O Pacto (2010)

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O Pacto
Original:Horns
Ano:2010•País:EUA
Páginas:317• Autor:Joe Hill•Editora: Arqueiro

Todos nós guardamos segredos. Normalmente, a maior parte deles é inofensiva, porém existem alguns mais obscuros, que não contaríamos a ninguém. O que você faria se pudesse descobrir os segredos mais bem escondidos de outras pessoas sem qualquer esforço? Não algo do tipo “recebi um troco a mais na padaria e não devolvi”. Pense em alguma coisa nessa linha:

“Uma vez por mês, me permito um dia de saúde mental e fico em casa. Visto uma calcinha da minha mãe e fico excitado. Para uma coroa até que ela tem umas coisas bem sacanas. Ela tem um corpete muito bonito, de cetim preto, com barbatanas nas costas e cheio de fitas”.

Em O Pacto, lançado por Joe Hill em 2010, somos apresentados a Ignatius Perrish, ou simplesmente Ig, um cara de vinte e poucos anos que, às vésperas do aniversário de um ano do estupro e assassinato de sua namorada, acorda com chifres. Ig não demora a descobrir que as pessoas a seu redor são afetadas por eles. Sem sequer serem questionadas, elas contam a Ig seus segredos mais obscuros, o que já fizeram ou têm vontade de fazer, mas que não compartilhariam com mais ninguém. Além disso, com os chifres Ig pode dar aquele empurrãozinho que as pessoas precisam para cometer tais pecados.

Depois de conversas constrangedoras e de revelações feitas por sua família, Ig acaba descobrindo, logo nas primeiras páginas, quem é o assassino de sua namorada, Merrin. A partir daí, o jovem começa a planejar sua vingança, tornando-se cada vez mais parecido com um demônio no caminho.

Mais do que uma história de terror, O Pacto trata de uma tragédia romântica com elementos sobrenaturais e religiosos. Joe Hill faz um ótimo trabalho na construção dos personagens, criando um protagonista por quem torcemos, ainda que ele esteja se transformando no próprio Diabo. Aqui, o Diabo não é o vilão, mas um anti-herói, que age mais como um justiceiro. O autor intercala os dois dias infernais na vida de Ig com eventos que se iniciaram dez anos antes, quando ele e Merrin se conheceram, e nos apresenta as situações que aconteceram desde então e que culminaram na tragédia que mudou completamente a vida do protagonista e das pessoas ao seu redor.

Ainda que existam trechos muito previsíveis, Hill soube acrescentar algumas reviravoltas inesperadas e eficientes ao enredo. Temas religiosos são usados de maneira pouco ortodoxa, e, ao longo dos capítulos, nos deparamos com várias referências musicais (uma das quatro partes em que o livro é dividido se chama “Evangelho Segundo Mick e Keith”) e cinematográficas (Merrin e sua irmã, Regan, têm os mesmos nomes dos personagens principais de O Exorcista). Vale a pena conhecer a obra, uma história original e bem amarrada, difícil de ser deixada de lado.

Antes de O Pacto, Joe Hill lançou a coletânea de contos Fantasmas do Século XX e o livro A Estrada da Noite. O autor já ganhou diversos prêmios por suas obras, e é considerado um dos grandes novos nomes da literatura de terror, seguindo os passos de seu pai, Stephen King. O Pacto é o primeiro livro de Hill a ser adaptado para os cinemas: o longa Horns, estrelado por Daniel Radcliffe e Juno Temple, tem estreia marcada para o dia 11 de outubro nos Estados Unidos.

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Silvana Perez

Escolheu alguns caminhos errados e acabou vindo parar na Boca do Inferno em 2012. Apresenta o podcast do site, o Falando no Diabo, desde 2019. Fez parte da curadoria e do júri no Cinefantasy. Ainda fala de feminismos no Spill the Beans e de ciclismo no Beco da Bike.

9 thoughts on “O Pacto (2010)

  • 10/07/2014 em 00:41
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    Nunca, NUNCA, irá se equiparar à narrativa assombrosa de Stephen King!! Jamais! Os dois romances de Hill possuem premissas fantásticas e introduções animadoras para um fã da literatura fantástica, porém, sua narrativa arrastada e a falta de habilidade para o desenvolvimento das personas – diferentemente de seu pai – impede que seus livros sejam page turners. O maior dom, o maior talento de King, ele não tem – transformar o mais asqueroso dos seres em alguém com quem o leitor pode involuntariamente se identificar! Trazer empatia para o mais desumano dos seres em certas ocasiões, fazer o leitor amar um vilão e odiar um herói, se assustando com o próprio fato, de que não existe preto no branco para ninguém! Essa capacidade extraordinária o ordinário Joe Hill nunca terá!

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    • 10/07/2014 em 00:55
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      A propósito, muito melhor desenvolvido – devo admitir – que A Estrada da Noite, publicação que chegou a ser vergonhosa. Infelizmente, sabemos que o único motivo de ter sido bestseller foi sua Árvore Genealógica.

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  • 02/08/2013 em 13:06
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    muito massa acabei de ler hj, gostei bastante , lembra o estilo do king alias, falando sobre garotos, turmas de amigos, desenvolvendo bem a historia dos personagens etc..

    gostei muito, e gostei mais ainda do “fantasmas do seculo XX”, muto treta !

    voui ler agora o “a estrada da noite”

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    • 10/08/2013 em 02:23
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      a estrada da noite é muito bom também mas achei melhor o pacto

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  • 09/07/2013 em 00:14
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    Esse livro me divertiu pra caramba! As confissões dos “vítimas dos chifres” foram escritas de uma forma tão natural mas ao mesmo tempo tão chocante que parece que os personagens estão na nossa frente!

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  • 02/07/2013 em 14:53
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    fiquei com vontade de ler 🙂

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  • 02/07/2013 em 14:39
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    Ótima crítica!!! Joe Hill tem mesmo a quem puxar, o grande Stephen King. Vale lembrar também que Joe Hill lançou recentemente seu novo livro NOS4A2, ainda inédito no Brasil, que está dando o que falar.

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      02/07/2013 em 21:41
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      Obrigada, Calil!
      Já ouvi falar muito bem de NOS4A2. Espero que não demore a chegar por aqui.

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