Orgulho e Preconceito e Zumbis (2016)

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Orgulho e Preconceito e Zumbis (2016)

Orgulho e Preconceito e Zumbis
Original:Pride and Prejudice and Zombies
Ano:2016•País:UK
Direção:Burr Steers
Roteiro:Burr Steers, Seth Grahame-Smith
Produção:Marc Butan, Sean McKittrick, Brian Oliver, Natalie Portman, Annette Savitch, Allison Shearmur, Tyler Thompson
Elenco:Lily James, Sam Riley, Bella Heathcote, Ellie Bamber, Millie Brady, Douglas Booth, Charles Dance, Lena Headey, Matt Smith

É uma verdade universalmente aceita que um zumbi, uma vez de posse de um cérebro, necessita de mais cérebros“. Essa é a sentença absoluta que inicia a obra e a versão cinematográfica de Orgulho e Preconceito e Zumbis, proferida pela protagonista Elizabeth Bennet. O livro, escrito por Seth Grahame-Smith, acrescenta zumbis ao clássico romance de Jane Austen, publicado originalmente em 1813. Essa mistura de obra clássica com elementos de ficção é uma tendência literária moderna chamada de mash-up novel que deu origem a exemplares estranhos como Dom Casmurro e os Discos Voadores, Romeu e Julieta e Vampiros e A Escrava Isaura e O Vampiro. Como o contato com o primeiro acaba desenvolvendo outros, o próprio Grahame-Smith depois faria Abraham Lincoln, Vampire Hunter, que deu origem ao filme Abraham Lincoln: Caçador de Vampiros, de Timur Bekmambetov, lançado em 2012.

Na obra original, Orgulho e Preconceito, Austen apresenta Liz Bennet como uma garota de personalidade forte, com uma base educacional e moral rígida em uma sociedade repleta de manias de uma Inglaterra do século XIX. Segunda filha das cinco de sua família, todas solteiras, a sua rotina se agita entre bailes e possibilidade de casamentos arranjados para fins puramente financeiros. Com a chegada de dois cavalheiros, o rico Sr. Bingley e o culto Sr. Darcy, Jane se encanta mutuamente pelo primeiro, enquanto Elizabeth tem sérios conflitos com o segundo, tendo que enfrentar a opinião diferenciada de seus pais. Grahame-Smith fez uso do mesmo contexto e personagens e incluiu zumbis de uma maneira que fluiu muito bem na narrativa.

Com o sucesso da obra, em 2010 foi noticiado o interesse de Natalie Portman de produzir e assumir o papel de Elizabeth Bennet, assim como a conversa da Lionsgate com possíveis diretores incluindo Neil Marshall. Portman ficou apenas com a produção mesmo, deixando o protagonismo para a acertada escolha de Lily James, de Fúria de Titãs 2, 2012. Para a cadeira de diretor, depois de muitas danças, assumiu Burr Steers, de A Morte e Vida de Charlie (2010), que também acabou envolvido com o roteiro, alterando algumas ideias da obra original, sem ferir o produto. As filmagens tiveram início em setembro de 2014 para a estreia em 21 de janeiro de 2016 – no Brasil, só alcançou os cinemas em 25 de fevereiro.

Na Folha de S.Paulo, o jornalista Thales de Menezes pontuou: “Talvez o leitor se espante com tamanha bobagem, mas Orgulho e Preconceito e Zumbis é do tipo de filme que, para ser apreciado, precisa que o público aceite seu convite ao absurdo.” Na verdade, este é um resumo do gênero fantástico em toda sua trajetória e é o que o torna tão fascinante. Ele também diz que o produto funciona mais na tela do que nas páginas, o que não pode ser considerado como ponto pacífico. O longa é divertido, como ele mesmo diz, mas funciona tanto nas páginas bem humoradas de Grahame-Smith como na direção dinâmica de Burr Steers, tendo ainda como apoio a belíssima fotografia de Remi Adefarasin, de Elizabeth: A Era de Ouro, de 2007, e a eficiente Direção de Arte de Steve Carter.

Sr. Darcy (Sam Riley, de Malévola, 2014) chega a um encontro de nobres, onde identifica que um dos presentes é um zumbi, e que sua natureza assassina – e visualmente putrefata – só tem início depois de sua primeira refeição. Com moscas varejeiras como alerta do morto camuflado, ele descobre a identidade e dá um fim ao infectado, já percebendo que os mortos são mais frequentes na alta sociedade do que muitos imaginam. Com uma belíssima abertura com desenhos de pop-up, o público fica sabendo que a Inglaterra foi consumida pelas criaturas e que para evitar uma tragédia maior, foi construído um gigantesco muro de isolamento e todas as pontes de acesso foram destruídas, exceto uma única, controlada por soldados.

O espectador é apresentado às irmãs Bennet: Elizabeth (Lily James), Jane (Bella Heathcote, de Sombras da Noite, 2012), Kitty (Suki Waterhouse), Lydia (Ellie Bamber) e Mary (Millie Brady), todas belíssimas e educadas como guerreiras através de ensinamentos de artes marciais na China – o que é considerado uma educação mais modesta do que a japonesa. Apesar de preparadas para enfrentar as batalhas sangrentas, a mãe delas (Sally Phillips) apenas quer que elas tenham um bom casamento, com algum nobre. Durante um baile, as filhas conhecem o ricaço Bingley (Douglas Booth), que imediatamente se apaixona por Jane, enquanto Liz se sente atraída por Darcy. Contudo, ao ouvi-lo dizer que acha a garota “aceitável” fisicamente, ela começa a criar antipatia pelo rapaz, enxergando nele uma figura preconceituosa e extremamente orgulhosa. Neste baile, os zumbis atacam os convidados e as irmãs mostram seus dotes no combate, com coreografias que remetem à saudosa série Buffy, A Caça-Vampiros.

Nesse conflito amoroso, entram mais dois homens para atiçar as pretensões femininas: o atrapalhado e falastrão Parson Collins (Matt Smith), que quer pedir a mão de Elizabeth, e o soldado Wickham (Jack Huston), que mostra à protagonista uma igreja, São Lazarus, onde há zumbis que se alimentam somente de carne de animal e não são irracionais. Enquanto Jane sai a cavalo para visitar Bingley e precisa enfrentar uma mãe zumbi – na cena mais aterrorizante da produção -, a relação de Darcy e Wickham desperta um passado sombrio, algo que poderá mudar o que Liz pensa a respeito de cada um. Mentiras, diálogos bem construídos pela base de Austen, e a guerra contra os mortos completam o enredo de Orgulho e Preconceito e Zumbis, ampliada pelo curioso personagem de Lena Headey, a guerreira de um olho só Lady Catherine de Bourgh.

É ela que propõem um duelo a Elizabeth na versão literária, e o resultado acaba surtindo efeito nos intentos de Darcy. E o final de Wickham também é diferente, assim como a relação com o “anticristo” e os Quatro Cavaleiros do Apocalipse. Todavia, tais alterações são compreensíveis para uma produção cinematográfica de pouco mais de 90 minutos. O longa é bem realizando, sabendo mesclar as doses de horror e romance, sem prejudicar o contexto histórico e a diversão. Ao final, ignorando alguns efeitos digitais desnecessários na concepção da maquiagem, ainda deixa uma sensação prazerosa de que a história tinha potencial para continuar, como se tivéssemos devorado um cérebro e ficássemos com vontade de mais.

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Marcelo Milici

Professor e crítico de cinema há vinte anos, fundou o site Boca do Inferno, uma das principais referências do gênero fantástico no Brasil. Foi colunista do site Omelete, articulista da revista Amazing e jurado dos festivais Cinefantasy, Espantomania, SP Terror e do sarau da Casa das Rosas. Possui publicações em diversas antologias como “Terra Morta”, Arquivos do Mal”, “Galáxias Ocultas”, “A Hora Morta” e “Insanidade”, além de composições poéticas no livro “A Sociedade dos Poetas Vivos”. É um dos autores da enciclopédia “Medo de Palhaço”, lançado pela editora Évora.

2 thoughts on “Orgulho e Preconceito e Zumbis (2016)

  • 12/05/2018 em 22:17
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    Maravilhosa Lily James e Sam Riley então lindos, quanta química em um roteiro digno e bem realizado.

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  • 30/10/2016 em 00:06
    Permalink

    Acabei de assistir na HBO e estou fantasiado. Apesar de muitos momentos sem sentido, o tem uma história que quebra muitos paradigmas. A Jane e suas irmãs lutando, e em especial a srta. Bennet considero uma das melhores protagonistas que ja vi. Pela coragem e fortes opiniões. Os zumbis mesmo não tendo um espaço de grande carnificina como em The walking dead, chamam a atenção por se afastar do padrão zumbi esperado.

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