Grito de Horror (1981)

4.5
(15)

Grito de Horror
Original:The Howling
Ano:1981•País:EUA
Direção:Joe Dante
Roteiro:Gary Brandner, John Sayles, Terence H. Winkless
Produção:Jack Conrad, Michael Finnell
Elenco:Dee Wallace, Patrick Macnee, Dennis Dugan, Christopher Stone, Belinda Balaski, Kevin McCarthy, John Carradine, Slim Pickens, Elisabeth Brooks, Robert Picardo, Noble Willingham, James Murtaugh, James MacKrell, Kenneth Tobey

A Lua devia estar realmente Cheia, levemente azulada, sentindo-se gloriosa, em 1981. Foi nesse ano que dois dos maiores filmes de lobisomem foram realizados, dividindo seu brilho entre a América e o Reino Unido. Na mesma época em que David Kessler (David Naughton) era surpreendido por uma criatura voraz, nos pântanos de Yorkshire, e passava a ser visitado pelas suas vítimas, como o putrefato amigo Jack (Griffin Dunne), uma âncora de telejornal descobriria uma colônia maldita no momento em que buscava uma forma de esquecer (ou lembrar de) um terrível pesadelo. Inspirado no romance The Howling, de Gary Brandner, publicado em 1977, Grito de Horror se transformaria numa das principais referências do gênero, permitindo debates com fãs de Um Lobisomem Americano em Londres pela supremacia das criaturas representantes da Lua. São dois filmes diferentes dentro de um mesmo tema, mas que, juntos, fizeram a diferença na década de 80 pela ousadia e impressionantes efeitos de maquiagem.

Logo após a realização de Piranha (1978), Joe Dante era o principal nome para a condução da adaptação depois que Jack Conrad se afastou por problemas com o estúdio. John Sayles, que já havia trabalhado com Dante antes no filme dos peixes assassinos, foi então contratado para dar um trato no roteiro, desde que alterasse o máximo possível o que era apresentado no livro. Existe até uma trívia interessante envolvendo a participação de Dante numa leitura na Hollywood Scriptwriting Institute. Deixando evidente que não gostava da obra, ele então foi questionado por um homem na plateia, sem imaginar que se tratava do próprio autor, Gary Brandner.

No entanto, o que mais chamou a atenção no filme foi, sem dúvida alguma, os efeitos de transformação. Rick Baker chegou a ser considerado para trabalhar na maquiagem, mas acabou optando pelo lobisomem de John Landis, deixando a função para seu assistente, Rob Bottin. Como ele já havia trabalhado com Dante em Piranha e tinha o nome associado a longas como O Incrível Homem Que Derreteu (1977), o resultado só poderia ser satisfatório e digno de prêmios. Entre as cenas mais surpreendentes, há a belíssima transformação de Robert Picardo, considerada uma das 100 mais assustadoras de todos os tempos na seleção da Bravo. E Grito de Horror ainda reserva momentos de claustrofobia e tensão, regados a sangue, gosmas e órgãos expostos, merecendo todas as críticas positivas e a conquista do Saturn Award como Melhor Filme.

Começa como um thriller de mistério e investigação jornalística. A belíssima e popular âncora de TV Karen White (a scream queen Dee Wallace) está prestes a se encontrar com um perigoso serial killer, conhecido como Eddie Quist (Robert Picardo). Seguindo sua marca – adesivos com smiles -, ela chega a um ambiente pornográfico com pequenas cabines onde são exibidos filmes pornôs, sem saber que seu microfone já não está mais sendo captado pela equipe de jornalistas da KDHB, nem pela polícia, para aflição de seu marido Bill (Christopher Stone) e o representante da emissora, Fred (Kevin McCarthy).

Eddie pede que Karen olhe para ele e depois a ataca, fazendo-a gritar até ser salva pela polícia. O trauma pelo episódio não permite que ela consiga contar na TV o ocorrido, nem mesmo se lembrar dos detalhes. Ao ser avaliada por seu terapeuta, Dr. George Waggner (Patrick Macnee), ela é aconselhada a tirar umas férias, e descansar num resort isolado, conhecido como “Colônia“. Karen e o marido partem na viagem, sem imaginar que o local possui pessoas tão estranhas quanto Eddie, além de uma relação direta com tudo o que ela experimentou.

Entre os locais, destaca-se o louco Erle, interpretado pelo veterano John Carradine, e a sedutora Marsha (Elisabeth Brooks), com quem Bill terá que se esquivar para não cair em tentação. Enquanto tenta entender as mudanças repentinas de seu marido, a jornalista é amparada pela amiga Terry (Belinda Balaski) e seu marido Chris (Dennis Dugan), a dupla que encontra a morada de Eddie e descobre que o assassino ainda está vivo e próximo da Colônia, pedindo ajuda para o bibliotecário Walter (Dick Miller, figurinha carimbada nos filmes de Joe Dante). Logo, Karen irá descobrir da pior maneira que o local é amplamente habitado por lobisomens, e uma fuga do local talvez seja impossível.

Sem poupar o espectador de momentos de tensão e violência, depois que o primeiro lobisomem aparece, Grito de Horror é uma jornada splatter, repletq de ótimos efeitos de maquiagem, varrendo a tela de vermelho e gore. Dante não se esquiva das cenas mais grotescas, como a mencionada transformação de Eddie e o encontro com as feras da Colônia no terceiro ato, fazendo um trabalho muito bem feito na direção, combinada com a fotografia adequada a cargo de John Hora (de Gremlins, 1984), e a trilha de Pino Donaggio. É interessante o contraponto entre a depressiva cidade grande e a alegre colônia, tendo as feras como ponto em comum, principalmente na surpreendente sequência final.

Outro acerto da obra foi o uso de desenhos para simbolizar o ato sexual entre as criaturas e a presença de vários exemplares. Não diminui a força dos efeitos especiais porque transmite um sentido lendário ao enredo, como se fosse uma história de ninar, lida através de um livro infantil. Além disso, as demais maquiagens são tão bem apresentadas que impede que o público se incomode com seus outros artifícios. Todos servem bem ao enredo.

Tudo flui bem também pela escolha correta do elenco. Dee Wallace, nascida em 14 de dezembro de 1948, é um símbolo do gênero, representando uma das mais notáveis scream queens dos anos 80 e 90. Na sua filmografia se destaca: Quadrilha de Sádicos (1977), E.T. – O Extraterrestre (1982), Cujo (1983), Criaturas (1986), A Morte Veste Vermelho (1990), Popcorn – O Pesadelo Está De Volta (1991), Alligator 2 – A Mutação (1991) e Os Espíritos (1996), só para mencionar alguns numa carreira com mais de 230 trabalhos.

Além dela, há o veterano John Carradine (1906-1988), com mais de 350 produções como A Casa de Frankenstein (1944), A Casa de Drácula (1945), A Torre dos Monstros (1956), O Monstro da Era Atômica (1959), Invasores Invisíveis (1959), entre muitos outras como a assustadora A Sentinela dos Malditos (1977), séries de TV e gêneros diversos. Em Grito de Horror, ele faz o insano Erle, que ameaça se matar na sequência em que Karen chega à Colônia. Outros rostos conhecidos – Patrick Macnee, Dennis Dugan e Kevin McCarthy – tornam o filme ainda mais bem conceituado.

Com base em tudo isso, vem a pergunta: qual filme é melhor, então: Um Lobisomem Americano em Londres ou Grito de Horror? Ambos tem grandes méritos que justificam a presença entre os melhores desse subgênero, mas, ainda acho o filme de John Landis melhor. O terror em Londres, ainda que tenha doses de humor, é muito mais completo pois envolve o mito da licantropia, o pentagrama, a maldição da Lua Cheia e cenas antológicas como os pesadelos do protagonista e a sequência de transformação, superior a todas do longa de Joe Dante.

De todo modo, são produções que nos fazem sentir orgulho do gênero fantástico, por proporcionar momentos assustadoramente incríveis, em histórias simples mas intensas. Um orgulho para a brilhante Lua!

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Marcelo Milici

Professor e crítico de cinema há vinte anos, fundou o site Boca do Inferno, uma das principais referências do gênero fantástico no Brasil. Foi colunista do site Omelete, articulista da revista Amazing e jurado dos festivais Cinefantasy, Espantomania, SP Terror e do sarau da Casa das Rosas. Possui publicações em diversas antologias como “Terra Morta”, Arquivos do Mal”, “Galáxias Ocultas”, “A Hora Morta” e “Insanidade”, além de composições poéticas no livro “A Sociedade dos Poetas Vivos”. É um dos autores da enciclopédia “Medo de Palhaço”, lançado pela editora Évora.

10 thoughts on “Grito de Horror (1981)

  • 15/01/2020 em 21:06
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    Esses 2 filmes são os melhores do gênero lobisomem, mas também tem um filme de 2002
    (Dog Soldiers – Cães de Caça) esse também bate aquela nostalgia quando as criaturas eram horripilantes e não esses bichos de pelúcia que vimos hoje em dia como os lobisomens de Crepúsculo
    etc…

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  • 03/10/2019 em 03:01
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    Há muitos boatos no YouTube, de que o trabalho do maquiador não estava sendo nada satisfatório, e que tiveram que encontrar um cara que se transformava em lobisomem realmente; para realizar essa cena.?

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  • 09/03/2018 em 20:12
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    Melhor filme de lobisomens de todos os tempos!

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  • 08/03/2018 em 20:31
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    Acho esse melhor do q o do Landis. Vi no SBT em 1987 e se chamava retiro dos lobisomens
    Esse filme se leva a serio e não tem gracinhas q só quebram o clima.

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  • 07/03/2018 em 03:09
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    Entre os 2 Clássicos eu prefiro ” Grito de Horror ” !
    E ambos obrigatoriamente estão na minha coleção !

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  • 06/03/2018 em 10:06
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    dois grandes filmes e junto com bala de prata fazem a santíssima trindade licantrópica

    dos três ainda prefiro o grito de horror, marcou muito na época.

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  • 04/03/2018 em 21:35
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    Colocaria uma menção ao filme Bala de Prata neste texto, da safra de 1985.

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  • 04/03/2018 em 16:09
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    Espero que esse filme vire logo FGcast com a participação do Boca do Inferno.

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  • 03/03/2018 em 23:15
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    Um Clássico do Terror.
    Um dos melhores filmes de lobisomens de todos os tempos!

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