Jussara Figueredo: ela tem uma casa assombrada!

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Jussara Figueredo

Ela é jovem, bonita, inteligente, talentosa e tem uma casa assombrada só pra ela.

Jussara Félix Figueredo é uma cineasta excêntrica que um dia decidiu elaborar um documentário sobre o Centro de São Paulo e acabou descobrindo uma misteriosa e assustadora casa localizada na Praça Roosevelt. Adquiriu a compra do imóvel e passou a invocar as criaturas da noite para ajudá-la a contar a história da evolução no local em Terror na Praça Roosevelt.

Numa entrevista exclusiva ao Boca do Inferno, ela conta suas preferências no gênero, o processo de criação do filme, seus misteriosos personagens e curiosidades.

Boca do Inferno: Você gosta realmente de filmes de terror ou a casa teve alguma influência na escolha do gênero? Qual(is) filme(s) te inspirou(aram) no processo de criação do filme?

Jussara Figueiredo: Eu adoro filmes de terror!! Sempre gostei desde crianca! Gosto de Ed Wood, Russ Meyer, Zé do Caixão, os classicos italianos, japoneses….etc etc.

Gosto dos surreais também como Peter Greenaway, Bunuel…enfim posso ficar aqui horas falando dos filmes e diretores que eu admiro.

Boca do Inferno: Quando você teve seu primeiro contato com a casa? O que mais te chamou a atenção na primeira visita ao local assombrado?

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Jussara Figueiredo: … Que realmente era assombrado….as pombas, umas 200, a casa em ruina, mas com uma linda rosa no jardim.

Boca do Inferno: A casa é realmente assombrada? Você presenciou algum fato estranho e sem explicação relacionado à casa? (Lembre-se que muitos filmes do gênero tiveram problemas reais na sua produção como incêndios no set de filmagem, necessidade de um exorcismo…)

Jussara Figueiredo: Já aconteceram coisas bem esquisitas deste que a gente comprou a casa….Eu quebrei o meu pulso andando normalmente e tive que fazer uma operação bem séria, muita morfina e dor… Outro dia caiu um cara daqui do telhado da minha casa; houve um assalto, mas os ladroes foram surpreendidos por certas “armadilhas” do destino: caíram em buracos feitos no assoalho do andar de cima; houve também um curto no aquecedor de água, quase rolou um incêndio.
Além disso teve muita gente que simplesmente desapareceu, tipo sumiu de um dia pra o outro… sem deixar marcas.

Não precisamos de nenhum exorcismo pois logo que comprei a casa pedi pra minha mãe dar uma limpada no espaço…. e outro dia a antiga dona , a Bartira, me deu um pano branco com bordados pra eu colocar na porta da frente da casa e todos os “visitantes” são obrigados a deixar as más energias no pano. Então, não precisamos de exorcismo pois já estamos nos antecipando e nos protegendo…tipo AIDS: tem que se proteger usando camisinha…. no caso da casa também tento deixá-la limpa e com bom astral… ai nada acontece… e se pegar de verdade eu estou protegida… Tenho um Santo Antônio lá também…. e na primeira noite que dormimos la fizemos uma “macumba judaica“: diz a tradição da família polonesa judaica que, quando a pessoa vai dormir a primeira vez em uma casa nova tem que levar sal, açúcar, pão e vela. Resumindo, acho que estamos bem protegidos.

Boca do Inferno: Qual a dificuldade de se produzir um filme de terror no Brasil? As empresas investiram no projeto ou ainda existe um certo preconceito? Dizem que a mídia que mais funciona no gênero terror no Brasil é a literatura. Você concorda?

Jussara Figueiredo: Eu não sei muito do mercado de literatura…. mas o que sei é que no geral, no Brasil, o povo tem carência de coisas básicas: saúde, educação, comida… então, o entretenimento fica por último… filme de terror então nem se fala. Espero que o mercado literário esteja melhor… mas como eu disse acho que a cultura e educação como um todo sofrem com as nossas politicas.

Boca do Inferno: Qual é o orçamento total da produção? Ainda há necessidade de mais verba?

Jussara Figueiredo: Eu disse pra Lola Félix que eu tinha um orçamento de R$600 mil, mas na realidade eu não coloquei nada no papel… pelo simples fato de que não tenho tempo… tento ir em frente e nem pensar no prejuízo. Pensarei nisso depois… mas nao tenho ideia mesmo de quanto já gastei…. mas vou precisar saber quanto vou gastar. De qualquer forma, tenho sempre um plano B pra poder terminar o projeto… alias, há vários finais… e todos os atores estão escalados pra última cena… quem for, lindo, quem nao for, ok. Espero que todos os meus personagens apareçam. No meu caso, o talento das pessoas é muito importante, é o meu maior tesouro.

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Boca do Inferno: Teremos cenas de gore, sangue em profusão, órgãos expostos, violência? Como você criou seu sangue falso?

Jussara Figueiredo: Sangue falso!! ?? Quem disse que é falso??!! Tudo lá é de verdade ! Lembre-se que parte do filme é documental, então….

Boca do Inferno: O que funciona mais, terror sugerido ou explícito?

Jussara Figueiredo: Tem gente que gosta do sugerido e há outros que gostam do gore, do explícito, do grosseiro. Ainda não sei pra onde eu vou, mas acho que vou usar um pouco de tudo. Há cenas mais misteriosas e outras bem fortes… Há uma cena do cozimento da Hannelore, onde o cozinheiro abre a barriga dela e faz uma sopa com as vísceras. Achei normal mas tem gente que achou bem nojento. Sei lá, gosto é gosto e não se discute…

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Boca do Inferno: Como você conheceu Rubens Mello?

Jussara Figueiredo: Através do Orkut ou talvez por causa de uma anúncio no Cineforum… um dos dois, mas foi através de um anúncio que eu e o Alexandre Carvalho colocamos na web que tudo começou.

Boca do Inferno: Como surgiu a inspiração para a personagem Dimmy? Houve alguma inspiração em vampiros clássicos e sedutores?

Jussara Figueiredo: Pois é…essa parte é engraçada. Eu conheci a Dimmy Kieer, que é uma drag queen maravilhosa, e me apaixonei por ela… ela é o máximo! Eu já tinha pensado neste personagem depois de ver o filme Glen and Glenda, do Ed Wood, e também o Rock Horror Show… então, quando conheci a Dimmy Kieer, eu disse ‘putz , a dimmy tem que estar no meu filme de terror!‘ Aí, inventei uma personagem pra ela.

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Boca do Inferno: Como foi desenvolvido o reality show? Vi que você deu oportunidade para as pessoas se inscreverem pelo orkut…deu certo?

Jussara Figueiredo: Lógico que deu certo… Conheci o Rubens, conheci você… usei o Orkut como os americanos estão usando o MySpace, como uma ferramenta de trabalho não só como um Website de fofocas. Tentei tirar dele o que ele tem de melhor que é a possibilidade de Network com o Brasil todo.

Boca do Inferno: Quem está compondo a trilha sonora e incidental do filme? Como o processo está sendo desenvolvido?

Jussara Figueiredo: Outra pergunta complicada. Eu tenho vários parceiros, músicos que adoro, mas ainda nao fechei com ninguém. Eu quero colocar a nossa música, mas talvez eu tenha a colaboração de uma músico americano que esta fazendo Berkley. Ele ë bem jovem e talentoso, faz uma música erudita, dramática… mas também não sei se vai dar certo esse casamento, quero usar músicas do Sapo Banjo e o Edu Zambetti também entrou em contato comigo. Infelizmente a gente ainda não se conheceu pessoalmente. Vai rolar uma festona com show do Sapo Banjo e a galera do terror vai estar lá. E você, onde estará no dia 29 de outubro de 2006?

Boca do Inferno: Qual vai ser a censura do filme? Teremos um DVD cheio de extras?

Jussara Figueiredo: Censura?? Há censura, né? Tenho que pensar nisto… mas acho que meu público é jovem, teen… nao vou fazer nada hardcore… quero dizer , nada que eles não tenham visto (hahahaha) mas vai ter um monte de extras incluindo um documentário sobre a Praca Roosevelt entre outras atrações.

Boca do Inferno: Como era a Jussara antes de conhecer a casa? Seus trabalhos anteriores…Houve alguma mudança em seu estilo?

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Jussara Figueiredo: Outra pergunta super difícil… Como eu era? Sei lá… isso quem tem que responder são os outros… eu acho que sou eu mesma sempre, Nada mudou. Continuo reciclando, continuo adorando doces, continuo tendo insônia, mas agora moro numa casa assombrada e é bom. Estou bem feliz com meus monstros, demônios e fantasmas.

Boca do Inferno: Já teve algum contato com o mestre José Mojica Marins? Ele sabe do seu trabalho com a casa? Ele vai ter alguma participação no filme?

Jussara Figueiredo: Fui falar com o Zé Mojica, sim… Ele é o máximo mas não sei se ele vai estar disponível pra fazer alguma participação . Ele está fazendo um longa com o Denilson..então , se ele tiver um tempinho, vou adorar fazer uma entrevista com o Mestre.

Boca do Inferno: Cenas escuras, cortes rápidos, ângulos diversificados…como está sendo desenvolvido o trabalho de direção do filme?

Jussara Figueiredo: Há uma direção eclética como a arquitetura da casa. Tenho várias câmeras e mídias então tem diferença no olhar, no material, na textura. Há também o lado documental que não dá pra se preocupar com a luz, ângulos… o lado realista capta o instantâneo, o momento. Vai ter também a parte de época que é mais pensada e trabalhada. Nessa parte vamos ter cenas mais longas e diálogos que contam parte da história da casa junto com a própria história de São Paulo. Nessas cenas vou ter a contribuição do cinegrafista Christian Lesage.

Boca do Inferno: Você já viu aquele passeio em São Paulo pelas casas assombradas? A casa da Praça Roosevelt está no roteiro?

Jussara Figueiredo: Não, não tá.

Boca do Inferno: Depois de Terror na Praça Roosevelt, o que virá em seguida?

Jussara Figueiredo: Se eu sobreviver… às vezes acho que não vou conseguir chegar até o final deste projeto.

Boca do Inferno: O que mais você tem a dizer para os infernautas que visitam o Boca do Inferno e estão curiosos em conhecer o seu trabalho?

Jussara Figueiredo: Queridos Infernautas….Eu tenho muito medo!!!!!

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Marcelo Milici

Professor e crítico de cinema há vinte anos, fundou o site Boca do Inferno, uma das principais referências do gênero fantástico no Brasil. Foi colunista do site Omelete, articulista da revista Amazing e jurado dos festivais Cinefantasy, Espantomania, SP Terror e do sarau da Casa das Rosas. Possui publicações em diversas antologias como “Terra Morta”, Arquivos do Mal”, “Galáxias Ocultas”, “A Hora Morta” e “Insanidade”, além de composições poéticas no livro “A Sociedade dos Poetas Vivos”. É um dos autores da enciclopédia “Medo de Palhaço”, lançado pela editora Évora.

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