Twin Peaks – 2ª Temporada (1991)

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Twin Peaks - 2ª Temporada
Original:Twin Peaks - Season Two
Ano:1991•País:EUA
Direção:David Lynch, Lesli Linka Glatter, Caleb Deschanel, Duwayne Dunham, Tim Hunter, Todd Holland
Roteiro:Mark Frost, David Lynch, Harley Peyton, Robert Engels, Barry Pullman, Tricia Brock, Scott Frost
Produção:Harley Peyton, David J. Latt
Elenco:Kyle MacLachlan, Michael Ontkean, Mädchen Amick, Dana Ashbrook, Richard Beymer, Lara Flynn Boyle, Sherilyn Fenn, Warren Frost, Peggy Lipton, James Marshall, Everett McGill, Jack Nance, Joan Chen, Kimmy Robertson, Michael Horse, Piper Laurie, Harry Goaz, Ray Wise, Wendy Robie, Eric DaRe, Sheryl Lee, Russ Tamblyn, Don S. Davis, Grace Zabriskie, Billy Zane, Heather Graham

A segunda passagem pela cidade de Twin Peaks foi mais duradoura e permitiu uma exploração mais ampla da região e de seus moradores. Trouxe mais conflitos, situações inesperadas e momentos bizarros com a marca das esquisitices de David Lynch, embora fique evidente a diminuição da sua força narrativa pelo alongamento de subplots fracos e acréscimos que não conduziram a narrativa a lugar algum. Seria estranho – apesar desse adjetivo ser frequente nos produtos do cineasta – se o enredo conseguisse se sustentar apenas no mistério sobre a morte de Laura Palmer (Sheryl Lee), como basicamente foi a primeira temporada. Assim, a identidade do assassino foi revelada nos primeiros 9 episódios, e outros problemas começaram a se desenvolver no local, como a volta de um velho inimigo e a busca por um lugar místico, a fonte de energia de Twin Peaks.

Assim, no dia 30 de setembro de 1990, teve início a segunda temporada da série, exatamente onde terminou a primeira. Enquanto a serraria se incendiava com Catherine (Piper Laurie) presa em seu interior e Leo (Eric DaRe) era baleado por Hank (Chris Mulkey), o Agente Dale Cooper (Kyle MacLachlan) é surpreendido por uma pessoa mascarada em seu apartamento, levando três tiros. Graças ao colete à prova de balas, Dale não foi ferido mortalmente, mas teve que aguentar pacientemente o serviço de quarto realizado por um senhor bem idoso, atrapalhado e lento, interpretado de maneira bem-humorada por Hank Worden.

Caído no quarto, o agente começa a delirar, e tem mais uma de suas visões que antecipam pistas importantes, desta vez com a presença de um gigante. Ele conta a Dale três premonições: “Há um homem em um saco sorridente.“, “As corujas não são o que aparentam.“, “Sem produtos químicos, ele aponta.” (numa tradução livre). E leva o anel de Dale, prometendo devolvê-lo, após os três acontecimentos. Além do agente, Leo também sobrevive ao tiro, ficando em estado vegetativo no hospital – uma oportunidade para sua esposa Shelly (Mädchen Amick) pensar numa maneira de lucrar com o seguro, a partir da ideia de seu amante Bobby Briggs (Dana Ashbrook). Nadine (Wendy Robie), que havia tentado se matar no final da temporada, está em estado crítico no hospital, somente para depois acordar com a mentalidade de uma garota de 18 anos, e permitir alguns momentos hilários (e exagerados).

Com essas pequenas confusões, Dale tem uma preocupação maior, além de tentar desvendar o crime, e as mensagens oníricas: Audrey (Sherilyn Fenn) está presa no Caolho Jack sob o olhar interesseiro de Jean Renault (Michael Parks), que além de buscar um resgate gordo de Ben Horne (Richard Beymer) pretende vingar a morte de seu irmão Jacques (Walter Olkewicz), envolvido no último dia de vida de Laura. Dale contará com a ajuda do xerife Harry (Michael Ontkean) na missão de invadir o local para salvá-la, mas o ato trará oficiais do FBI para lhe tirar o distintivo e a arma, devido a problemas de juridição, tornando-o apenas um policial designado, alterando inclusive sua vestimenta.

A morte de Laura voltará à tona com mais um assassinato: Maddy (também Sheryl Lee) terá o mesmo destino da prima, mas permitirá que o público identifique o culpado e entenda que sua ação se deve à possessão de uma entidade maligna, conhecida como Bob (Frank Silva), que vive no obscuro Black Lodge. A descoberta encerrará o mistério, mas não a temporada, com a volta à cidade de um inimigo pessoal de Dale, o terrível Windom Earle (Kenneth Welsh), um ex-parceiro do agente e que foi responsável pela morte da mulher de sua vida, Caroline. A disputa vai além de ameaças e assassinatos, mas na simbologia de uma partida de xadrez, com cada passo do vilão conduzindo a uma vítima fatal.

Leo voltará à consciência, e trará alguns momentos de tensão para Shelly. Mas, é evidente que alguns personagens perderam força na temporada como Hank, Bobby e, principalmente, James (James Marshall). Depois da morte de Maddy, ele fugiu da cidade de moto e se envolveu com uma moça, servindo como marionete na condução de um assassinato. Sem função, Donna (Lara Flynn Boyle) conheceu o recluso Harold (Lenny von Dohlen) vizinho de uma senhora que vive com seu estranho e mágico neto. Harold possui o diário secreto de Laura, com revelações que ajudam a identificar o assassino, a partir de ataques sexuais sofridos durante à noite. Mais para o fim da temporada, a melhor amiga de Laura começa a investigar seu passado e descobre um mistério envolvendo seu verdadeiro pai, com fins apenas melodramático.

Por outro lado, entre plots bobos, há a interessante disputa entre o policial Andy (Harry Goaz), sua namorada grávida Lucy (Kimmy Robertson) e um caso que ela teve com o expressivo Dick (Ian Buchanan). Com uma narrativa quase teatral, os três garantem alguns momentos divertidos, sem superar a chegada do supervisor de Dale, o deficiente auditivo Gordon Cole, interpretado pelo próprio David Lynch. Necessitando falar alto pela dificuldade em ouvir, ele confunde as falas e criar gags divertidas como a da cena em que ele se tranca com Dale e Xerife para uma conversa particular. “Acredito que todos da delegacia estejam nos ouvindo.

Nessa temporada, também vieram outros personagens curiosos como o agente de narcóticos Dennis/Denise (o impagável David Duchovny), a sedutora Vivian (Jane Greer) e o interesse amoroso de Dale, Annie Blackburn (a sempre bela Heather Graham), que será sequestrada pelo vilão no episódio final. A série terminará com o concurso de beleza Miss Twin Peaks, vencido por Laura no ano anterior, trará algumas boas cenas, alguns momentos confusos e poucas respostas. Como a série foi cancelada, o final abrupto deixou de concluir diversos segmentos envolvendo o destino de vários personagens, e deixou de encerrar os conceitos sobre as entidades duplicadoras, os tais doppelgänger, que responderia pelas ações do assassino de Laura e algumas mudanças de comportamento vistos na temporada.

A exploração da caverna e o mapa construído para a localização de Black Lodge contribuíram para que a série fosse além de um thriller de mistério sobre um crime ocorrido em uma cidade pequena. Tais acréscimos depois incentivariam outras séries a trabalhar com o desconhecido, o sobrenatural e o fantástico, explorando ambientes reduzidos e personagens ricos. Depois viria no ano seguinte o longa Twin Peaks: Os Últimos Dias de Laura Palmer (Twin Peaks: Fire Walk with Me, 1992), e o anúncio da realização de uma nova temporada, com o retorno de boa parte do elenco. Parece que a cidade ainda tem muito o que contar…

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Marcelo Milici

Professor e crítico de cinema há vinte anos, fundou o site Boca do Inferno, uma das principais referências do gênero fantástico no Brasil. Foi colunista do site Omelete, articulista da revista Amazing e jurado dos festivais Cinefantasy, Espantomania, SP Terror e do sarau da Casa das Rosas. Possui publicações em diversas antologias como “Terra Morta”, Arquivos do Mal”, “Galáxias Ocultas”, “A Hora Morta” e “Insanidade”, além de composições poéticas no livro “A Sociedade dos Poetas Vivos”. É um dos autores da enciclopédia “Medo de Palhaço”, lançado pela editora Évora.

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