Metro Exodus (2019)

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Original:Metro Exodus
Ano:2019•País:Ucrânia
Desenvolvedora:4A Games•Distribuidora: Deep Silver

É sempre interessante ver um jogo vindo por fora do circuito das superprodutoras ganhar destaque, mas quando tratamos da franquia Metro, esse interesse é ainda maior. Produzido pela ucraniana 4A Games, os jogos Metro 2033 e Metro: Last Night ganharam um status de cult entre os consumidores, mas é agora, com o maior e ousado Metro Exodus, que a franquia baseada numa Rússia pós-apocalíptica ganha novas proporções, num game que mesmo sem ser muito inovador consegue ser envolvente, nos surpreender e até mesmo mexer com nossas emoções.

Logo que damos início a Metro Exodus, uma bela animação resume o cenário onde iremos parar. Seguindo uma linha do tempo alternativa, o mundo entrou em um conflito bélico de proporções gigantescas, resultado numa guerra nuclear. Dos mais de 7 bilhões de humanos na Terra, fomos reduzidos a um número insignificante. E em Moscou, extremamente atingida por explosões nucleares, a sobrevivência só foi possível no subterrâneo, nos túneis de metrô, onde uma nova ordem de civilização foi criada, enquanto a superfície era dominada por mutantes monstruosos junto ao terror invisível da radiação.

Assumindo o controle do lendário soldado Artyom, se nos primeiros Metro tínhamos jogos mais voltados para o horror de sobrevivência nesses túneis, o novo título não tem o nome Exodus a toa. Na primeira hora do jogo, o sonho de Artyom de vasculhar o mundo por sobreviventes e locais melhores para viver toma forma, quando junto com sua mulher Anna, descobre sobreviventes fora de Moscou. Após um conflito com um grupo militar que revela a missão de manter os sobreviventes da capital russa sem saber que existe vida além dos túneis, Artyom e Anna se veem obrigados a fugir, embarcando num trem com seu grupo militar Spartan, comandados pelo coronel Miller, pai de Anna. E é aí que uma longa jornada de ação, que consegue ser ao mesmo tempo bela e melancólica, começa.

Metro Exodus é basicamente um jogo de tiro em primeira pessoa que varia entre áreas de mapas abertos e fechados para contar sua história. De cara, ficamos impressionados pelos gráficos. Belíssimos e muito realistas, a composição do jogo vai muito além, com todo um cuidado no design de lugares e personagens que nos lembram o tempo todo que estamos numa aventura russa e não em cenários genéricos. A dublagem em inglês, mas com o tradicional sotaque russo-de-filme-americano, ajuda a familiarizar um público ainda maior neste que é o maior jogo da franquia, com cerca de 18 horas de duração.

Baseado na série de livros homônima do escritor russo Dmitriy Glukhovskiy, Metro Exodus preza principalmente pelo enredo. Além da história bem contada por longas cutscenes, há milhares de linhas de diálogo para serem acompanhadas, um diário para ser lido sempre que atualizado e um rádio para sintonizar e descobrir mais do enredo, além de um número sem conta de anotações espalhadas pelos cenários. A consequência principal é o carisma. Somos empurrados a gostar do grupo de Artyom, mesmo com as intrigas e problemas constantes eles são um bando unido e que encontram apoio um no outro com frequência, sempre se permitindo que os sentimentos aflorem mesmo entre soldados. O destaque é definitivamente de Anna. Completamente apaixonada e devota pelo marido, ela ainda é uma militar de primeiro escalão. Forte, mas sonhadora por um lar e filhos um dia, é dela que temos os momentos mais acolhedores do jogo, mesmo num lugar cada vez mais sem esperanças.

A jogabilidade é fluída, mas não espere dinamismo e rapidez. Artyom usa equipamentos e armadura pesados. Ele é razoavelmente lento, não aguenta correr muito e é no realismo do jogo que mora sua grande dificuldade. Apenas três balas são o suficiente para matar seu personagem, recursos para construção de munição e kits de saúde não estão disponíveis em grande quantidade e a radiação é uma inimiga constante, necessitando o uso de máscaras de proteção que quebram facilmente com impactos corporais.

Por isso é necessário cuidado na abordagem de pessoas. No primeiro mapa aberto do jogo, por exemplo, encontramos um grupo bastante hostil de fanáticos religiosos. Avançar nos locais dominados por eles em stealth pode ser mais vantajoso para guardar balas, essenciais contra os mutantes, mas exige muito mais que simplesmente escolher o fácil caminho de abrir fogo. Metro exige um equilíbrio entre a ação e o stealth, ou avançar com os poucos recursos de um mundo pós-apocalíptico beira o impossível.

Falando em fogo, o sistema de armamento é simplesmente uma delícia. Com uma boa variação de armas, encontrar partes delas espalhadas pelos mapas lhe dá um número sem igual de possibilidades de mudar seus equipamentos. Miras, canos, pentes, tambores… quase tudo na sua arma é personalizável para deixá-las da maneira que você quer.

Como este é um raro FPS sem elementos de RPG (tão populares nessa geração), Metro Exodus busca compensar no avanço de sua campanha, ainda que piegas em alguns momentos. Começando com a explosiva fuga de Moscou e avançando pelo país pelo período de um ano a bordo do trem Aurora, pode ser deslumbrante para o jogador ver as mudanças de cenários apresentados. Do deserto ao estilo Mad Max governado por um louco, a um vale intocado pela guerra onde crianças viraram adultos guerreiros infantilizados e um momento único num bunker, nada neste jogo é desinteressante.

E ainda assim, Exodus se guarda para revelar seus momentos de maior terror no final. Onde mesmo numa fase mais linear, os últimos acontecimentos do jogo são os mais envolventes e angustiantes, com o melhor desenvolvimento de seu roteiro e um final apoteótico, que pode variar positivamente ou negativamente, dependendo de seu comportamento durante o jogo.

Mas nem só de méritos vive essa obra ucraniana. Em seu lançamento, Metro Exodus veio com um número exagerado de bugs que precisaram ser corrigidos com atualizações. Inimigos que apareciam do nada, corpos mortos que ficavam tremendo em tela, as vezes até flutuando e um número considerável de denúncias de travar os consoles completamente, inclusive mais de uma vez. Quase tudo isso já foi corrigido pouco tempo depois por atualizações e hoje o jogo roda muito melhor em suas plataformas, mas a imagem inicial ficou arranhada em seu lançamento.

Outro problema vem da proposta do personagem. Artyom é completamente mudo. Tirando os carregamentos das telas de loading (razoavelmente longos), você não ouvirá a voz dele. O conceito de personagens principais mudos foi amplamente utilizado nesta geração para dar uma ideia do jogador realmente ser o protagonista, mas além de uma ideia ultrapassada, ela não faz sentido quando uma história tão complexa é contada.

Ainda assim, Metro Exodus é um baita feito principalmente para a proposta da própria franquia, ao buscar alcançar um público maior com ideias mais amplas. Um presente ucraniano com todo o charme que apenas uma equipe militar russa é capaz de entregar.

O jogo está disponível para PlayStation 4, Xbox One e PC.

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Samuel Bryan

Jornalista, acreano, tão fã de filmes, games, livros e HQs de terror, que se não fosse ateu, teria sérios problemas com o ocultismo. Contato: games@bocadoinferno.com.br

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