A Seita (2016)

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A Seita
Original:The Veil
Ano:2016•País:EUA
Direção:Phil Joanou
Roteiro:Robert Ben Garant
Produção:Jason Blum, Robert Ben Garant
Elenco:Jessica Alba, Thomas Jane, Lily Rabe, Aleksa Palladino, Shannon Woodward, Reid Scott, Lenny Jacobson, Meegan Warner, Jack De Sena, David Sullivan, Amber Friendly

Depois do horror promovido pelos seguidores de Charles Manson, a América receava que um outro “Messias” pudesse agir, a partir da destruição da família tradicional, para comandar assassinos e perpetuar atrocidades. No final da década de 70, um terror ainda maior e mais assustador veio em uma paisagem de morte construída por outra mente perturbada: em novembro de 1978, 918 adeptos do culto Templo dos Povos, liderado por Jim Jones, cometeram “suicídio” em Jonestown, Guiana, ao ingerir cianeto – e isso inclui mais de 300 crianças. Esse pesadelo americano, com influência política, como o assassinato de Leo Ryan, somado à tensão vivida durante o período da Guerra Fria, serviu de influência para a literatura e o cinema. O longa A Seita (The Veil, 2016) faz uma alusão direta ao ocorrido, e inclui grandes doses de terror sobrenatural, resultando em um trabalho fraquinho e sem personalidade.

O enredo se passa 25 anos depois que os membros do culto Heaven’s Veil (O Véu do Paraíso) cometeram suicídio, sob o comando de seu líder religioso Jim Jacobs (Thomas Jane) – a criatividade passou longe na escolha do nome. A documentarista Maggie Price (Jessica Alba) conseguiu contato com a única sobrevivente do massacre, Sarah Hope (Lily Rabe), e está disposta a retornar ao local com uma equipe de filmagem em busca de materiais de gravação que podem estar escondidos na fazenda e em outros ambientes próximos. Assim, além de Maggie e Sarah, vão à fazenda Christian (Jack De Sena), Ed (Lenny Jacobson), a técnica de som Jill (Shannon Woodward), além de Nick (Reid Scott) e Ann (Meegan Warner).

Depois que chegam ao ambiente abandonado e protegido, Sarah é assombrada pelo passado e conduz a equipe até uma casa secreta, misteriosamente (e estranhamente) não descoberta pela polícia, onde há um corpo em decomposição, pertencente a Karen Sweetzer (Aleksa Palladino), que nas fitas aparenta ter ido contra as ações do líder. Essas gravações ajudam o grupo a entender o passado, os reais poderes de Jim como a capacidade de projeção astral e descobrir algo importante sobre o suicídio coletivo, incluindo a razão pela qual Sarah conseguira sobreviver.

Era para ser mais um found footage, mas pouco antes das filmagens começarem o roteiro foi reescrito por Robert Ben Garant. Mesmo assim ficam evidentes alguns pontos típicos desse subgênero como a inclusão de filmagens amadoras, e o material descoberto na casa. Talvez o resultado ficasse até melhor, pois o tradicional permitiu que algumas de suas falhas fossem percebidas, como no uso de efeitos especiais na composição de suas assombrações. Sim, A Seita envolve uma crença do Messias quanto a um possível retorno ou renascimento, e, para isso, há aparições e possessões para lembrar o espectador que se trata de uma produção de terror como qualquer outra.

E, apesar de beber de fontes conhecidas do gênero – melhor não mencioná-las para evitar spoilers -, A Seita não permite que o terror realmente se desenvolva, funcionando apenas como um fenômeno a ser observado. Não há sustos, nem nada que surpreenda, assim como incomoda a divisão da narrativa em duas para mostrar o material recolhido na casa. Essa quebra de ritmo, mesmo após a morte ou assassinato de alguém, diminui o interesse e a importância que o espectador dará ao que está vendo. Trata-se de uma caricatura da persuasão psicológica de um líder religioso, sem transmitir o medo e a tensão frequentes nas gravações reais dos áudio de Jim Jones.

Quanto ao elenco, o destaque é absoluto para Thomas Jane na composição do líder espiritual. Misturando a frieza, o comando e o nervosismo de um ditador, o ator incorpora assustadoramente bem sua versão de Jim Jones. Tanto nas expressões faciais ou mesmo na caracterização, ele dá vida a um personagem convincente e perspicaz, atraindo a atenção no modo como profere seus discursos e explica suas ideologias. Já Alba está bem como a obcecada Maggie, cujo pai tem uma grande relação com o massacre. Persistente e, por vezes, teimosa, ela parece disposta a buscar explicações, mesmo com o descontrole das situações.

Disponível na Netflix, A Seita dará uma impressão discreta sobre o que aconteceu em 78, sempre deixando claro que se trata de uma fantasia inspirada em um caso real. Pode interessar àqueles que querem entender como alguém consegue induzir pessoas a cometer crimes e suicídio, ainda que esteja distante de um retrato fiel de um passador assustador.

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Marcelo Milici

Professor e crítico de cinema há vinte anos, fundou o site Boca do Inferno, uma das principais referências do gênero fantástico no Brasil. Foi colunista do site Omelete, articulista da revista Amazing e jurado dos festivais Cinefantasy, Espantomania, SP Terror e do sarau da Casa das Rosas. Possui publicações em diversas antologias como “Terra Morta”, Arquivos do Mal”, “Galáxias Ocultas”, “A Hora Morta” e “Insanidade”, além de composições poéticas no livro “A Sociedade dos Poetas Vivos”. É um dos autores da enciclopédia “Medo de Palhaço”, lançado pela editora Évora.

One thought on “A Seita (2016)

  • 04/06/2021 em 02:19
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    Te amo Marcelo e queria esclarecer a dúvida se era realmente inspirado no lunático Hum Jones, obrigado por essa resenha maravilhosa! ❤️🇧🇷 E eu amei o filme, mesmo ele pecando muito, kkkk

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