Um Pesadelo Americano: A História do Exploitation – Parte 1

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Capítulo 2 – Renegados da Sétima Arte – Os Independentes e a Crítica Especializada

A opinião crítica que prevalecia nos anos 70 insistia no preconceito de que os filmes de horror “meramente explorativos” não deveriam ser colocados lado a lado com mestres da nova Hollywood. Até um poderoso filme como Despertar dos Mortos (muito mais pessimista em sua dimensão política que o antecessor) era classificado como um lixo revoltante a ser admirado somente por sátira social e o espetáculo cartunesco de selvageria.

Porém, o tempo cuidou de acalmar a maneira com que os críticos viam estas produções. Principalmente por dois fatores: uma mudança social na visão da violência na tela e as carreiras subsequentes no mainstream de diretores de exploitation (mais detalhes nos próximos capítulos).

Não é errado dizer que os gostos e estilos mudam com o tempo: o gênero horror, junto com a comédia, tem sido um bom medidor para aferir a maneira como os tabus e barreiras sociais se modificam, se dissolvem e se reformam. A notoriedade dos longas com uma assinatura peculiar dos que se deram bem como independentes como George Romero e David Cronenberg são fatores que colocaram os exploitations de volta nos holofotes.

Exploitation

Ainda assim, como uma forma de cinema marginal por suas próprias origens, os exploitations nunca foram motivos para que se fizessem uma profunda abordagem acadêmica (bem semelhante à Boca do Lixo brasileira). Os livros para os estudantes de cinema americanos não possuem mais do que alguns parágrafos sobre o movimento, o que é um descompasso aterrador se considerarmos o alcance e o apelo público que estas obras tiveram em sua época.

Este descaso foi causado por uma combinação de fatores: o estilo “low-profile” das produções, sua natureza efêmera e descentralizada (um monte de diretores e roteiristas que só fizeram ‘aquele‘ filme e evaporaram, assim como outras tantas produtoras abriram e fecharam em velocidade assustadora) e sua falta de identidade enquanto gênero próprio.

Do ponto de vista crítico, apenas duas menções são feitas com frequência: a American International Pictures (AIP), de Sam Arkoff, e a Roger Corman Productions, duas empresas sólidas, porém cujas veredas no exploitation representam apenas uma fração do total do que foi realizado no período de popularidade.

Especificamente Corman e a AIP tem suas produções bem documentadas por que vários apadrinhados por eles em começo de carreira conseguiram passar para o mainstream (como Francis Ford Coppola e Martin Scorsese) atraindo a atenção para o “ninho” de onde eles vieram e, no caso específico de Corman, a ajuda da popularidade de seu próprio trabalho como diretor.

Herschell Gordon Lewis
Herschell Gordon Lewis

Às vezes acontece de uma figura icônica como John Carpenter ou Wes Craven, nascidos nesta margem do exploitation, serem erguidos nos ombros do reconhecimento crítico. Repentinamente é decretada a metamorfose do diretor de pária do exploitation a herói independente, o que não seria errado, exceto que suas primeiras produções passam a ser celebradas pelos “círculos de arte” a despeito de centenas (ou até milhares) de outras que morrem na periferia.

Isso acabou formando – para os críticos do “círculo” – uma galeria petrificada e imutável dos independentes consagrados, ignorando e engessando os rostos menos conhecidos. Prova disso é a situação similar ocorrida com Dario Argento, que só teve seu trabalho exaltado nos Estados Unidos no início dos anos 90, quando todos os seus maiores clássicos já haviam sido lançados.

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Gabriel Paixão

Colaborador e fã de bagaceiras de gosto duvidoso. Um Floydiano de carteirinha que tem em casa estantes repletas de vinis riscados e VHS's embolorados. Co-autor do livro Medo de Palhaço, produz as Horreviews e Fevericídios no Canal do Inferno!

3 thoughts on “Um Pesadelo Americano: A História do Exploitation – Parte 1

  • 19/08/2023 em 08:12
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    Excelente. O cinema exploitation é inspiração massiva para quem quer produzir material de forma independente e marginal.

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  • 23/12/2014 em 00:42
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    Excelente texto, Gabriel. Deveras interessante.

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