Verdade ou Desafio (2018)

3.3
(4)

Verdade ou Desafio
Original:Truth or Dare
Ano:2018•País:EUA
Direção:Jeff Wadlow
Roteiro:Jeff Wadlow, Jillian Jacobs, Michael Reisz, Christopher Roach
Produção:Jason Blum, Couper Samuelson
Elenco:Lucy Hale, Tyler Posey, Violett Beane, Sophia Ali, Nolan Gerard Funk, Landon Liboiron, Sam Lerner, Brady Smith

Desde a entrevista que Jason Blum deu ao Boca do Inferno em janeiro, para promover Sobrenatural: A Última Chave na CCXP, que há uma certa curiosidade sobre o terror teen Verdade ou Desafio (Truth or Dare, 2018), de Jeff Wadlow. Não atiçada pelo elenco, embora exista quem tenha visto por acompanhar a protagonista, Lucy Hale, na série Pretty Little Liars, ou pela proposta simples de explorar um jogo bastante popular entre os jovens, mas pelo interessante trailer, que, além das tradicionais cenas de tensão, trazia uma assustadora deformidade no rosto dos personagens, como um pesadelo acordado. Blum estava bastante confiante no sucesso do filme, tanto que era uma das apostas da produtora Blumhouse para o primeiro semestre.

O produtor resolveu investir no projeto, quando teve um encontro com o diretor Wadlow e ele mostrou a cena de abertura. Ainda havia todo o conceito a ser desenvolvido, a partir do argumento de Michael Reisz, porém houve o acréscimo de outros roteiristas para arredondar o enredo: como o próprio diretor e os estreantes Jillian Jacobs e Christopher Roach. Com tantas mãos, não é de se estranhar que o longa, orçado em apenas U$3,5 milhões de dólares, tenha conquistado facilmente U$58, mesmo que boa parte da crítica tenha malhado a produção com palavras como “medíocre” ou simplesmente considere seu conteúdo como superficial, mas ainda assim divertido.

E é assim que você deve encarar Verdade ou Desafio. Uma brincadeira, um fast-food do gênero, possibilitando aos espectadores uma experiência supérflua, sem que deixe a impressão inicial de perda de tempo. Com um roteiro que passeia por todos os clichês e explore os terríveis jumpscares, a verdade é que Verdade ou Desafio não irá além do que se propõe, mas você sentirá desafiado a experimentar mesmo antecipando boa parte do que será visto na tela grande. Essa bobagem divertida traz no prólogo a tal cena que animou Blum: no México, uma jovem entra em um estabelecimento perdido no deserto em busca de ajuda até notar a expressão assustadora do atendente e decidir incendiar uma cliente, pedindo desculpas pela ação drástica necessária.

São apresentados, então, os jovens que se meterão nessa enrascada: em uma viagem para Rosarito, no México, há a youtuber Olivia (Hale), sua melhor amiga Markie (Violett Beane) e o namorado Lucas (Tyler Posey) – por quem Olivia nutre uma atração -, além de Brad (Hayden Szeto) e o casal Penélope (Sophia Ali) e Tyson (Nolan Gerard Funk). Incomodada pelo estudante Ronnie (Sam Lerner), Olivia é defendida pelo estranho Carter (Landon Liboiron), que convence todos a participar de uma aventura nas ruínas de uma velha igreja, localizada sobre uma colina, numa ambientação bem tétrica.

Persuasivo, Carter propõe aos novos amigos uma rodada do velho jogo do “Verdade ou Desafio” (também conhecido em algumas regiões como “Verdade ou Consequência“). A brincadeira já traz alguns conflitos no grupo quando há a revelação do interesse de Olivia por Lucas, e também o humor do desafio da nudez e do beijo entre duas garotas. Quando chega a vez de Carter e ele escolhe “Verdade” e é perguntado sobre seu interesse em Olívia, o rapaz revela que não há interesse algum que não seja a de trazer um grupo de jovens ingênuos para ajudá-lo a se proteger de uma maldição, em um conceito que remete a Corrente do Mal. Antes de partir ele apenas anuncia a principal regra: cada vez que a pergunta “Verdade ou Desafio?” vier à tona é necessário que o participante faça o que lhe é sugerido, tanto no desafio quanto na revelação dolorosa, ou terá consequências mortais.

É o que acontece com Olivia, assim que entra na biblioteca da faculdade e enxerga o rosto de todos com um sorriso exagerado. Ela opta pela “verdade” e grita no local que Markie trai Lucas, despertando o primeiro conflito entre eles. Depois que Ronnie escolhe “Desafio” num bar e não fica nu, morrendo em um acidente estranho, filmado pelos demais, Olivia percebe que o jogo é real e tenta convencer os amigos do pesadelo a qual estão inseridos, algo que não será tão fácil e trará novos desafios, verdades trágicas e mortes. Talvez a solução possa estar na busca pela jovem que incendiou a estranha no começo e tentar reencontrar Carter para descobrir um meio de encerrar a maldição.

Com a proposta de seguir a ordem do jogo inicial, alguns desafios e mortes remetem também ao filme Premonição. Há algumas cenas boas de tensão como a que envolve a jovem que precisa caminhar bêbada na beira de um telhado ou a da martelada na mão, embora esta última tenha acontecido muito rápido no filme, sem ainda que os personagens tenham já se convencido do problema sobrenatural. Apesar desses bons momentos, não há explicação para a demora entre uma jogada e outra, assim como soa preguiçosa a revelação sobre como tudo teve início. Se o público fica na ânsia de conhecer o rosto real da entidade traiçoeira, o orçamento reduzido não permitiu que ela apareça além das ilusões propostas.

É claro que o filme não consegue escapar das referências. Além das já mencionadas, o infernauta deve perceber uma influência de O Chamado e de filmes que envolvem a tábua ouija. Há os clichês da investigação do mistério (sempre facilitadas pelo roteiro), das personagens que estarão ali apenas para servir de vítima, dos conflitos internos com relação ao passado das personagens e do final não tão assim surpreendente, mas que permite ideias para continuações que provavelmente virão.

O elenco é bom, principalmente Lucy Hale e a dramática Violett Beane, da série Flash. Há uma boa química entre as duas, como se as personagens fossem realmente amigas. O drama de Markie combina de maneira adequada ao terror sobrenatural, explorando revelações e sacrifícios que vão além de uma simples crise de ciúmes. Já o Lucas, de Tyler Posey, que está na ponta do triângulo, fica difícil entender suas razões e porque ele muda de opinião tão fácil de uma partida para outra, sem que o demônio consiga perceber essa falha de interesse.

Sem se esquivar do rótulo de terror teen, Verdade ou Desafio pode ser uma boa pedida para uma sessão de cinema com os amigos. Está bem distante de se tornar inesquecível ou um dos destaques do gênero em 2018, porém é uma brincadeira que não machuca ainda que você se desafie a participar.

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Marcelo Milici

Professor e crítico de cinema há vinte anos, fundou o site Boca do Inferno, uma das principais referências do gênero fantástico no Brasil. Foi colunista do site Omelete, articulista da revista Amazing e jurado dos festivais Cinefantasy, Espantomania, SP Terror e do sarau da Casa das Rosas. Possui publicações em diversas antologias como “Terra Morta”, Arquivos do Mal”, “Galáxias Ocultas”, “A Hora Morta” e “Insanidade”, além de composições poéticas no livro “A Sociedade dos Poetas Vivos”. É um dos autores da enciclopédia “Medo de Palhaço”, lançado pela editora Évora.

2 thoughts on “Verdade ou Desafio (2018)

  • 13/06/2018 em 18:00
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    Eu fui assistir no cinema, sem grandes expectativas pois pelo trailer já mostra que é mais um filme de adolescentes , que eu não vejo menor problema, até gosto de alguns, estava bem divertido ate o final, é um filme pra ver uma vez só…

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  • 15/05/2018 em 23:49
    Permalink

    pô, comecei a assistir no cinema por acidente, tive que parar no meio da sessão, mas até onde assisti adorei o filme. E é bem isso que a crítica está dizendo: um terror teen divertidíssimo e despretencioso.

    Resposta

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