Ju-On: O Grito (2002)

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Ju-On (2002)

Ju-On: O Grito
Original:Ju-On
Ano:2002•País:Japão
Direção:Takashi Shimizu
Roteiro:Takashi Shimizu, Bobby White
Produção:Takashige Ichise, Kunio Kawakami, Yoshinori Kumazawa, Hiroki Numata
Elenco:Megumi Okina, Misaki Itô, Misa Uehara, Yui Ichikawa. Kanji Tsuda, Kayoko Shibata, Yukako Kukuri, Yuya Ozeki, Takako Fuji

por Luciano Milici

Meu nome é Toshio

A Terra do Sol Nascente tem surpreendido cada vez mais com terror de alta qualidade recheado de sustos e cenas macabras, onde o horror perturbador prevalece à simples carnificina desmedida. Se em Ringu (Japão, 1998) dizíamos Nossa, um filme de terror japonês!?, agora já podemos afirmar sem muitos alardes Mais um bom filme de terror nipônico. ao nos referirmos a Ju-On: The Grudge (Japão, 2003).

Escrito e dirigido por Takashi Shimizu, Ju-On narra histórias correlacionadas de vítimas da maldição de um espírito vingativo que assombra uma residência.

A princípio, a falta de linearidade da narrativa e a ausência de informações mastigadas típica dos filmes japoneses e europeus confundem o espectador desatento. Por isso, Ju-On é uma obra para ser vista mais de uma vez.

Semelhante ao Tarantinesco Tempos de Violência (Pulp Fiction, EUA, 1994) e até ao nacional Cidade de Deus (Brasil, 2002), histórias encadeadas de maneira não-cronológica encaixam-se formando todo um cenário de horror macabro.

Ju-On (2002) (1)

Cada história tem a apresentação de um título que é, invariavelmente, o nome do protagonista daquela história. Dessa maneira, Ju-On inicia-se com cenas sangrentas em preto e branco de um crime. Em seguida, conhecemos a história de Nishina Rika (Megumi Okina), uma estagiária de assistente social que vai a uma estranha residência para cuidar de uma senhora idosa catatônica chamada Sachie (Chikako Isomura). Lá, Rika liberta uma criança (Yuya Ozeki) e um gato presos em um guarda-roupa e flagra um espectro negro possuindo e matando a idosa catatônica. Destaque para o momento em que Rika encontra uma velha foto amassada e queimada onde vemos um casal e seu filho.

Antes que nos perguntemos qual é a relação da história de Rika com o crime mostrado inicialmente, somos atropelados pela segunda história: Kazumi. Esta narrativa refere-se a alguns dias antes da visita de Rika a Sachie. Kazumi (Shuri Matsuda) é o nome da enteada de Sachie e dona da casa visitada por Rika.

Já nessa segunda história, entendemos que Kazumi é casada com Katsuya (Kanji Tsuda) e não possuem nenhum filho. Também testemunhamos algumas das cenas mais apavorantes do filme e compreendemos como a casa ficou naquele estado encontrado por Rika. Nesse instante, somos apresentados oficialmente ao garoto e ao gato encontrados, por Rika no início.

Em seguida, a terceira história mostra a chegada do marido de Kazumi em casa naquele dia fatídico. Katsuya encontra sua mulher em choque e acaba vitimado pela maldição.

Após a terceira história, que fecha o ciclo dos moradores da casa, a maldição espalha-se por visitantes (como a irmã de Katsuya, em outra história), uma amiga de Rika chamada Mariko (Kayiko Shibata) e até um segurança.

Essa desconexão entre as mortes também confunde um pouco a mente do espectador, mas nada o deixa mais atribulado que o momento de flash-forward, onde avançamos a um futuro próximo para testemunhar a morte de algumas colegiais, logicamente, pela maldição.

Entre as colegiais destaca-se a bela Izumi (Misa Uehara), que foi até a casa maldita com suas amigas, mas saiu antes que estas morressem. Mais do que uma simples curiosa que visitou a casa e foi amaldiçoada, Izumi é filha de um policial que investigou o crime original ocorrido na residência, aquele mostrado no prólogo em preto e branco.

A garota aparece ainda criança no início do filme fazendo estranhos desenhos no chão, quando seu pai é convocado pela polícia para desvendar os novos acontecimentos que cercam o local. Seu pai, por sua vez, é o detetive Nakagawa (Hirokazu Inoue), um perturbado policial que antevê a desgraça que ocorrerá com a própria filha em uma espécie de clarividência. Esta cena é muito interessante, pois ao mesmo tempo que Nakagawa vê sua filha, no futuro, como uma adolescente vitimada pela maldição, sua filha (na visão) também o vê, como um elo entre o presente e o futuro. Posteriormente, na história de Izumi adolescente, o fantasma de seu pai, o detetive que não chegamos a saber como morre, surge para ela quando a maldição está ativa.

Uma única informação que ficou sobrando nesse filme surge exatamente na história de Izumi, quando a adolescente entra em casa e sua mãe ouve no rádio o que o destino reservou para a protagonista Rika, da primeira história. Esse fechamento pode ser considerado desnecessário.

Outro ponto discutível é o final, passivo de interpretações: Qual é a relação de Rika com a mulher (mãe do garoto) assassinada na casa? Por que Rika não morreu?

Ju-On (2002) (3)

Independente desses detalhes, Ju-On é terror de primeira linha.

A ideia dos dedos sobre o rosto das pessoas, remetendo à grade através da qual o menino Toshio (Yuya Ozeki) viu sua mãe ser morta por seu pai, por motivo de adultério, elogia a inteligência do espectador.

Aspectos perturbadores como o estranho zunido que as vítimas sentem na cabeça, a forma de locomoção estilo aranha da mãe morta (e seus estalos horríveis), a cena das colegiais mortas, da mão durante o banho e da alma embaixo do cobertor certamente tornar-se-ão antológicas, estas duas últimas, principalmente, por inserirem o terror nos momentos comuns de segurança das pessoas: no banho e nas cobertas.

Comparações com Ringu por utilizar crianças e maldições mortais são inevitáveis, porém, irrelevantes. Da mesma maneira que informar que assim como os americanos se renderam e fizeram o remake O Chamado (The Ring, EUA, 2002) também foi feita a versão do Tio Sam de Ju-On, com os ídolos teen Sarah Michelle Gellar (da série Buffy, a caça-vampiros) e Jason Behr (da série Roswell). Esta versão americana é dirigida pelo próprio Takashi Shimizu.

Vale notar que o filme comentado aqui é a versão de 2003 chamada de Ju-On: The Grudge. Antes disso, Takashi Shimizu fez duas versões de Ju-On para a TV em 2000, sendo que a primeira conta a história do assassinato original na casa e o início da maldição e o segundo apresenta 45 minutos a mais de filme. Em 2003, outras duas versões foram feitas, sendo a primeira a comentada nesta crítica. A outra é uma continuação chamada Ju-On: The Grudge 2.

Depois Shimizu faria Marebito (Japão, 2004) – filmado em apenas 8 dias – onde um cameraman obcecado investiga uma lenda urbana envolvendo fantasmas que assombram os subterrâneos de Tóquio -, mas, de toda forma, assista a mais esse expoente do horror japonês e seja testemunha da onda oriental que veio para ficar.

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Autor Convidado

Um infernauta com talentos sobrenaturais convidado a ter seu texto publicado no Boca do Inferno!

8 thoughts on “Ju-On: O Grito (2002)

  • 21/02/2018 em 23:50
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    É necessário ver Ju-on: The Curse (2000), que foi lançado na TV japonesa com uma sequência: Ju-on: The Curse 2 também em 2000. Foram estes que iniciaram tudo e explica bem a relação da Kayako, o marido, o Toshio e o ex-professor da Kayako. Explica como e por quê acontece a maldição no início de ambos. O 2 é uma espécie de reboot do primeiro, mas coloca outra trama em cima de um resumo da primeira. É super difícil encontrar esses filmes, mas valem cada segundo. Mostra pela primeira vez a cena clássica da Kayako na escada e é sinistra.

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    • 26/07/2022 em 15:08
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      Verdade, Hermes, eu comecei já assistindo os dois filmes produzidos para a TV Japonesa e te afirmo que além de ser essencial é absolutamente mais assustador do os outros feitos depois.
      E digo mais: As versões americanas não farão nenhuma diferença, caso não queriam assistir, ei vi só por curiosidade. A série produzida pela Netflix tem ligação não direta com os dois primeiros filmes, eu achei a série bem intensamente.

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  • 03/08/2015 em 17:21
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    De fato, um dos filmes mais sinistros que já vi. Realmente merece ser visto mais de uma vez, mas haja coragem rsrs

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  • 10/04/2014 em 06:50
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    Filme de terror e japonês só pode ser ótimo vou nesse com certeza.

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  • 07/01/2014 em 04:37
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    Muito merecidas essas 5 caveiras. ☠☠☠☠☠
    Esse é um filme muito bom, onde o terror vai surgindo lentamente, e te transportando para uma atmosfera sombria.

    Uma parte que eu acho bem legal é quando a irmã do Katsuya se cobre com os lençóis e liga a TV para passar o medo. É que já aconteceu de eu fazer o mesmo, e isso fez com que eu me identificasse com a cena.

    Com certeza um dos meus filmes favoritos. Adoro o terror asiático.

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  • 06/01/2014 em 18:27
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    Nossa é a primeira vez que vejo um filme 5 caveiras aqui no site.

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  • 04/01/2014 em 11:18
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    Filmaço! Muito bom! Tenho uma grande coleção de Filmes Orientais, incluindo a trilogia THE RINGU… demais tbm!
    Muito bom… EXCELENTE

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