The Hell´s Gate (1989)

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Hell´s Gate (1989)
Monges zumbis assassinos!

The Hell´s Gate
Original:Le porte dell'inferno
Ano:1989•País:Itália
Direção:Umberto Lenzi
Roteiro:Umberto Lenzi, Olga Pehar
Produção:Antonio Lucidi, Luigi Nannerini
Elenco:Barbara Cupisti, Pietro Genuardi, Lorenzo Majnoni, Giacomo Rossi-Stuart, Gaetano Russo, Andrea Damiano, Mario Luzzi, Paul Muller

No final da década de 80, quando o cinema fantástico italiano ia mal das pernas, muitos cineastas veteranos não se deixaram abater pelas dificuldades e continuaram fazendo seus filmes – mesmo tendo que encarar produções cada vez mais pobres. Umberto Lenzi foi um desses teimosos, e chegou até a fazer filmes no Brasil (Black Demons e Caçada ao Escorpião Dourado) quando a situação ficou apertada lá na Europa.

Realizado em 1989, The Hell´s Gate / Le Porte Dell´Inferno (A Porta do Inferno) faz parte desses anos indigentes de Lenzi, que pouco ou nada lembram a fase áurea do cineasta. Tem cara de ter sido filmado com pouco ou nenhum orçamento, e às vezes até lembra um filme produzido para a TV. Talvez até seja. Vale lembrar que, naquela época, vários outros diretores italianos conhecidos trocaram o cinema pela TV, como Lamberto Bava e Lucio Fulci.

The Hell´s Gate não pode ser comparado aos filmes mais conhecidos do velho Umberto, como Cannibal Ferox, Nightmare City ou os ótimos policiais que ele dirigiu nos anos 70. Ainda assim, tem seus méritos e consegue prender a atenção do espectador, adotando a claustrofóbica ambientação numa escura caverna vários anos antes de Abismo do Medo.

O roteiro foi escrito pela esposa de Lenzi, Olga Pehar, a partir de um argumento do maridão. Trata de um grupo de pesquisadores que está fazendo uma experiência num gigantesco complexo de cavernas. Um deles, Maurizio (Gaetano Russo), foi deixado no subterrâneo e está vivendo isolado há dois meses, sem ver a luz do sol e sem contato com ninguém. O objetivo é descobrir como o ser humano reage ao isolamento e à perda da noção do tempo.

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Pois justamente no 78º dia, quando a experiência seria encerrada (pela quebra de um recorde mundial de isolamento), o pobre Maurizio desaparece depois de uma pane nas câmeras de vigilância e de enviar uma mensagem desesperada pela linha de emergência: “Eles estão vindo! Eles vão me matar!”.

Preocupados, seus companheiros resolvem descer pelos túneis em busca do desaparecido. Além do grupo de pesquisadores – Erna (a gracinha Barbara Cupisti, de O Pássaro Sangrento), Paul (Pietro Genuardi, de Paganini Horror), Manfred (Lorenzo Majnoni) e o dr. Johns (Giacomo Rossi-Stuart) -, também integram a expedição de resgate dois jovens estudantes de história, Laura (Andrea Damiano) e Theo (Mario Luzzi).

O casal está em busca das ruínas de uma cripta que pertencia a uma antiga – e aparentemente assombrada – igreja que fica próxima dali.

No interior da caverna, enquanto percorrem os quilômetros de túneis escuros, os personagens descobrem que o local é amaldiçoado. A tal cripta procurada pelos estudantes na verdade é um portal para o inferno. Ali, em 1289, foram enterrados vivos sete monges condenados por adoração ao demônio.

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Só que uma antiga profecia diz que, 700 anos depois, os monges malditos voltarão ao mundo dos vivos para matar sete “hereges” e então escapar da danação eterna. Faça os cálculos e tente adivinhar quando é que isso vai acontecer (o filme é de 1989).

The Hell´s Gate não consegue esconder em momento algum que é uma produção baratíssima, mas Lenzi às vezes consegue contornar a falta de um orçamento decente com alguns bons momentos de horror e suspense.

A ambientação nos túneis escuros é ótima, mas depois de um tempo começa a cansar – principalmente porque o diretor abusa de cenas com os personagens andando a esmo pela caverna.

A ideia do isolamento no subterrâneo também é muito boa, e por alguns momentos achei que iriam criar algo na linha O Iluminado, mas não tem nada a ver. Há ainda uma citação explícita ao livro O Nome da Rosa, de Umberto Eco, que nunca se justifica.

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Outro ponto positivo é a música, exageradamente “tenebrosa”, de Piero Montanari.

Já as mortes, grande atração do programa, são um tanto frustrantes.

Até há umas duas cenas bem violentas, onde percebe-se o talento do técnico de efeitos especiais Giovanni Corridori (que trabalhou em filmes bem melhores, como Zombie e Terror na Ópera).

Uma delas envolve um crânio sendo arrebentado no meio por uma machadada; a outra mostra uma lança arrancando o olho de um infeliz.

(Curiosamente, mortes bem semelhantes aparecem em filme posterior de Lenzi, Black Demons, e a machadada na cabeça já havia sido encenada pelo diretor no anterior Ghosthouse, realizado em 1988.)

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As demais mortes são apressadas e feitas “nas coxas”, como se tivesse faltado dinheiro (ou paciência) para filmá-las decentemente.

Até mesmo o momento arrepiante em que um sujeito imobilizado é atacado por nojentas aranhas venenosas acaba desperdiçado – quando, com um mínimo de talento, poderia ter saído algo no estilo The Beyond, do Lucio Fulci.

O grande problema de The Hell´s Gate é não ter assunto para ser um longa-metragem. Podia ter sido um belo filminho de meia hora, mas acaba redundante e prolixo quando esticado por mais 60 minutos.

Além das andanças sem rumo já citadas, os personagens sempre param de tempos em tempos para “retomar” a trama, como se o espectador fosse burro e não tivesse entendido o que está acontecendo. Uma mensagem gravada por um deles é tocada pelo menos umas cinco vezes ao longo da trama (sim, a MESMA mensagem).

Quando não é isso, são risíveis diálogos filosóficos que só têm a função de encher linguiça – como quando o dr. Johns começa a dizer que sempre foi um homem da ciência, racional, e agora precisa enfrentar um fenômeno sobrenatural.

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Ah, os caras também acabam soltando umas pérolas que transformam o filme num trashão involuntário, como quando o mesmo dr. Johns analisa as picadas de aranha no cadáver de um falecido e declara, com toda autoridade: “Isso me lembra a picada das aranhas venenosas da Floresta Amazônica”. Nossa, nunca pensei que alguém pudesse ser tão específico sobre a “identidade” de um aracnídeo, e até o país onde ele vive, apenas olhando para a marca de uma picada!

Para piorar, e coroar a estupidez do roteiro, lá pelas tantas um dos personagens diz: “Por segurança, não vamos mais nos separar”. Mas 15 segundos depois, O MESMO PERSONAGEM sugere que eles se dividam em dois grupos para procurar por um desaparecido. Aí os coiós passam o resto do filme se separando pelos motivos mais cretinos, só para poderem morrer mais confortavelmente!

E o que dizer dos monges-zumbis-assassinos que podem se transformar em aranhas venenosas (?!?) para matar suas vítimas? Pô, os caras já têm o “benefício” de serem imortais e possuírem poderes demoníacos, e ainda estão armados com machados e punhais. Assim, não vejo muita vantagem no fato de os vilões poderem se transformar em aranhas – a não ser, claro, quando a vítima está completamente imobilizada.

The Hell´s Gate termina com um frustrante “final circular” idêntico a Nightmare City, mostrando que Lenzi, sem muito empenho, preferiu reciclar elementos dos seus trabalhos antigos a tentar fazer algo novo.

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Ainda assim, o filme tem seu charme (nem que seja charme trash) e serve como passatempo de 1h30min – para os menos exigentes, claro. Eu até prefiro recomendar outras obras melhores de Lenzi (principalmente Nightmare City, que é um dos filmes mais divertidos de todos os tempos), mas os fãs do cinema fantástico italiano certamente vão encontrar alguns méritos mesmo num trabalho pobre e pouco inspirado como este.

Como curiosidade, a capinha italiana de The Hell´s Gate traz uma frase bem grande: “Lucio Fulci apresenta…”. Mas, estranhamente, não há nenhuma menção a Fulci nos créditos (ele não é produtor, produtor executivo, nem nada). Qual terá sido a sua contribuição? Quem sabe a “inspiração” para as cenas das aranhas e do olho?

Enfim, um filminho barato e tosco, para ver e esquecer.

Mas, nesses nossos tempos de overdose de remakes e de ideias recicladas, qualquer historinha mais ou menos original, como essa, parece bem mais interessante do que realmente é.

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Felipe M. Guerra

Jornalista por profissão e Cineasta por paixão. Diretor da saga "Entrei em Pânico...", entre muitos outros. Escreve para o Blog Filmes para Doidos!

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