Ao Cair da Noite (2017)

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Ao Cair da Noite
Original:It Comes at Night
Ano:2017•País:EUA
Direção:Trey Edward Shults
Roteiro:Trey Edward Shults
Produção:David Kaplan, Andrea Roa
Elenco:Joel Edgerton, Christopher Abbott, Carmen Ejogo, Riley Keough, Kelvin Harrison Jr., Griffin Robert Faulkner, David Pendleton

Quando A Bruxa visitou os cinemas brasileiros em 2016, escrevi um artigo intitulado Não Vá Ver a Bruxa nos Cinemas com o objetivo de mostrar que o filme só serviria a públicos específicos. Aqueles que herdaram a geração Jogos Mortais e Premonição achariam o enredo enfadonho, não entendendo porque tanto era dito a respeito de um terror atmosférico e apenas sugestivo. Dessa mesma safra pode-se recolher o longa Ao Cair da Noite, de Trey Edward Shults, que estreou discretamente nos cinemas brasileiros em 22 de junho e deve desaparecer das praças antes que você decida onde quer vê-lo.

A comparação com o trabalho de Robert Eggers vai além da narrativa cadenciada: aqui também temos uma família isolada por uma floresta fria, com medo de tudo e de todos, a paranoia pelo contexto envolvido, e por vezes tentamos decifrar quais seriam os verdadeiros inimigos, embora A Bruxa envolva aspectos religiosos de um horror satânico. Ao Cair da Noite camufla melhor as suas simbologias, mas é menos eficaz em causar desconforto no espectador. E o novo filme ainda perde na comparação pelo final abrupto, deixando o público com uma sensação de que ficaram faltando filmar algumas páginas do roteiro de Shults.

Sem créditos explicativos, o longa começa com o rosto sofrido de um homem idoso com feridas pustulentas, sendo julgado pelos seus familiares devido ao estado terminal. Com máscaras de oxigênio e roupas de proteção, ele é conduzido por Paul (Joel Edgerton, de O Presente) e seu filho Travis (Kelvin Harrison Jr) até uma clareira na floresta, onde será executado com um tiro na cabeça, antes de ter seu corpo queimado, com a câmera destacando a fumaça negra que se eleva de seus restos mortais. É esse sinal que possivelmente trará na madrugada um visitante inesperado, Will (Christopher Abbott), que leva o patriarca a um sistema particular de investigação do estranho: deixa-o amarrado a uma árvore por alguns dias para verificar se há sinais de contágio.

Aparentemente, a humanidade foi varrida por uma peste mortal, restando poucas pessoas e muita paranoia. Paul faz de tudo para proteger sua família, incluindo a esposa Sarah (Carmen Ejogo) e até o mesmo o cão Stanley. Will o convence a buscar sua família há alguns quilômetros dali para uma tentativa de uma união benéfica, algo que sempre deixará a todos com uma constante sensação de perigo iminente e desconfiança. Will é casado com a jovem Kim (Riley Keough), com quem teve o pequeno Andrew (Griffin Robert Faulkner), e demonstra o interesse comum de manutenção do bem estar, mas sabe que está convivendo com pessoas diferentes.

Paul apresenta as regras da casa, como a de nunca sair à noite, e evitar a todo custo abrir uma porta vermelha. Localizada nos fundos da residência rural, ela é um dos poucos acessos à área externa e representa os principais indícios de que até as pessoas mais sinceras escondem segredos em seu interior. Nesse ponto, o espectador se identifica com Travis, o garoto que apresenta os elementos de horror da produção através de pesadelos que evidenciam seu estado de espírito. Ele representa a alma do filme e da família, e promove as situações extremas que culminarão com os gestos drásticos do terceiro ato.

Ao Cair da Noite é um filme simples de conteúdo, mas com argumentos pessimistas em uma atmosfera claustrofóbica. Não é tão ousado como se poderia imaginar, nem apela para sequências de sustos fáceis ou violência extrema – o que está ocasionando vaias por todas as sessões onde é exibido. Ainda assim é um terror adulto e um passo a frente de boa parte do que é lançado por aqui, mas você não conseguirá vê-lo nos cinemas. A própria distribuidora não acreditou no filme.

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Marcelo Milici

Professor e crítico de cinema há vinte anos, fundou o site Boca do Inferno, uma das principais referências do gênero fantástico no Brasil. Foi colunista do site Omelete, articulista da revista Amazing e jurado dos festivais Cinefantasy, Espantomania, SP Terror e do sarau da Casa das Rosas. Possui publicações em diversas antologias como “Terra Morta”, Arquivos do Mal”, “Galáxias Ocultas”, “A Hora Morta” e “Insanidade”, além de composições poéticas no livro “A Sociedade dos Poetas Vivos”. É um dos autores da enciclopédia “Medo de Palhaço”, lançado pela editora Évora.

13 thoughts on “Ao Cair da Noite (2017)

  • 23/10/2017 em 03:03
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    Concordo com cada frase da crítica. Apenas peço cuidado ao revelar certo preconceito com o público fã de Jogos mortais e Premonição e demais do estilo. Eu amo cada um deles, mas também soube apreciar A bruxa e Ao cair da noite.
    Sempre me senti bem com o público do terror devido ao respeito ao gosto do colega ao lado.

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  • 09/10/2017 em 04:26
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    Acabei de ver este filme, e simplesmente achei excelente, poderia listar nos 20 melhores deste ano. Tem um clima bem tenso e paranóico, amei.

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  • 12/09/2017 em 00:38
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    Quando Paul e Will estão na caminhonete seguindo em direção a localidade onde morava o último, é possível perceber ao fundo no meio da floresta, uma criatura estranha com forma humanoide, sentada como se estivesse em pensamento. É uma cena sútil que pode passar desapercebida por muitos, porém, é importante para a compreensão do principal motivo a ter levado Stanley (o cachorro) a fugir de casa.

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  • 05/09/2017 em 22:15
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    Ando meio entojado desses filmes de horror ‘cabeça’… ‘Good Night Mommy’… ‘It Comes At Night’… Sinto falta da porra-louquice dos filmes antigos, que eram no-brainers mas eram bem mais divertidos de assistir.

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  • 06/07/2017 em 09:06
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    Sabe depois te fazerem Lixos como Rec,Jogos Mortais,e por fim o filme que o Boca do inferno empurrou a guela baixo A Bruxa esperar o que de um filme de terror ? o que espero é que cada um Vê uma coisa e acha aquilo bom no ponto de vista dela e acha que aquela ideia que ela teve a pessoa vai ter também errado!!!! as maiores bombas do cinema que ja vi em especial a Bruxa só que o que ela tem em comum com Rec e Jogos Mortais trata-se de um filme cansativo ,Ruim e no mesmo cenário mas todo mundo vai vender a ideia que é terror assim como os discos Recentes do iron maiden são igual aos clássicos e nada a ver infelizmente o cinema de terror tomou outro rumo já sabia que desde o inicio dos anos 80 que já tinha esses filmes sem pé e sem cabela com bodes e bruxas ou aquele mesmo cenário que nada acontece iria um dia se alastrar e já fazer você ter uma ideia como começou e como vai terminar ou seja a mesma bomba Geralmente até recomendo você a assistir ainda mais se você não estiver como sono pois tenho certeza que você vai dormir em seguida!!!

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      06/07/2017 em 09:25
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      Oxe, a gente não empurra nada goela abaixo, Daniel. Você é livre pra assistir o que quiser 😉

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    • 12/07/2017 em 09:07
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      Querida Silvana a expressão empurrar Guela Abaixo quer dizer você Faz a propaganda de um filme enfeita ele e diz que ainda cuidado com a Bruxa não quis ser Grosseiro de jeito nenhum apenas expor i que vi do filme e não vi nada de terror apenas uma Floresta e Fanatismo Religioso de todos os lados que o Roteirista quis dar enfase no duas guampas como vitorioso e pior aonde aparece A Bruxa ? Achei tipo uma historia mais Terror Clássico Tipo uma entidade de bruxas dominava a floresta e exterminasse a Família e depois sei la haveria um acerto de contas com algum sobrevivente apenas uma ideia é claro,mas o que vi foi um filme chato e parado só acho que foi muita propaganda e não foi só o site do Boca e mais querida assim como Boca empurra filmes modernos chatos também faz Resenha de filmes clássicos de horror que nem veio pra nós mas com o titulo em inglês a gente acha Fácil no You tube as vezes e assistimos não quis ser Drástico apenas expressar meu ponto de vista sem desmerecer ninguém pois se você gosto do Filme a Bruxa eu respeito a sua opinião,Certo?

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      • 06/09/2017 em 09:05
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        Como assim? Empurramos os filmes novos e resenhamos os filmes clássicos? Que tal resenhamos os filmes novos e empurramos os filmes clássicos? Ou empurramos os filmes novos e clássicos? Ou, o meu preferido, resenhamos os filmes novos e clássicos e cada um escolhe aquilo que quer, deixando espaço para todos escolherem?

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        • 22/09/2017 em 19:54
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          Rodrigão Apenas dei enfase no filme a Bruxa, que fizeram uma enorme propaganda,assisti cara porem tentei gostar do filme cara,mas achei ruim demais, com um final que nem da para dizer que é final, mas é aquilo cara tem que entender que as vezes vemos o mesmo filme e as vezes não por isso cada um tem sua Resenha Sinopse do filme certo cara e mais uma vez, cara achei muito filme legal ai no Boca como Death Trap um meio Slasher, com Sanguera, muito bom cara, esta de Parabéns a pessoa que achou este filme, pôr que é difícil achar um site que fale de filmes Desconhecidos e vocês tem muita boa vontade e competencia em conseguir filmes assim só tenho a Agradecer cara

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  • 05/07/2017 em 07:46
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    Consegui uma sessão única no sábado à noite em um pequeno cinema no interior. A reação das pessoas ao término do filme foi hilária! Pra quem aprecia o gênero, mesmo sendo um filme tão diferente, vai até curtir, mas quem foi ver por conta do trailer ou do maravilhoso cartaz, com certeza vai se decepcionar.

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  • 01/07/2017 em 18:51
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    Aqui no Rio ele foi exibido e sim boa parte do pessoal que viu não gostou

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