O Habitante do Infinito (2017)

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O Habitante do Infinito
Original:Mugen no jūnin / Blade of the Immortal
Ano:2017•País:Japão
Direção:Takashi Miiki
Roteiro:Tetsuya Oishi
Produção:Jeremy Thomas, Misako Saka, Shigeji Maeda
Elenco:Takuya Kimura, Hana Sugisaki, Sota Fukushi, Hayato Ichihara, Erika Toda, Kazuki Kitamura, Chiaki Kuriyama

Samurais são um tema recorrente não só na cultura pop japonesa, como em todo o mundo. No país de origem desse tipo de guerreiro, obras clássicas remetem a honra e o código que os samurais seguiam. E nos mangás, um dos clássicos exemplos é Vagabond, que retrata a jornada intelectual do autoconhecimento de Miyamoto Musashi, um dos maiores samurais do Japão. Mas não foi esse o herói samurai que me fascinou na adolescência, e sim aquele que era o completo oposto de Miyamoto, o samurai renegado e anti-herói Manji, do mangá Blade of the Immortal, no Brasil intitulado Blade: A Lâmina do Imortal.

O contraponto aqui é forte. Se em Vagabond temos um herói honroso, com toda a jornada épica dos samurais, em Blade temos exatamente o contrário, mostrando um lado nada romantizado desse grupo de guerreiros, com poucos compromissos de valores e lados monstruosos, numa versão obscura da rica história do Japão Feudal.

Publicado no Japão pela revista Afternoon, da Kodansha, entre junho de 1993 e dezembro de 2012, e finalizado em 30 volumes, Blade of the Immortal foi escrito e desenhado por Hiroaki Samura. No Brasil, o título que foi publicado parcialmente pela extinta Conrad, ganhando um relançamento em 2015 pela JBC. Mas foi só em 2017 que a obra ganhou sua adaptação cinematográfica pelas mãos do aclamado diretor japonês Takashi Miike (13 Assassinos, Audition, Ichi The Killer e, meu favorito do diretor, Lesson of the Evil), sendo este consagrado como seu centésimo filme.

Então juntar uma história aclamada de um samurai sem honra com um diretor famoso por enredos perturbadores deu certo? Bem, mais ou menos…

No filme, acompanhamos a história de Manji (Takuya Kimura em grande atuação), um ronin renegado que matou seu mestre e não cometeu haraquiri, pois precisou cuidar de sua irmã, uma jovem com graves distúrbios mentais. Porém, com sua cabeça a prêmio, Manji enfrenta e mata 99 mercenários contratados para eliminá-lo, não sem antes perder a irmã no processo. Tomado por ferimentos que o levariam a morte, ele chama a atenção de uma monge que coloca em seu corpo vermes que o tornam imortal.

Paralelamente, cinquenta anos depois, uma jovem chamada Rin (Hana Sugisaki, que não honra a personagem do mangá) passa pelo inferno ao ver seu pai, dono de um dojo, ser assassinado e sua mãe violentada por um grupo de guerreiros chamado Itto-ryu, chefiada pelo extremamente habilidoso Anotsu (Sota Fukushi, que irá estrelar a adaptação de Bleach), que sonha em dominar e unificar todos os estilos de luta samurai do Japão Feudal. Sobrevivendo ao massacre de sua família e dojo, Rin busca vingança e ao encontrar Manji, os dois acabam se unindo numa jornada de muito sangue.

Como tudo isso dito acima é apenas o começo do filme, você já pode imaginar qual seu maior defeito? A pressa.

Muitas pessoas esperavam que a adaptação de Blade seguisse a linha cinematográfica de Samurai X, com pelo menos três bons filmes contando todo o enredo. Mas não, Takashi Miike realmente forçou colocar quase 20 anos de uma obra extremamente profunda em um filme com menos de duas horas e meia. O resultado divide até minha opinião. Por um lado, a trama em si ficou muito bem amarrada mesmo tendo dezenas de subtramas e inúmeros elementos não utilizados. Por outro, a profundidade dos personagens se perdeu consideravelmente, um dos maiores pontos do mangá, não gerando uma empatia profunda pelos personagens.

Acompanhamos a caminhada de Manji e Rin derrotando os guerreiros da Itto-ryu de maneira frenética, cada um com suas motivações e personalidades. Ele, um grosseiro beberrão sem princípios que vê na garota o carisma de sua irmã, possibilidade de redenção e busca pela mortalidade. E ela encontrando em Manji uma figura paterna, ao mesmo tempo que seu sentimento de vingança começa a ser colocado em dúvida.

Enquanto isso, também compreendemos o espaço histórico do (nem tanto) vilão Anotsu, com o sonho de unificar um Japão tão dividido através de seu estilo de luta considerado indecente (ele usa arma estrangeira e não segue nenhuma escola clássica, um afronte aos costumes tradicionais).

Takashi Miike também deixa aqui sua marca. A fotografia do filme é bela e a ambientação de um Japão Feudal, mesmo com notáveis poucos recursos para a grandeza da obra, é bastante eficiente em todos os aspectos, desde a construção das vilas, até o design de armas e vestes,  a maioria fiel aos desenhos de Hiroaki Samura sem cair no ridículo pelo menos em quase todos os casos.

Mas é nas batalhas que o filme nos ganha. Todas as inúmeras lutas são muito bem coreografadas. O massacre de Manji contra uma centena de mercenários logo no começo é assombroso, com toda a sequência em preto e branco. A batalha contra a amante de Anotsu, uma das personagens mais incríveis do mangá, mas pouco explorada no filme, chega a ser poética. Mas tantas batalhas acabam diminuindo todo o impacto do enorme arco final, mesmo com tantos acontecimentos a quase perder de conta. Sério, é muita coisa rolando ao mesmo tempo.

Ainda assim, mesmo com tanta ação e inúmeros arcos, o filme pode ser considerado de ritmo lento e difícil de acompanhar por algumas pessoas. Fãs mais xiitas também sairão bastante incomodados com a compactação da adaptação, mas no fim das contas Blade of the Immortal entrega um produto digno da assinatura de Takashi Miike e não desonra seu original.

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Samuel Bryan

Jornalista, acreano, tão fã de filmes, games, livros e HQs de terror, que se não fosse ateu, teria sérios problemas com o ocultismo. Contato: games@bocadoinferno.com.br

3 thoughts on “O Habitante do Infinito (2017)

  • 05/06/2018 em 22:15
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    Rapaz pensei que o Takashi Mike, que sempre foi tão polemico em seus obras que muitas vezes beiram o mal gosto e o grotesco para o mercado internacional e também sempre foi tão popular no seu pais Japão iria mostra o dedo médio para o mercado internacional e manter a fidelidade a obra de origem, colocando a suastica ORIENTAL nas roupas do personagem, porem, a globalização, o medo de perder dinheiro fora do Japão, a situação diplomatica atual do país, ou tudo isso junto, fez com que o diretor “arrega-se” e tira-se a suastiastica, algo incomum nas adaptações live-actons japonesas de seus proprios quadrinhos (mangás) que geralmente pecam pelo excesso de fidelidade aos quadrinhos (mangas), e também desnecessário visto que a suástica do personagem tem um simbolismo completamente diferente do ocidental.

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  • 30/05/2018 em 10:56
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    Você chegou a ver os filmes live action do Samurai X?
    São muito bons comparados com vários live actions e com boas cenas de ação também.

    Resposta
  • 30/05/2018 em 10:55
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    Ahhhh como eu gosto desses filmes de samurai…

    Resposta

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