Pânico (1976)

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Pânico (1976)

Pânico
Original:Bakterion
Ano:1976•País:Itália, Espanha
Direção:Tonino Ricci
Roteiro:Víctor Andrés Catena, Jaime Comas Gil
Produção:Marcello Romeo
Elenco:David Warbeck, Janet Agren, Roberto Ricci, José Lifante, Miguel Herrera, Eugenio Benito, Ovidio Taito, José María Labernié, Ilaria Maria Bianchi, Fabián Conde, Vittorio Calò, Franco Ressel

Um cientista contaminado por um vírus transforma-se em um monstro assassino que sai matando pelas ruas de uma pequena cidade. Quantas vezes você já viu este argumento antes, com pequenas variações (na profissão do contaminado, no tipo de contaminação e no tamanho da cidade, por exemplo)? Mas esqueça os outros filmes que você já viu com este mesmo enredo: nenhum deles jamais será tão absurdamente tosco e divertido quanto o trash italiano classe Z Pânico, uma daquelas bombas de rir do início ao fim que comprovam que até o cinema ruim pode entreter.

Claro que não estou aqui falando daquele filme extremamente comum feito nos anos 90 pelo Wes Craven e alçado a “clássico de uma geração” justamente por uma geração desprovida de maiores referências cinematográficas. Me refiro ao Pânico produzido em 1976 por Tonino Ricci (com o pseudônimo Anthony Richmond), numa produção conjunta entre Espanha e Itália. Apesar de ter sido iniciado em 1976, o filme só foi concluído e lançado em 1982. Além de Ricci/Richmond, o cinegrafista do filme, Giovanni Bergamini, dirigiu ele mesmo algumas cenas. Por aí já dá para ter uma ideia do tamanho do orçamento que os caras tinham – e da qualidade do resultado final da película.

Pânico se chama Pânico no Brasil, mas foi lançado com diferentes títulos no mundo inteiro, provavelmente para confundir os espectadores e vender o mesmo filme ruim várias vezes. Na Itália, por exemplo, tem um título mais pomposo: “I Vivi Invidieranno I Morti“. Em outros países da Europa, foi batizado “Bakterion“. Nos EUA é “Panic“. E por aí vai. Mas a tralha é a mesma. Quando eu a vi pela primeira vez, tinha lá meus 11 anos de idade. Foi, provavelmente, um dos primeiros filmes de horror que vi. E como vi! Só na infância, umas 10 vezes – adorava pegar para rever com os amigos, porque tinha um montão de mulher pelada. Batata: acabou virando “guilty pleasure“, uma daquelas besteiras que você pode ver com qualquer idade e vai achar divertido.

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E convenhamos: como não gostar de um filme onde um cara de rosto deformado sai matando italianas e espanholas peladas numa história que supostamente se passa na Inglaterra? Como não gostar de um filme onde Lucas encontra Betty, os dois conversam por três segundos e na cena seguinte já estão transando no banco de trás do carro (isso aos três minutos de filme rolando!!!)? Como não gostar de um filme estrelado por David Warbeck, provavelmente o melhor e mais bacana dos heróis do cinema italiano (você já o viu em The Beyond, Os Caçadores da Serpente Dourada, The Last Hunter e uma cacetada de outros), interpretando um cara chamado Capitão Kirk Dude? Pois é, uma brincadeira infame com o nome “Capitão Kirk” pelo menos 20 anos antes do pavoroso House of the Dead tentar fazer a mesma coisa! E finalmente: como não gostar de um filme onde a gostosa Janet Agren (Os Vivos Serão Devorados, Keruak – O Exterminador de Aço) interpreta uma cientista disposta a salvar o colega transformado em monstro, mesmo depois de ele matar umas 10 pessoas inocentes?

Pânico começa com um mal-editado acidente numa companhia química chamada simplesmente Chemical (sacou a furada? traduzindo, fica “companhia química Química“!!! É tão imbecil quanto “posto de combustíveis Combustível“, ou “restaurante Restaurante“!). A empresa supostamente produz vacinas e antibióticos em uma cidadezinha inglesa (qua, qua, qua!) chamada Newton. Os cortes desta cena de abertura são tantos e tão ligeiros que lembram um filme de Michael Bay (mas parece que só foi feito assim para não mostrar escancaradamente as limitações do orçamento). Logo, tudo que vemos de “contaminação” são uns ratinhos pulando e um cara berrando enquanto esconde o rosto com as mãos esverdeadas e esfumaçantes.

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Através da personagem de Janet Agren, a dra. Jane (ô criatividade…), ficamos sabendo o que aconteceu: um vírus que estava em desenvolvimento “vazou“, através de uma cobaia (um rato) que escapou. A única pessoa que pode falar sobre o tipo de vírus e o risco de contaminação é o professor Adams (Roberto Ricci, irmão do diretor), que, adivinhe, está desaparecido. O proprietário da Chemical, o dr. Milton (Franco Ressel), sugere que todos abafem a história, especialmente a parte do “risco de contaminação“, até que o prof. Adams seja localizado.

Mas, perto dali, Betty e Lucas estão transando no banco de trás do carro. O professor Adams não é mais o professor Adams, agora ele é um monstro assassino, cujo rosto não aparece até os 40 minutos finais (então, o que você vê inicialmente é a manjada câmera em primeira pessoa, a tal “visão do monstro“). Ele esquarteja o casal de namorados, chamando a atenção da polícia local, liderada pelo Sargento O´Brien (José Lifante), e também do Serviço de Segurança Inglês, que envia o Capitão Kirk (hahahahaha) para Newton, com a missão de investigar o que está acontecendo.

É óbvio que Kirk e Jane trabalharão em conjunto – mas não vão se apaixonar nem trocar beijinhos, contrariando o clichê máximo.Eles descobrem que Henry Miles, o guarda-costas (!!!) do professor Adams também está morto, e que uma outra moça peladona foi morta enquanto tomava banho (nudez frontal e tudo mais, em outro caso de pobre menina seduzida pelo mundo do cinema, que não conseguiu nada mais do que mostrar a “perseguida” em cena e falar meia dúzia de frases). Somando A + B, a dupla dinâmica percebe que há uma estranha substância verde nos corpos das vítimas, e que o assassino supostamente bebeu seu sangue.

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Então as coisas começam a ficar claras! O professor Adams não está desaparecido! Ele se transformou num monstro mutante que precisa beber o sangue de suas vítimas (como se isso tivesse alguma lógica), mas também pode contaminá-las com o mesmo vírus que o transformou no que ele é. Só que a Defesa Civil já sabe de tudo isso. Em Londres, eles estão se reunindo com o primeiro-ministro e avaliando as chances da contaminação se espalhar para fora de Newton. Eles (os políticos) sabem que Adams não estava trabalhando em vacina coisa nenhuma, mas sim num vírus perigoso e indestrutível para usar em guerra bacteriológica (claro!). Decidem iniciar a quarentena, isolando todas as entradas e saídas da cidade com forças militares, cortando transportes e comunicação, e já planejando largar uma bomba sobre a cidade em 12 horas, varrendo qualquer evidência do tal vírus, a não ser que o monstro mutante seja encontrado e destruído a tempo.

Como a polícia é burra, o professor Adams continua agindo, entrando nas casas das pessoas pelo esgoto, atacando até em um cinema – onde o diretor Ricci contorna o orçamento irrisório filmando com a luz apagada, ou seja, no meio da escuridão, quando só escutamos os urros do monstro e os gritos apavorados das pessoas. Coisa que se o Spielberg faz é gênio, mas se o Tonino Ricci faz, é um sem-vergonha!

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E o filme avança com a dose de violência diminuindo, mas a dose de bobagens aumentando. O povo de Newton começa a ficar apavorado e quer fugir da cidade, entrando em conflito com os militares que sitiaram o local. E a dra. Jane, tentando salvar seu pobre prof. Adams, sintetiza em meia hora um antídoto para, supostamente, transformar o monstro assassino novamente em um bom cientista. Mas o Capitão Kirk (hahahaha) prefere armar-se com uma pistola de gás venenoso (sério!) e caçar o bicho feio no esgoto.

Bem, bem, bem… Vamos tentar listas algumas abobrinhas dessa maravilha da sétima arte (“algumas“, porque “todas” seria impossível). Numa cena, a polícia ouve grunhidos atrás de um carro e vai averiguar; começa aquele suspense barato de filme classe Z, mas é apenas um bêbado que está, acreditem ou não, grunhindo como o monstro, sabe-se lá porquê! Em outra cena, Kirk e O´Brien abrem uma tampa de esgoto e encontram o tal rato-cobaia desaparecido que deu início à contaminação, e agora está tão grande quanto um cachorro, em uma colagem absurda sobre o próprio fotograma da película (só vendo para crer); então, O´Brien fala “oh, my God“, e o monstrinho é completamente esquecido pelo roteiro!. E o que dizer do “caça-bombardeiro” que decola em Londres com a bomba para destruir Newton? Trata-se de um velho teco-teco maquiado para parecer um super-caça. hahaha. Eles só filmam closes do cockpit para disfarçar! E nas cenas do avião voando, colocaram um caça de brinquedo e pensaram que ninguém ia perceber! E outra: o filme exibido no cinema, antes do monstro atacar, mostra apenas um mané dirigindo um carro, com uma musiquinha xarope no fundo… e a galera toda no cinema fingindo que está vendo aquilo com todo o interesse!!!!

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Pânico é pobre em tudo, inclusive no ritmo arrastado, mas em compensação tem este grande número de divertidas abobrinhas, de ataques do monstro e de mulheres peladas, algumas poucas e boas cenas sangrentas e uma ótima trilha sonora de Marcello Giombini (colaborador habitual de Joe D’Amato, com quem trabalhou em Antropophagus e Le Notti Erotiche dei Morti Viventi). Também contorna a pobreza da produção com bons efeitos especiais (dentro do possível, claro). O rosto do monstro é escondido até o final, mas finalmente mostrado em close grotesco, ressaltando as feridas purulentas pulsando – a maquiagem foi feita por Rino Carboni e os efeitos especiais por Galliano Cataldo (que trabalhou com Dario Argento em 4 Moche di Velluto Grigio, de 1971).

O problema é que, hoje, a geração DVD provavelmente vai suar para encontrar Pânico. Mas quem, como eu, viveu no auge do VHS no Brasil, certamente deve ter visto até gastar a fita lançada pela velha e boa Poletel (mesma distribuidora que colocou no nosso mercado uns 99% das tralhas italianas). Atualmente, o filme do Ricci é tão obscuro que nos Estados Unidos os colecionadores de tralhas italianas costumam se matar para arranjar uma cópia. Recentemente até saiu por lá uma versão tosca em DVD, de onde foram eliminadas todas as cenas de nudez – e como tem MUITA mulher pelada no filme, perdeu totalmente a graça. Para quem é garimpeiro, vale a dica: dê aquela voltinha básica nas revendas de fitas usadas da sua cidade que com certeza encontrará uma das velhas fitas da Poletel a uns justos R$ 1,99!

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Para fechar, que já me alonguei demais: sim, o filme é bobo, trash e muito engraçado. Mas é para públicos específicos, ou seja, só para os iniciados em tralhas italianas como essa. Pois estes, e só estes, irão dar risada do aviso no final dos créditos, que alerta: “O que você viu pode acontecer realmente… TALVEZ JÁ ESTEJA ACONTECENDO!“. Já os outros espectadores, ao invés de rir, provavelmente sentirão vontade de quebrar a fita em mil pedaços – e elas já são raras demais para que uma barbaridade dessas aconteça!

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Felipe M. Guerra

Jornalista por profissão e Cineasta por paixão. Diretor da saga "Entrei em Pânico...", entre muitos outros. Escreve para o Blog Filmes para Doidos!

9 thoughts on “Pânico (1976)

  • 28/03/2024 em 15:11
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    Resenha muito grande,simples fala que o filme é ruim e fraco e mais cômico e pronto,como os caras gostam de fazer introdução mencionar diretores e outros filmes,mas né não assisti ainda,mas vá que tenha algum proveito,não adianta vocês falarem que a pessoa não vai gostar,primeiro tem que assistir,é aquilo gosto do site pelas informações de filmes poucos conhecidos pois nossa,as vezes tem uns filmes lixo que vocês falam que são uma obra prima ridículo isso!!

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  • 21/06/2022 em 10:36
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    O filme é péssimo mas o elenco feminino é de primeira!!!

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  • 22/11/2021 em 03:35
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    Esse Felipe parece que levou alguma surra do Wes Craven quando era jovem porque pelo amor de Deus, o bixo não perde uma única oportunidade de criticar a franquia Pânico em suas críticas, que sisma dos infernos é essa?

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    • 29/03/2024 em 16:03
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      Prezado João nem perde teu tempo,pois nem crítico mais alguns queridos aí,das resenhas pois o que eles gostam vão empurrar a guela abaixo na pessoa e o que eles não gostam vão dizer que a pessoa não vai gostar sinceramente,nem dou bola,é patético isso tão pior que o Neto que só fala no Corinthians e o resto não existe,agora é algo sem noção mesmo criticar Wes Craven,um cara que sempre tentou fazer filmes para nos,amantes do terror suspense,e pagar pau para o pior diretor que nem merecia ser mencionado por ninguém o Tal de Robert Eggers,que tinha que seguir a carreira de Designer,pois diretor só se for,no mundo imaginário de bob dele,enfim nem perde tempo meu amigo !!

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  • 27/11/2020 em 23:04
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    Eu tenho esse na minha videoteca trash , filme fuleiro ,mas é importante pra mim porque é um dos primeiros filmes de terror que eu me lembro de ter visto em locadoras .

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  • 27/07/2013 em 20:08
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    filme pra la de tosco este ” Panico ” eu ainda tenho a copia dele de VHS ao qual peguei 1,00 real ha 6 anos foi umas das primeira fitas da minha Videoteca que comprei,outra curiosidade este “Panico “passava na OM Brasil legendado o dia de sessoes variava so quando mudou de nome a emissora p/ (CNT) ai teve um dia fixo para passar este filme era todos os sabados 1:30 da madrugada filmes que passaram junto como ele : Reformatorio de Mulheres,IMP – O Invasor do Espaço,Rebeliao das Galaxias dentre outros que nao me lembro agora ,bom post Felipe e boa volta .

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  • 26/07/2013 em 07:16
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    É muito otimo ler sobre filmes assim aqui no boca.adoro filmes tosco,e dou muita risada com os amigos.to doido pra ver esse.outros filmes que tambem são muito engraçados “o embrulhador de almas” “rock and roll nightmare” “ozone” “body melt” “luA sangrenta” “ritual macabro 1989” “toltecs” ..tem muitos.mas esse toltecs se supera.kkkkkk

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    • 29/03/2024 em 15:55
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      Maycon Guedes,bem lembrado Toltecs,uma mistura de comédia,com terror indígena,que é um bom passatempo,e recomendo não assistir quando você estiver com um pouco de sono,e mais e pensar que o SBT já passou esse Toltecs kkkkk,incrivel

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  • 23/07/2013 em 22:21
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    Felipe voltou pro boca! Eeeeeehhhhhh \o/\o/\o/
    Sempre via a fita deste filme na locadora. Com certeza deve ser uma trasheira no melhor estilo.

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