O Zodíaco (2005)

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O Zodíaco
Original:The Zodiac
Ano:2005•País:EUA
Direção:Alexander Bulkley
Roteiro:Alexander Bulkley, Kelly Bulkley
Produção:Corey Campodonico
Elenco:Justin Chambers, Robin Tunney, Rory Culkin, William Mapother, Brad William Henke, Rex Linn, Philip Baker Hall, Marty Lindsey, Brian Bloom

“Eu agora tenho o controle de todas as coisas”

Um caso sem solução, um assassino inteligente e provocador que foi responsável pela paranoia e pânico no final dos anos 60 e começo dos 70 – poderia ser um roteiro de um filme de suspense e terror de primeira linha, mas foi uma história real. O assassino auto-intitulado “Zodíaco” matou oficialmente cinco pessoas e feriu outras duas, embora tenha admitido o assassinato de 37 pessoas em dados não confirmados pela polícia; escrevendo cartas para confundir e justificar seus atos com mensagens criptografadas, algumas ainda não decifradas.

Essa história de histeria e medo inspirou muitas produções do cinema e, em 2005, Alexander Bulkley assumiu a bronca de dirigir uma história sobre um dos mais enigmáticos (e fascinantes) serial killers da história. Alexander escreveu o roteiro com seu irmão Kelley Bulkeley e, para isso, foi atrás dos boletins oficiais e relatórios da polícia em um minucioso trabalho de levantamento de informações, para aumentar a veracidade de sua produção.

Entretanto existe um passo muito grande entre idealização e resultado final: o filme é bom e detalhado ao contar o “modus operandi” do assassino, melhor até do que aquelas simulações do Linha Direta. Porém é lento na trama fictícia, muita enrolação e encheção de linguiça que, se bem trabalhada, poderiam deixar o filme mais dinâmico e interessante. Mas, primeiro vamos ao roteiro.

Na época do Natal do ano de 1968, dois jovens estão em uma beira de estrada curtindo seu primeiro encontro juntos, dentro de um carro como era hábito naquele tempo. O local deserto proporcionaria um pouco mais de privacidade para que o casal se conhecesse, porém um estranho carro estacionado na traseira acende seus faróis e de dentro sai um homem que caminha na direção do carro do casal. Sem dizer uma palavra, o misterioso homem começa a disparar contra o casal: o primeiro a morrer é o garoto, executado com um tiro na cabeça. A garota tenta fugir, mas pára de correr a mando do assassino e é alvejada pelas costas, morrendo em seguida.

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Amanhece e o menino Johnny Parish (Rory Culkin, Sinais), junto com a amiga Bobbie (Shelby Alexis Irey), vai de bicicleta até o local onde seu pai está trabalhando. Mas a hora não poderia ser mais inconveniente, pois o pai de Johnny é o detetive Matt Parish (Justin Chambers do seriado Grey´s Anatomy), que está no local das mortes do dia anterior em busca de evidências com toda a equipe da polícia.

No local também está o repórter xereta Dale Coverling (William Mapother, O Grito e Suspeito Zero), que tenta arrancar alguma notícia bombástica para seu jornal – sua função durante todo o filme é representar a imprensa e informar sobre as descobertas e acontecimentos ao público, mas não tem nenhuma participação decisiva na parte fictícia da trama.

Matt volta para casa a noite e encontra sua esposa Laura Parish (Robin Tunney, Fim dos Dias), que já sabe que seu marido é o encarregado pelas investigações e começa a demonstrar preocupação quanto a um suposto maníaco, já que a cidade tem se mostrado tranquila e nunca um assassinato bárbaro como este havia ocorrido antes. Matt hesita, mas tem confiança em seu trabalho.

No dia seguinte o assassino misterioso vai tomar café em um restaurante da cidade e fixa os olhos em uma garçonete, ao passo que lê no jornal a repercussão de seu ato. Enquanto isso, Matt conversa com a mãe da vítima e a perícia indica que não houve abuso sexual, o que deixa a polícia mais perdida ainda, fazendo com que o detetive volte ao local do crime à noite, na esperança de encontrar algo que lhe fugiu aos olhos.

O Zodíaco (2005) (4)Matt começa a ficar envolvido emocionalmente com as investigações, pela pressão de sua esposa, seu chefe e da sociedade, mas a única coisa que se tem de concreto é que se trata de um profissional. Nisto, seu filho entra no escritório de Matt e começa a fuçar nos prontuários do caso e toma interesse no assunto também.

O tempo passa e no dia 4 de julho de 1969 ocorre um outro ataque a tiros contra um casal, sendo que uma das vítimas é a garçonete que havia estado sob a visão do maníaco há um tempo. Desta vez, o homem sobreviveu para fornecer dados a polícia e um primeiro retrato falado é feito, apesar de que, como anteriormente, nenhuma prova concreta foi encontrada, mas Matt estranha o fato do assassino usar um procedimento padrão da polícia ao abordar os jovens, com uma lanterna e pelo lado do motorista, o que reforça a teoria que o culpado é um oficial ou recebeu treinamento para isso.

Dias depois o Zodíaco manda suas primeiras cartas para três jornais diferentes contendo detalhes dos crimes, para provar sua identidade, e cada carta com uma parte de uma mensagem cifrada, que deveriam der publicadas sob a ameaça do maníaco de uma matança em massa no fim de semana. A situação faz com que Matt sugira uma emboscada colocando dois policiais dentro de um carro no local de um dos assassinatos, tentativa que obviamente falha e as mensagens são divulgadas pelos jornais.

Johnny volta para o escritório do pai para olhar as evidências e investigar por si só, enquanto isso Matt procura pistas e encontra um suspeito, um homem com problemas mentais que havia sido namorado da garçonete. O chefe de polícia solicita publicamente que o maníaco envie uma nova correspondência, pois afirma que as cartas enviadas não possuem provas definitivas da veracidade do autor dos crimes. Pedido este que é atendido em uma nova carta, onde o homem dá mais detalhes e passa a se identificar como sendo “Zodíaco“.

Johnny consegue associar as datas dos crimes com eventos astrológicos, justificando o nome do assassino, mas Matt não dá crédito ao garoto quando sua esposa liga para ele. A partir daí a obsessão de Matt aumenta a medida que é desafiado já que uma dupla de detetives amadores estava fazendo o que a polícia não fora capaz: decifrar a primeira mensagem codificada. Esta engolidora crise culmina após o terceiro ataque, onde uma mulher e um homem são esfaqueados, enquanto faziam um picnic. Neste crime o Zodíaco usava uma roupa de carrasco e deixou sua marca para que fosse reconhecido.

Toda esta pressão por uma resposta vai ruir sua estrutura familiar e fazê-lo se entregar à bebida. Agora Matt só tem a pista do ex-namorado da garçonete morta e fará o que for necessário, mesmo que tenha que passar por cima de seu chefe e arriscar sua carreira, para seguir e prender o culpado pela barbárie antes que ataque novamente.

Não seria spoiler nenhum revelar o final do filme, pois como você bem sabe o Zodíaco nunca foi capturado e sua identidade permanece um mistério até os dias de hoje, mesmo com toda a tecnologia forense que existe atualmente. Inclusive pode ainda estar vivo e até estar lendo esta análise neste exato momento (paranoico, eu?)!!

O diretor Alexander Bulkley fez muito bem em nunca mostrar o rosto do Zodíaco, até porque ninguém sabe quem ele é na realidade, apenas alguns planos que mostram a nuca do assassino revelam que ele usava óculos, como realmente ele havia sido mostrado no único retrato falado oficial, mas nada além disso. Outro ponto positivo são as fontes em que o roteiro foi baseado (os relatórios oficiais de polícia) e a boa utilização destas informações na tela, sem ficar inventando moda – como tornar o assassino um maníaco retardado mental. A figura mostrada é de um homem meticuloso, detalhista e muito frio, chegando a lembrar o John Doe de Se7en. A voz do Zodíaco, nas ligações e narrações das cartas, consegue reforçar este semblante de frieza e calma, o tornando mais assustador.

Obviamente que o fato de ser baseado em fatos reais e ter o roteiro criado em versões oficiais altamente confiáveis torna a experiência mais arrepiante e, para reforçar o realismo, Bulkley utilizou locações na própria cidade de Vallejo. Isso também demonstra seu o empenho em manter a integridade da pesquisa que foi feita para a execução do filme.

A forma de direção e edição, quando o Zodíaco prepara a sua roupa para o terceiro ataque ao mesmo tempo em que o primeiro criptograma é decifrado, é uma das melhores partes do filme: intercala imagens de guerra e violência no Vietnã, filmes e eventos de época enquanto o matador está confeccionando sua roupa e treinando com armas ao som de “Time has come today” do grupo The Chambers Brothers anunciando que “as regras mudaram, a hora chegou e não há para onde fugir“.

Mas se toda a história do assassino é bem contada e dirigida, o mesmo não se pode dizer da trama envolvendo o detetive Matt Parrish. Os três personagens centrais, a família Parrish, perdem tempo demais falando muito e fazendo pouca coisa. As investigações também saem muito fora de foco e andam a passo de tartaruga, chegando a ser irritante a incompetência da polícia local (o filho do detetive é mais esperto do que ele!) e da polícia federal (embora neste aspecto seja quase tudo verdade).

As interpretações são outro problema: Justin Chambers convence como o detetive obcecado, e embora Robin Tunney faça um bom trabalho como a mãe de família aterrorizada pelos acontecimentos, ela aparenta ser muito nova e insegura para o papel. Rory Culkin como o filho do detetive é muito ruim, parece que está fazendo um filme com sono, tal a expressão deslocada, artificial e imutável do jovem ator em todas as situações.

Também se pode dizer que foi um pouco de oportunismo da produção lançar um filme sobre o assassino do Zodíaco ao mesmo tempo em que o renomado diretor David Fincher rodava Zodíaco, sua adaptação dos livros “Zodiac” e “Zodiac Unmasked” de Robert Graysmith.

Como o filme foi lançado em apenas poucas salas de cinema nos Estados Unidos, uma delas em Vallejo, pode ser considerado um direto-para-o-vídeo. Injustamente, porque apesar de suas falhas é um retrato bem montado dos atos e, com passagens bem inspiradas. Pode-se assistir sem receio, principalmente para conhecer um pouco mais sobre o famoso assassino!

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Gabriel Paixão

Colaborador e fã de bagaceiras de gosto duvidoso. Um Floydiano de carteirinha que tem em casa estantes repletas de vinis riscados e VHS's embolorados. Co-autor do livro Medo de Palhaço, produz as Horreviews e Fevericídios no Canal do Inferno!

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