A Garota na Névoa (2017)

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A Garota na Névoa
Original:La ragazza nella nebbia
Ano:2017•País:Itália, Alemanha, França
Direção:Donato Carrisi
Roteiro:Donato Carrisi
Produção:Maurizio Totti, Alessandro Usai
Elenco:Toni Servillo, Alessio Boni, Lorenzo Richelmy, Galatea Ranzi, Michela Cescon, Jean Reno, Lucrezia Guidone, Greta Scacchi, Jacopo Olmo Antinori

Se no cinema de horror de outrora, principalmente da Hammer e da Universal Pictures, a névoa servia como recurso macabro, hoje ela já adquire um sentido mais amplo nas narrativas. Ela simboliza a incerteza. Quando personagens estão envoltos em mistérios difíceis de solucionar ou se há dúvidas sobre o caminho a seguir, uma nuvem baixa e densa contribuirá para essa atmosfera reflexiva. O thriller ítalo-alemão A Garota na Névoa (La ragazza nella nebbia, 2017), de Donato Carrisi, teve uma exibição nebulosa em nossos cinemas em sua estreia em 8 de novembro do ano passado: além da dificuldade de encontrá-lo nas telas grandes, ainda havia a dúvida sobre seu enredo. Como uma aparente simples história de desaparecimento poderia se transformar numa produção de 2 horas e 8 minutos, com qualidade suficiente para merecer uma recomendação?

Logo no prólogo, com a câmera estática apontando para a frente de uma casa coberta por uma densa névoa, é possível ver uma garota saindo de casa, com a mochila nas costas até uma rápida parada, antes do corte inicial. Já é possível presumir que a jovem parou para alguém ou algum carro. Ela é Anna Lou Kastner (Ekaterina Buscemi), de 16 anos, desaparecida no dia 23 de dezembro na sonolenta cidade de Avechot. Na cena seguinte, o detetive Vogel (Toni Servillo), que acabara de sofrer um acidente sem grandes problemas, senta-se com o psiquiatra Augusto Flores (Jean Reno) a quem relata todos os acontecimentos, desde o sumiço até aquele momento importante.

Vogel foi chamado realmente para investigar o sumiço de Anna. Antes mesmo de iniciar a coleta de testemunhos, ele já adianta num café que a pequena cidade voltará a ter foco. E ele parece bastante preocupado com isso, tanto que sugere aos pais da garota, Maria (Daniela Piazza) e Bruno (Thierry Toscan), que eles façam um apelo na TV clamando pelo retorno da jovem. Já acreditando que ela está morta, Vogel apresenta suas intenções de alcançar popularidade ao ignorar as próprias dicas que fornece: durante um culto à garota, ele diz que o sequestrador/assassino geralmente está presente em eventos assim e ainda disposto a buscar um souvenir. As atenções se voltam para o adolescente Mattia (Jacopo Olmo Antinori), que costumava registrar com sua câmera os passos de Anna, e, consequentemente, o professor Loris Martini (Alessio Boni), que tem a vida perturbada pelos jornalistas e policiais.

Crescendo como uma bola de neve numa avalanche, o sumiço de Anna transforma a vida na cidade. Expostos, as máscaras dos residentes começam a cair – algumas propositadamente – e uma relação é feita com um crime do passado envolvendo um serial killer com ideias explosivas. Remetendo a outros longas como Terra Estranha (2015) e o ótimo Medo da Verdade (2007), A Garota na Névoa não se importa em se afastar do thriller investigativo para mostrar o quanto um acontecimento inesperado pode abalar a vida de muitas pessoas. Entre os familiares e amigos, há pessoas que pouco se importam com a garota desaparecida, apenas querem fazer notícia, elevar o turismo na cidade e alcançar o sucesso.

Assim, a névoa que atingiu Avechot, na belíssima fotografia de Federico Masiero, exibe suas muitas camadas densas e obscuras, e ao se dissipar revela mais do que um sequestrador ou um psicopata, mas toda a maldade humana disfarçada de aparentes cidadãos de bem.

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Marcelo Milici

Professor e crítico de cinema há vinte anos, fundou o site Boca do Inferno, uma das principais referências do gênero fantástico no Brasil. Foi colunista do site Omelete, articulista da revista Amazing e jurado dos festivais Cinefantasy, Espantomania, SP Terror e do sarau da Casa das Rosas. Possui publicações em diversas antologias como “Terra Morta”, Arquivos do Mal”, “Galáxias Ocultas”, “A Hora Morta” e “Insanidade”, além de composições poéticas no livro “A Sociedade dos Poetas Vivos”. É um dos autores da enciclopédia “Medo de Palhaço”, lançado pela editora Évora.

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