Grito de Horror 4: Um Arrepio na Noite (1988)

3.7
(7)

Grito de Horror IV - Um Arrepio na Noite
Original:Howling IV: The Original Nightmare
Ano:1988•País:UK
Direção:John Hough, Clive Turner
Roteiro:Gary Brandner, Clive Turner, Freddie Rowe
Produção:Harry Alan Towers
Elenco:Romy Windsor, Michael T. Weiss, Antony Hamilton, Susanne Severeid, Lamya Derval, Norman Anstey, Kate Edwards, Dennis Folbigge

O principal arrepio na noite é descobrir que o absoluto Grito de Horror, de Joe Dante, iria se transformar numa franquia tão numerosa e descaracterizada. A possibilidade de um quarto filme vir a ser bom, depois das tragédias cometidas por Philippe Mora e a inspiração irregular na trilogia literária de Gary Brandner, era bem baixa, até porque, praticamente, não havia mais livro e o autor parecia não estar mais interessado pelo tema. Contudo, Grito de Horror 4: Um Arrepio na Noite já anunciava um novo nome no comando, John Hough, conhecido pelos trabalhos bem feitos em As Filhas de Drácula (71), A Casa da Noite Eterna (73), A Montanha Enfeitiçada (75), Mistério no Bosque (80) e Incubus (82). Além disso, o roteiro de Clive Turner (que também comandou algumas cenas do filme) e Freddie Rowe, mesmo que não oficialmente, foi considerado por muitos como uma versão mais fiel ao primeiro livro de Brandner, lançado em 77.

Mesmo com todo esse otimismo inicial, Grito de Horror 4 é ainda bastante inferior ao clássico, mas bem melhor do que as duas primeiras continuações, podendo ser conferida como uma produção isolada, um conto de horror envolvendo lobisomens em uma cidade pequena. Nele, a autora de sucesso Marie Adams (Romy Windsor) está tendo constantes visões e pesadelos com uma freira de olhar esbugalhado. Logo na sequência inicial, ao adentrar um elevador, ela nota que a outra passageira simplesmente desapareceu num desvio da atenção. No encontro com seu agente literário Tom Billings (Antony Hamilton), ela tem mais uma visão da freira e grita histericamente, e é aconselhada por um médico a se afastar completamente de seus escritos para um momento de distração numa área isolada de uma zona rural, no vilarejo conhecido como Drago.

Ela recebe a carona de Tom até o chalé, encontrando no local seu marido Richard (Michael T. Weiss). Nesse momento o infernauta e o xerife antipático (Norman Anstey) já estranham a amizade entre ela e o boa pinta, mesmo que seja algo considerado por ela como inocente e sincero. Esse ciúmes não chega a servir muito para o enredo, apenas para trazer um desconforto na convivência e acrescentar uma vítima a mais dos ataques de uma criatura voraz que circunda a floresta. Os uivos ouvidos durante a madrugada começam a perturbar a escritora, com o descrédito do marido e a desconversa dos habitantes locais, como da senhora Ormstead (Kate Edwards). Ao perder seu cachorro e depois encontrar sua cabeça nas proximidades de uma caverna, Marie passa a não saber mais se está sendo vítima de suas visões ou se realmente há algo de macabro nas redondezas.

Enquanto Richard começa a nutrir uma atração pela artista e dona da loja de antiguidades Eleanor (Lamya Derval), Marie conhece a forasteira Janice Hatch (Susanne Severeid), que conecta os pesadelos da escritora ao desaparecimento de uma freira na região. Assim, as duas investigam o passado da cidade e descobrem um acontecimento marcante no local devido a um famoso incêndio na capela da cidade, sob o alerta de um velho sino. Aos poucos, aumenta a intensidade dos uivos e surgem novas vítimas como um casal de mochileiros, levando Marie a uma descoberta assustadora.

Diferente dos demais filmes da série, Grito de Horror 4 camufla ao máximo a aparição da criatura. Até então, há mistérios a serem solucionados e uma sensação perturbadora de que alguma coisa está prestes a acontecer. Esse suspense e terror psicológico funcionam bem à proposta, como uma fábula aterrorizante e claustrofóbica. No terceiro ato, porém, o espectador passa a se lembrar de que se trata de um filme da franquia quando o sangue flui consideravelmente e as aberrações se multiplicam, em transformações repletas de gore e efeitos interessantes de maquiagem. A melhor de todas é testemunhada no derretimento completo de um personagem, até que o que resta de sua massa corpórea dá vida a um dos lobisomens que serão vistos no longa.

John Hough traz um charme à franquia, com uma condução bem feita, espalhando câmeras por diversos ângulos curiosos, espreitando até mesmo da lareira. Ele sabe lidar com o sugestivo, mas se perde na testemunha dos numerosos monstros, ora vistos como seres bípedes discretamente, ora como cães e lobos. Se os efeitos práticos são até agradáveis aos olhos, por outro lado é impossível não se incomodar com a péssima atuação dos dois galãs. O primeiro ato remete o público a uma novela mexicana ruim, com diálogos sendo proferidos mecanicamente. As atuações são prejudicadas pelas falas dubladss, uma vez que os produtores tiveram que filmar o longa inteiro sem som devido ao baixo orçamento investido.

Outro fato que atrapalhou as filmagens foi comentado pelo diretor Hough à Fangoria. Ele disse que foi contratado para comandar o filme, sem ter acesso ao roteiro. Ele recebia as páginas aos poucos, muitas por mensagens, sem nunca conseguir conversar pessoalmente com o roteirista Freddie Rowe. Ele acreditava que Rowe e o produtor Clive Turner, que começou a dirigir o filme e perdeu a vaga para o mais experiente, eram a mesma pessoa. Depois que o longa foi finalizado por Hough, na pós-produção, ele descobriu que era um filme bem diferente do que ele havia feito, com o acréscimo de muitas cenas eróticas como o sexo oral recebido por Richard. Desapontado com o resultado final, que seria sua primeira experiência com esse subgênero, Hough nunca sentiu que Grito de Horror 4 fosse um filme seu. Já Turner também disse que o material entregue por Hough não era bom, e ele estava bastante insatisfeito com o que fora feito com o roteiro.

Essa briga de bastidores só poderia resultar num filme falho. Grito de Horror 4 até diverte em seu clima de mistério e investigação, com uma ameaça sobrenatural à espreita, mas não tem as qualidades que tornaram o primeiro Grito mais assustador e interessante.

O que você achou disso?

Clique nas estrelas

Média da classificação 3.7 / 5. Número de votos: 7

Nenhum voto até agora! Seja o primeiro a avaliar este post.

Avatar photo

Marcelo Milici

Professor e crítico de cinema há vinte anos, fundou o site Boca do Inferno, uma das principais referências do gênero fantástico no Brasil. Foi colunista do site Omelete, articulista da revista Amazing e jurado dos festivais Cinefantasy, Espantomania, SP Terror e do sarau da Casa das Rosas. Possui publicações em diversas antologias como “Terra Morta”, Arquivos do Mal”, “Galáxias Ocultas”, “A Hora Morta” e “Insanidade”, além de composições poéticas no livro “A Sociedade dos Poetas Vivos”. É um dos autores da enciclopédia “Medo de Palhaço”, lançado pela editora Évora.

3 thoughts on “Grito de Horror 4: Um Arrepio na Noite (1988)

  • 27/08/2018 em 09:01
    Permalink

    Parece um roteiro mais fiel à obra de Gary Brandner que o original. Grito de Horror (o clássico, e um dos meus preferidos) tem pouco a ver com o livro.

    Resposta
  • 25/03/2018 em 20:41
    Permalink

    Esse filme saiu em DVD aqui pela New Way Vídeo,lá fora esses filmes da serie Grito de Horror já sairam em Blu-ray e aqui na terra (d)esperança.. infelizmente nunca sairam já que esse mercado de home video já faliu faz tempo.

    Resposta

Deixe um comentário para Augusto Cancelar resposta

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *