Cargo (2017)

3
(1)

Cargo
Original:Cargo
Ano:2017•País:Austrália
Direção:Ben Howling, Yolanda Ramke
Roteiro:Yolanda Ramke
Produção:Russell Ackerman, Kristina Ceyton, Samantha Jennings, Mark Patterson, John Schoenfelder
Elenco:Martin Freeman, Anthony Hayes, Susie Porter, Caren Pistorius, Kris McQuade, Natasha Wanganeen, Bruce R. Carter, David Gulpilil

Um violento acidente de carro desperta um pai para uma realidade assustadora: sua mulher está morta, transformada em um horrendo zumbi, arrancou um naco de carne de seu braço, e o condenou-o a poucas horas de vida, num mundo pós-apocalíptico. Até começar a sofrer as mutações desse vírus mortal, ele precisa encontrar um meio de proteger sua bebê Rosie de outros mortos e de si mesmo. O curta Cargo, de Ben Howling e Yolanda Ramke, conseguiu em apenas sete minutos transmitir todo o drama, terror e desespero desse pai e ainda se encerrou com uma imagem chocante, na qual ele utiliza um pedaço de madeira com carne para que continue sua jornada, sem se importar (ou se importando ao extremo) com o que carrega nas costas. Lançado em 2013, o filme foi bem sucedido no youtube e atraiu a atenção da Netflix pela realização de uma refilmagem estendida, a primeira produção australiana do sistema de streaming.

É claro que o primeiro arrepio se estabelece em seu corpo quando você pensa no que será feito para alongar o conteúdo. O original não precisou de diálogos, nem muitos personagens, para que o público entendesse toda a situação dramática. Algo mais didático, talvez, mostrando como tudo começou e as transformações do protagonista em algo que ele mesmo desconhece? Basta lembrar de outros longas, inspirados em curtas (Mama, Lights Out, O Espelho) para perceber que o resultado dificilmente agrada.  Em relação à refilmagem de Cargo, fica evidente que algumas escolhas foram realmente boas, aumentando a força narrativa, enquanto outras apenas serviram para esticar a duração final.

Andy (bem interpretado por Martin Freeman) encontrou um meio de manter segura sua família no mundo cruel que se construiu após um vírus devastar a humanidade. Ele, a esposa Kay (Susie Porter) e a pequena Rosie vivem em um pequeno barco, cruzando os rios em busca de pessoas e alimentos. Ao encontrar um veleiro naufragado, com alguns mantimentos, Andy festeja com a família e resolve cochilar, enquanto Kay decide buscar mais coisas na embarcação, como um aparelho de barbear para o marido. Mas, havia alguma coisa escondida no banheiro fechado…

Sem alternativas, com a mulher ferida, Andy sugerem que abandonem o barco e partem pela terra até encontrar um veículo, e continuar o percurso em busca de ajuda médica. Ao evitar atropelar um morto perdido na estrada, eles batem o carro violentamente, na sequência que é o ponto de partida do curta. A mulher não morre de imediato, mas, como Andy sofre um desmaio e, ao acordar, percebe que Kay está num visual horrendo, no momento em que morde seu braço, próximo ao cotovelo. Desesperado pelo horror iminente, o rapaz só tem uma alternativa: buscar alguém para cuidar da bebê antes do término das 48 horas, enquanto ainda possui consciência e é capaz de lidar com sua voracidade.

Ele parte com a pequena nas costas, sob um calor intenso, e encontra algumas pessoas que parecem querer ajudá-lo, como Vic (Anthony Hayes) e a “esposa” Lorraine (Caren Pistorius), mas que, depois, trazem mais problemas para ele. Enquanto alguns surgem apenas para diminuir o ritmo do enredo, há, porém, uma garotinha nativa chamada Thoomi (Simone Landers), que mantém o pai preso, alimentando-o, e que faz a diferença na produção. Ela traz esperanças para o protagonista ao dizer que um tal “Homem Sábio” (David Gulpilil) é um xamã, capaz de tirar “essas coisas ruins” das pessoas, resgatar a alma – algo assim. Andy persiste em sua jornada, tentando se esquivar dos sintomas de sua transformação próxima e proteger a pequena.

Não havia realmente a necessidade de alongar o enredo original, ainda assim, Ben Howling e Yolanda Ramke fazem um belíssimo trabalho de direção, auxiliados pelo bom elenco e uma fotografia australiana em cores fortes, que intensificam a angústia de Andy, ao caminhar por um deserto quente e torturante. A sequência que acontece num túnel, com os mortos virados para as paredes como em oração é muito bem feita e tensa. Por outro lado, pecam pelos excessos, seja nos personagens bobos que aparecem pelo caminho, seja pela demora na conclusão do pesadelo do protagonista.

A ideia da pulseira das 48 horas é muito boa, assim como a necessidade de Andy esconder sua condição pelo modo como os já infectados são tratados pela sociedade. Uma curiosa crítica social pode ser notada nesse ponto, e ainda há alusão ao sexismo, no modo com os gêneros são vistos pelos dois lados. Como produção de zumbis, Cargo também se sai bem ao criar alguns confrontos sangrentos, mostrar os mortos com a cabeça na terra – mais uma referência religiosa – ou com os olhos gosmentos, e até mesmo no modo clássico como se locomovem atrás de carne humana.

Apesar da duração excessiva para um argumento que não exigia muito, Cargo tem bem mais acertos que outras produções alongadas. É um conto de horror e drama, envolto em pessimismo, em que a esperança precisa realmente ser a última que morre…

O que você achou disso?

Clique nas estrelas

Média da classificação 3 / 5. Número de votos: 1

Nenhum voto até agora! Seja o primeiro a avaliar este post.

Avatar photo

Marcelo Milici

Professor e crítico de cinema há vinte anos, fundou o site Boca do Inferno, uma das principais referências do gênero fantástico no Brasil. Foi colunista do site Omelete, articulista da revista Amazing e jurado dos festivais Cinefantasy, Espantomania, SP Terror e do sarau da Casa das Rosas. Possui publicações em diversas antologias como “Terra Morta”, Arquivos do Mal”, “Galáxias Ocultas”, “A Hora Morta” e “Insanidade”, além de composições poéticas no livro “A Sociedade dos Poetas Vivos”. É um dos autores da enciclopédia “Medo de Palhaço”, lançado pela editora Évora.

4 thoughts on “Cargo (2017)

  • 28/10/2019 em 11:40
    Permalink

    Exatamente o que já disseram, pegaram um bom curta (ótimo para mim) e fizeram um péssimo longa. Achei interessante a criação dos infectados em estado de letargia, mas o restante são só tramas paralelas para preencher tempo, com péssimo resultado. Péssimo.

    Resposta
  • 22/07/2018 em 13:18
    Permalink

    O final maravilhoso, mas é duro aguentar até ele.

    Resposta
  • 28/05/2018 em 21:48
    Permalink

    Eu achei que a Netflix pegou um bom curta metragem e dele fez um péssimo longa. Nossa que filme ruim!!

    Resposta
  • 28/05/2018 em 18:03
    Permalink

    Para mim a burrice do personagem principal e de sua esposa em se infectarem e o fato de andarem longas e encontrarem os mesmos personagens atrapalha o filme

    Resposta

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *