Westworld – 1ª Temporada (2016)

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Westworld - 1ª Temporada
Original:Westworld - First Season
Ano:2016•País:EUA
Direção:Jonathan Nolan, Fred Toye, Jonny Campbell, Richard J. Lewis, Michelle MacLaren, Neil Marshall, Vincenzo Natali, Stephen Williams
Roteiro:Ed Brubaker, Dan Dietz, Lisa Joy, Kath Lingenfelter, Dominic Mitchell, Jonathan Nolan, Daniel T. Thomsen, Halley Wegryn Gross, Charles Yu
Produção:Cherylanne Martin
Elenco:Evan Rachel Wood, Jeffrey Wright, Ed Harris, Thandie Newton, James Marsden, Anthony Hopkins, Luke Hemsworth, Sidse Babett Knudsen, Angela Sarafyan, Jimmi Simpson, Shannon Woodward, Ben Barnes, Ptolemy Slocum, Rodrigo Santoro, Talulah Riley

Um dos grandes sucessos de 2016, ao lado da surpreendente Stranger Things, Westworld foi uma aposta milionária da HBO para continuar entre as maiores produtoras de conteúdo da TV paga. As chances do parque temático, idealizado originalmente por Michael Crichton, ser promissor traziam otimismo para os criadores, principalmente pelos nomes de peso envolvidos como Anthony Hopkins, Ed Harris, Evan Rachel Wood, James Marsden e Thandie Newton. Todavia, até se transformar no produto elogiado e bem realizado, a série demorou mais de vinte anos para ser confeccionada, embora as intenções iniciais prometiam produzi-la antes da virada do milênio.

A princípio, a Warner Bros. pretendia fazer apenas uma refilmagem nos idos dos anos 90, devido ao excelente rendimento de Jurassic Park, do mesmo autor, mas sempre optava por outras produções e adiava qualquer possibilidade de apostar no projeto. Uma executiva do estúdio, Jessica Goodman, voltou a apostar no longa em 2011, porém foi Jerry Weintraub que conseguiu convencer os financiadores, a partir do sucesso da série Minha Vida com Liberace, de 2013, da HBO. Jonathan Nolan e a co-roteirista Lisa Joy acreditavam que o conceito poderia incentivar algo maior do que simplesmente um longa, ainda mais com o envolvimento na produção de J. J. Abrams e Bryan Burk. Em 31 de agosto de 2013, o canal pediu um episódio piloto para a equipe, e a satisfação pelo resultado deu luz verde à série Westworld, inicialmente projetada para 2015.

Durante o processo de desenvolvimento, os realizadores se basearam nos filmes de Sergio Leone e na arte visual de Philip K. Dick. E também aceitaram sugestões de J. J. Abrams sobre algumas liberdades criativas como as alterações narrativas e a importância de cada personagem. Nolan também assumiu a referência a diversos jogos como BioShock Infinite e Red Dead Redemption, e procurou dar um tom mais sombrio do que o filme original, sem deixar de lado o drama, a violência justificada e a poesia, tendo como condutor textos de William Shakespeare. Toda esse cuidado técnico só poderia resultar em algo no mínimo interessante, mas acabou dando um passo ainda maior do que a proposta inicial, conquistando fãs pelo mundo todo.

A série é ambientada em um parque temático intitulado Westworld, que reproduz com exatidão absoluta a época do Velho Oeste, habitada por androides preparados para receber e agraciar os visitantes. Diferente do filme de 1973, não existem outros “mundos” como o da Idade Média ou o do Império Romano; e o espaço utilizado pela atração é imenso, comportando diversas cidades e territórios. Os pagantes chegam de locomotiva – nada de hovercraft – e se misturam com a população artificial, com seus habitantes apelidados de “anfitriões“, fazendo parte de suas narrativas. Cada androide possui uma “história” ou “função” própria, seguindo um roteiro pelo qual foi programado, repetindo as ações a cada participação no jogo. Se ele “morrer“, técnicos o retiram do parque para manutenção e reinício para novos visitantes.

Devido a essas narrativas, eles possuem interação com outros androides, diálogos já pré-programados, conflitos e até mesmo um “passado“, a partir da programação de acontecimentos que foram apenas gravados para que a máquina possa transmitir mais credibilidade. Deste modo, o espectador acompanha as várias “vidas” dos androides e a trajetória de poucos humanos, presentes na atração e nos bastidores, através dos engenheiros responsáveis pela manutenção e acompanhamento. É claro que, por conta disso, acaba se tornando divertido tentar adivinhar quem são os vivos e as máquinas entre os inúmeros personagens.

No episódio inicial – The Original – o público acompanha dois personagens, o cowboy Teddy (James Marsden) e seu antigo relacionamento, Dolores (a excelente Evan Rachel Wood). Ambos são máquinas, participantes de uma narrativa que ocasiona a morte dos pais da garota e, por fim, dos dois, no confronto com bandidos. Durante os acontecimentos fictícios, os vilões são mortos e ela é violentada por um humano, o “Homem de Preto” (Ed Harris), que castiga os androides que encontra em sua jornada em busca de um labirinto, a chave para o funcionamento do parque.

Quando, no reinício da narrativa, o pai de Dolores, Peter (Louis Herthum), encontra uma fotografia do futuro, ele começa a apresentar problemas e é retirado do parque para avaliação do técnico Bernard (Jeffrey Wright). Ao mencionar um trecho da narrativa de Shakespeare, ele age com agressividade e substituído, o que leva Theresa (Sidse Babett Knudsen) a questionar para o dono da atração, Ford (Anthony Hopkins), se não é o momento de fazer uma atualização em todos os anfitriões, principalmente quando um deles, chamado de “lenhador” ou “desgarrado“, afasta-se de sua narrativa para agir por conta própria.

Dois humanos chegam a Westworld: os amigos Logan (Ben Barnes) e William (Jimmi Simpson), exercendo mais ou menos os papéis de Richard Benjamin e James Brolin no longa original. O primeiro apresenta mais experiência e agressividade, pensando exclusivamente em matar e transar; o segundo, prefere experimentar emoções como a de perseguir um famoso criminoso, o temível Wyatt (Sorin Brouwers). A dupla acaba se envolvendo na narrativa de Dolores, com William nutrindo uma paixão pelo androide a ponto de desviar seu percurso. Também vale a menção para as prostitutas Maeve (Thandie Newton) e Clementine (Angela Sarafyan), cujas histórias são essenciais para o início do conflito das máquinas, quando algumas começarem a agir com consciência.

Como tudo é parte da programação humana, a inteligência artificial começa a dar pane, assim que alguns, como Dolores, começam a se lembrar da “outra vida“. Com a consciência de que são partes de uma atração, aos poucos, os androides iniciam um jogo para a busca de uma escapatória de Westworld, a chance de finalmente se libertar. E o gatilho para essa ação libertária é uma citação a Shakespeare, muitas vezes lembrada por Ford e pelo Homem de Preto. Este, ao escalpelar um androide, sequestra Lawrence (Clifton Collins Jr.) para que o conduza até o centro do labirinto, enfrentando no caminho índios de uma tribo selvagem e os confederados. Nessa trama de idas e vindas, finalizações e recomeços, há também uma dupla de marginais, Hector Escaton (estrelado pelo brasileiro Rodrigo Santoro) e Angela (Talulah Riley); e dois técnicos que terão grande influência nas ações das máquinas, Sylvester (Ptolemy Slocum) e Henry (Eddie Shin), além da especialista em comportamento, Elsie (Shannon Woodward), o criador de narrativas Lee (Simon Quarterman) e a que faz parte do conselho da Delos, empresa que está por trás do financiamento da atração, Charlotte (Tessa Thompson).

Apesar do grande número de personagens e as sobrevidas dos androides, o enredo de Lisa Joy e Jonathan Nolan não é complicado. As boas atuações e toda a qualidade técnica, dos efeitos especiais à belíssima fotografia, auxiliam na construção do programa, fazendo-o fluir com mais beleza e fantasia. E a direção, com nomes conhecidos por trás das câmeras como Neil Marshall e Vincenzo Natali, contribui significativamente para a boa avaliação recebida, exclusivamente para aquele que considero o melhor episódio de todos, o sétimo, de Fred Toye. Aliás, é a partir deste que a série ganha força para as surpresas finais e a incrível conclusão. E que surpresa Westworld reserva para o espectador!

Partindo para um caminho próprio, a série Westworld foi, sem dúvida, um grande espetáculo. Poderia ter sido facilitada pelo enredo já preparado de Michael Crichton, com uma simples rebelião das máquinas, mas fez melhor ao trabalhar temas filosóficos, levantando discussões sobre imigração (tão em voga pela presidência de Donald Trump), religiosidade (brincar de deus?), cultura do estupro e preconceito, sem a pieguice que costumaria vir na bagagem. Romance e drama, gêneros tão questionados por quem procura atrações na TV, não escondem a violência e elementos tradicionais da ficção científica, na construção de androides perfeitos, elaborados com a mais perfeita similaridade com os humanos.

Se o filme original é um dos grandes representantes da mescla entre western e ficção, Westworld conseguiu resgatar a alma do produto original e ampliou os seus horizontes, entre mundos maravilhosos de um parque temático impressionante! Valem o passeio e a expectativa pela segunda temporada, agendada inicialmente para 2018!

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Marcelo Milici

Professor e crítico de cinema há vinte anos, fundou o site Boca do Inferno, uma das principais referências do gênero fantástico no Brasil. Foi colunista do site Omelete, articulista da revista Amazing e jurado dos festivais Cinefantasy, Espantomania, SP Terror e do sarau da Casa das Rosas. Possui publicações em diversas antologias como “Terra Morta”, Arquivos do Mal”, “Galáxias Ocultas”, “A Hora Morta” e “Insanidade”, além de composições poéticas no livro “A Sociedade dos Poetas Vivos”. É um dos autores da enciclopédia “Medo de Palhaço”, lançado pela editora Évora.

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