Amityville: O Despertar (2017)

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Amityville - O Despertar
Original:Amityville: The Awakening
Ano:2017•País:EUA
Direção:Franck Khalfoun
Roteiro:Franck Khalfoun
Produção:Jason Blum, Daniel Farrands, Casey La Scal
Elenco:Jennifer Jason Leigh, Cameron Monaghan, Bella Thorne, Jennifer Morrison, Mckenna Grace, Thomas Mann, Kurtwood Smith, Taylor Spreitler, Ava Knighten Santana

Se existe um subgênero dentro do horror que, mesmo desgastado por inúmeras produções similares, ainda atrai olhares curiosos, pode-se dizer que é o das casas assombradas. Não importa se o enredo basicamente trabalha com um fantasma vingativo, alguma possessão demoníaca oriunda de provocação (como o uso ingênuo de uma Tábua Ouija) ou a velha maldição por decorrência de algum cemitério indígena nas redondezas, vai sempre haver uma família que acaba de se mudar para o local, sem antes buscar informações sobre o passado, e o aumento gradual de fenômenos estranhos até culminar num confronto com a entidade maligna. É claro que a aposta no estilo sempre vai existir, mas deixa sempre uma sensação incômoda de refilmagem ou cópia da fórmula, principalmente se você resolver catalogar a longa franquia Amityville, iniciada em 1979, na adaptação da obra de sucesso de Jay Anson.

Depois que Ronald DeFeo Jr. assassinou toda a sua família com um rifle, no dia 13 de novembro de 1974, e os Lutz se mudaram para o local e não conseguiram se estabelecer por influência de espíritos malignos, a obra de Anson, relatando os 28 dias em que a família esteve ali, tornou o endereço da Avenida Ocean, 112, extremamente popular. Maior ainda foi o nome “Amityville“, que passou a ser referência de casas assombradas, e deu origem a continuações absurdas, uma refilmagem inferior e várias versões bastardas. Para se ter uma ideia, Amityville – O Despertar é o décimo nono da série (!!), que se desenvolveu de maneira assustadora com produções que traziam pouca ou nenhuma relação com o texto original, servindo apenas como obras oportunistas.

Assim, a possibilidade de se esperar algo bom de Amityville – O Despertar não parecia animadora. Ampliou-se com as notícias de que o filme estaria pronto desde 2014 – 40 anos depois dos crimes de DeFeo -, mas foi se adiando por muitos anos, passando por processos de edição e inclusão de cenas e até mesmo com informações sobre idas e vindas para diversos formatos: DVD, VOD até encontrar caminho para os cinemas. O longa está estreando agora, dia 14 de setembro, no Brasil e Argentina, após passagens rápidas por cinemas em diversos países, desde março – e ainda não tem data agendada para estrear nos EUA. Ou seja, você verá nos cinemas antes dos americanos, que talvez se contentem com alguma versão mais discreta de lançamento.

É possível sair algo bom daí? Claro que não. Amityville – O Despertar justifica toda a demora na estreia, sendo tão descartável quanto outros filmes da franquia, a partir do terceiro. No entanto, tem algumas ideias interessantes ali, que permitem um olhar diferenciado. Um deles é o fato dos personagens saberem da existência dos outros filmes da série, comentando em cena até mesmo o que pensam da refilmagem de 2005. E essa metalinguagem cinematográfica vai além, quando alguns jovens surgem com a ideia de assistir ao longa de 79 na casa de Amityville, às 3h15 da manhã, no horário em que DeFeo cometeu o massacre. Pode-se dizer que esse é o ponto alto do filme de Franck Khalfoun (de P2 – Sem Saída, Maníaco e I-Lived) mas que, mesmo assim, não foi explorado adequadamente.

Depois de cenas de um documentário sobre a tragédia de 74, para posicionar o espectador sobre os eventos, o filme começa com a chegada de uma família à casa de Amityville. Além do baixo valor de aquisição, Joan (Jennifer Jason Leigh) está pensando no acesso facilitado ao hospital neurológico de Nova Iorque para o tratamento de seu filho James (Cameron Monaghan), em coma e com quase nenhuma movimentação cerebral. Essa base já remete ao filme Evocando Espíritos, que trazia a mesma justificativa para a mudança repentina da família. Quem não está muito animada com essa novidade é a filha adolescente Belle (Bella Thorne), que assume o estereótipo da jovem rebelde que perdeu os amigos de escola e não está aceitando os motivos pela busca de um milagre. E também não se pode esquecer da menininha loirinha, típica de produções assim, Juliet (Mckenna Grace), que promoverá diálogos com o além ou com algum amigo imaginário. Lembra do porco Jody, da história original?

A narrativa é mantida sob a perspectiva da adolescente, que sofre um bullying discreto, e faz amizade com o estudante Terrence (Thomas Mann, de Kong: A Ilha da Caveira, 2017), que se aproximou por curiosidade envolvendo a casa maldita. É ele que apresentará o livro de Jay Anson e terá a brilhante ideia de sugerir uma sessão de Terror em Amityville, dentro da casa. Chega a ser impressionante – e o Gabriel Paixão comentou na análise que fez do trailer – que Belle nunca tenha tido nenhuma informação sobre a maldição da morada, um endereço que é ponto de referência entre os lugares considerados mais assustadores da América!

Não se pode esquecer de mencionar a presença de um cachorro, comum em famílias que se mudam para casas assombradas, e também o médico que acompanha o caso de James, o conhecido Kurtwood Smith, de Robocop – O Policial do Futuro, e diversos outros clássicos da década de 80 e 90. E há um outro rosto conhecido, no papel de Candice, uma provável irmã de Joan (não ficou claro  sua relação com os demais): Jennifer Morrison, a fantasma de Ecos do Além, e presente em Lenda Urbana 2, Star Trek (2009) e A Escuridão (2016). Aliás, o rosto da atriz lembra bastante o de Lori Loughlin, que fez Amityville 3D, em 1983; assim como o James possuído traz à memória o ator Jack Magner, que foi o vilão de Amityville 2: A Possessão.

Coisas estranhas começarão a acontecer, partindo de uma janela que se abre sozinha (que medo!) à aparição de moscas digitais, mais uma vez remetendo à fórmula da franquia Amityville. James começará a ter reações bizarras e promoverá visões assustadoras por diversos momentos, com os famigerados jumpscares. Algumas sequências deixarão claro que foram acrescentadas depois do filme ter sido projetado inicialmente por simplesmente não terem justificativas ou uma conclusão, como a que envolve um closet e a pequena Juliet, ou a noite em que Belle acorda e enxerga brevemente a silhueta do irmão a observando no quarto.

Contudo, é muito pouco. Para um público que se acostumou com as assombrações de James Wan, Amityville – O Despertar não tem muito a oferecer. Alguns poucos momentos arrepiantes em um terror raso, bobo e sem grandes sustos, que, provavelmente, ficará perdido entre filmes mais relevantes em 2017. Assim, acaba sendo mais interessante fazer como os personagens: assistir ao original e rir das continuações descartáveis como esta.

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Marcelo Milici

Professor e crítico de cinema há vinte anos, fundou o site Boca do Inferno, uma das principais referências do gênero fantástico no Brasil. Foi colunista do site Omelete, articulista da revista Amazing e jurado dos festivais Cinefantasy, Espantomania, SP Terror e do sarau da Casa das Rosas. Possui publicações em diversas antologias como “Terra Morta”, Arquivos do Mal”, “Galáxias Ocultas”, “A Hora Morta” e “Insanidade”, além de composições poéticas no livro “A Sociedade dos Poetas Vivos”. É um dos autores da enciclopédia “Medo de Palhaço”, lançado pela editora Évora.

3 thoughts on “Amityville: O Despertar (2017)

  • 29/03/2018 em 19:01
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    Não achei tão ruim quanto a crítica tem coisa bem pior sendo ovacionada.

    Resposta
  • 15/11/2017 em 23:39
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    Para um filme de terror, faltou cenas de terror.

    Resposta
  • 15/09/2017 em 21:13
    Permalink

    Eu já estava entediada com o trailer… Logo imaginei que seria pífio. Quanto a resenha, obrigada, não tinha ideia que esse filme já sofreu tantos ‘remakes’!

    Resposta

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