Wolf Creek – 2ª Temporada (2017)

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Wolf Creek - 2ª Temporada
Original:Wolf Creek - Season 2
Ano:2017•País:Austrália
Direção:Greg McLean, Geoff Bennett, Kieran Darcy-Smith
Roteiro:Mark Dapin, Shanti Gudgeon, Greg Haddrick, Nick Parsons
Produção:Elisa Argenzio, Peter Gawler
Elenco:John Jarratt, Matt Day, Tess Haubrich, Felicity Price, Julian Pulvermacher, Laura Wheelwright, Jason Chong, Elsa Cocquerel, Charlie Clausen, Christopher Kirby, Adam Fiorentino, Stephen Hunter, Josephine Langford, Ben Oxenbould, Elijah Williams

Aventurar-se pelos desertos australianos pode ser extremamente perigoso, tanto para os turistas incautos, em busca das melhores fotos e paisagens, quanto para os realizadores de uma série de TV com o peso da franquia Wolf Creek. Foi com a primeira expedição, realizada em 2005, que Greg McLean mostrou a que veio, concebendo o terrível Mick Taylor (John Jarratt), inspirado nos crimes de Ivan Milat, cometido entre as décadas de 80 e 90. Anos mais tarde, voltaria ao Inferno com a continuação, Wolf Creek 2, sem conseguir a mesma força narrativa e saciar o desejo dos fãs. Assim, em 2016, realizou a primeira temporada de uma minissérie para a TV que continuaria as ações do psicopata dos desertos, mantendo uma ligação intensa com os filmes, mas falhando de maneira absoluta, sem concluir o trabalho como merecia, embora tenha conseguido uma boa audiência. Em meados de 2016, Jarratt previu que o universo criado por McLean deveria se encerrar após uma segunda temporada e um terceiro longa, algo que parece estar perto de se concretizar, principalmente com a continuação da série exibida no final de 2017!

Os seis episódios foram disponibilizados no dia 15 de dezembro, e, logo, conquistaram boas avaliações. Entre as críticas apresentadas, houve quem elogiasse a fotografia, o elenco e o enredo, com palavras como “arrepiante“, “inesquecível“. Será que McLean conseguiu retomar as rédeas da produção, tirando do comando o pavoroso Tony Tilse da primeira temporada? O que o sangrento e mortal caipira da Austrália pode trazer de novo nessa continuação, sem repetir a fórmula, apenas os calafrios sentidos? Pode-se dizer, sem dúvida nenhuma, que a nova temporada de Wolf Creek não só é melhor do que a primeira, como poderia muito bem estar no lugar até mesmo do segundo filme e estaria representando muito bem a franquia e as ações do violento Mick Taylor.

Não há um sentimento de vingança na construção do enredo desta vez. Está mais para uma espécie de Olhos Famintos 2, mas com um monstro ainda mais assustador. Após um prólogo desnecessário, em que Mick é visto comprando armas e assassina o vendedor – parece que ninguém passa cinco minutos com ele, sem ter o destino selado -, surgem as prováveis vítimas do psicopata, embarcando em um ônibus de turismo. O motorista, Davo (Ben Oxenbould), inicia a “Jornada” (nome do episódio piloto) com seus treze passageiros (número da sorte de Mick): os americanos Rebecca (Tess Haubrich) e Danny Michaels (Charlie Clausen), em crise no relacionamento por motivos profissionais; o psicólogo Brian Neilson (Matt Day), que quase formará um triângulo com o casal; as amigas canadenses Kelly (Laura Wheelwright) e Michelle (Elsa Cocquerel), com a primeira mantendo um interesse pela segunda; os namorados Steve (Jason Chong) e Johnny (Adam Fiorentino); o simpático blogueiro Wade (Elijah Williams); o ex-militar Bruce (Christopher Kirby); a família alemã Weber – Oskar (Julian Pulvermacher), Nina (Felicity Price) e Emma (Josephine Langford, de 7 Desejos, 2017); e o gordinho, que entende de carros, Richie (Stephen Hunter).

Mesmo com o número grande de personagens, o primeiro e o segundo episódios permitirão bastante o desenvolvimento deles, com o espectador já entendendo a atração de Michelle por Wade, o ciúmes de Steve, o cuidado exagerado dos pais de Emma, e o tumultuado relacionamento dos americanos. Cenas de belíssimas paisagens australianas são alternadas com a interação dos passageiros e os passeios de Mick pelas estradas até um encontro tenso com Davo numa parada de caminhoneiros. Na conversa, Mick chega a perguntar se o motorista duvida que ele seja capaz de conduzir um grupo pelo deserto em um passeio turístico, ao que Davo responde que ele teria que melhorar o linguajar. Durante a noite, numa outra parada, o embate se finalizará no banheiro, e o psicopata assumirá o controle do veículo pelas estradas para iniciar seu plano maldito.

Ele poderia matar a todos durante a noite, ou até mesmo atirar o ônibus de um precipício. Não é o jogo do sádico Mick Taylor. Depois de finalizar uma guarda-florestal, ele envenenará a bebida de todos, fazendo-os dormir por mais de 24 horas, e abandonará o veículo no meio do deserto, distante de qualquer civilização. Assim, sem ter alternativa, os passageiros terão que lutar para sobreviver à fome, ao calor do deserto e às investidas constantes do caçador, que sempre aparentará estar um passo a diante deles. E há, claro, as dificuldades de convivência e problemas de saúde de alguns presentes, que começarão a derrubar as máscaras daqueles que aparentavam inicialmente ser sãos.

Ainda que seja moldado nos velhos clichês de sobrevivência na natureza contra um psicopata, Wolf Creek supera as expectativas nas perseguições pelo deserto. A inteligência de Mick, somada ao seu preconceito em relação a qualquer estrangeiro (várias anedotas envolvendo canadenses e americanos), traz à série um conteúdo que vai além da briga contra um caipira assassino, lembrando os bons tempos de O Albergue. Em meio a essa disputa, há somente uma sequência que não fluiu bem no enredo de Mark Dapin, Shanti Gudgeon, Greg Haddrick e Nick Parsons: no quarto episódio, a ação de aborígenes contra o que eles chamam de “espírito” através de uma cantoria. A série se desloca de seu “pé no chão” para um contexto místico que não se encaixa muito bem ao que fora mostrado durante toda a franquia.

Já deixando pistas do que virá a seguir numa provável continuação, a segunda temporada de Wolf Creek, que teve a direção acertada de McLean, Geoff Bennett e Kieran Darcy-Smith (cada um com dois capítulos), anima o passeio pelos desertos australianos e as velhas locações, como a casa de Mick Taylor. Divertida, com uma boa química entre as personagens, pode-se apontar a minissérie como um dos destaques de 2017, só precisando que mais pessoas decidam visitá-la, sem medo do que vai encontrar.

Para finalizar uma curiosidade. A música da abertura é uma versão da música “Land Down Under“, do Men at Work. Ela foi gravada pela até então desconhecida Sabrina Schultz em seu quarto, de maneira completamente independente. Fez bastante sucesso, numa composição excelente, combinando perfeitamente com a segunda temporada de Wolf Creek. Abaixo você confere a música original e a belíssima gravação!

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Marcelo Milici

Professor e crítico de cinema há vinte anos, fundou o site Boca do Inferno, uma das principais referências do gênero fantástico no Brasil. Foi colunista do site Omelete, articulista da revista Amazing e jurado dos festivais Cinefantasy, Espantomania, SP Terror e do sarau da Casa das Rosas. Possui publicações em diversas antologias como “Terra Morta”, Arquivos do Mal”, “Galáxias Ocultas”, “A Hora Morta” e “Insanidade”, além de composições poéticas no livro “A Sociedade dos Poetas Vivos”. É um dos autores da enciclopédia “Medo de Palhaço”, lançado pela editora Évora.

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