Mama (2013)

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Mama (2013)
Cem minutos que não se equiparam aos três do curta
Mama
Original:Mama
Ano:2013•País:Espanha, Canadá
Direção:Andrés Muschietti
Roteiro:Andrés Muschietti, Neil Cross,
Produção:J. Miles Dale, Barbara Muschietti
Elenco:Jessica Chastain, Nikolaj Coster-Waldau, Megan Charpentier, Isabelle Nélisse, Daniel Kash, Javier Botet, Jane Moffat, Morgan McGarry, Julia Chantrey, Ray Kahnert, Matthew Edison

por Tiago Toy

“Um fantasma é uma emoção em sua forma distorcida, condenado a se repetir até que seu erro seja corrigido.”

Lembro de quando assisti no Youtube ao curta intitulado Mama. As opiniões não variavam; eram todas muito positivas. Fiquei curioso e pensei “O que um vídeo de pouco mais de três minutos tem para ser tão bom?”. Assisti, e descobri. Não era apenas bom. Era arrepiante.

Logo surgiu um nome de peso, Guilherme Del Toro, distribuindo elogios e disposto a transformar a ideia em algo grande. Era a oportunidade que o diretor do curta, o espanhol Andrés Muschietti, precisava. Não demorou a anunciarem o longa de Mama. A premissa simples de duas irmãs pequenas acordando no meio da noite, assustadas com a presença da entidade de mesmo nome do título. Uma figura feminina distorcida com uma aura sobrenatural pairando ao redor. Bastou uma única olhada em Mama para o espectador sentir o arrepio almejado e dificilmente alcançado por inúmeras produções do gênero.

A pergunta é: O longa é tão bom quanto o curta?

Mama se inicia de maneira urgente, com um pai, Jeffrey (Nikolaj Coster-Waldau, o Jaime Lannister de Game of Thrones), fugindo às pressas com suas filhas de um e três anos, respectivamente Lily e Victoria, enquanto a rádio noticia um crime cometido por ele, no que resultou em diversas mortes, inclusive a de sua ex-mulher. Na estrada, em um belo cenário coberto por neve, Jeffrey perde o controle e o carro despenca morro abaixo. Abandonando o veículo, ele vaga com as meninas pela floresta e se depara com uma cabana aparentemente abandonada. Cedendo ao desespero, se prepara para matar as filhas, mas é puxado para as sombras e tem o pescoço quebrado por um ser de aparência sinistra. As pequenas veem uma cereja rolar da escuridão antes de conhecerem a moradora da cabana.

Cinco anos se passam.

Nesse tempo, o irmão gêmeo de Jeffrey, Lucas, investe os poucos recursos que possui para encontrá-las. Dois amigos de Lucas mantém um mapa como controle das áreas já verificadas e finalmente encontram o veículo abandonado de Jeffrey. Com o auxílio de um cão-guia, encontram a cabana e, consequentemente, as meninas. Sujeitas a uma existência selvagem, se tornam sombras de crianças, cobertas de sujeira e se movimentando de forma incômoda para quem vê, como animais. É perturbador.

Lucas luta na justiça contra a tia por parte de mãe das meninas para conseguir sua guarda. Com a ajuda de sua namorada roqueira, Annabel (interpretada por Jessica Chastain, mas que eu jurava ser Penélope Cruz), Lucas precisa criar e encaixar Lily e Victoria novamente no seio da civilização. Não será tarefa fácil, principalmente quando Mama retornar ao seu posto de guardiã das crianças.

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Sem dúvida Mama é uma intrigante história de fantasma recheada de emoções e calafrios. É agradável de assistir, mas não arrisca na profundidade. O desempenho de Jessica Chastain, uma mulher com jeito de adolescente rebelde e nem por isso caricata, é sólido, mas os holofotes são roubados pelo talento prematuro e atuação selvagem de Megan Charpentier e Isabelle Nélisse. As atrizes-mirins são substituídas quando os anos se passam, e cada uma delas parece ter sido escolhida a dedo. As Lily-de-1-ano e Victoria-de-3-anos são tão lindas que conquistam o coração do espectador sem precisar tentar. Então entram em cena as mais velhas, citadas acima, e cumprem bem seu papel. Megan Charpentier não é nenhuma iniciante, já tendo dado as caras em Jennifer’s Body, Red Riding Hood, e Resident Evil: Retribution, e lida com o tema pesado com equilíbrio e maturidade, dosando inocência e experiência. Traumatizada pelo passado, talvez seu coração tenha se tornado mais duro do que a maioria das crianças de sua idade, o que a ajudou a sobreviver. Ainda assim, mostra vislumbres de uma menina que só quer uma mãe. Isabelle Nélisse é, em minha opinião, genial como a pequena Lily. Felizmente o CGI não dominou seus movimentos por muito mais tempo, e permitiu que ela criasse, por conta própria, uma animalidade fascinante de assistir. Quando ela brinca, come ou apenas sorri é como estar assistindo a uma criança selvagem de verdade em um documentário.

Se o filme pecou, foi na concepção de Mama. Criada em CGI e tomando como base um ator muito alto e magro (Javier Botet), sua aparição não é eficiente como a apresentada no curta. Lembro da sensação que me atingiu quando a vi surgir no fim daquele corredor, os cabelos anti-gravidade, caminhando de forma capenga e com os braços abertos. Até hoje sinto certo choque. O CGI nem sempre é a melhor ferramenta, e aqui isso fica claro. Soa por demais artificial, se não cômico. Seu rosto, excentricamente assimétrico, é assustador e triste, mas deveras forçado. Quando você finalmente olha em seus olhos, suas expectativas são banhadas com água fria. Não digo que o CGI é porco (especialmente na cena final), mas considerando que a intenção era assustar, a falha é grave. Há sim sustos, naqueles momentos de “faça a cara dela surgir de repente na tela e aumente o volume no máximo, tudo junto”. Confesso que pulei duas ou três vezes no cinema, mas nada que perpetue.

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Por outro lado Mama é a única personagem com uma história mais profunda. Nunca sabemos, por exemplo, o que levou Lucas a cometer os assassinatos, ou porque Annabel parece tão revoltada. Mama, por sua vez, ganha uma lenda própria e plausível e é um daqueles vilões que conquistam a simpatia do público.

Um dos motivos pelo qual amo o gênero é o fato de não serem obrigados pelas limitações habituais de visionários, digamos, italianos neorrealistas. Histórias trágicas são excitantes e, ao mesmo tempo, incoerentes. Mama é original ao narrar a ligação mãe-filho. Claro que não há aquilo de “enredo completamente original”, mas há uma visão original. Ainda que carregado de clichês, grande parte é utilizada de forma correta para submergir o espectador na trama. O longa não é um mar de rosas. Em determinado ponto senti que ficou arrastado, e não consegui conter alguns bocejos. É aí que um clichê pode ser bem utilizado: forçando um susto em quem assiste. Pode não ser a tática mais madura, mas funciona de certa forma.

Mama não chega à altura de outros thrillers sobrenaturais, tampouco do curta original. Como história de fantasmas, está mais para The Woman in Black do que para Paranormal Activity. É até bem previsível, e o desfecho não satisfaz. É bem construído e pode deixar um nó na garganta do espectador mais sentimental, mas acaba tropeçando em sua própria construção. Com isso dito, ainda assim é uma experiência prazerosa, e eu definitivamente assistiria uma continuação.

Mas fico com o curta. Esse sim dá medo.

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Um infernauta com talentos sobrenaturais convidado a ter seu texto publicado no Boca do Inferno!

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