Rasen (1998)

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Rasen (1998)

Rasen
Original:Rasen
Ano:1998•País:Japão
Direção:Jôji Iida
Roteiro:Jôji Iida, Kôji Suzuki
Produção:Takashige Ichise, Shin'ya Kawai, Takenori Sentô
Elenco:Kôichi Satô, Miki Nakatani, Hinako Saeki, Shingo Tsurumi, Shigemitsu Ogi, Yutaka Matsushige, Daisuke Ban, Naoaki Manabe, Naoto Adachi, Eri Kakurai

A volta de Sadako na continuação não-oficial de Ring – O Chamado!!!

2004 foi o ano em que aconteceu um fato sui generis: contratado para dirigir a terceira continuação do clássico O Exorcista, o cineasta Paul Schrader foi afastado da produção depois que o estúdio produtor do filme (a Warner) julgou sua versão inadequada para o grande público e sem apelo comercial. Isso porque Schrader procurou fazer um filme mais contido, sem apelar para efeitos especiais. Bem, o estúdio não gostou muito da ideia e, pensando em um filme mais sangrento e “comercial“, contratou um diretor convencional, Renny Harlin, para refazer totalmente O Exorcista: O Início, aproveitando o mesmo elenco, mas mudando praticamente toda a versão de Paul Schrader.

Logo, trata-se de um caso raro de filme que existe em duas versões: a versão mais intimista de Schrader e a versão “comercial“, acelerada e exagerada de Harlin, com direito a efeitos de computação gráfica e violência gratuita.

Curioso… mas não exatamente uma novidade. A mesma coisa – um filme completamente refeito por outro diretor devido à intervenção dos produtores – já tinha acontecido seis anos antes, em 1998, do outro lado do mundo, no Japão. Nesta época, a produtora Asmik-Ace Entertainment filmava o clássico do cinema de horror moderno Ringu, batizado Ring: O Chamado no Brasil, e que daria origem ao famoso remake americano O Chamado, em 2002. Ringu foi baseado em um livro de Kôji Suzuki, que fazia muito sucesso na terra do Sol Nascente. Para economizar, a Asmik-Ace resolveu filmar conjuntamente, no mesmo ano de 1998, tanto Ringu quanto sua sequência, chamada Rasen, e baseada no segundo livro de Suzuki, Spiral.

Vale lembrar que esta tática de fazer dois filmes de uma vez só já tinha se mostrado eficaz anteriormente, mais precisamente no começo da década de 90, quando o americano Robert Zemeckis filmou De Volta para o Futuro partes 2 e 3 ao mesmo tempo. Até o brasileiro José Mojica Marins rodou dois filmes juntos para economizar, nos anos 70, ao filmar numa tacada só Finis Hominis e sua continuação, Quando os Deuses Adormecem. Como todos sabem, isso depois viraria moda, já que Peter Jackson também rodou os três O Senhor dos Anéis e os três O Hobbit juntos.

A proposta da Asmik-Ace era ousada, porém corajosa: usariam diretores diferentes (Hideo Nakata para Ringu e Jôji Iida para Rasen), e trabalhariam basicamente com o mesmo elenco nos dois filmes. E tanto o original quanto a continuação chegariam aos cinemas no mesmo dia: 31 de janeiro de 1998. Assim, se Ringu fosse o sucesso esperado (já que o livro de Kôji Suzuki era muito popular), as pessoas correriam para ver também Rasen, enchendo os cofres da produtora

O problema é que a ideia não deu tão certo: Ringu, sim, foi o sucesso esperado, um dos maiores fenômenos do cinema de horror asiático – tanto que virou uma franquia bem-sucedida gerou um sem-número de produtos com a grife Ringu, como seriados de TV, minisséries e mangás (além de uma refilmagem feita para o mercado coreano, lançada antes que o remake americano). Já Rasen, além de não fazer o sucesso esperado, ainda foi um fiasco nas bilheterias. Isso apesar de dar seguimento à história de forma bem fiel à trama criada por Suzuki (que até faz uma ponta no filme). O roteiro adaptando o livro foi escrito pelo próprio diretor, Iida, e não por Hiroshi Takahashi (que roteirizou a versão cinematográfica de Ringu com muitas liberdades poéticas em relação ao livro).

Quando percebeu que estava com uma bomba nas mãos, a Asmik-Ace tomou a atitude mais esquisita que podia tomar: recolheu Rasen e deu sumiço no filme, como se ele não mais existisse, iniciando a produção de uma nova continuação de Ringu, dessa vez “oficial“, com o mesmo diretor Hideo Nakata, o mesmo roteirista Hiroshi Takahashi e o mesmo elenco, e que, para não confundir o público, passou a se chamar apenas Ringu 2. Dessa vez, o roteiro foi feito em conjunto com o próprio diretor Nakata, abandonando de uma vez qualquer traço das ideias de Suzuki usadas em Rasen.

A produtora talvez pensasse que a novela estava terminada por aí… Só que não se desaparece com um filme desse jeito! Eles podem até ter refeito a sequência, mas não tinha como fazer as pessoas que viram Rasen esquecerem que o filme existia. E o resultado é que esta continuação bastarda da série Ringu transformou-se em raridade underground. Não foi lançada oficialmente fora do Japão e é dificílima de encontrar, mesmo nos sites de download de filmes. O filme volta e meia até aparece, mas falado em japonês sem legendas em inglês, o que é dose para elefante – a não ser que você domine o idioma dos olhinhos puxados!

Como fã fanático da série Ringu e do terror japonês em geral, há tempos eu procurava por Rasen, até para conferir se é mesmo toda essa ruindade lendária de que falam. Na Internet, em sites especializados no universo de Sadako & Cia., o filme é tão execrado e amaldiçoado que confesso ter ficado com pena dos envolvidos no projeto. Tive a sorte de encontrar uma cópía de Rasen com legendas em inglês, permitindo entender melhor a complexa e intrincada história que seria bem mais fiel à obra de Kôji Suzuki do que a enigmática continuação “oficial“, Ringu 2. Vale lembrar que, mais recentemente, Rasen passou a ser conhecido também como Ring:Spiral, numa referência à sua fidelidade ao livro de Kôji Suzuki.

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Ao contrário da maior parte dos fãs de Ringu, eu sou um admirador também do amalucado Ringu 2 e seu clima científico, unindo o terror antigo (fantasmas, maldições paranormais) ao moderno (experiências científicas, fitas de vídeo…). Claro que todos malham o filme dizendo que ele foge totalmente do foco do original, principalmente ao tentar encontrar explicações científicas para a maldição de Sadako e ao transformar Yoichi (Takashi Yamamura), filho da personagem principal Reiko Asakawa (Nanako Matsushima), em uma ameaça tão grande quanto Sadako. Pois estas pessoas que odeiam Ringu 2 não podem nem pensar em assistir Rasen. Esta sequência “bastarda” de Ringu parte por uma direção totalmente oposta à de Ringu 2, e ainda mais amalucada. Para começar, o roteiro transforma a maldição de Sadako em um vírus (!!!), criado pela menina para propagar seu DNA pelo mundo (!!!), visando criar clones seus para dominar o planeta (!!!). Para terminar, os personagens centrais do original, Reiko e seu filho Yoichi, somem de cena, sendo substituídos por novos personagens. E pensar que tudo é baseado na obra do mesmo autor que criou o original!

Rasen é muito mais ousado e polêmico na sua forma de “continuar” a história do primeiro filme, e é incrível a forma como ele desagrada completamente os adoradores de Ringu. Isso quer dizer que é ruim? Nem tanto. Eu também não concordo com algumas das teorias propostas por Ringu 2 (como a de que a força maligna de Sadako possa ser dissipada na água, como energia). O problema é que Rasen, além de confuso e doido, também é muito mal-dirigido. Lento, com algumas reviravoltas desnecessárias e poucos sustos, o filme é mais uma história científica do que de horror, o que talvez explique como o público reagiu tão mal na sua estreia. Sem contar a total ausência de emoção, ao ponto de alguns personagens não fazerem absolutamente nada na trama. A ideia do filme até não é das piores… A forma como ela foi conduzida, sim.

A história de Rasen se passa no mesmo dia em que o professor Ryuji Takayama (Hiroyuki Sanada), ex-marido de Reiko Asakawa, é morto por Sadako, como visto no final de Ringu. No Início, somos apresentados ao dr. Ando Mitsuo (Koichi Sato), um patologista que está enfrentando crises de depressão devido à perda do seu filho, Takanori, que morreu afogado na praia; a tragédia, claro, acabou com seu casamento e com sua vida. Ando se culpa por não ter conseguido salvar o menino, guardando consigo os fios de cabelo arrancados do filho na tentativa de tirá-lo da água. Amargurado e infeliz, realiza o mesmo ritual praticamente todas as manhãs: olha uma foto do garoto, seus cabelos, e então pega um bisturi numa das mãos, tentando reunir forças e encontrar coragem para cortar o próprio pulso e cometer suicídio. Mas, como vemos no Início do filme, ele nunca tem coragem de ir até o fim.

E então o telefone toca, chamando-o para o hospital para fazer uma necropsia no cadáver de Ryuji Takayama. A identidade do cadáver é uma surpresa para Ando, já que ele e Ryuji estudaram Medicina juntos na juventude, eram grandes amigos, viciados em códigos e anagramas, com os quais se desafiavam. Isso até Ryuji trocar a Medicina pela Matemática, tornando-se professor universitário. Ando não se deixa abater pelo fato de ter um conhecido na mesa de cirurgia e começa a necropsia para determinar o que teria matado o professor – já que sua morte foi considerada “misteriosa“. O médico enfia o afiado bisturi bem na garganta do cadáver (uma cena bem feita) e abre-o para a retirada dos órgãos. Então, é constatada a causa da morte de Ryuji: bloqueio do coração. Mas o interior do cadáver revela outras duas coisas muito interessantes: um esquisito tumor na garganta, que é retirado para estudos, e uma mensagem que estava sendo digerida no estômago do professor, contendo um código numérico.

Ainda surpreso pelos achados, Ando tem uma alucinação que é um dos pontos altos do filme, quando o cadáver de Ryuji acorda e, mesmo dissecado, se senta na mesa de cirurgia e conversa tranquilamente com o amigo. O médico abandona a sala para tomar ar e se encontra com policiais, que tentam interrogar a namorada do falecido, Mai Takano (Miki Nakatani, que fez o mesmo papel depois em Ringu 2). A garota está convencida de que a morte de Ryuji não tem nada de natural, além de estar desconfiada do fato de ele ter passado a última semana com a ex, Reiko (como visto em Ringu).

Rasen (1998) (2)

Enquanto isso, Ando vai para casa e decifra o código numérico encontrado no estômago de Ryuji, no que parece ser uma mensagem codificada especialmente para ele, e que diz: “DNA – present” (DNA – presente). Sem saber o que exatamente aquilo quer dizer, Ando esquece a mensagem e segue sua rotina. Porém, vai se envolvendo mais e mais com Mai, que quer descobrir a verdade sobre a morte de Ryuji. Em certo momento, ela lembra o médico dos poderes paranormais do namorado. “Você sabia que o Ryuji não era igual às outras pessoas?“, referindo-se ao fato de ele ter poderes de clarividência (como visto no primeiro filme, também). Depois, Mai lembra-se do dia em que encontrou o corpo do professor e recria mentalmente a cena da sua morte.

Cada vez mais curioso com o caso, Ando descobre, a partir das pesquisas do seu amigo e colega, o dr. Myashita (Tomohiro Okada), que o ataque cardíaco de Ryuji foi provocado pelo tumor, que, por sua vez, foi causado por um misterioso e desconhecido vírus. A dupla de médicos fica sabendo, então, sobre a lenda urbana a respeito da fita VHS que mata em sete dias, e que um grupo de jovens teria morrido recentemente da mesma forma misteriosa que Ryuji (inclusive a sobrinha de Reiko, como visto em Ringu). Myashita tem acesso aos laudos das necropsias dos jovens e encontra em todos eles o mesmo tumor provocado pelo misterioso vírus. Ou seja: a maldição de Sadako é, na verdade, um vírus que infecta a pessoa pela retina quando ela assiste à fita!!!

Quando parece que a história não pode ficar mais esquisita, ela vai piorando: Reiko e seu filho Yoishi, que estavam desaparecidos e eram procurados pela polícia para prestar esclarecimentos sobre a morte de Ryuji, são localizados. Ambos morreram em um acidente de automóvel. O mistério é que o garoto parece ter morrido antes do choque, de ataque cardíaco – mais uma vítima da maldição de Sadako. No automóvel destruído de Reiko, Ando encontra os restos de uma fita de vídeo, comprovando a lenda sobre a maldição que ele ironizara momentos antes.

Entra em cena um personagem que aparecia apenas alguns segundos no filme original, o repórter Yoshino (interpretado pelo mesmo Yutaka Matsushige de Ringu), colega de trabalho da falecida Reiko, que parece ter muitas informações sobre a maldição de Sadako. Ele revistou o apartamento da colega antes da polícia e encontrou uma cópia da amaldiçoada fita de vídeo, além de uma agenda onde Reiko escreveu toda a história do primeiro filme, desde que assistiu a fita até a forma como investigou o mistério com Ryuji (e então entra um rápido flashback, usando cenas de arquivo com a atriz Nanako Matsushima, que não quis participar desta sequência). Yoshino mostra até a fotografia de uma jovem Sadako, explicando que a garota era uma estudante de teatro em Tóquio (como veríamos mais tarde, em Ringu Zero), até desaparecer misteriosamente. O jornalista entrega a cópia da fita para Ando e pede sua opinião de médico e cientista sobre o caso.

Naquela noite, Ando, ainda incrédulo sobre todo o caso, resolve ver o que aquela fita tem de tão especial. Então, Rasen apresenta mais uma vez as clássicas imagens da fita amaldiçoada de Sadako, e, quando a projeção termina, o médico tem uma visão de Sadako sendo jogada no poço pelo seu pai, o dr. Ikuma (Daisuke Ban). Esta cena é feita num bonito take, um dos raros momentos inspirados do diretor Iida, começando num close de Sadako boiando no fundo do poço e subindo em direção à superfície, como se a câmera estivesse voando para fora do poço. Ainda impressionado com as imagens e com a visão, Ando recebe uma visita especial: a própria Sadako, agora em versão adolescente. Nada de criança-fantasma decrépita, como em Ringu. Agora ela está uma gatinha, e pelada ainda por cima. Sadako pula em cima de Ando e tenta seduzí-lo, beijando-o e lambendo seu pescoço. Então o médico acorda e resolve acabar com a maldição da moça.

Primeiro ele procura Yoshino, que está querendo exibir a fita amaldiçoada em rede nacional de televisão, o que provocaria um festival de mortes ainda mais absurdo do que aquele mostrado em Halloween 3 (outro filme onde a morte está ligada a uma exibição amaldiçoada pela TV). O repórter garante que não viu a fita e que não acredita na maldição. E então, frente aos olhos de Ando, começa a sufocar e cai duro, morto, fulminado! Não de ataque cardíaco, como as outras vítimas de Sadako, mas sim morto por uma misteriosa infecção na garganta, que deixa manchas na pele.

E a história segue complicando: Myashita, o colega de Ando, descobre que o “vírus Sadako” é formado por sete partes de varíola (a única doença conhecida pela menina na época em que morreu) e três partes do próprio DNA de Sadako. Qual o objetivo disso? Ah, o espectador só vai saber no final: trata-se de um plano mirabolante da fantasminha bem pouco camarada para voltar à Terra e vingar-se do mundo. E você pensando que tudo que Sadako queria era ser ouvida, através da maldição das fitas, não é mesmo? Pois pode esquecer: as fitas amaldiçoadas, pelo menos na trama de Rasen, são apenas a ponta do iceberg de uma teoria conspiratória bem mais apocalíptica, digna de um Arquivo X

E o roteiro continua surpreendendo, mostrando ainda a relação amorosa de Ando com Mai e o desespero dos últimos dias do médico, mais nova vítima da maldição de Sadako. Nos sete dias que lhe restam, ele se dedica a destruir todas as cópias da fita para que ninguém mais seja vítima da maldição de Sadako – ele não tem medo de morrer, lembra? O problema é que a fita é o menor dos problemas: Ando e seu amigo Myashita enfrentam também um novo vírus, mais forte do que o anterior, que mata por sufocamento e se espalha sem a necessidade da vítima assistir a fita maldita de Sadako – como aconteceu com Yoshino, que morreu sem ter sido amaldiçoado. O roteiro também tem a clássica dúvida “o que eu fiz para escapar da maldição que ele não fez“, que existia também no original, mas agora não tem nada a ver com gravar novas cópias da fita…

O que mais espanta em Rasen é a capacidade de pegar as ideias principais de Ringu e fazer um filme completamente diferente do anterior (ao contrário das manjadas continuações americanas). O problema é justamente a obsessão do roteiro em explicar tudo cientificamente, começando por transformar uma maldição sobrenatural num vírus mutante, e terminando com uma trama sobre clones e genética (!!!).

Rasen (1998) (3)

O diretor Iida (que em 2000 fez o interessante Another Heaven, ainda inédito no Brasil) ainda comete dois pecados graves. O primeiro é fazer um filme muito tradicional, que parece mais uma produção americana do que japonesa: tem até uma cena quase gratuita de sexo no meio (à la filmes made in USA), com uma necessidade infantil de querer explicar tudo pela lógica, esquecendo o sobrenatural, e ainda o roteiro esquemático, que, mesmo complicado, é convencional, redondinho e destituído de emoção. Lá pelas tantas, o que era para ser um filme de horror se transforma em pura ficção científica, ou até um dramalhão sobre os últimos dias de vida de um homem que sabe que vai morrer. Ao contrário de Ringu 2, também, em Rasen a história jamais volta para a ilha onde Sadako tinha vivido, ficando o tempo inteiro numa grande metrópole.

O segundo pecado de Iida foi mudar alguns detalhes muito interessantes de Ringu, ao seu bel prazer, como se o filme anterior não existisse. Por exemplo, a expressão macabra que as vítimas de Sadako faziam ao morrer, como se tivessem, literalmente, morrido de medo. Quem lembra do final de Ringu sabe que Ryuji acabou bem assim, com aquela carranca medonha de pavor. Mas quando, em Rasen, é mostrada uma cena de flashback em que Mai encontra o cadáver do namorado, o rosto de Ryuji está normal, aparentando tranquilidade, até. Outra grande mancada é a caracterização de Sadako, que da menina assustadora com os cabelos cobrindo o rosto, como mostrado no primeiro filme, agora se transformou em uma adolescente fogosa (e gatinha), que não esconde o rosto e parece mais interessada em lamber e beijar o dr. Ando do que em matá-lo.

Iida também esqueceu alguns detalhes primordiais da Sadako de Hideo Nakata, como o jeito bizarro de andar e os dedos rasgados nas pontas, sem unhas (devido às sucessivas tentativas de escalar o poço). O resultado é que a Sadako de Rasen é uma representação mais fiel da moça que seria mostrada posteriormente, em Ringu Zero (quando descobrimos que Sadako era realmente uma adolescente ao ser morta pelo pai), mas totalmente diferente da vilã que todos aprenderam a adorar em Ringu. E Rasen ainda desperdiça a personagem de Mai Takano, que praticamente não faz nada o filme inteiro além de ser interesse romântico de Ando, e cujo objetivo no roteiro só será mostrado no final – ironicamente, Mai teria um papel de muito mais destaque na refilmagem da continuação, Ringu 2.

Soma-se a todos estes problemas o fato que desagradou a nove entre 10 espectadores que assistiram Rasen: Sadako não é mais mostrada como uma menina morta injustamente que quer se vingar do mundo espalhando a maldição das fitas, mas sim como uma jovem vilã tipo James Bond, que quer conquistar o mundo e ressuscitar através de um planos dos mais mirabolantes. Aposto que muitos detratores de Ringu 2 vão querer atirar a fita de Rasen contra a parede ao saber qual é o tal “plano de Sadako“.

Agora, não encontrei qualquer motivo para Rasen ser um filme tão odiado, nem nada que justificasse a reação da produtora de recolher o filme e tentar dar um sumiço nele, refilmando-o com outra equipe e roteiro. Rasen é maluco? Sim, é. Mas se formos analisar a fundo, Ringu 2 também não tem lá muita lógica. Ambos se destacam por serem continuações bem diferentes do original, com histórias que dão um novo rumo aos acontecimentos e mantêm o interesse do espectador justamente pela novidade – quem aguentaria ver uma sequência onde mais pessoas são mortas pela maldição da fita de Sadako??? A diferença entre as duas sequências japonesas é que Ringu 2 é melhor dirigido e tem algumas cenas realmente assustadoras, enquanto em Rasen os produtores parecem ter se esquecido de que estavam fazendo um filme de horror.

No fim, Rasen ganha pontos por ser mais fiel aos rumos que o criador da história, Kôji Suzuki, elaborou. Bem mais fiel do que Ringu 2, que é uma história saída da cabeça do diretor Hideo Nakata e do roteirista Takahashi. E é a velha história: quem quer filme explicadinho e que faça 100% de sentido não pode assistir filme japonês em hipótese alguma – vá ver Resident Evil, ora bolas! É uma pena que Rasen termine deixando um gancho para o que seria uma terceira continuação. Mas como o filme foi renegado pelos produtores, nunca veremos o fim do ciclo Ringu-Rasen como havia sido originalmente concebido, sendo forçados a também esquecer tudo o que vimos nesta sequência não-oficial…

Desnecessário dizer que provavelmente os brasileiros jamais terão a chance de ver Rasen sendo lançado por aqui… Então, o negócio é garimpar a rede atrás de uma boa cópia, caso você tenha curiosidade em ver como as aventuras aterrorizantes de Sadako e seus amigos originalmente continuariam, se o gosto do público não fosse mais importante que o trabalho do diretor e a fidelidade à obra do autor.

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Felipe M. Guerra

Jornalista por profissão e Cineasta por paixão. Diretor da saga "Entrei em Pânico...", entre muitos outros. Escreve para o Blog Filmes para Doidos!

6 thoughts on “Rasen (1998)

  • 25/12/2021 em 13:11
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    Ótimo blog.
    Mas cara, vamos cair na real. Pouquíssimas obras japonesas dessa franquia são realmente boas. Ringu de 1998 não é nem de longe tão excelente quanto muitos falam, ele é repleto de falhas que refletiram na franquia e na personagem da Sadako. Mas, apesar disso, é MUITO MELHOR do que Ring Kanzenban e outros filmes mais fiéis ao livro. Perceba que, quanto mais fiel aos livros os filmes são, piores e mais ridículos eles ficam. Ringu 2 evitou muitas das falhas que você comentou, mas ele não é perfeito, na verdade, é mediano. E Ringu 0 é bom, mas não o suficiente. Esse novo remake, “Sadako”, é um recomeço interessante, mas assim, poderia ter sido um pouco melhor. De resto, é tudo lixo. Ring Kanzenban, Rasen, os Sadakos 3D, aquele crossover com O Grito, as séries de TV, mano, são todos muito ruins. Uns bem piores do que o outro, mas ainda assim, todos péssimos.
    Ninguém mais leva a Sadako a sério. Ela não tem identidade nem personalidade, ela não é nada mais do que uma piada hoje. E é triste, pois gosto dela. A versão do filme é consideravelmente melhor do que esses livros horrorosos e ridículos. E os mangás… nunca li nenhum. Mas enfim, é isso. A saga japonesa tem altos e baixos, a maioria são quedas, mas ainda há o que se salva. E a saga americana, de três filmes, os dois primeiros são excelentes e o terceiro é medíocre. Mas nem de longe tão ruim quanto alguns “Ring” japoneses. A Samara Morgan é muito melhor do que a Sadako em todos os aspectos possíveis, e mesmo no terceiro filme, ela consegue se destacar como algo bom.

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  • 06/06/2018 em 00:33
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    Vamos deixar coisas claras. Os filmes Ringu, nenhum deles é fiel aos livros… Vamos lá. Asakawa não é uma mulher, é um homem. Yoichi não existe no mundo Ringu. A maldição de Sadako é sim um vírus, é um vírus mutado da Varíola. Não existe Sadako saindo de tv e nem ligação após assistir ao vídeo. Ringu dirigido por Nakata, não foi o primeiro. Em 1995 ou 1997 o primeiro filme foi Ringu Kazenban, que é o que mais se aproxima ao livro de Koji Suzuki. Rasen também é um filme que se aproxima do livro. A coleção dos livros são Ring, Spiral (Rasen), Loop (Nunca teve filme sobre), Bassudei (Adaptado como Ringu 0), Koji recentemente lançou um novo livro do universo Ringu, se chama S (Esu). Nenhum dos filmes realmente retrata com fidelidade os poderes e os motivos de Sadako Yamamura, mto mesmo a palhaçada que é a imbecil da Samara Morgan. Os livros de Koji são maravilhosos, se você quiser realmente saber da história da saga Ringu, te digo que os filmes farão muito pouco por você. Ah sim, Takayama não tem relação afetiva nenhuma com Asakawa, eram apenas amigos.

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  • 06/06/2018 em 00:30
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    Vamos deixar coisas claras. Os filmes Ringu, nenhum deles é fiel aos livros… Vamos lá. Asakawa não é uma mulher, é um homem. Yoichi não existe no mundo Ringu. A maldição de Sadako é sim um vírus, é um vírus mutado da Varíola. Não existe Sadako saindo de tv e nem ligação após assistir ao vídeo. Ringu dirigido por Nakata, não foi o primeiro. Em 1995 ou 1997 o primeiro filme foi Ringu Kazenban, que é o que mais se aproxima ao livro de Koji Suzuki. Rasen também é um filme que se aproxima do livro. A coleção dos livros são Ring, Spiral (Rasen), Loop (Nunca teve filme sobre), Bassudei (Adaptado como Ringu 0), Koji recentemente lançou um novo livro do universo Ringu, se chama S (Esu). Nenhum dos filmes realmente retrata com fidelidade os poderes e os motivos de Sadako Yamamura, mto mesmo a palhaçada que é a imbecil da Samara Morgan. Os livros de Koji são maravilhosos, se você quiser realmente saber da história da saga Ringu, te digo que os filmes farão muito pouco por você.

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  • 04/09/2016 em 13:01
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    Ring espiral tá disponível na Netflix Brasil agora, eu não fazia ideia da existência desse filme.

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    • 04/09/2019 em 18:06
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      Droga, vim correndo pra escrever EXATAMENTE ISSO, e seu comentario é de 2016, estamos em 2019…

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  • 25/02/2016 em 22:19
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    Saiu agora,acho que ano passado, o DVD Ring Espiral, pela Focus Filmes.Lançaram em conjunto com Ring e Ring 2, muito provavelmente devido ao lançamento recente do Sadako 3d 1 e 2 (que também foi lançado em DVD por eles).

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