suas experiências assustadoras e também servindo como um spa, já que está cansado dos conflitos com os humanos. Fazem parte da equipe e dos inquilinos criaturas como Frankenstein (Kevin James – aqui o nome do cientista é mostrado como o da criatura) e sua esposa Eunice (Fran Drescher), o casal de lobisomens Wayne (Steve Buscemi) e Wanda (Molly Shannon), o Homem Invisível Griffin (David Spade), a Múmia Murray (CeeLo Green), Quasimodo (Jon Lovitz), a Mosca (Chris Parnell)…todos partilhando do mesmo espaço, com inúmeras piadas sobre suas condições sobrenaturais. A tranquilidade é abalada pela chegada do humano Jonathan (Andy Samberg), um mochileiro em viagem pela Europa, vestido com uma camiseta da antiga seleção brasileira. Ele se torna o interesse romântico da filha de Drácula, Mavis (Selena Gomez), que sofre pela falta de amigos diferentes, gerando confusões com o pai super-protetor e os monstros que circundam os cômodos, com interessantes críticas sobre a receptividade aos estrangeiros, inclusão e preconceito.

Em Hotel Transilvânia 2, que estreou no dia 24/09/15, com direção novamente de Genndy Tartakovsky e roteiro de Adam Sandler e Robert Smigel, Mavis e Jonathan se casam, numa festa que envolve a participação de todos os monstros do filme anterior, além da família humana do rapaz, o que traz as principais gags da produção. Logo, o casal tem o primeiro filho, Dennis (com voz da filha de Adam Sandler, Sunny), que se desenvolve como uma criança comum. De acordo com a “lei dos monstros“, se ele não desenvolver suas presas até completar cinco anos, será oficialmente considerado humano. Drácula, obviamente, quer que ele seja um vampirinho e, para isso, fará de tudo para despertar no pequeno poderes sobrenaturais, como transformar-se em morcego, e a vontade de assustar os humanos. Com a ajuda de Jonathan, que levará Mavis para a civilização com o intúito de buscar uma adaptação e possível moradia, o Conde organizará um grupo para tentar uma iniciação no garoto, levando-o até um acampamento de monstrinhos.

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Apesar do nome, Hotel Transilvânia 2 quase não tem ações no hotel. Com ambientações numa floresta escura, no acampamento, na cidade grande e na estrada, o filme traz mais conflitos entre as diferenças entre os homens e os monstros, incluindo a influência das novas mídias. Há piadas com os lobisominhos de Wayne e Wanda – e a paixão que uma sente por Dennis – e as habilidades de cada criatura, como os trapos que circundam a Múmia Murray (desta vez interpretado por Keegan-Michael Key, já que CeeLo Green está em condicional por fornecimento de ecstasy), a cabeça de Frankenstein e a transparência do Homem Invisível, que cria uma namorada imaginária. E há algumas piadas adultas como a forma usada pela mãe lobisomem para afastar a filha de seu interesse, usando um jato d´água.

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Surpreendentemente melhor do que o primeiro, a parte 2 ainda conta com a participação de Mel Brooks como o temível Vlad, um vampiro ancião que vive recluso e mantém sua natureza assassina de humanos. Sua caracterização é bem interessante, acompanhado de morcegos gigantes e monstruosos, numa região isolada e sombria. Jon Lovitz, que fez o Quasimodo no anterior, aqui encarna O Fantasma da Ópera, um monstro clássico que faltava no original, e que traz a trilha que reflete o momento psicológico da festa à fantasia no terceiro ato. Nela os humanos se disfarçam de monstros para tentar enganar Vlad, tendo como ponto alto a escolha de Jonathan, numa referência ao Drácula de Gary Oldman.

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Distante de figurar entre os principais destaques das animações fantásticas, Hotel Transilvânia 2 é um passatempo divertido e bem-humorado, ainda que seja exclusivamente infantil, podendo apenas servir para os pais apresentarem aos filhos os monstros clássicos do gênero, numa iniciação cultural para o gênero horror, sem traumas.

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Marcelo Milici

Professor e crítico de cinema há vinte anos, fundou o site Boca do Inferno, uma das principais referências do gênero fantástico no Brasil. Foi colunista do site Omelete, articulista da revista Amazing e jurado dos festivais Cinefantasy, Espantomania, SP Terror e do sarau da Casa das Rosas. Possui publicações em diversas antologias como “Terra Morta”, Arquivos do Mal”, “Galáxias Ocultas”, “A Hora Morta” e “Insanidade”, além de composições poéticas no livro “A Sociedade dos Poetas Vivos”. É um dos autores da enciclopédia “Medo de Palhaço”, lançado pela editora Évora.

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